Na parte da tarde fomos, eu, mãe e Yasmin numa feira de artesanatos. Agora eu estou numa barraca de plantas. Lanço um olhar para elas e as vejo na barraca ao lado. Elas estão escolhendo panos de enxugar pratos. Alguns, entre as muitas variedades. Daqui dá para ver que será difícil escolher. Eles são lindos.Eu volto a minha atenção para um vaso de violetas. Lindo. Ele está carregado de pequenas flores mescladas de rosa e branco. Eu resolvo comprá-lo para colocá-lo na escrivaninha do meu quarto, no lugar onde deveria estar meu notebook. Sim, vida ao invés de frustração. Esperança no lugar da tristeza. Sinto-me confiante para buscar o que desejo. Estou dando adeus aquela garota entediada com sua própria vida. Que enfrenta dias ruins e fica se perguntando por que tinha que viver numa família libanesa. Ou me perguntando qual a razão de viver nesse planeta.Quero mover-me para o próximo capítulo de minha vida, ao qual eu mesma escreverei meu destino. Não sou mais aquela garota que os pais
Olho mais uma vez a janela. A casa dele está escura e a tarde está sendo engolida pela noite. Eu me afasto e vou até o banheiro enquanto derramo grossas e salgadas lágrimas. Meus olhos estão vermelhos e doloridos. Nada me conforta. Nada. Nem as lembranças me confortam, elas apenas me dizem quanto fui idiota. Já procurei ler os jornais velhos com a data do dia seguinte do seu sumiço, mas não encontrei nada que me desse uma luz a respeito. Inclusive até eu já tinha ido à casa dele, mas tudo permanece trancado, abandonado. Lavo o rosto e volto para o quarto. Allah!As luzes do quarto de Zafir estão acesas. Imediatamente corro para a minha janela com os olhos grudados lá. Uma senhora está com uma vassoura na mão e está varrendo o quarto. Pisco sem entender. Tudo isso é muito confuso. Mas é a minha oportunidade de tirar isso a limpo. Tremendo, com fraqueza nas pernas, desço as escadas devagar sem ser notada por meus pais. Eles estão assistindo televisão de costas para mim. Yasmin está
Com um olhar de esguelha, eu me atrevo a analisar o rosto dos dois. Meu pai me está me estudando pensativo, minha mãe está com cara de choro.—Yasmin, já lavou a mão para jantar? —Meu pai pergunta quebrando o silêncio.—Não. Vou lavar agora. —Yasmin fala e sai correndo.Eu estico meus lábios, e dou um sorriso.—Eu não vou jantar. Com licença. —Eu digo rápido para sair da presença deles. Meus nervos me oprimem. Aliás, tudo me oprime ultimamente.Subo as escadas de dois em dois degraus, passo como um foguete pelo corredor e entro no meu quarto. Deito-me na cama petrificada.A lembrança de um cara na faculdade tentando me beijar me trouxe aquele sentimento de ojeriza. E, de repente, senti meu coração disparar e a adrenalina percorrer meu corpo.E agora? Como eu lutaria contra isso tudo? Meu pai poderia ser preso!A vontade de chorar é grande. Eu me sinto sozinha em minha angústia. Oh papai! O que o senhor fez!Fico ali deitada no escuro, como morta. Sentindo-me impotente.Zafir, onde est
Ela me abraça por um momento e me encara aliviada. —Obrigada, Jade. Seu pai ficará alivi.... Feliz—Ela corrigiu. — Com sua aceitação. Eu estava até conversando com ele sobre isso. Você é uma caixinha de surpresa. Quando menos esperamos, você vem com ideias, mudanças ou descobrimos algo. Eu nunca sei o que esperar de você. Mesmo assim, achei que seria mais difícil falar com você. Mas agora vejo o quanto eu estava enganada, você está bem mais receptiva. —Muito... —Digo aflorando meu humor-negro, resignada a aceitar meu destino. Ela se levanta. —Bem, é isso. Arrume suas malas, teu pai te levará até o aeroporto. Eu engasgo. —Como? Hoje? —Sim. Pestanejo. —E se eu me negasse a ir? Vocês combinaram tudo sem me consultar? Ela solta um suspiro. —Não querida. Só estávamos esperando sua confirmação. Seu pai ficou de ligar confirmando sua ida hoje. Embora esteja bem frio, eu estremeço com suas palavras. São elas que me abalam. —Tudo bem. Pode ligar. —Suspirei. —É longe daqui? —Em M
