LANA MARTINS
Meu coração b**e acelerado enquanto atravesso o saguão luxuoso do hotel, um lugar que raramente frequento. As paredes de mármore, reluzentes sob a luz suave, os candelabros elegantes, e os arranjos de flores impecáveis me intimidam. A mensagem da minha colega ecoa na minha mente: "Um empresário influente precisa de uma acompanhante para um evento importante." O pagamento prometido é suficiente para cobrir as próximas mensalidades do internato de Ana. Mais do que isso, representa uma oportunidade de estabilidade que não posso ignorar.
Ao avistar o homem em um canto, sinto uma onda de atração por sua presença marcante e imponente. Seus cabelos escuros estão penteados para trás, de maneira elegante e impecável. A barba bem definida contorna seu maxilar, dando um ar sério ao rosto. Ele veste um terno preto que exala sofisticação e profissionalismo, complementado por uma camisa e uma gravata também pretas, mantendo um estilo clássico e discreto. Seu olhar intenso se fixa em mim, e isso só aumenta meu nervosismo.
Sei pouco sobre ele, exceto que pediu uma "noiva de fachada". O propósito é claro: ele quer alguém ao seu lado durante um evento, uma acompanhante. Mas à medida que me aproximo, uma inquietação me toma. O que isso realmente significa para ele — e para mim? A incerteza me faz questionar se estou pronta para esse trabalho e suas implicações.
— Lana Martins? — Sua voz baixa e firme me tira dos pensamentos.
— Sim, sou eu. — Assinto, tentando manter a calma.
Ele faz um gesto para que eu o siga. Subimos juntos até uma suíte reservada, onde ele indica um pequeno sofá para conversarmos. Sento-me, mantendo uma postura ereta e séria, mesmo que queira relaxar e parecer menos tensa.
— Sou Daniel Navarro — ele se apresenta, pausando para me observar. — Preciso de alguém que desempenhe um papel especial.
— Direto ao ponto — comento, esboçando um sorriso nervoso. Em seguida, me recomponho e pergunto, mantendo a voz calma e profissional: — E qual seria esse papel, exatamente?
Daniel respira fundo, como se estivesse se preparando para expor algo profundo. Ele me observa com uma mistura de vulnerabilidade e determinação antes de continuar.
— Tenho um evento para comparecer, o casamento do meu irmão — diz ele, a voz firme, mas carregada de emoção. — Mas há um detalhe importante: minha ex-noiva também estará lá.
Um silêncio pesado se instala, e sinto a tensão no ar. Ele continua, os olhos fixos nos meus, como se quisesse que eu entendesse a gravidade da situação.
— Não é qualquer ex — ele acrescenta, a dor quase palpável na voz. — É aquela que saiu da minha vida da forma mais dolorosa possível, levando meu coração consigo. Quando ela me deixou, perdi muito mais do que um relacionamento; perdi uma parte de mim.
As palavras dele ecoam na sala, e sinto o peso da história que ele carrega. Daniel parece se perder em suas lembranças, e, por um instante, vejo a fragilidade por trás de sua imagem imponente. Ele precisa de alguém ao seu lado, não só para fazer parte da festa, mas para enfrentar os fantasmas do passado que ainda o assombram.
— E é por isso que preciso de você — diz ele, trazendo-me de volta à realidade. — Preciso de alguém que me ajude a enfrentar essa situação. Alguém que me faça parecer... feliz, mesmo que por fora eu esteja despedaçado.
Seu pedido ressoa dentro de mim, e sinto uma mistura de empatia e responsabilidade. O que começou como um trabalho se transforma em algo muito mais profundo, uma chance de ajudar alguém a enfrentar suas dores e, talvez, encontrar uma nova esperança.
— Preciso que você finja ser minha noiva — diz Daniel, olhando diretamente nos meus olhos, tentando medir minha reação. A intensidade de seu olhar faz com que eu sinta o peso da sua solicitação.
— Para fazer ciúmes em Caroline? — pergunto, tentando compreender. Ele assente, com um misto de determinação e tristeza no olhar.
