Javier
A Recuperação e o Retorno para Casa Os dias de dor, tensão e esperança finalmente começaram a dar lugar a um novo ritmo. Laura já não estava mais imersa nas camadas de bandagens e curativos. Após a cirurgia e as semanas de recuperação lenta, seu rosto, embora ainda com cicatrizes visíveis, começava a se curar. As marcas deixadas pelas queimaduras ainda eram profundas, mas o progresso era visível. Sua pele estava regenerando, e as linhas que se formavam ao redor de seus olhos, resultado da dor, começavam a suavizar com o tempo. O mais importante: Laura estava viva, e seu espírito, aquele espírito inquebrantável, estava de volta. No dia marcado para sua alta, o hospital estava agitado. Ela havia passado os últimos dias com os filhos ao seu lado, recebendo apoio de Javier, que se mostrava cada vez mais dedicado. Mateus, Maurício e Luna, sempre presentes, não saíam de perto, acompanhando cada passo da recuperação e cuidando de sua mãe com uma intensidade comovente. Maria, Martina e Catalina, também estavam por perto, compartilhando o alívio e a felicidade de ver Laura em recuperação. As palavras de alívio não eram suficientes para expressar o que todos sentiam. A cada dia, eles viam a mulher que pensavam ter perdido, aos poucos, retornar. O médico que acompanhava Laura ao longo da recuperação foi claro quanto às orientações para os próximos passos. Ele explicou que o processo de reabilitação não seria fácil, especialmente por causa das queimaduras no rosto, mas que o mais importante era o acompanhamento fisioterápico para restaurar a mobilidade e garantir que a recuperação da pele fosse a mais eficaz possível. — Laura, a recuperação da pele será gradual, e ainda temos um longo caminho pela frente. Você precisará de sessões de fisioterapia para ajudar na cicatrização, especialmente nas áreas mais afetadas. Isso vai exigir paciência, mas você tem tudo o que é necessário para superar essa etapa. É importante também que você não se sobrecarregue e siga todas as instruções para evitar complicações. — O médico concluiu, com um olhar compreensivo, mas firme. Javier, ao ouvir as orientações, deu um leve sorriso de alívio, sabendo que a batalha ainda não havia terminado, mas que o pior já havia passado. Ele segurou a mão de Laura, e, mais uma vez, as palavras que ele dizia eram sempre as mesmas, mas com mais força a cada dia. — Vamos, Laura. Vamos para casa, para a Fazenda Feitiço do Sol Nascente. Lá, você vai estar mais perto da nossa família. Vamos passar por isso juntos. — Ele falou com uma determinação tranquila, que todos podiam sentir. Os filhos, Mateus e Luna, estavam aliviados, mas também um pouco ansiosos. A fazenda era o local onde tudo sempre havia sido calmo e reconfortante. Eles sabiam que a mudança de ambiente poderia ser o que Laura precisava para continuar sua recuperação de forma mais tranquila. Mateus, com um sorriso mais largo, virou-se para Luna. — Mãe vai melhorar ainda mais. A fazenda vai trazer paz, e ela vai se sentir mais forte lá. Nós vamos cuidar dela, todos nós. — Ele disse, a confiança em sua voz ressoando, e Luna concordou, sua expressão de alívio deixando claro que ela acreditava na força da união da família. A saída do hospital foi marcada por um pequeno desfile de apoio e carinho. Heitor, Javier, Teodoro e Horácio, todos os maridos, estavam ali, acompanhando suas esposas e mostrando que não importava o que acontecesse, eles estavam unidos. Martina e Maria estavam emocionadas, mas muito gratas por ver suas filhas de volta ao seu lado, começando a viver novamente. Com a alta médica, todos se prepararam para a jornada até a Fazenda Feitiço do Sol Nascente. O grupo, agora mais unido do que nunca, viajou junto, sem pressa, sem preocupações. O destino estava claro: A fazenda, onde poderiam ter a privacidade necessária para a cura e onde cada um poderia dar o melhor de si para ajudar na recuperação de Laura. Durante o trajeto, as conversas eram leves, mas carregadas de significado. Teodoro, que se mostrava o mais sério, finalmente disse, com um sorriso simples: — Este é o nosso momento de união, todos juntos na fazenda. A guerra ainda não acabou, mas essa união vai ser o que vai nos levar adiante. Horácio, com um olhar mais calmo, completou: — Não importa o que aconteça lá fora. A fazenda é o nosso refúgio, o nosso lugar de paz. O alívio estava evidente nos rostos de todos, mas também havia uma crescente tensão no ar. A vida deles nunca mais seria a mesma, e isso estava claro. Mas o mais importante era que eles haviam superado o que parecia impossível e estavam prontos para lutar por mais. Laura estava com eles, e isso era tudo. Quando finalmente chegaram à Fazenda Feitiço do Sol Nascente, todos sentiram a mudança. A