A mansão Draven parecia ainda mais silenciosa na manhã seguinte, mas o silêncio era uma armadilha. Selene sentia como se o lugar estivesse segurando a respiração, esperando que ela agisse. A voz de Damian ainda ecoava em sua mente, suas palavras tingidas de sedução e ameaça: "Você não pode fugir de mim."Selene estava na cozinha, tentando comer algo, mas o simples ato parecia inútil. Seu apetite havia desaparecido, substituído por uma inquietação que crescia a cada minuto. Lucien entrou no cômodo, trazendo consigo a mesma tensão que havia pairado entre eles desde a noite anterior.— Não vai dizer nada? — ela perguntou, olhando para ele.Lucien hesitou, os olhos carregados de preocupação.— Não sei mais o que dizer, Selene. Parece que cada vez que tento te proteger, você se aproxima mais dele.— Não é como se eu tivesse escolha! — explodiu ela. — Você acha que eu quero isso? Ele está dentro da minha mente, Lucien! Ele me puxa como... como se eu fosse uma peça em um jogo que nem sei com
O silêncio da madrugada era denso, carregado de promessas sombrias e segredos por revelar. Selene estava sentada no parapeito da janela de seu quarto, olhando para o jardim da mansão. Os acontecimentos das últimas horas rodopiavam em sua mente, como um redemoinho impossível de ignorar.Damian. Lucien. Ela mesma.Era como se todas as peças de sua vida tivessem sido rearranjadas sem seu consentimento, formando um quebra-cabeça que ela não sabia como montar. O que era ela, afinal? Uma marionete de Damian? Uma vítima? Ou algo mais?Lucien bateu levemente na porta antes de entrar, sem esperar por uma resposta. Ele carregava um pequeno baú de madeira, suas feições sérias.— Não consegui dormir — disse ele, como se justificasse sua presença.Selene olhou para ele, exausta.— Eu também não.Lucien colocou o baú sobre a mesa e se aproximou dela, puxando uma cadeira.— Chegou a hora de você saber mais, Selene. Sobre Damian, sobre mim... e sobre você.Ela ergueu as sobrancelhas, cruzando os braç
A luz da manhã mal havia tocado a mansão quando Selene desceu para a biblioteca. A noite fora longa, e o peso das revelações ainda pairava sobre ela. O diário de Lilith estava em suas mãos, as páginas desbotadas marcadas por palavras que prometiam tanto esperança quanto condenação.Lucien já estava lá, cercado por pilhas de livros antigos e símbolos desenhados à mão em folhas espalhadas pela mesa. Ele parecia exausto, mas determinado.— Encontrou algo? — Selene perguntou, sua voz baixa no silêncio cavernoso do lugar.Ele levantou o olhar, passando a mão pelos cabelos desgrenhados.— Confirmei o que o diário disse. O ritual pode prendê-lo novamente, mas há complicações.— Claro que há — murmurou ela, sentando-se ao lado dele.Lucien pegou uma das páginas amareladas e colocou-a diante dela.— O ritual exige duas coisas essenciais. Primeiro, a conexão de sangue. Como descendente de Lilith, você é a única capaz de canalizar o poder necessário para trancá-lo de volta.Selene sentiu um frio
O cheiro de tinta e verniz impregnava o ar, misturando-se ao som suave das cerdas de um pincel deslizando sobre a tela. Selene inclinava-se sobre sua última peça, uma paisagem bucólica do século XIX, enquanto ajustava os detalhes de uma árvore. A perfeição em cada folha era mais do que um reflexo de seu talento; era a sua obsessão. Arte era o único lugar onde ela se sentia verdadeiramente viva.O mundo real, com suas expectativas sufocantes e compromissos vazios, parecia distante quando estava em seu estúdio. Ali, entre os quadros antigos e o brilho fraco de lâmpadas amareladas, ela se refugiava. Até que o telefone tocou, interrompendo sua concentração.— Selene Grey, restauradora — atendeu, a voz prática, porém carregada de cansaço.Do outro lado, uma voz grave e pausada respondeu.— Senhorita Grey, meu nome é Lucien Draven. Tenho um trabalho que pode lhe interessar.Selene apertou os olhos. Ela já havia lidado com todos os tipos de colecionadores: desde os excêntricos obcecados por