— Quero que ela veja o que perdeu — ele explica. — Que entenda que não sou apenas um cara solitário em um evento familiar. Quero que ela saiba que estou seguindo em frente, que sou desejado. Se me vir com alguém, talvez isso a faça reconsiderar tudo.
As palavras dele reverberam, e percebo a complexidade da situação. Ele não está apenas pedindo uma acompanhante; está tentando reverter o que foi perdido, reacender uma chama que se apagou. Sua proposta carrega uma vulnerabilidade que me faz hesitar.
— Você acha que isso vai funcionar? — pergunto. — Fazer ciúmes não é um jogo fácil. Pode acabar machucando ainda mais.
Daniel suspira, com um olhar distante, ponderando os riscos.
— Sei que há riscos — ele responde, a voz carregada de um peso emocional. — Mas preciso tentar. Sinto que, se ela perceber que posso seguir em frente, talvez sinta falta do que tivemos. É minha última cartada.
Eu me pergunto se estou disposta a entrar nesse jogo. Ao mesmo tempo, sinto uma chama de compaixão acender dentro de mim. Daniel está ferido, e sua vulnerabilidade é palpável. Ele não busca apenas uma "noiva de fachada"; busca um caminho de volta à esperança, mesmo que isso envolva manipulações emocionais.
— E se eu concordar? — pergunto, ponderando as implicações. — O que isso vai significar para mim?
Ele sorri, mas é um sorriso que carrega esperança e desespero.
— Sei que você precisa de dinheiro, e isso significa uma quantia que faria sua conta ter tantos zeros que você nem conseguiria contar — ele diz, a voz firme.
Olho para ele, ofendida pela forma direta como aborda minha situação financeira.
— E quais seriam os limites? — pergunto, cautelosa, tentando entender até onde ele está disposto a ir.
— Aqui está o contrato, com tudo detalhado: "sem sexo" — ele puxa uma folha da pasta e a coloca sobre a mesa. — É um contrato de acompanhante, sem intimidade. Você só precisa estar ao meu lado, conversar e sorrir como se fôssemos um casal apaixonado. Apenas isso.
Leio o documento com atenção; a cláusula "sem sexo" está destacada em negrito. As condições são claras. O contrato é temporário, válido apenas para esse evento, e o pagamento será feito no dia seguinte ao casamento. Levanto os olhos para ele, ponderando a decisão.
Hesito, mas a condição é mais um alívio do que um obstáculo.
— Você pergunta demais — Daniel comenta, com um sorriso que tenta aliviar a tensão. — Vamos ser diretos: você aceita ou não?
A lógica, de fato, está do lado dele. A oferta é tentadora, e a urgência da situação me faz considerar tudo o que está em jogo.
— Se eu aceitar, precisamos deixar claro que isso é apenas um contrato — respondo, tentando estabelecer limites. — Não quero que as emoções se envolvam.
Ele acena com a cabeça, compreendendo a necessidade de definir os contornos.
— Exatamente — ele confirma. — Isso é um negócio. E, quem sabe, no final você sai com uma boa quantia, e eu consigo o que preciso.
A proposta começa a ganhar forma em minha mente. A lógica, aliada ao benefício imediato, faz com que eu me sinta atraída pela ideia. E, mesmo que existam riscos, talvez isso traga uma nova direção para minha vida e para a de Ana.
— Tudo bem, senhor Navarro — respondo, finalmente. — Estou dentro.
O sorriso de Daniel se amplia, e um alívio perceptível surge em sua expressão.
— Ótimo! Então, vamos fazer isso funcionar — ele diz, estendendo a mão para mim, como se selássemos um pacto. — E, a propósito, me chame de Daniel. Afinal, agora somos... noivos.
A mão dele se encaixa na minha, e, embora a situação seja atípica, sinto uma mistura de nervosismo e empolgação. Estou prestes a entrar em um jogo que pode mudar nossas vidas de maneiras que ainda não consigo imaginar.
