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Capítulo 3: Distâncias e Desafios

LANA MARTINS

É uma manhã cinzenta e fria, e estou atrasada. Mais uma vez. Acelerar a respiração e os passos já se tornou um hábito nas manhãs em que consigo visitar Ana. Cada segundo no internato parece insuficiente; os minutos escapam antes que eu realmente possa aproveitar sua companhia. Ver Ana, mesmo por tão pouco tempo, é tudo para mim. Essa visita, por mais breve que seja, renova meu propósito.

Ao entrar pelo portão do internato, avisto Ana brincando na quadra com uma bola de borracha. Assim que me vê, ela corre e pula no meu colo com um sorriso iluminando o rosto.

— Lana! — Ela me abraça com força, os olhos brilhando de alegria.

— Minha pequena! Como você está? — pergunto, sentindo um misto de felicidade e tristeza. Por mais que queira levar Ana de volta para casa, sei que essa é a única forma de garantir sua segurança.

— Estou bem! A professora disse que sou a melhor em desenhos da turma. — Os olhos de Ana brilham de orgulho, e ela me puxa até a parede onde alguns desenhos estão pendurados. Observo as figuras coloridas e caóticas, cada uma contando uma pequena história da sua imaginação.

— São lindos, Ana — respondo, com os olhos marejando de orgulho e saudade. — Eu sabia que você era talentosa!

Por mais que eu tente sorrir, não consigo esquecer que o tempo é curto. A sensação de estar dividida entre as responsabilidades e o desejo de cuidar de Ana aperta cada vez mais. Quando o sinal da escola soa, indicando o fim da visita, Ana me olha com os olhos tristes e a voz fraca.

— Você vai voltar logo, né?

— Vou sim, prometo. Eu sempre volto, meu amor. — Abraço-a mais uma vez, como se pudesse transmitir todo o amor e segurança que não posso dar diariamente.

De volta ao mundo exterior, olho o relógio e percebo que já estou atrasada para o trabalho na VIPSecret. Pela quinta vez naquele mês. — Ah, droga! — murmuro, enquanto o nervosismo aumenta e corro para pegar o ônibus, torcendo para que Sarah, a dona, não me veja entrando. É mais um dia comum no clube de acompanhantes, mas sei que meu atraso, cada vez mais frequente, já é motivo de irritação para ela.

Assim que chego, ofegante e ainda ajustando o casaco, tento cruzar discretamente o corredor até o vestiário. Mas não tenho sorte. Sarah está parada na entrada, braços cruzados e o olhar severo fixo em mim.

— Está achando que é um favor vir trabalhar aqui, Lana? — diz, com a voz fria e cortante. — Já é a quinta vez que chega atrasada este mês. Acha que isso é alguma casa de caridade?

Respiro fundo, tentando acalmar o coração acelerado.

— Sarah, eu... eu precisei ver minha irmã. Ela está em um internato e só posso visitá-la em horários limitados.

— Isso não é problema meu! — Sarah interrompe, impaciente. — Aqui não é lugar para quem não leva o trabalho a sério. Você não é a única garota que precisa de dinheiro. Se não pode cumprir as regras, então está fora.

Tento argumentar, mas a decisão de Sarah está clara. A cada palavra dela, sinto o chão sumir mais e mais sob meus pés, pois sei que sem aquele trabalho não terei como pagar o internato de Ana.

— Não, por favor... Eu preciso desse emprego. É a única maneira de ajudar minha irmã — imploro, a voz falhando.

— Sem desculpas. Isso aqui é um negócio, e eu preciso de gente comprometida. A partir de hoje, está suspensa, Lana. Se quiser voltar, terá que me provar que está pronta para cumprir as regras. — Ela vira as costas, deixando-me sozinha no corredor, sentindo o peso da situação afundar ainda mais sobre meus ombros.

Desesperada, deixo a agência sem saber o que fazer. Sem o trabalho ali, não tenho outra fonte de renda imediata, e o próximo pagamento do internato está se aproximando. As ruas à minha frente se tornam borrões enquanto lágrimas quentes rolam pelo meu rosto, e a sensação de desamparo me invade completamente. Por mais que tente manter o controle e a esperança, parece que o mundo está desabando ao meu redor.

Enquanto caminho lentamente para casa, imersa em pensamentos, sinto o celular vibrar no bolso. É uma mensagem de uma colega que trabalha em uma agência de acompanhantes independente: "Lana, soube de um cliente precisando de uma acompanhante para um evento importante. O pagamento é alto, e ele quer alguém confiável. Talvez essa seja sua chance."

Paro por um momento, olho para o céu e murmuro, quase em prece: "Vocês estão cuidando de mim aí de cima." Respiro fundo, absorvendo a ideia. Talvez isso seja o sinal que eu tanto esperava. Faria qualquer coisa para garantir o futuro de Ana, mesmo que isso significasse aceitar contratos e condições incomuns. E, se o cliente realmente está disposto a pagar bem, talvez finalmente tenha uma saída para meus problemas financeiros.

A noite parece fria e silenciosa, mas, dentro de mim, uma determinação cresce. Essa é minha última chance. O caminho não será fácil, mas, para garantir o futuro de Ana, estou disposta a aceitar.

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