A madrugada em Blackthorn tinha um peso peculiar. As horas pareciam se arrastar, enquanto o silêncio preenchia os espaços como uma presença quase física. Selene passou a noite inquieta, virando-se na cama, os olhos fixos no teto, tentando ignorar o frio que parecia se infiltrar pelas paredes do quarto.Apesar do conforto da cama, havia algo naquela mansão que não permitia o descanso. Quando o primeiro feixe de luz atravessou as pesadas cortinas, ela desistiu de lutar contra o sono ausente. Levantou-se e vestiu uma roupa simples, amarrando os cabelos em um coque para iniciar o trabalho.Lucien já a aguardava no estúdio. Ele estava junto à lareira, uma taça de vinho em mãos, como se a madrugada também não lhe trouxesse paz.— Bom dia, senhorita Grey. Dormiu bem? — Ele sorriu, mas sua voz carregava uma nota de ironia.— Dormir nunca foi meu forte — respondeu, mantendo o tom profissional.Lucien inclinou levemente a cabeça, os olhos avaliando-a de forma quase imperceptível.— Entendo. O r
A manhã seguinte chegou com uma neblina densa que envolvia a mansão Draven. O mundo lá fora parecia inexistente, perdido entre o véu cinzento. Selene desceu até o estúdio, tentando afastar os ecos do sonho perturbador da noite anterior. Ela se repetia que era apenas sua mente pregando peças, fruto de cansaço e do ambiente estranho.No entanto, quando abriu a porta do estúdio, algo a fez parar. O retrato parecia mais vibrante, como se alguma cor nova tivesse surgido durante a noite. Era impossível. Ela tinha guardado todos os seus materiais no dia anterior.Selene aproximou-se devagar. O olhar de Damian no retrato parecia mais vivo, mais intenso. Ela sentiu como se aqueles olhos estivessem conscientes de sua presença.Respirando fundo, afastou os pensamentos irracionais. Era apenas sua imaginação, disse a si mesma. Com movimentos automáticos, montou seu equipamento de trabalho e começou a limpeza meticulosa de uma das áreas mais delicadas da pintura.Enquanto trabalhava, uma sensação d
A noite caiu com rapidez sobre a mansão Draven, envolvendo o local em uma escuridão que parecia viva. Selene permaneceu em seu quarto, o corpo tenso e a mente repleta de perguntas. Não conseguia ignorar o que Lucien havia dito: "Damian escolheu você."Escolhida para quê? E por que ela sentia que algo dentro dela, uma parte que não compreendia, já sabia a resposta?Ela tentou distrair-se, caminhando pelo quarto, analisando as mobílias antigas e os detalhes ornamentados do ambiente. Havia uma grande janela que dava para os jardins envoltos na penumbra. Do lado de fora, o vento soprava entre as árvores, produzindo sons que pareciam sussurros distantes.Sentando-se na beira da cama, Selene respirou fundo, tentando acalmar sua mente. A lógica dizia para ir embora, abandonar o retrato e a mansão. No entanto, algo a mantinha ali, um fio invisível que a prendia cada vez mais.Decidida a descobrir a verdade, pegou um casaco e saiu do quarto. Sabia que não conseguiria dormir. Sua curiosidade er
A madrugada encontrou Selene ainda acordada, sentada na cama de seu quarto. Apesar das cortinas fechadas, a luz pálida da lua entrava em filetes, criando sombras alongadas no chão. Seus pensamentos giravam em círculos, tentando decifrar o que havia acontecido no estúdio.Damian Draven. Um nome que agora parecia carregar um peso próprio, impregnando o ar à sua volta. Selene não podia negar o fascínio que sentia por ele, mesmo sabendo que aquilo era perigoso. A mansão Draven parecia estar se transformando em uma extensão de sua presença, viva com sua energia.Sem conseguir mais suportar a inquietação, levantou-se. Se havia algo que ela aprendera sobre si mesma, era que não conseguia ignorar um mistério.Os corredores da mansão estavam mergulhados em escuridão. Selene carregava uma pequena lanterna, cujos feixes fracos mal conseguiam iluminar o caminho. Cada passo que dava parecia ecoar, reverberando nas paredes como se a casa estivesse escutando.Seu destino era a biblioteca. Se havia a