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Noiva por Conveniência
Noiva por Conveniência
Por: Luna B.
Capítulo 1: O Preço da Responsabilidade

LANA MARTINS

Encaro o nascer do sol pela pequena janela da minha sala, o céu tingido de tons alaranjados e rosados. Cada amanhecer me traz um misto de esperança e inquietação, porque, a cada dia, meu caminho parece mais distante do que eu sempre sonhei. Esse pequeno apartamento, que um dia representou o começo da minha independência, agora é só uma lembrança amarga do que a vida poderia ter sido.

A campainha toca de repente, e o som estridente ecoa pelo apartamento, me fazendo parar no meio da sala, com os olhos fixos na porta. Ainda é cedo, e eu não estou esperando visitas. Olho para Ana, que brinca no chão com uma boneca de cabelos encaracolados, tão absorta na brincadeira que mal nota o barulho. Respiro fundo e abro a porta.

Do outro lado, está uma mulher baixa, de óculos retangulares e um olhar frio, segurando uma pasta de documentos firmemente contra o peito. O coque impecável e o terno cinza-escuro a tornam ainda mais severa. Ela me observa como se já soubesse exatamente o que vai dizer.

— Lana Martins? — pergunta a mulher, sem nenhuma dúvida sobre quem eu sou.

— Sou eu, sim. — Assinto, tentando disfarçar a tensão na minha voz.

— Sou Vera Santos, assistente social. Estou aqui para falar sobre sua situação e a da sua irmã, Ana. Podemos conversar?

A assistente social entra antes mesmo que eu a convide, e seus olhos logo pousam em Ana, que continua entretida no chão, alheia ao que está acontecendo. Fecho a porta e observo Vera, que agora avalia o pequeno e modesto apartamento. Seu olhar frio para em Ana por mais um instante antes de voltar para mim.

— Recebemos uma denúncia anônima, senhorita Martins. Fomos informados de que você tem deixado sua irmã sozinha em casa enquanto vai ao trabalho. Isso é verdade?

Meu rosto esquenta, e a culpa me invade. Sei que não é a situação ideal, mas o salário de garçonete não cobre os custos de uma babá, e eu não tenho ninguém a quem pedir ajuda. Lidar com isso sozinha é a única opção que me resta, mesmo que isso signifique deixar Ana em casa por algumas horas.

— Eu... Eu não tive escolha — respondo, a voz trêmula. — Trabalho o dia todo, e o salário mal cobre as contas e as despesas da Ana.

Vera não parece se comover. Apenas tira um papel da pasta e me entrega.

— Esta é uma intimação formal. Se acontecer mais uma vez de você deixar Ana sozinha, o conselho tutelar tomará medidas. Vamos considerar isso um aviso, mas não haverá uma segunda chance. A guarda de Ana será suspensa caso você não consiga manter um ambiente seguro para ela.

Sinto um aperto no peito. Só de pensar na possibilidade de perder Ana, o coração aperta. Ela é a última coisa que restou da nossa família, minha irmãzinha que precisa de mim. Não posso deixar que nos separem.

— Eu entendo, senhora Vera — sussurro, quase sem voz, mas suficiente para que a assistente social confirme com um aceno.

— Espero que tome as providências necessárias, senhorita Martins. Ana é uma criança e precisa de alguém que possa cuidar dela de forma segura e adequada.

As palavras dela são um soco no estômago. A situação fica clara: não basta apenas trabalhar e tentar manter Ana em casa. É preciso muito mais do que eu posso proporcionar no momento.

Assim que Vera sai, desabo no sofá. Ana me olha, com seus olhos grandes e castanhos, cheios de inocência, sem entender o que acabou de acontecer. Eu a abraço e sinto uma pontada de culpa e desespero.

Naquela noite, mal consigo dormir, pensando em uma solução. Sei que não posso garantir a segurança de Ana sem encontrar uma maneira de aumentar a renda. E meu emprego atual não permite isso. Na manhã seguinte, tomo uma decisão difícil: vou até o restaurante onde trabalho como garçonete e entrego minha demissão.

— Tem certeza disso, Lana? — Meu chefe me olha surpreso, com uma expressão que mistura pena e compreensão, sabendo o quanto eu preciso desse emprego.

— Tenho — respondo, tentando manter a cabeça erguida. Mas sei que estou abrindo mão do pouco que ainda me mantinha segura.

De volta ao apartamento, o silêncio é opressor. Eu encaro as paredes vazias, sentindo o peso do que vem pela frente. Logo em seguida, tomo a segunda decisão difícil: começo a procurar alternativas que me permitam aumentar minha renda e garantir uma vida melhor para mim e para Ana. Em meio a essas buscas, ouço falar da VIPSecret, uma agência de acompanhantes. Hesito de imediato. Nunca pensei que cogitaria algo assim. Mas a cada noite insone, a ideia parece menos distante. Afinal, minhas opções são poucas e a necessidade é urgente.

Após uma conversa franca com Sarah, a dona do local, começo a enxergar as coisas de forma mais prática. Ela explica que posso estabelecer minhas próprias condições e horários, e que o trabalho pode se limitar a um acompanhamento elegante e discreto para eventos.

Então, tomo uma terceira decisão, talvez a mais dolorosa de todas: colocar Ana em um internato. Converso com a direção do colégio, explico a situação, e, para minha surpresa, eles encontram uma vaga para ela. O custo é alto, mas vejo isso como a melhor solução para garantir sua segurança enquanto tento reorganizar nossa vida.

No dia seguinte, arrumo as malas de Ana. Pegamos o ônibus em direção ao internato, e durante o caminho, ela começa a fazer perguntas que me deixam sem palavras. Quando se dá conta do que está prestes a acontecer, ela chora descontroladamente, atraindo olhares de todos no ônibus. Consigo acalmá-la, dizendo que é temporário e que logo estaremos juntas.

Ao chegarmos ao local, apresento a ela o novo quarto e as acomodações, tentando esconder minha própria tristeza.

— Quando você volta, mana? — pergunta Ana, com a doçura inocente que só ela tem.

— Logo, meu amor. E vou te visitar o máximo que puder, prometo — respondo, com a voz trêmula.

A imagem de Ana me olhando com lágrimas nos olhos fica comigo por dias. O apartamento parece mais vazio e silencioso do que nunca. A falta dela é insuportável, mas preciso acreditar que estou fazendo o certo. Aos poucos, me adapto à nova rotina. Aceito os trabalhos pela VIPSecret e faço uma promessa silenciosa a mim mesma: por mais difícil que seja, vou lutar para que Ana tenha o futuro que merece. Não vou descansar até que possamos, finalmente, ser uma família unida novamente.

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