Penélope não era tão cruel quanto Ember, mas ela ainda conseguia me irritar. Ela era um pouco menos e mais volumosa do que Ember, com os cabelos loiros cumpridos e os seios sempre saltando para fora. Eu a vi se aproximar assim que me viu, revirei os meus olhos porque sabia que nada de interessante poderia vir dela.
— Por que voltou tão depressa do almoço?
Por que, afinal, ela queria saber?
Quando Penélope percebeu que eu não daria atenção a ela, correu atrás de mim com os seus saltos barulhentos como pedras caindo no chão.
— Vou saber o que o novo CEO pediu para você fazer – ela parou bem na minha frente – eu não costumo perder oportunidades assim, e ele precisa saber que eu ainda não desistir.
Nenhuma palavra sairia da minha boca, nem mesmo se Penélope se ajoelhasse em meus pés, eu contaria a ela a minha missão. Quando estava pronta para deixá-la comendo poeira, Evangelina se aproximou e trouxe com ela todos os outros funcionários.
Fantástico, era tudo o que eu precisava, o conjunto completo de funcionários irritantes. Eles falavam todos ao mesmo tempo, fazendo perguntas às quais eu não podia responder. A tensão em mim era palpável. Eu só queria poder sentar-se na minha mesa e trabalhar em paz, mas percebi que enquanto eles não soubessem o que o novo CEO pretendia, não me deixariam em paz.
— Eu aposto que ele te ofereceu um aumento? – Evangelina disse, – afinal, você merece, é a melhor funcionária que a empresa tem.
— Não seja uma puxa saco só porque ela é sua amiga – Penélope se meteu pela segunda vez. – Um homem bonito como ele precisa de uma assistente mais bonita ao seu lado. A Daphne é sem graça, mal sabe se vestir.
— Tenho certeza de que as mulheres caem aos pés dele – comentou outra funcionária – você deve estar caidinha por ele, não é Daphne?
A tensão em meus ombros ia aumentando conforme as palavras deles se intensificavam. Fizeram uma roda ao meu redor e me bombardeavam com as perguntas, enquanto eu mantinha minha boca fechada sem saber até quando suportaria tanta pressão. Se elas soubessem que Haiden era casado e que estava procurando loucamente sua esposa perdida, elas calariam a boca imediatamente.
De repente, todo mundo ao meu redor ficou calado e as expressões em seus rostos indicavam que eles haviam visto um fantasma. Era pior do que isso e eu só entendi quando ouvi a voz que ecoou logo atrás de mim.
— Por que vocês estão importunando a senhorita Daphne? – O sangue parou de circular assim que me virei e olhei nos olhos de Haiden.
Era um olhar gélido e repreensível.
— Desculpa, senhor, nós só queríamos saber o que de tão importante ela foi designada a fazer para o senhor?
Penélope estava cometendo outro enorme erro, ainda mais usando aquelas palavras para falar com Haiden. Lancei um olhar curioso para Penélope. Ela ergueu uma sobrancelha e deu de ombros. Além de complicar a situação dela, agora Penélope queria complicar a minha também. Eu não podia acreditar na coragem de Penélope em revelar aquilo.
— Meu assunto com a senhorita Daphne é confidencial, sendo assim, eu não quero ninguém perguntando a ela sobre o seu trabalho.
Penélope abaixou a cabeça e seus ombros caíram para frente. Já era a segunda derrota em um dia? Ela me lançou um olhar pedindo socorro, sabendo que havia cometido um enorme erro. Balancei a cabeça, negando. Eu não a ajudaria depois dela tentar me ferrar de novo. Eu me virei para olhar para Haiden, mas ele já havia virado as costas e se afastado. Quando achei que estava livre daquele problema, ele parou e olhou para mim. Era difícil ler, com o seu comportamento frio, o que ele estava pensando ou o que pretendia fazer.
— Venha até o meu escritório agora mesmo, senhorita Daphne.
Arregalei os olhos. Ele entrou no escritório e eu sabia que precisava caminhar até lá e me explicar para ele, mas minhas pernas travaram. Pensei que não me encontraria com Haiden tão cedo depois que conversamos.
Todos os olhares estavam congelados em mim e, quando dei finalmente o primeiro passo em direção ao escritório, os murmurinhos começaram logo atrás de mim.
Meu coração saltou e minhas bochechas coraram assim que entrei no escritório dele e o encontrei a poucos centímetros da porta, me fazendo quase esbarrar nele.
— O que você disse a eles? – A expressão fria de Haiden se intensificou.
Dei um passo atrás, mas não havia para onde fugir. Fui impedida de me afastar quando encontrei a porta fechada logo atrás de mim. Fiz uma pausa, as palavras fugindo da minha mente. Porque parecia tão difícil conversar com aquele homem.
— Eu não disse nada, senhor – limpei a garganta quando percebi haver insegurança na minha voz – fiz um acordo com o senhor e gosto de cumprir minha palavra.
