LANA MARTINSO mês passa mais rápido do que eu espero. Quando percebo, já estou com seis meses de gravidez, e o prazo que dei a Daniel está se esgotando. Decido, enfim, que é hora de voltar para o Brasil. Sei que preciso encarar a realidade, o que significa enfrentar as consequências das minhas escolhas e, principalmente, as do passado.Chego a São Paulo com uma mistura de sentimentos. Estou nervosa por reviver tudo o que deixamos para trás, mas, ao mesmo tempo, aliviada por finalmente estar voltando para a cidade, perto de Daniel. Não é mais o mesmo, não mais para mim, mas ainda assim, ele é o pai da minha filha. E essa é a única certeza que tenho agora.Na noite que segue à minha chegada, Daniel me convida para um jantar na casa de seus pais. Hesito por um momento, lembrando-me do quanto essa situação pode ser desconfortável. Não sei c
DANIEL NAVARRONa manhã seguinte, ainda sentindo o impacto da noite na biblioteca, dirijo-me à casa de Lana com uma sensação de renovação. Chegando lá, encontro-a penteando o cabelo de Ana, e a imagem mexe comigo de uma forma inesperada. Não posso evitar imaginar como ela seria uma mãe incrível.Lana me oferece um café, e aceito, aproveitando a desculpa para prolongar o tempo com ela. Enquanto ela prepara a bebida, uma pergunta me escapa, como se já estivesse ali há tempos, esperando para ser dita.— Então... estamos namorando? — Eento soar casual, meio brincalhão, embora a expectativa me traia um pouco.Ela dá uma risadinha, mas desvia o olhar, mostrando uma hesita&cced
LANA MARTINSMeus dias na casa de Daniel começam a ganhar um ritmo próprio. Entre consultas médicas, repouso e os preparativos para a chegada de Nina, cada dia segue um padrão familiar, mas eu sinto que algo está mudando. É uma sensação boa, como se, finalmente, eu estivesse me preparando para algo maior do que imaginava.Certa manhã, a arquiteta chega com amostras de cores e tecidos para o quarto da bebê. Daniel a acompanha enquanto ela me mostra as opções, seus olhos atentos a cada detalhe, como se tudo fosse essencial. Tento disfarçar, mas não consigo evitar a emoção. Ver tudo tomando forma é um sinal claro de que uma nova fase está prestes a começar.— O que acha dessa cor? — A arquiteta perg
LANA MARTINSEstou em um espaço estranho, envolta em uma mistura de escuridão e luz, como se estivesse flutuando entre dois mundos. Fragmentos de vozes ecoam ao meu redor, mas parecem tão distantes, como se o mundo inteiro estivesse a milhas de distância. O peso no meu peito se dissipou, mas uma dor surda ainda persiste — algo que não consigo identificar completamente. Minha mente se perde entre realidade e desconhecido, sem noção exata de onde estou ou do que está acontecendo.Quando finalmente desperto completamente, a confusão me invade. Estou num hospital; os monitores emitem sons metálicos ao meu redor, e a dor, agora mais real, parece fazer parte de mim. Algo mudou, mas o medo ainda me consome. Onde está Daniel? E minha filha?O tempo parece congelado
DANIEL NAVARROO dia em que Lana acordou mudou tudo. Quando ela abriu os olhos, senti como se o mundo tivesse ganhado uma segunda chance, uma nova energia, e nós também. Não só como casal, mas como uma família. O alívio de vê-la ali, de volta, é como um peso saindo dos meus ombros. Mas há algo que ainda me consome: eu quero pedir Lana em casamento. Depois de tudo o que ela lutou, depois de tudo o que enfrentamos juntos, sei que é a hora certa. Estou pronto.Antes mesmo dela voltar para casa, começo a planejar. A primeira pessoa em quem penso para ajudar é Lucas. Ele entende a urgência e a emoção que eu sinto. Quando conto meu plano, ele me lança aquele sorriso debochado, o mesmo de sempre.— Você e seus planos, irmão. — Zomba, mas vejo em seu olhar que ele está torcendo por mim.No dia em que
LANA MARTINSO dia do casamento chega com uma ansiedade quase sufocante. Minhas mãos estão geladas, o coração acelerado, mas o sorriso não sai do rosto. Clara está ao meu lado, ajustando o véu, enquanto Ana, em seu vestido de dama de honra, não consegue parar quieta, cheia de energia.— Você está linda, Lana! — Diz Clara, dando um passo atrás para me observar. — Nunca te vi tão radiante.— Eu... nem sei o que dizer, Clara. — Sorrio timidamente, tentando controlar o nervosismo. — Tudo aconteceu tão rápido. Parece que ontem eu estava no hospital, sem saber se conseguiria viver para ver esse dia.Ela me olha com ternura e toca meu rosto. LANA MARTINSCinco anos se passaram, e é quase inacreditável ver o quanto tudo mudou. Ana, agora com 12 anos, parece tão diferente daquela garotinha travessa de antes. Ela e Nina, com seus cinco anos, se tornaram as melhores amigas, inseparáveis. Ver as duas juntas — Ana sempre a tia protetora e Nina, com sua energia contagiante — me enche de alegria como mãe e irmã. A convivência entre elas é um presente diário, e a cada dia essa relação cresce de um jeito lindo.E quanto a mim? A cada dia ao lado de Daniel, sinto que a felicidade se multiplica. Estou grávida novamente, esperando nosso segundo filho, um menino, e a ideia de ser mãe outra vez me traz uma sensação de plenitude que quase não consigo descrever. O tempo voou, mas trouxe tudo o que eu sempre sonhei: uma famíliCapítulo 32: Bodas de Madeira
LANA MARTINSEncaro o nascer do sol pela pequena janela da minha sala, o céu tingido de tons alaranjados e rosados. Cada amanhecer me traz um misto de esperança e inquietação, porque, a cada dia, meu caminho parece mais distante do que eu sempre sonhei. Esse pequeno apartamento, que um dia representou o começo da minha independência, agora é só uma lembrança amarga do que a vida poderia ter sido.A campainha toca de repente, e o som estridente ecoa pelo apartamento, me fazendo parar no meio da sala, com os olhos fixos na porta. Ainda é cedo, e eu não estou esperando visitas. Olho para Ana, que brinca no chão com uma boneca de cabelos encaracolados, tão absorta na brincadeira que mal nota o barulho. Respiro fundo e abro a porta.Do outro lado, está uma mulher baixa, de óculos retangulares e um olhar frio, segurando uma pasta de documentos firmemente contra o peito. O coque impecável e o terno cinza-escuro a tornam ainda mais severa. Ela me observa como se já soubesse exatamente o que va