brisa suave que soprava pelos campos parecia ter trazido consigo algo renovador. Laura sentiu a diferença, o ambiente a acolheu com a serenidade que ela tanto precisava. O som da natureza, o espaço amplo e tranquilo, eram exatamente o que ela precisava para continuar sua recuperação, com o apoio incondicional dos filhos e dos maridos. E, ali, sob o céu amplo da fazenda, todos prometeram algo mais: Iriam lutar, juntos, pelo futuro. O amor inabalável entre eles se tornaria ainda mais forte, e a vingança que estava ardendo em seus corações seria apenas o primeiro passo para restaurar o que haviam perdido. Mas por enquanto, o que importava era o alívio de estar juntos, seguros, e prontos para continuar a jornada. A fazenda era, finalmente, o lar de todos. E seria ali que se reconstruiriam.O Retorno de Laura Luna A fazenda Feitiço do Sol Nascente nunca esteve tão cheia. Desde que deixamos o hospital, a família inteira se reuniu aqui para receber minha mãe. Que após lutar bravamente pela vida, volta ao lugar que a recebeu desde os dezoito anos, onde criou raízes, se apaixonou, casou, teve seus filhos, me criou e fez uma coleção de amigas e amigos. O tempo parece ter desacelerado nesses últimos vinte dias, mas, ao mesmo tempo, tudo mudou. Estou de pé na varanda principal, observando os carros se aproximando. Mateus, ao meu lado, cruza os braços, claramente tentando disfarçar a ansiedade. Ele sempre foi protetor com nossa mãe, e esse momento é importante para ele. Maurício também está inquieto, andando de um lado para o outro. José e Paola cochicham algo entre si, mas a verdade é que todos estamos nervosos. Quando o carro para, meu pai abre a porta para ajudar minha mãe. As cicatrizes ainda estão visíveis, mas os olhos da minha mãe transbordam uma força que m
Uma Nova VidaA noite cai sobre a fazenda, com uma magnífica lua cheia clareando os campos e todos se reúnem para jantar na mesa da varanda. A grande mesa está repleta de risadas, conversas animadas e um sentimento de união que há muito não sentíamos. Minha mãe está radiante, e ver Javier sorrindo novamente aquece meu coração.Mas minha mente está em um turbilhão. Olho para Théo, que me encoraja com um pequeno aperto de mão. Paola, ao meu lado, percebe minha tensão e levanta uma sobrancelha. Ela sempre me lê com facilidade.Levanto-me, batendo levemente um garfo contra a taça, chamando a atenção de todos. O barulho das conversas diminui, e todos os olhares se voltam para mim.— Eu tenho algo para contar.Théo se levanta ao meu lado, segurando minha mão com firmeza. Meu coração bate acelerado, mas quando olho para minha mãe, que voltou para casa depois de tanto sofrimento, e para meu pai, que passou semanas vivendo no limite entre a dor e a esperança, encontro a coragem que precis
O Primeiro BatimentoA brisa morna da noite percorre a varanda, misturando-se ao aroma do jantar recém-servido. A lua cheia ilumina os campos ao redor da fazenda Feitiço do Sol Nascente, banhando a terra em um brilho prateado.A conversa está animada como sempre em torno desta mesa que nos viu crescer! Quantas brincadeiras, almoços, jantares, planos e estratégias dividimos nesta mesa, e agora dividimos a alegria da chegada de mais uma vida que sentará nesta mesma mesa entre nós Mas, dentro de mim, um brilho diferente começa a nascer, um amor que cresce a cada segundo, pulsando em sincronia com o pequeno coração que bate em meu ventre.Os ecos das risadas ainda preenchem o ambiente após meu anúncio. Minha mãe, continua segurando minhas mãos, seus olhos brilhando de emoção. Ela acaricia meu rosto com ternura, e seu toque carrega o peso de tudo o que já enfrentamos.— Você vai ser mãe, Luna. Sua voz quebra levemente, e eu vejo um mar de sentimentos refletido em seu olhar.Meu pai
O primeiro Batimento 2 Paola, ao meu lado, cutuca minha cintura levemente, seus olhos brilhando em diversão. — Agora tudo faz sentido. Eu sabia que tinha algo diferente em você ultimamente! Ela ri, mas há carinho em sua voz. — A insolente Luna, agora mãe. Quem diria? Solto uma risada fraca. Quem diria mesmo? Há meses, tudo que eu conhecia era o fogo da vingança, a adrenalina das batalhas e o peso de um legado sombrio. Agora, dentro de mim, cresce algo puro. Algo que muda tudo. — Você precisa começar a se cuidar, Luna. A voz de María, minha tia, soa com doçura. — Os primeiros meses são delicados. Mal tenho tempo de responder antes que Javier solte um resmungo, cruzando os braços. — E isso significa que você não vai mais montar Sombra. Meus olhos se arregalam. — O quê? Sombra, meu cavalo, sempre foi uma extensão de mim. O pensamento de ficar sem montá-lo é insuportável. — Nem adianta discutir. Javier continua, seu tom inflexível. — É um risco desnecessário.