LANA MARTINSEnquanto tento organizar meus pensamentos naquela manhã de sábado, o toque da campainha me faz saltar. Corro até a porta e, ao abri-la, meu coração dispara. Daniel está parado ali, impecável em um terno escuro, com aquele leve sorriso enigmático que ele usa tão bem. Quase tropeço nas palavras, pega completamente de surpresa pela presença imponente dele na entrada do meu pequeno apartamento.— Como você... me encontrou? — Gaguejo, puxando a porta um pouco mais, tentando disfarçar o nervosismo e o constrangimento por estar usando um cropped decotado e revelador, absolutamente inapropriado para a ocasião.Ele ergue uma sobrancelha, como se a pergunta fosse desnecessária.— Você sabe que tenho acesso a informações sobre você, Lana — diz ele, com uma naturalidade que torna tudo ainda mais desconcertante.Respiro fundo, lembrando do dossiê que ele mencionou no nosso encontro no hotel. Claro, ele conhece cada detalhe sobre mim; Daniel é meticuloso demais para deixar algo ao acas
LANA MARTINSAssim que a porta da suíte se fecha, percebo que estou mergulhando em um mundo distante da minha realidade. Meus olhos vasculham o ambiente sofisticado: uma cama king-size rodeada por móveis modernos e imponentes, decorados em tons de creme e dourado. As amplas janelas se abrem para uma vista espetacular do oceano, o que aumenta a sensação de surrealismo.Respiro fundo antes de abrir o guarda-roupa, sentindo a antecipação misturada com um toque de nervosismo. Ali dentro, tudo parece cuidadosamente pensado para uma vida de luxo: vestidos elegantes, conjuntos casuais e peças finas que parecem saídas de catálogos de alta moda. Observando mais de perto, noto que cada roupa reflete alguém que eu ainda não reconheço — alguém que pertence a um mundo que conheço apenas de longe. O desconforto dá lugar a uma curiosidade misturada à empolgação.Ao alcançar uma prateleira no canto, encontro um conjunto de lingeries rendadas, delicadas e reveladoras. O rubor sobe em meu rosto ao perc
DANIEL NAVARROÀ medida que o sol se põe e o céu ganha tons de laranja e roxo, levo Lana para se juntar à minha família em um ritual à beira-mar, realizado ao redor de uma grande fogueira. A cerimônia é simples e profundamente conectada à cultura local, simbolizando a união e o amor eterno. Ao meu lado, ela tenta parecer à vontade, mas seu olhar vigilante em Caroline a deixa inquieta.Minha família e os amigos estão relaxados, rindo e compartilhando histórias, mas percebo que Lana nota como Caroline sempre encontra uma maneira de se aproximar ou provocar de forma sutil, disparando comentários disfarçados que a fazem questionar cada uma de suas respostas.— Então, Lana... Como você e Daniel se conheceram? — Caroline pergunta, sorrindo como se fosse uma conversa casual.Lana é pega de surpresa e hesita por um segundo antes de responder:— Nos conhecemos em um evento, e desde então soubemos que algo forte nos conectaria.Caroline ergue uma sobrancelha, claramente não convencida. Sinto o
LANA MARTINSNo dia seguinte, o sol brilha alto e a brisa fresca do mar traz uma sensação renovadora. O ar parece limpo, fresco, mas, ao mesmo tempo, algo em mim está turvo. Caminho pela área da piscina, onde vejo Daniel conversando com Lucas e Caroline. Ela se aproxima com aquele sorriso fácil, colocando-se ao lado dele de forma casual, mas excessivamente próxima. Cada risada dela é acompanhada de um toque no braço de Daniel ou um sorriso provocador - gestos que deixam claro o que ela está tentando fazer.O que aconteceu na noite anterior ainda está martelando em minha cabeça. Só de pensar no toque de Daniel, uma onda de calor se espalha pelo meu corpo, seguida de vergonha. Tento ignorar a sensação estranha que cresce dentro de mim, mas a irritação começa a se intensificar. O que estou fazendo aqui? Não é para eu sentir nada, mas a maneira como Caroline monopoliza a atenção de Daniel me incomoda profundamente. Respiro fundo, tentando me lembrar do porquê de estar ali: é um trabalho,
LANA MARTINSEncaro o nascer do sol pela pequena janela da minha sala, o céu tingido de tons alaranjados e rosados. Cada amanhecer me traz um misto de esperança e inquietação, porque, a cada dia, meu caminho parece mais distante do que eu sempre sonhei. Esse pequeno apartamento, que um dia representou o começo da minha independência, agora é só uma lembrança amarga do que a vida poderia ter sido.A campainha toca de repente, e o som estridente ecoa pelo apartamento, me fazendo parar no meio da sala, com os olhos fixos na porta. Ainda é cedo, e eu não estou esperando visitas. Olho para Ana, que brinca no chão com uma boneca de cabelos encaracolados, tão absorta na brincadeira que mal nota o barulho. Respiro fundo e abro a porta.Do outro lado, está uma mulher baixa, de óculos retangulares e um olhar frio, segurando uma pasta de documentos firmemente contra o peito. O coque impecável e o terno cinza-escuro a tornam ainda mais severa. Ela me observa como se já soubesse exatamente o que va
LANA MARTINSEnquanto me maquio, minha imagem reflete no espelho da pequena penteadeira. Meus olhos, grandes e profundos, trazem uma expressão endurecida, como se tivessem aprendido a carregar muito mais do que alguém de vinte anos deveria. Meus cabelos encaracolados, agora presos em tranças apertadas, caem em torno do meu rosto, destacando as maçãs do rosto marcantes. Mas, por mais que tente me concentrar, as lembranças do acidente me perseguem sem piedade nesta noite silenciosa. Sentada aqui, ancorada na minha realidade, me perco no passado, revivendo o momento que mudou tudo.~ Flash On ~Naquela época, eu ainda trabalhava como garçonete e, apesar dos meus dezenove anos, todos me consideravam responsável e comprometida, mas, acima de tudo, ansiosa para melhorar de vida e ajudar minha família. Minha rotina era simples, quase previsível, entre a casa e o trabalho, e meu maior desejo era um futuro tranquilo ao lado dos meus pais e de Ana, minha irmãzinha.Ana, com apenas cinco anos, er
LANA MARTINSÉ uma manhã cinzenta e fria, e estou atrasada. Mais uma vez. Acelerar a respiração e os passos já se tornou um hábito nas manhãs em que consigo visitar Ana. Cada segundo no internato parece insuficiente; os minutos escapam antes que eu realmente possa aproveitar sua companhia. Ver Ana, mesmo por tão pouco tempo, é tudo para mim. Essa visita, por mais breve que seja, renova meu propósito.Ao entrar pelo portão do internato, avisto Ana brincando na quadra com uma bola de borracha. Assim que me vê, ela corre e pula no meu colo com um sorriso iluminando o rosto.— Lana! — Ela me abraça com força, os olhos brilhando de alegria.— Minha pequena! Como você está? — pergunto, sentindo um misto de felicidade e tristeza. Por mais que queira levar Ana de volta para casa, sei que essa é a única forma de garantir sua segurança.— Estou bem! A professora disse que sou a melhor em desenhos da turma. — Os olhos de Ana brilham de orgulho, e ela me puxa até a parede onde alguns desenhos estã
DANIEL NAVARROMe lembro claramente do dia em que Caroline saiu da minha vida. Ela estava linda, como sempre, mas seu olhar estava mais frio do que eu jamais imaginei possível. Carol, como eu a chamava, domina qualquer ambiente. Sua presença me atrai como um ímã, e sou incapaz de recusar o que ela quer ou de me afastar dela. Nosso relacionamento foi intenso desde o início, e talvez por isso, quando ela decidiu terminar, senti como se levasse uma facada. Não há explicação suficiente para justificar o fim. Não para mim.Mesmo após aquele término tenso e as palavras afiadas que trocamos, algo em mim permanece preso a ela. Talvez seja uma mistura de orgulho e desejo. Mesmo depois de tudo, a ideia de reconquistá-la não me parece absurda. Eu ainda a amo e faria o que fosse necessário para tê-la de volta. Por isso, quando soube que ela estaria no casamento do meu irmão Lucas, decido que essa é a ocasião perfeita para reverter nossa história.Lucas e eu sempre fomos próximos, embora nossas per