Capítulo 05

Meu sangue ferveu quando vi Ember colocando o anel no dedo e sorrindo, como se aquilo fosse um prêmio que ela merecia receber. Avancei em sua direção como cão selvagem e arranquei o anel do dedo dela com tanta brutalidade que seu dedo esfolou, sangrando em seguida.  

— Mas o que diabos você está fazendo, Daphne? – ela sentia-se profundamente insultada e se fez de vítima.  

— Saia imediatamente do meu quarto – gritei, apontando o dedo para fora – já não basta você roubar o meu noivo, agora vai roubar meus pertences também?  

Ela colocou o dedo machucado nos lábios e chupou o sangue. Aquilo era tão nojento e nem mesmo no momento de tensão, Ember parava de me provar o quanto era sedutora. Ela tirou a máscara de moça ofendida e caminhou com determinação em minha direção.  

— Você ainda guarda o anel que o Vincent deu a você? – ela debochou – precisa superar esse homem, Daphne.  

— Não foi o Vincent quem me deu esse anel – os olhos de Ember se arregalaram de surpresa com a informação – e mesmo que tivesse sido ele, você não tem direito de se meter em meus assuntos.  

Ela fez cara de espanto e pareceu animada com o que acabara de ouvir. Era claro que Ember iria querer saber quem havia me dado o anel, embora nem mesmo eu soubesse de quem eu o havia recebido. A maior diversão de Ember era tirar tudo o que era meu para mostrar o quanto ela era melhor em tudo, mas dessa vez ela não conseguiria.  

— Você já arrumou outro homem, Daphne? – ela ria e meu sangue borbulhava cada vez mais – deixe-me ver mais de perto esse anel, ele parece muito valioso.  

Ela avançou na minha direção novamente, tentando me tomar o anel. Eu o apertei com tanta força na palma de minha mão que a pedra perfurou minha pele, fazendo-a sangrar. Eu a empurrei com as duas mãos para longe de mim, até que ela fosse finalmente vencida pelo cansaço.  

— Isso não importa – ela disse, dando de ombros como se aquilo agora fosse insignificante – certamente ele deve ser outro fracassado como o Vincent que, quando colocar os olhos em mim, vai largar você no segundo seguinte.  

Avancei na direção dela, quando minha mãe me impediu, me agarrando para que eu não agredisse minha irmã mais velha pelos insultos que ela desferia a mim.  

Ember olhou para o relógio de pulso como se nada tivesse acontecido e se apressou para sair de cena.  

— Eu queria ficar mais para conversar com você, mas tenho uma reunião com os executivos da minha empresa.  

Girou os calcanhares e partiu, balançando seu enorme cabelo e esfregando na minha cara o quanto ela era uma mulher bem-sucedida e bonita. Ember era dona do próprio negócio, ela simplesmente tinha a maior loja de joias da nossa cidade. Tinha sua própria casa, seu veículo, seus empregados, enquanto eu ainda vivia debaixo do mesmo teto que os meus pais.  

Gritei assim que ela saiu pela porta. Eu não suportava que ela tivesse tudo e ainda quisesse tirar de mim o pouco que eu tinha. Eu não suportava mais ter que viver à sombra da minha irmã mais velha.  

— Até quando você vai continuar agindo como uma mulher imatura, atacando a sua irmã? - Minha mãe me advertiu como se eu fosse uma criança de cinco anos – nenhum homem gosta de mulheres inseguras como você.  

— O que a senhora está dizendo? – Olhei bem nos olhos da minha mãe, achando inacreditável o que eu ouvia. - Está tentando colocar a culpa em mim por ser abandonada pelo Vincent?  

— E de quem mais seria a culpa?  

Meu pai entrou pela porta, quando ouviu os nossos gritos, mas não impediu minha mãe de continuar me insultando. Às vezes, eu acreditava que eu era um peso incômodo para os meus pais e que eles diziam aquelas coisas para mim, para que eu pudesse me tocar e ir embora de vez da casa deles. Eles sempre deixaram claro suas preferências por Ember, tanto que quando ela aceitou o pedido de Vincent, nenhum dos dois a tratou com desprezo por trair a própria irmã.   

— Você acha que a Ember agiria assim se estivesse em seu lugar? É por isso que ela tem tudo o que quer, enquanto você, oh, meu Deus, Daphne…   

— Ela te contou que já largou o Vincent ou a senhora sonhou com o casamento perfeito para a sua filha perfeita?  

Minha mãe deu de ombros enquanto meu pai abaixou a cabeça. Eles sabiam, era claro que sabiam. Não importava se Ember fizesse isso somente para arruinar a minha vida, desde que ela continuasse sendo a mulher de sucesso que eles idealizaram a vida inteira.  

— Vincent não era homem para ela e eu a avisei quando eles se encontravam pelas suas costas.  

Meu pai levantou o olhar rapidamente, olhando assustado para minha mãe.  

— Rosália, querida, já chega desse assunto – meu pai se aproximou, dessa vez para terminar a conversa.  

— Ele estava me traindo com ela? – eu a impedi de sair – e a senhora sabia e encobria a traição? Que tipo de mãe faria isso com a própria filha?  

Por que eu estava surpresa? Meus olhos encheram-se de lágrimas. Era informação demais para assimilar de uma vez só. Peguei minha bolsa que havia jogado no chão, engoli toda a dor que eu estava sentindo e saí de casa.   

Eu havia perdido o apetite, eu preferiria ir para qualquer lugar, menos ficar ali e ouvir meus pais dizerem que participou de todos os atos de Ember pelas minhas costas. Eu precisava decidir a minha vida e ir embora daquela casa. Já não havia mais clima para eu morar debaixo do mesmo teto que os meus pais, depois do que eu acabara de saber.   

Antes de dar a partida, eu percebi que ainda segurava o anel. Olhei para a aliança manchada com o meu próprio sangue e fiquei perguntado o que aquilo significava. No segundo seguinte, joguei a aliança na bolsa e saí finalmente de casa.   

Dirigi sem rumo por minutos, quando lembrei da missão que Haiden havia me dado, encontrar sua esposa perdida. Aquela era a minha chance de conseguir um bom aumento ou até mesmo subir de cargo na empresa e ter dinheiro suficiente para finalmente ir embora da casa dos meus pais.  

Enquanto eu dirigia de volta para o trabalho, eu decidi que daria o meu melhor para encontrar essa mulher e dar ao meu chefe o que ele tanto queria. Eu provaria para mim mesma que eu não era uma fracassada e que eu podia conseguir o que eu queria.   

E eu conseguiria.  

  

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