Haiden me analisou, parecia um raio-x passando por cada osso do meu rosto. Eu não consegui disfarçar o quanto o olhar dele me deixava desconfortável. Finalmente, ele se afastou e eu pude soltar o ar preso em meus pulmões.
— Espero que você já tenha começado a pensar em um plano para encontrar minha mulher - a tensão se tornou palpável e eu me afundei no medo novamente.
— Ainda não, senhor – minha voz falhou quando ele virou para me olhar – eu não posso começar a procurar por ela se não sei exatamente sobre quem estou procurando.
— Essas são informações confidenciais.
Mas o que diabos aquele homem estava dizendo? Como ele queria que eu o ajudasse, procurou uma mulher que eu nem conhecia o rosto?
— O senhor pode me dizer pelo menos o nome dela?
Fui corajosa e insisti um pouco mais. Seus olhos verdes pareceram mais escuros assim que ele me ouviu e se encheram de fúria. Desviei o meu olhar, sabendo que eu não conseguiria arrancar nada do Haiden além da sua raiva por eu ser tão intrometida, mas ele precisava saber que a missão a que ele me destinava era quase impossível.
— Vou pensar em algo, senhor – eu já havia me convencido da derrota naquele momento e me preparei para partir.
— O nome dela é Ember – ele disse, quando arregalei os olhos e o encarei – é tudo o que posso te dizer.
Não, eu pensei, isso é loucura. Não há como Haiden ter se casado com a minha irmã. Aquilo era só uma infeliz coincidência.
Não podia ser, eu sussurrava para mim mesma. Quais eram as chances de Ember ter se casado com um homem como Haiden sem que ninguém soubesse? Ember era vaidosa demais para esconder um segredo como esse. Se fosse ela, Haiden não estaria me pagando para auxiliá-lo a encontrá-la. — Há algum problema, senhorita Daphne? – a voz de Haiden me puxou de volta. Ele tinha aquele olhar vigilante em cima de mim novamente. Eu ri silenciosamente, o som estranho no escritório me faz perceber o quanto estava sendo ridícula. — Você conhece alguma Ember? – Ele inclinou a cabeça, me estudando pela décima vez. — Não, eu não conheço nenhuma Ember – respondi rápido, meu coração começando a disparar descontroladamente – se o senhor não se importar, eu vou voltar ao meu trabalho. Eu queria fugir dali, ir para bem longe para que Haiden não soubesse que eu tinha uma irmã com esse nome, e decidisse ir atrás dela. Girei os calcanhares, eu estava pronta para correr, quando Hainden esticou a corda. — Voc
— Ember casada com alguém? – Vincent coçou o queixo, a decepção fluindo pelos seus olhos – que ideia maluca é essa Daphne? Eu estava arriscando tudo nas minhas intenções. Bati a mão na testa e virei o corpo na direção oposta para que Vincent não visse o quanto eu estava desesperada com o erro que eu havia acabado de cometer. — A Ember está de caso com outro homem? É isso que você está querendo me dizer? — Como você é descarado, Vincent – me virei para olhar para ele, agora com a expressão furiosa – algumas horas atrás estava implorando para voltar comigo e agora está preocupado se a Ember está com outro homem? — Eu não quis dizer isso – ele gaguejou, seu rosto ganhando tons avermelhados – aliás, porque todo mundo na empresa está dizendo que você, o novo CEO, é mais do que funcionária e patrão? De novo, essa conversa maluca? De onde essas pessoas tiravam isso? Revirei os olhos, embora por dentro estivesse explodindo de raiva pelas fofocas que se espalhavam sobre mim, eu decidi não
Eu mal havia percebido a lagrima escorrendo pelo meu rosto quando a voz da minha mãe me fez lembrar da maldição que ainda era viver debaixo do mesmo teto que os meus pais. — Enxugue essa lágrima, Daphne – minha mãe me olhou com desprezo antes de dar de ombros e virar o rosto – a Ember está certa. É vergonhoso você querer arruinar a reputação dela dessa maneira. — Estou tentando arruinar a reputação dela? – um sorriso desesperado repuxou meus lábios quando passei a mão sobre os meus olhos marejados – eu deveria ter devolvido aquele tapa, aliás, eu deveria ter batido nela quando Ember se envolveu com o meu noivo. Acha mesmo que preciso estragar a reputação de alguém? — Você sempre está no caminho da Ember – minha mãe continuou me insultando, disposta a me fazer sentir culpada – você não suporta a ideia de vê-la vencendo e sendo alguém na vida, enquanto você permanece uma fracassada. Meu corpo inteiro esquentou ao ouvir aquelas palavras, como se um balde de água fervendo fosse jogado