Meu pai respira fundo. —Eu fiquei orgulhoso de você. Também achava que um cara como ele só iria se divertir com você. Eu o encaro séria. —E agora, não é assim? Ele aperta os lábios. —Filha! Claro que não! Que pergunta? Ele me garantiu que levará essa relação a sério. Mas em todo caso, é isso que eu gostaria de conversar com você. Mantenha suas pernas fechadas e tudo dará certo. O homem quando consegue levar uma mulher para a cama perde o interesse. Como um raio de dor e angústia, eu recebo as palavras dele. Foi isso que aconteceu? Zafir perdeu o interesse por mim e quando a sua noiva surgiu, se humilhando, se declarando, ele viu que estava equivocado comigo?—Vem, agora almoce e eu te levarei até o aeroporto.—Não vou comer nada. Acho melhor comer no avião. Só vou tomar um suco de laranja.Vejo um sentimento de angústia passando nos olhos do meu pai, mas ele força um sorriso.—Ótimo. Vou levar suas malas para baixo.Ele não vê a hora de me colocar no avião. Medo de eu pensar
Caminhamos até a sala de bagagens e eu apontei para ele as minhas duas malas. Os brutamontes dele as colocaram em um carrinho. A chuva cai intensa atingindo as pequenas folhas das árvores e as lançando contra o asfalto. Minha blusa estava na mala e estremeci de frio. Rashid me fez entrar no Sedan preto logo que ele parou em frente ao aeroporto. Sem dúvida, ter um namorado rico tem suas compensações, penso me sentindo aconchegada no ambiente quente do grande carro que está com o ar condicionado ligado. Olho através da chuva que envolve tudo, com nostalgia me lembro do dia que Zafir foi a minha casa. No dia que me entreguei a ele em frente a lareira acesa da minha casa. — Para casa, Edward. —Rashid diz quando ocupa o assento ao meu lado.—Sim, senhor. Eu o procuro com os olhos. Rashid olha para mim. Seus olhos estudam meu rosto. —Seu pai explicou por que está aqui?—Não, mas eu descobri. Tudo isso faz parte de um acordo que ele fez com o senhor. Sua dívida em troca de nosso casam
— Não só com as palavras, isso eu te garanto. —Ele diz com um sorriso arrogante. Desconcertada com a sua segurança, eu desvio os meus olhos dos dele e volto os meus olhos para a janela. Logo passamos pelos portões da mansão. Eu me surpreendo com a sua imensidão. Linda, pintada de branco de telhas vermelhas. Toda avarandada.O motorista estaciona em frente a ela. Sua comitiva, que veio no carro atrás do nosso, abre a porta. Ele desce e eu desço logo em seguida. Rashid estende a mão para mim.—Vem, quero te mostrar tudo.Sim, é nessa mansão que minha história se inicia. Eu aceito a mão que ele estendeu para mim e subo as escadas. Logo me deparo com vários ambientes, as muitas salas que se sucedem conforme Rashid vai me mostrando tudo. Ela é muito clara, muito aberta, e muito grande. As paredes são todas forradas. Algumas com papéis de parede, outras com madeira, outras pintadas. Mas todos os ambientes combinando. Finos tapetes revestem o chão. Todos em tons variantes de vermelho.
Através do vidro vejo um lindo gramado, jardins o cercam. E mais ao longe, um homem sentado em uma espreguiçadeira pegando o finalzinho do sol da tarde que está indo embora. Ele está muito distante, por isso não consigo distinguir seu rosto. Ele então passa as mãos sobre seus olhos e vira sua cabeça na minha direção. Meu coração se agita quando ele me parece tão familiar. Zafir? Eu prendo o ar. Não! Não pode ser! Digo com raiva de qualquer coisa ou pessoa eu relacionar com ele.Seu domínio sobre meus sentimentos está me fazendo enxergar coisas. Eu me afasto com resolução da janela. Seja lá quem for, não é ele. Deu para ver mesmo com essa distância que o cara é bem mais magro. Tiro minhas roupas da mala e as coloco em cima da cama e abro a porta do closet. Fico encantada pela infinidade de prateleiras, cabides e gavetas. Todas organizadas. Guardo minhas roupas. Elas penduradas nos cabides ficaram engraçadas. Revelando ainda mais a grandiosidade do lugar, destoando totalmente do req