O Peso da Responsabilidade O jantar segue em meio a conversas animadas, mas percebo que, aos poucos, os olhares preocupados voltam a mim. A euforia inicial da notícia se dissipa, dando espaço à realidade inescapável da nossa vida. Meu filho não será apenas um bebê. Ele será um herdeiro. Um símbolo. Um alvo. Sinto Théo apertar minha mão sob a mesa. Sua presença me ancora, mas a ansiedade cresce dentro de mim. — Você precisa começar o pré-natal imediatamente, Luna. María diz com firmeza, assumindo o papel de tia preocupada. — Precisamos de um médico de confiança, alguém que possa te acompanhar sem riscos. Minha mãe assente, sua expressão séria. — Já pensei nisso. Temos um obstetra que trabalhou comigo quando eu estava grávida de Mateus e Maurício. Ele é confiável. Javier não hesita. — Então ele vem até aqui. Minha mãe franze a testa. — Javier, não é tão simples. Ele tem uma clínica, pacientes… — Não me importo. Javier corta, sua voz firme. — Luna não pode ficar se expon
O Medo e a Promessa A noite se arrasta enquanto tento dormir. O quarto está silencioso, e o calor do corpo de Théo ao meu lado deveria ser reconfortante, mas minha mente não para. Cada palavra dita no jantar ecoa dentro de mim. Perigo. Alvos. Equilíbrio de poder. Coloco uma mão sobre meu ventre ainda liso, tentando sentir algo, qualquer coisa que me faça acreditar que posso protegê-lo. Mas tudo o que sinto é um medo sufocante. — Luna… A voz rouca de Théo me tira dos pensamentos. Ele se vira na cama, os olhos semicerrados, observando-me na penumbra. — Não está conseguindo dormir? Suspiro, sem saber se devo mentir. — Minha cabeça não desliga. Ele passa uma mão pelo rosto antes de se sentar, os músculos tensos sob a luz fraca do abajur. — Quer conversar? Balanço a cabeça, mas ele já me conhece bem demais. Ele se aproxima, os dedos roçando minha pele em um carinho silencioso. — Você está preocupada com o bebê. Minha garganta aperta. — Como não estaria? Nós não somos pes
O Medo e a Promessa 2 Na manhã seguinte, acordo antes do sol nascer. Há algo de mágico nesse momento do dia, quando o céu ainda está tingido de sombras suaves, mas a promessa de luz já dança no horizonte. Saio da cama silenciosamente para não acordar Théo e caminho até a varanda do nosso quarto. O ar fresco da madrugada acaricia minha pele, e a visão diante de mim me enche de uma paz profunda. A Fazenda Feitiço do Sol Nascente sempre foi meu refúgio, mas agora parece diferente. Agora, cada detalhe tem um significado novo, como se eu estivesse enxergando esse lugar com os olhos do meu filho. As vastas planícies ondulam até onde a vista alcança, cobertas por um tapete vibrante de verdes e dourados, banhados pelo orvalho da noite. Árvores frondosas se erguem ao longe, seus galhos dançando suavemente com a brisa. Mais perto da casa, os jardins transbordam vida. Flores silvestres crescem em uma profusão de cores de tons quentes de laranja, vermelho e dourado, refletindo as mesmas n
O peso da ameaça Eu me apoio na mesa de madeira escura do escritório, observando os rostos ao meu redor. O barulho do gelo batendo nos copos é a única coisa que quebra o silêncio pesado. Heitor, Horácio, Teodoro, Javier e Arturo estão todos aqui, reunidos como sempre, mas nunca tão tensos. Algo que nunca imaginei ver – e que, agora, não consigo ignorar. A ameaça que paira sobre nós parece quase palpável. A explosão no hotel, os minutos que nos afastaram da perda irreparável de nossas mulheres… Está claro que fomos pegos de surpresa. Ninguém esperava um ataque tão bem arquitetado. Ninguém previu que um inimigo, qualquer que fosse, tivesse conhecimento suficiente sobre nós para atingir um dos nossos maiores orgulhos. — Como diabos deixamos isso acontecer? Javier quebra o silêncio, a voz carregada de frustração. Ele aperta o copo, como se pudesse quebrá-lo com a força do ódio que sente. — Eu ainda estou tentando entender. Heitor murmura, sua expressão tão fechada quanto a minha.