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Capítulo 4: O Primeiro Contato

A noite caiu com rapidez sobre a mansão Draven, envolvendo o local em uma escuridão que parecia viva. Selene permaneceu em seu quarto, o corpo tenso e a mente repleta de perguntas. Não conseguia ignorar o que Lucien havia dito: "Damian escolheu você."

Escolhida para quê? E por que ela sentia que algo dentro dela, uma parte que não compreendia, já sabia a resposta?

Ela tentou distrair-se, caminhando pelo quarto, analisando as mobílias antigas e os detalhes ornamentados do ambiente. Havia uma grande janela que dava para os jardins envoltos na penumbra. Do lado de fora, o vento soprava entre as árvores, produzindo sons que pareciam sussurros distantes.

Sentando-se na beira da cama, Selene respirou fundo, tentando acalmar sua mente. A lógica dizia para ir embora, abandonar o retrato e a mansão. No entanto, algo a mantinha ali, um fio invisível que a prendia cada vez mais.

Decidida a descobrir a verdade, pegou um casaco e saiu do quarto. Sabia que não conseguiria dormir. Sua curiosidade era mais forte do que o medo.

Ao passar pelo corredor em direção ao estúdio, ouviu um som leve: passos ecoando ao longe.

— Lucien? — chamou, mas ninguém respondeu.

Ela continuou andando, os passos cautelosos. A mansão parecia um labirinto à noite, com sombras que dançavam nas paredes e portas que rangiam ao menor movimento.

Quando chegou ao estúdio, a porta estava entreaberta. Selene hesitou por um momento antes de empurrá-la devagar. A sala estava mergulhada em escuridão, exceto por uma leve luminosidade que parecia emanar do retrato.

O ar estava mais frio ali dentro, como se a sala tivesse sido isolada do resto da casa.

— O que está acontecendo aqui? — murmurou para si mesma, aproximando-se lentamente do quadro.

Os olhos de Damian pareciam ainda mais intensos sob a luz fraca. Havia algo neles que parecia chamá-la, um convite silencioso que não podia ignorar.

Selene parou diante do retrato, sentindo o coração bater descompassado. O ambiente estava tão silencioso que ela podia ouvir sua própria respiração.

— Damian Draven... — sussurrou, quase sem perceber.

E então, tudo mudou.

O ar ao seu redor ficou pesado, como se uma força invisível a envolvesse. A luz da vela tremulou violentamente antes de apagar-se, deixando a sala na penumbra. Um frio gélido percorreu sua espinha, e o som de um sussurro encheu o ambiente.

— Você veio.

Selene deu um passo para trás, os olhos arregalados. A voz não era a de Lucien, nem de qualquer outra pessoa que ela conhecesse. Era profunda, grave, e parecia ecoar de todos os cantos.

— Quem está aí? — perguntou, a voz trêmula.

— Não precisa ter medo. Eu estive esperando por você.

Ela olhou ao redor, mas a sala continuava vazia. Então, algo no retrato chamou sua atenção. A pintura estava mudando diante de seus olhos. O fundo escuro parecia se mover, como se estivesse vivo, e os olhos de Damian pareciam brilhar.

Selene não sabia se estava sonhando ou perdendo a sanidade.

— Damian? — sussurrou, o nome escapando de seus lábios antes que pudesse detê-lo.

— Sim.

A voz estava mais próxima agora, e, por um momento, ela jurou ver os lábios do retrato se curvarem em um sorriso.

— Isso... isso não é possível. Você é apenas uma pintura.

O retrato parecia vibrar, como se risse de sua afirmação.

— Eu sou muito mais do que isso. E você sabe disso.

Selene balançou a cabeça, tentando afastar a sensação de que estava sendo puxada para dentro do quadro.

— Por que eu? — perguntou, sem saber por que sentia que precisava de uma resposta.

— Porque você me vê, Selene. Não apenas como um retrato, mas como algo além. Você tem o que muitos perderam: a capacidade de ouvir os ecos do que está além do véu.

Ela recuou mais um passo, o coração batendo freneticamente.

— Isso é loucura.

O riso de Damian ecoou novamente, suave e provocador.

— Talvez. Mas a loucura muitas vezes revela verdades que a sanidade esconde.

Selene sentiu suas pernas fraquejarem. O que era aquilo? Quem era ele? Antes que pudesse responder, o som de passos ecoou no corredor, trazendo-a de volta à realidade.

A porta do estúdio abriu-se com um rangido, e Lucien entrou, seus olhos imediatamente fixando-se nela.

— Selene, o que está fazendo aqui? — Sua voz estava firme, mas havia algo em seu tom que parecia quase alarmado.

Ela olhou para Lucien, depois de volta para o retrato. Tudo estava como antes, como se nada tivesse acontecido.

— Eu... achei que ouvi algo — respondeu, a voz fraca.

Lucien aproximou-se dela, o rosto sério.

— É perigoso vir aqui à noite. Damian... ele é mais ativo nessas horas.

Selene engoliu em seco.

— Então é verdade? Ele está... vivo?

Lucien hesitou, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.

— Vivo, não. Mas preso, sim. Este retrato é uma âncora para sua alma. Ele não pertence completamente a este mundo, mas também não partiu para o próximo.

— Por quê?

Lucien suspirou, cruzando os braços.

— Damian fez escolhas em vida que o condenaram. Ele buscava poder, mas o preço foi sua própria essência. Agora, ele existe entre os dois mundos, sempre buscando alguém que possa ajudá-lo a se libertar.

Selene sentiu o peso das palavras de Lucien.

— E você acha que eu sou essa pessoa?

Lucien olhou para ela, a intensidade em seus olhos deixando claro que ele sabia mais do que estava dizendo.

— Talvez. Mas ajudar Damian não é algo simples. Ele é... perigoso.

— Perigoso como?

— Ele é persuasivo, Selene. Ele tem o dom de manipular corações e mentes. Muitos já caíram sob seu feitiço. Alguns nunca escaparam.

Selene sentiu um arrepio, mas, ao mesmo tempo, havia algo irresistível em tudo aquilo. A presença de Damian, mesmo através do retrato, despertava nela sentimentos que nunca havia experimentado antes: medo, sim, mas também fascínio.

— Eu não vou a lugar nenhum — disse ela, mais para si mesma do que para Lucien.

Lucien a observou em silêncio por um longo momento antes de balançar a cabeça.

— Espero que saiba o que está fazendo.

Ele virou-se e saiu, deixando-a sozinha no estúdio.

Selene voltou-se para o retrato, sentindo o peso do olhar de Damian sobre ela.

— O que você quer de mim? — perguntou, a voz baixa.

E, embora o retrato não respondesse, ela sabia que, de alguma forma, a resposta viria.

A partir daquele momento, Selene não estava apenas restaurando uma obra de arte. Estava mergulhando em um mundo de sombras e segredos, onde cada escolha poderia levá-la mais fundo no abismo.

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