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Capítulo 5: O Véu Entre Dois Mundos

A madrugada encontrou Selene ainda acordada, sentada na cama de seu quarto. Apesar das cortinas fechadas, a luz pálida da lua entrava em filetes, criando sombras alongadas no chão. Seus pensamentos giravam em círculos, tentando decifrar o que havia acontecido no estúdio.

Damian Draven. Um nome que agora parecia carregar um peso próprio, impregnando o ar à sua volta. Selene não podia negar o fascínio que sentia por ele, mesmo sabendo que aquilo era perigoso. A mansão Draven parecia estar se transformando em uma extensão de sua presença, viva com sua energia.

Sem conseguir mais suportar a inquietação, levantou-se. Se havia algo que ela aprendera sobre si mesma, era que não conseguia ignorar um mistério.

Os corredores da mansão estavam mergulhados em escuridão. Selene carregava uma pequena lanterna, cujos feixes fracos mal conseguiam iluminar o caminho. Cada passo que dava parecia ecoar, reverberando nas paredes como se a casa estivesse escutando.

Seu destino era a biblioteca. Se havia algo mais sobre Damian, ou mesmo sobre a história da família Draven, seria encontrado ali.

Ao entrar no ambiente, a familiar opulência das estantes lotadas e o cheiro de couro envelhecido a envolveram. Ela fechou a porta atrás de si, como se precisasse criar uma barreira entre aquele espaço e o resto da mansão.

A mesa central estava coberta de livros e papéis, muitos deles com uma caligrafia antiga. Selene começou a vasculhar, procurando qualquer menção ao retrato ou às práticas obscuras que Lucien havia insinuado.

Demorou até encontrar algo relevante. Em um livro de capa de couro preto, havia um capítulo inteiro dedicado a Damian. O texto era um misto de relatos históricos e rumores.

"Damian Draven, conhecido por sua beleza e carisma, foi também um homem obcecado pelo desconhecido. Registros sugerem que ele praticava rituais antigos, buscando poder e imortalidade. Muitos acreditavam que sua sede de domínio ultrapassava os limites humanos, levando-o a realizar pactos com forças que poucos ousavam sequer nomear."

Selene sentiu o estômago revirar. Continuou lendo:

"No entanto, o preço de seus desejos foi alto. Diz-se que Damian aprisionou parte de sua alma em um retrato pintado por um artista anônimo, um meio de permanecer ligado ao mundo mortal. Desde sua morte misteriosa, histórias de acontecimentos estranhos e inexplicáveis cercam o quadro. Aqueles que tentaram destruí-lo... desapareceram."

O sangue de Selene gelou.

— Ele aprisionou sua alma... — sussurrou para si mesma.

Era como Lucien havia dito. Damian não era apenas uma lembrança do passado, mas uma força ativa, presa entre dois mundos.

Antes que pudesse continuar, o som de passos interrompeu seus pensamentos. Selene apagou rapidamente a lanterna e se escondeu atrás de uma das estantes.

A porta da biblioteca abriu-se com um ranger baixo, e ela ouviu alguém entrar. Pela fresta entre os livros, viu Lucien. Ele parecia estar carregando algo, um candelabro que iluminava seu rosto com sombras dançantes.

Lucien caminhou até a mesa e começou a vasculhar os papéis, como se estivesse procurando algo específico. Selene ficou imóvel, tentando não fazer barulho.

— Eu sei que está aí — disse ele de repente, sem nem olhar em sua direção.

O coração de Selene disparou. Relutante, ela saiu de seu esconderijo.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Lucien, a voz baixa, mas carregada de um tom severo.

— Eu poderia perguntar o mesmo — retrucou ela, cruzando os braços.

Lucien suspirou, parecendo cansado.

— Eu sabia que você iria atrás de respostas.

— E há algo errado nisso? — Selene desafiou. — Você claramente está escondendo coisas de mim.

— Porque há verdades que você não está pronta para ouvir — respondeu ele, os olhos estreitando-se.

Selene sentiu a raiva borbulhar.

— Tarde demais para isso, Lucien. Eu já sei sobre Damian e o retrato. E sei que ele está tentando se comunicar comigo.

Lucien ficou em silêncio por um momento, o candelabro tremendo levemente em sua mão.

— Ele não está apenas tentando se comunicar, Selene. Ele está tentando atraí-la.

— Por quê?

— Porque você é a chave para libertá-lo.

O peso das palavras dele a atingiu como um golpe.

— Libertá-lo? Como?

Lucien colocou o candelabro sobre a mesa e aproximou-se dela, os olhos cheios de preocupação.

— Damian precisa de alguém com uma conexão especial com o véu entre este mundo e o próximo. Você, Selene, tem essa conexão. Por isso ele escolheu você.

Selene balançou a cabeça, recuando.

— Isso é loucura. Eu não acredito nessas coisas.

— Não importa se acredita ou não — respondeu Lucien. — Ele acredita.

O silêncio caiu sobre eles, pesado e opressor. Selene sentiu-se sufocada pela magnitude da situação.

— E se eu me recusar? — perguntou finalmente, a voz baixa.

Lucien hesitou antes de responder.

— Então ele fará de tudo para convencê-la. Damian é implacável quando deseja algo.

Naquela noite, Selene voltou ao seu quarto, mas não conseguiu dormir. Cada vez que fechava os olhos, sentia os de Damian sobre ela, observando, esperando.

Por volta das três da manhã, algo a despertou. Um som baixo, como se alguém estivesse sussurrando.

— Selene...

Ela sentou-se na cama, o coração disparado.

— Quem está aí?

O quarto estava vazio, mas a voz continuou, agora mais clara.

— Venha até mim.

Selene sentiu-se tomada por uma força que não conseguia compreender. Era como se algo dentro dela estivesse respondendo ao chamado. Ela levantou-se e saiu do quarto, os pés movendo-se quase automaticamente.

Sem perceber, encontrou-se novamente no estúdio. O retrato de Damian parecia ainda mais vibrante sob a luz fraca da lua que entrava pelas janelas.

— Estou aqui — disse ela, a voz tremendo.

O silêncio respondeu por um momento antes que a voz voltasse, agora soando diretamente em sua mente.

— Você sente, não sente? A conexão entre nós.

Selene aproximou-se do quadro, os olhos fixos nos de Damian.

— O que você quer de mim?

— Liberdade. Mas também... você.

As palavras dele ressoaram nela de uma forma que era tão perturbadora quanto intoxicante.

— Eu não posso confiar em você.

O sorriso no retrato pareceu se ampliar.

— Talvez não. Mas você não pode negar o que sente.

Selene sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele estava certo. Apesar do medo, havia algo irresistível em Damian, uma atração que ela não conseguia explicar.

— E se eu concordar em ajudá-lo? — perguntou, hesitante.

— Então, Selene, eu lhe darei tudo o que você deseja. Poder. Paixão. E a verdade sobre quem você realmente é.

A promessa pairou no ar, tentadora como uma doce melodia.

Selene sabia que estava se aproximando de um limite perigoso. Mas, ao olhar para o retrato, algo dentro dela sussurrou que talvez fosse um limite que ela estava destinada a cruzar.

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