Daphne Era a noite do meu noivado. Eu estava animada, após esperar oito anos, eu e Vincent finalmente iriamos marcar a data do nosso casamento. Francamente, eu teria me casado com ele imediatamente, assim que o conheci. Ele era o homem mais bonito que eu já coloquei meus olhos, inteligente e destemido, mas Vincent instituiu para fazermos as coisas no tempo certo. Concordei e os anos se passaram, tantos que eu já não suportava mais esperar. Estava parada em frente ao espelho e me admirava, confiante de que essa seria a noite mais importante da minha vida. Eu estava pronta para me comprometer para sempre com o homem que eu amava. Soltei meus cabelos negros e ajeitei minha franja. Dei uma última conferida no vestido marrom que eu vestia. Ele era justo e mostrava minhas pernas, mas Ember, minha irmã mais velha, disse ser a roupa ideal para um momento como aquele. — Você está tão sexy nessa roupa, Daphne – Ember disse quando me encontrou na sala. – O Vincent não vai resistir quando te
Eu não fazia ideia de como eu havia chegado nesse lugar e como eu havia conhecido aquele homem e ido parar em um hotel com ele. Eu precisava sair daqui o mais rápido possível. O vibrar insistente do meu celular me fez parar. Centenas de mensagens e chamadas perdidas. Percebi que todo mundo queria fazer parte da minha vergonha. Ignorei, coloquei o telefone na bolsa e entrei no táxi. Depois de um momento de hesitação, parada em frente à porta de casa, eu ainda tentava puxar na memória o rosto do homem com quem passei a noite, mas minhas memórias não passavam de um borrão. E eu ainda tinha que entrar em casa e encarar meus pais. Quando abri a porta, minha mãe veio correndo em minha direção. — Onde você estava Daphne? – A voz dela parecia tão alta que precisei tampar os ouvidos – estávamos preocupados com você. Eu queria uma aspirina que pudesse acabar com a dor de cabeça que eu sentia, então decidir não prolongar aquela conversa. — Estou bem, mãe – menti, tentando desfazer
A beleza de Haiden quase me fez esquecer a merda de vida que eu tinha, quer dizer, ele parecia ter saído de uma revista, de tão lindo que ele era, até Vincent se colocar na minha frente, impedindo minha passagem e dizer em um sussurro: — Precisamos conversar – ele segurou meu braço e eu me afastei tão depressa que um grito escapuliu dos meus lábios. — Como ousa tocar em mim? Todo mundo parou e olhou para mim. Eu senti meu rosto esquentar quando a atenção do CEO ficou voltada para meu comportamento. Hainden me olhava tão profundamente que eu até achei que ele desnudaria minha alma. — Peço desculpas – gaguejei e abaixei a cabeça, torcendo para não ser tarde demais. Mas Vincent não parecia disposto a desistir. E ele não desistiria, eu sabia disso. Convivi com aquele traidor por oito longos anos. Fechei os olhos com força e desejei que todos esquecessem o que havia acontecido e se dirigissem à sala do novo CEO, mas não foi o que aconteceu. — Por que você está incomodando a fun
Minhas mãos começaram a suar. Franzi a testa e a confusão se instalou em minha mente. Ele queria que eu encontrasse a esposa dele? Ela estava perdida ou estava se escondendo? Que tipo de homem Haiden era para que a esposa não quisesse ficar ao lado dele? Eu tinha muitas perguntas, mas nenhuma capaz de atravessar meus lábios e ganhar vida. — Senhor, eu… – gaguejei, fracassando na minha tentativa – o meu trabalho não é investigar casos, aliás, eu nem sei como fazer isso. Haiden se virou para me olhar e sua expressão era tão sombria que precisei abaixar a cabeça, deixando minha franja cair sobre o meu rosto. — Contratei um detetive particular para esse serviço – ele declarou e eu fiquei ainda mais confusa – mas preciso de uma mente feminina para entender um pouco a maneira como as mulheres pensam. Como um homem bonito como ele não sabe como as mulheres pensam? Haiden deveria ser especialista nesse assunto, já que era bonito e sedutor. Aquilo não fazia o menor sentido para mim.
Meu sangue ferveu quando vi Ember colocando o anel no dedo e sorrindo, como se aquilo fosse um prêmio que ela merecia receber. Avancei em sua direção como cão selvagem e arranquei o anel do dedo dela com tanta brutalidade que seu dedo esfolou, sangrando em seguida. — Mas o que diabos você está fazendo, Daphne? – ela sentia-se profundamente insultada e se fez de vítima. — Saia imediatamente do meu quarto – gritei, apontando o dedo para fora – já não basta você roubar o meu noivo, agora vai roubar meus pertences também? Ela colocou o dedo machucado nos lábios e chupou o sangue. Aquilo era tão nojento e nem mesmo no momento de tensão, Ember parava de me provar o quanto era sedutora. Ela tirou a máscara de moça ofendida e caminhou com determinação em minha direção. — Você ainda guarda o anel que o Vincent deu a você? – ela debochou – precisa superar esse homem, Daphne. — Não foi o Vincent quem me deu esse anel – os olhos de Ember se arregalaram de surpresa com a informação – e m