capitulo 6

Javier

 O Processo de Cura

Vinte dias haviam se passado desde aquela noite infernal que nos separou do normal, desde o momento em que nossos mundos desabaram e nos vimos em um hospital, com a incerteza pairando sobre nossas cabeças.

 Durante esses dias, a dor foi constante, como uma sombra que nos acompanhava a cada passo, mas havia algo mais também. Uma leve sensação de esperança, que crescia a cada respiração de nossas mães, esposas e figuras centrais. Elas estavam sobrevivendo, lutando.

Laura, ainda nas garras da recuperação, passava os dias em um estado delicado. Sua cirurgia no rosto, uma tentativa de restaurar a beleza que o fogo tinha lhe tirado, era uma batalha em si. Seus olhos, antes sempre cheios de vivacidade e energia, estavam agora rodeados por inchaços e marcas que denunciavam o que ela havia enfrentado.

 Mas ela ainda tinha sua força, aquela que nos inspirava, ainda estava ali. A cada dia, com o apoio dos filhos e do marido, ela vinha se fortalecendo, como uma árvore que, mesmo cortada, encontrava uma maneira de crescer novamente.

Javier estava mais presente do que nunca. Ele passava horas ao lado de Laura, segurando sua mão, falando com ela sobre as memórias que compartilhavam. Eles não falavam sobre o que poderia ter sido, mas sobre o que seria. 

Javier se mostrava mais calmo, embora a preocupação ainda fosse nítida em seus olhos. O sorriso de Laura ainda era uma raridade, mas ela estava começando a reagir às conversas e ao toque suave de Javier, que nunca a deixava só.

— Laura, minha querida, não há cicatriz que o tempo não cure. Vamos passar por isso, como sempre passamos. Eu estou com você, sempre estarei. — Javier sussurrava essas palavras, e sabia que, por mais que as palavras fossem pequenas em comparação à dor, elas eram o que ela mais precisava ouvir.

Os filhos, Luna e Mateus, estavam em constante vigilância, com uma dedicação que demonstrava o quanto estavam dispostos a fazer o que fosse necessário para apoiar a mãe. 

Eles estavam perto, em cada passo de sua recuperação. A presença deles era vital para Laura, pois ela sabia que, de alguma forma, a força deles se entrelaçava com a dela.

— Mãe, está melhorando a cada dia, você está mais forte, eu posso ver isso. — Luna falava com um sorriso suave, embora o próprio olhar dela estivesse marcado pela preocupação.

Mateus completou, com a voz mais grave, mas carregada de esperança:

— Isso não vai nos quebrar, mãe. Vamos superar isso juntos. Estamos com você, sempre.

Enquanto isso, Maria e Martina observavam, de longe, o progresso da recuperação de Laura. As duas também haviam sofrido. Maria, embora com a saúde já estabilizada, ainda sentia as sequelas físicas e emocionais do que aconteceu, e Martina passava os dias tentando lidar com sua própria angústia. 

Mas as duas, de alguma maneira, encontraram forças nas outras mulheres que estavam ao seu lado, e isso as ajudou a continuar.

Naquela tarde, Horácio, embora tenso, não conseguia deixar de demonstrar sua gratidão por ter as mulheres de sua vida ainda vivas, apesar do sofrimento.

 Ele se aproximou de Martina, tocou seu rosto com a mão, e os olhos dele brilhavam com uma emoção que ele normalmente não demonstrava.

— Amor, cada dia que passo ao seu lado, ao lado de Catalina, me faz lembrar da força que nossas mulheres têm. Não podemos esquecer disso. A recuperação delas é um reflexo do nosso amor, da nossa união. — Ele falou com um peso em sua voz, mas com um olhar que emanava a confiança que ele havia perdido por tanto tempo.

Enquanto Heitor se mantinha ao lado de Maria, ele sentia a dor de vê-la tão frágil, mas ao mesmo tempo, a esperança surgia em cada pequena melhora. Ele se tornara mais calmo, mais atento, e se aproximava de Jonh e Joana para pedir conselhos sobre como apoiar melhor Maria.

— Jonh, Joana, tenho que saber... como posso fazer mais por Maria? O que mais posso fazer? Eu não posso deixá-la sozinha nesse processo. — A preocupação de Heitor era visível, e ele sabia que, por mais que a recuperação fosse lenta, ele tinha de se manter forte. Eles, os filhos, eram a chave para dar essa força.

Joana, com a voz suave, mas carregada de uma maturidade que impressionava, respondeu:

— Pai, o que você tem feito já é mais do que suficiente. A presença de um marido como você é tudo o que a mãe precisa. Fique com ela, não a deixe de lado. O amor de vocês dois vai ser a cura dela.

No entanto, enquanto os dias passavam e Laura continuava sua recuperação lenta, a ferida mais profunda não era a física, mas a emocional. Ela sabia que seu rosto, embora pudesse ser reconstruído, nunca mais seria o mesmo. E ela sentia isso. 

Mas o amor dos filhos, o apoio de Javier e a força de Mateus, Maurício e Luna a mantinha firme. A cirurgia havia sido um sucesso, mas o verdadeiro trabalho estava na recuperação emocional.

Ao longo dos dias seguintes, enquanto o inchaço diminuía e as cicatrizes começaram a se fechar, Laura conseguia sorrir levemente, embora fosse um sorriso tímido. Ela sabia que a vida tinha mudado, mas estava decidida a seguir em frente.

— Estamos juntos, Laura. Vamos superar isso, e quando isso terminar, vamos tomar de volta tudo o que é nosso. — Javier sussurrou, sentando ao seu lado, enquanto os filhos observavam com olhares de esperança.

Naquele momento, o juramento de vingança era algo que já estava impregnado em cada um de nós. A dor que eles haviam causado, as marcas que deixaram, nos impulsionavam.

 Mas sabíamos que a luta não era apenas contra os inimigos externos, mas contra as cicatrizes que eles tinham deixado em nossos corações.

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