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Capítulo 6: O Jogo de Sedução e Medo

A manhã chegou à mansão Draven como uma lâmina fria, cortando o silêncio com luz pálida que mal conseguia atravessar as grossas cortinas do quarto de Selene. Ela acordou com a mente pesada, como se não tivesse dormido. Os ecos da noite anterior ainda vibravam em sua memória: a voz de Damian, a intensidade de seu olhar no retrato, e a promessa que ele sussurrou.

Selene sabia que estava sendo puxada para algo que não compreendia, mas havia uma parte de si que não queria resistir. Apesar de toda a lógica lhe dizendo para ir embora, sua curiosidade — e algo mais profundo — a mantinha presa ali.

Ela desceu as escadas, seguindo o som de passos ecoando no hall principal. Lucien estava lá, organizando alguns papéis sobre uma mesa de madeira maciça. Ele olhou para ela com um misto de preocupação e desaprovação.

— Não parece ter dormido bem — comentou ele, sem tirar os olhos do que fazia.

Selene parou no pé da escada, cruzando os braços.

— Não dormi. É difícil descansar quando... — Ela hesitou, tentando encontrar as palavras certas. — Quando algo está sempre me observando.

Lucien levantou o olhar, sua expressão ficando mais séria.

— Você foi ao estúdio novamente, não foi?

Ela não respondeu, o que foi suficiente para ele entender. Lucien suspirou, largando os papéis.

— Selene, você precisa entender que Damian não é um espírito comum. Ele é manipulador, persuasivo. Ele se alimenta de suas dúvidas, de seus desejos mais ocultos.

— E o que você sugere que eu faça? Simplesmente ignore isso? — Selene retrucou, a frustração em sua voz. — Algo está acontecendo comigo, Lucien, e eu não posso fingir que não está.

Lucien a observou por um momento, seus olhos carregados de um peso que ela não conseguia interpretar.

— Talvez seja tarde demais para impedir.

— Impedir o quê?

Ele hesitou, mas antes que pudesse responder, um estrondo ecoou pela casa. Era o som de uma porta batendo com força, seguido por um silêncio opressivo.

Selene olhou para Lucien, que parecia imediatamente tenso.

— O que foi isso? — perguntou ela.

— Algo que não deveria estar acontecendo — respondeu ele, pegando um candelabro como se fosse uma arma.

Eles seguiram o som até o corredor que levava ao estúdio. A porta do cômodo estava escancarada, e o ar ali dentro era diferente, mais pesado, quase sufocante.

— Não entre — disse Lucien, colocando a mão no braço de Selene.

Mas ela já estava entrando. Algo a puxava, uma força invisível e irresistível. No centro do estúdio, o retrato de Damian parecia mais vivo do que nunca. A luz da manhã que atravessava as janelas iluminava seu rosto de uma maneira quase sobrenatural.

Selene sentiu o olhar de Damian sobre ela, como uma carícia que tocava sua alma. Sua voz ecoou em sua mente, suave e sedutora:

— Você voltou.

Ela estremeceu, mas não recuou.

— Por que está fazendo isso? — perguntou em voz alta.

Lucien entrou logo atrás dela, seus olhos fixos no retrato.

— Ele está tentando quebrar o véu que o mantém preso — explicou Lucien. — Cada vez que você interage com ele, dá a ele mais força.

Selene virou-se para Lucien, confusa e irritada.

— Então o que você quer que eu faça? Finja que nada está acontecendo?

— Quero que lute contra isso. Contra ele.

Damian riu, uma risada baixa e vibrante que ecoou pela sala.

— Lutar contra mim? — Sua voz parecia gotejar ironia. — Você sabe que isso é impossível, Selene. Você sente o que eu sinto. Nós estamos conectados.

Lucien deu um passo à frente, como se quisesse proteger Selene.

— Não escute ele, Selene. Ele vai dizer qualquer coisa para manipulá-la.

Damian sorriu, seus olhos no retrato parecendo se fixar em Lucien agora.

— Ah, Lucien... Sempre tão protetor. Mas você sabe, no fundo, que não pode me deter. Não pode impedi-la de me escolher.

Selene olhou de um para o outro, sentindo-se presa entre duas forças opostas.

— Escolher você? O que isso significa? — perguntou ela, olhando para o retrato.

Damian inclinou levemente a cabeça, o movimento quase imperceptível.

— Significa aceitar o que somos. Aceitar que fomos feitos um para o outro. Eu posso lhe dar o que você sempre desejou, Selene. Verdade, poder, paixão.

Lucien avançou, a voz cheia de urgência.

— Não caia nas mentiras dele. Ele não quer você. Ele quer usar você.

Damian riu novamente, a voz como um sussurro sombrio que parecia envolver a sala inteira.

— É isso que você pensa, Lucien? Que eu não a desejo? — Ele olhou novamente para Selene, sua voz suavizando. — Eu a quero, Selene. Mais do que você pode imaginar.

Selene sentiu uma onda de calor percorrer seu corpo. Era como se as palavras de Damian tivessem um peso físico, um poder que ela não conseguia ignorar.

— Pare com isso — sussurrou ela, pressionando as mãos contra as têmporas, como se pudesse bloquear a voz dele.

Lucien puxou Selene pelo braço, tentando tirá-la do estúdio.

— Vamos sair daqui. Agora.

Mas, antes que pudessem se mover, a porta do estúdio fechou-se com um estrondo. A sala escureceu, e a atmosfera tornou-se quase insuportável.

— Vocês não vão a lugar nenhum — disse Damian, sua voz agora mais grave, mais ameaçadora.

O retrato parecia vibrar, e Selene sentiu como se algo estivesse sendo puxado dela, uma parte de sua energia sendo drenada.

Lucien murmurou algo, uma oração ou um encantamento, e a pressão no ar diminuiu. Ele puxou Selene com força, abrindo a porta e levando-a para fora.

Quando estavam de volta ao corredor, Selene virou-se para ele, ofegante.

— O que foi isso?

Lucien olhou para ela, o rosto pálido.

— Foi uma demonstração do que ele é capaz. E se você não parar de interagir com ele, vai piorar.

Selene sentiu um nó se formar em seu estômago. Ela queria acreditar que poderia simplesmente ignorar Damian, mas sabia, no fundo, que isso seria impossível.

Damian não era apenas uma presença na mansão. Ele era uma presença dentro dela.

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