Início / Romance / Noiva por Conveniência / Capítulo 4: O Plano Perfeito
Capítulo 4: O Plano Perfeito

DANIEL NAVARRO

Me lembro claramente do dia em que Caroline saiu da minha vida. Ela estava linda, como sempre, mas seu olhar estava mais frio do que eu jamais imaginei possível. Carol, como eu a chamava, domina qualquer ambiente. Sua presença me atrai como um ímã, e sou incapaz de recusar o que ela quer ou de me afastar dela. Nosso relacionamento foi intenso desde o início, e talvez por isso, quando ela decidiu terminar, senti como se levasse uma facada. Não há explicação suficiente para justificar o fim. Não para mim.

Mesmo após aquele término tenso e as palavras afiadas que trocamos, algo em mim permanece preso a ela. Talvez seja uma mistura de orgulho e desejo. Mesmo depois de tudo, a ideia de reconquistá-la não me parece absurda. Eu ainda a amo e faria o que fosse necessário para tê-la de volta. Por isso, quando soube que ela estaria no casamento do meu irmão Lucas, decido que essa é a ocasião perfeita para reverter nossa história.

Lucas e eu sempre fomos próximos, embora nossas personalidades sejam bem diferentes. Ele é o equilíbrio e a calma; eu sou intensidade e impulsividade. De algum modo, somos opostos complementares, e o casamento dele é não só um motivo de orgulho para mim, mas também uma oportunidade. Caroline estará lá, e essa é minha chance de mostrar que segui em frente, que talvez ela tenha cometido um erro ao terminar comigo.

Desde que Lucas me contou sobre o casamento, um plano começou a se formar na minha cabeça. Sou determinado e meticuloso, gosto de tudo sob controle, e se quero algo, vou até o fim para conseguir. Além disso, minha presença costuma se destacar nos ambientes, seja pelo meu jeito direto, pela postura ou pela intensidade que exalo. Meus amigos já comentaram sobre meu "olhar penetrante" e sobre a maneira como meu terno sempre parece feito sob medida. E sei que esse ar de autoconfiança é algo que Caroline sempre admirou — e odiou — em mim.

Decidi, então, que, se quero fazer Caroline repensar o que jogou fora, preciso dar a ela uma razão para isso. Pensei em levar uma acompanhante que se passasse por minha noiva, alguém ao meu lado que me desse a segurança de mostrar a Caroline uma versão mais sólida de mim, sem as fragilidades que ela conhecia tão bem.

Comecei a procurar a "noiva" perfeita. Precisava de alguém que pudesse cumprir esse papel em um ambiente cheio de olhares atentos, antigos conhecidos e familiares. Depois de várias buscas, liguei para uma amiga que trabalha em uma agência de acompanhantes independente. Pouco tempo depois, ela me enviou a foto de uma possível candidata: "Lana".

Na primeira olhada, soube que tinha encontrado a pessoa certa. Lana é atraente, mas de uma forma diferente, sem exageros. Tem um porte elegante, uma beleza natural que chama atenção sem esforço. Seus olhos têm um brilho curioso, como se sempre houvesse algo a mais escondido ali. Tem cabelos escuros cacheados que emolduram o rosto com suavidade e um sorriso discreto, quase enigmático. Ela exala uma confiança silenciosa, mas perceptível.

Ela parece perfeita para o que preciso — alguém que possa me ajudar a manter a postura e o controle ao longo do casamento e, ao mesmo tempo, ser convincente o bastante para que Caroline sinta o impacto de sua presença.

Enquanto explico o plano a Lucas, mostro a foto de Lana. Ele observa a imagem com um misto de descrença e diversão antes de cruzar os braços e soltar um meio sorriso.

— Então, deixa ver se entendi — Lucas começa, cruzando os braços e tentando conter o riso. — Você vai contratar uma mulher para fingir que é sua noiva, só para provocar a Caroline?

— É um pouco mais complexo do que isso, mano. Não se trata só de provocar — rebato, sentindo a necessidade de convencê-lo. — Caroline precisa ver que ela não tem o poder de decisão sobre o que faço ou deixo de fazer. Se vê-la me deixa confuso, ter Lana do meu lado me ajuda a manter a postura. É... estratégia.

Lucas levanta uma sobrancelha, incrédulo.

— E você acha mesmo que isso vai funcionar? Que Caroline vai simplesmente correr de volta para você ao ver essa mulher ao seu lado?

— Se não funcionar, pelo menos terei tirado qualquer esperança da minha cabeça — admito, tentando soar mais confiante do que realmente estou. — E quem sabe, talvez sirva para que Caroline me enxergue de outra forma.

Lucas suspira, mas seus olhos têm um brilho contido de preocupação e, talvez, até um pouco de compreensão.

— Só espero que você saiba onde está se metendo, Daniel. Porque, ao que parece, Lana sabe exatamente onde está pisando.

Lucas se vira e sai, deixando-me com um pensamento que ele plantou e que não quero encarar. Espero até que sua silhueta desapareça pelo corredor e, ao verificar meu relógio, percebo que ainda tenho algum tempo até o encontro com Lana no hotel.

Sento-me à mesa, puxo o dossiê de Lana, feito pelo meu advogado. Sei que não é a atitude mais ética, mas também é minha garantia de que ela é confiável para desempenhar esse papel. Começo a folhear as páginas, e o que encontro é uma mistura de desafios e força que me chama a atenção. Uma jovem mulher, de vida complicada, mas extremamente resiliente.

Estudando o dossiê, uma foto dela olhando para a câmera com um olhar quase enigmático me fisga. Os detalhes do documento revelam o lado pragmático de sua vida: responsabilidades enormes para alguém tão jovem, uma irmã sob sua tutela e o peso de sustentar uma família sozinha. É o tipo de informação que, no papel, parece simples, mas, quando penso no que realmente significa, sinto um respeito estranho por ela. Tento não me apegar a detalhes desnecessários, mas, por algum motivo, aquele olhar nas fotos mexe comigo de um jeito inesperado.

"Foco, Daniel," murmuro para mim mesmo, fechando o dossiê e guardando-o na minha pasta. No fundo, sei que devo manter as coisas claras entre nós, estritamente profissionais. Mas algo sobre ela, que não consigo identificar com precisão, parece me desafiar, trazendo à tona uma curiosidade que não estou acostumado a sentir.

Fecho o arquivo, puxo meu paletó do cabide e me preparo para encontrá-la. No caminho para o hotel, reflito sobre meu plano e seus riscos, mas a ideia de ter Caroline de volta faz qualquer esforço valer a pena. Chego ao saguão antes da hora marcada e me sento em um canto discreto, aguardando sua chegada.

Então, o som de saltos altos ecoa pelo mármore do saguão, atraindo automaticamente meu olhar para a entrada. Lá está ela: Lana, em um vestido vermelho justo que realça sua postura e emana uma mistura de força e sensualidade. A suavidade de seus passos contrasta com a intensidade de sua presença; cada movimento parece calculado, mas seu olhar permanece sereno e confiante. Fico de queixo caído, impressionado com o quanto sua beleza e presença vão além de qualquer descrição que eu tivesse lido sobre ela.

Ela caminha até mim, mantendo uma leveza quase despretensiosa, mas há algo forte na forma como mantém a cabeça erguida, como se já soubesse o que está por vir. Meu coração acelera, e eu forço um sorriso controlado.

Quando nossos olhares se cruzam, tento recuperar o foco e, com a voz baixa e firme, apenas falo:

— Lana Martins? — Ela ergue o olhar e me encara por alguns segundos que parecem uma eternidade.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo