A névoa rastejava sobre o pântano como dedos de um espectro invisível. O cheiro de terra úmida e musgo antigo impregnava o ar, conforme a brisa fria carregava sussurros distantes, vozes do passado que jamais haviam encontrado repouso.Tupã movia-se sem esforço pelo terreno traiçoeiro, seu corpo biônico absorvendo cada impacto, cada passo na lama, cada gota de umidade que caía de folhas encharcadas, seus olhos reluzindo com um brilho azulado, cortando a penumbra como faróis espectrais. Mas, mesmo com toda essa precisão sobre-humana, algo nele parecia deslocado, como se a floresta tentasse lembrá-lo de que ele já não era apenas um homem.Foi então que sentiu a presença.Um silêncio profundo tomou conta do pântano, e a água refletiu um brilho dourado incomum. Tupã parou, os sentidos em alerta. O vento mudou de direção, trazendo consigo um aroma de incenso e madeira queimada.Do outro lado do nevoeiro, o Guardião do Pântano Sagrado emergiu.Seu manto vivo, feito de vinhas e musgos, ondula
O vento uivava através das ruínas de Alcarth, um lamento ancestral que sussurrava segredos esquecidos. A cidade caída jazia como um cadáver abandonado pelo tempo, suas torres despedaçadas apontando para o céu como ossos expostos ao luar. A névoa rastejava pelas fissuras das construções em ruínas, como serpentes silenciosas, carregando o eco de preces não atendidas e o fedor da decadência.Naaldlooyee deslizava lentamente pelo centro do que um dia fora um grande templo. Os olhos ocultos sob o capuz reluziam na escuridão, absorvendo cada fragmento de energia, cada resquício de poder impregnado na pedra antiga.Havia algo ali.Algo... diferente.Ele estendeu a mão pálida e longa, as unhas curvadas como garras, e traçou um símbolo invisível no ar. As sombras ao redor pulsaram em resposta, como se tomassem fôlego.A magia das ruínas sempre fora volátil, moldada pelo sofrimento das almas que ali pereceram. Mas agora...Agora, o fluxo do tempo parecia ter sido tocado.Um vinco surgiu na test
O refúgio, silencioso, mergulhava no calor abafado da noite. No canto mais afastado da caverna iluminada por lamparinas de óleo, Duncan folheava um tomo antigo, os olhos atentos examinando cada linha, cada símbolo gravado na página amarelada pelo tempo. As palavras sussurravam segredos esquecidos, fragmentos de um conhecimento que poucos ousavam estudar.Kaena e Hei, a alguns metros dali, estavam absortos em seu próprio mundo — um instante roubado em meio à guerra iminente. Mãos se tocavam, olhares se encontravam, promessas mudas trocadas. Duncan entendia que aqueles momentos eram raros e preciosos, mas ele não se permitia tal luxo. Não agora.Ele virou outra página, absorvendo os ensinamentos ali descritos. As Tradições Espirituais e Marciais — assim Nagato as chamava. O elo entre o corpo, a mente e a essência do mundo.Duncan fechou os olhos por um instante, deixando-se lembrar.Nagato, com sua postura ereta e olhar sereno, passava os dedos sobre uma mesa de madeira envelhecida, ond
O vento cortava a noite como lâminas invisíveis, arrastando folhas secas e poeira pelo caminho irregular da floresta. Tupã era um borrão, um espectro em alta velocidade, seu corpo biônico impulsionado por uma força que não era apenas física, mas espiritual, sua mente tomada por um único objetivo, uma única obsessão: Yara.Cada passo reverberava como um trovão no solo, mas não eram apenas seus pés metálicos que ecoavam na noite. Havia algo mais. Algo dentro dele.Uma presença que rastejava pelas bordas de sua consciência.Naaldlooyee.A risada do bruxo serpenteava entre seus pensamentos, tão clara quanto se o maldito estivesse sussurrando diretamente em seu ouvido.— Ela está perdida, Gavião Tempestuoso. — A voz de Naaldlooyee se arrastava como um veneno derramado. — Enquanto você se debate inutilmente, ela está nas minhas mãos. Chamando por você. Suplicando. E o que você faz? Corre, tropeça... fraco e inútil."BWAHAHAHAHAHA!"Tupã cerrou os dentes.Ele não podia se deixar levar por il
A noite esquentava na tenda de Donaldo.A luz das lamparinas dançava sobre os tecidos finos que pendiam do teto, criando sombras ondulantes que pareciam se mover ao ritmo dos corpos entrelaçados sobre a ampla cama adornada com sedas e peles. O cheiro de incenso amadeirado misturava-se ao perfume adocicado da mulher que ofegava sob Donaldo, suas unhas arranhando suavemente as costas musculosas do explorador conforme ele se perdia nos prazeres que tanto apreciava.— Ahh... meu senhor... — a voz dela era um gemido lânguido, as palavras se dissolvendo em suspiros.Donaldo, suado e completamente entregue ao momento, sorriu satisfeito. Seu corpo estava mais vivo do que nunca desde que aceitara o sombrio pacto de Naaldlooyee. O vigor que lhe fora roubado no passado agora pulsava em suas veias, e ele se regozijava disso como um rei sobre seu trono de desejo.Até que uma voz cortou a atmosfera íntima.— Lamento a interrupção.O frio penetrou na tenda como uma lâmina invisível.A ruiva soltou u
O ar ali dentro era quente e gracioso. Não pelo calor da terra ou das tochas fracas presas às paredes rochosas, mas pelo desejo que pairava no espaço estreito entre Hei e Kaena.Lá fora, o inimigo se movia como uma serpente na noite. Mas ali, nas profundezas do refúgio subterrâneo, Hei e Kaena não eram guerreiros, apenas dois corpos que se reconheciam pelo toque, pelo gosto, pela ânsia de se entregarem um ao outro.Kaena deslizou os dedos pelo peito nu de Hei, sentindo a firmeza de seus músculos, cada cicatriz uma história sussurrada no escuro. Seu coração pulsava acelerado, mas não por medo – havia algo em Hei que a fazia querer esquecer o mundo lá fora, nem que fosse por um instante fugaz.Hei segurou o rosto dela entre as mãos, os olhos ardendo como brasas na penumbra.— Você tem certeza? — a voz dele veio rouca, carregada de desejo, mas também de respeito.Kaena não respondeu com palavras. Seus lábios encontraram os dele em um beijo voraz, e foi o bastante.A respiração entrecorta
A tenda de Donaldo era um santuário de excessos. O aroma doce do incenso misturava-se ao cheiro de vinho derramado e suor, formando uma atmosfera sufocante de prazer e embriaguez. Almofadas de veludo estavam espalhadas pelo chão, cortinas pesadas ondulavam sob a brisa noturna e os corpos das concubinas enroscavam-se em volta do explorador como serpentes preguiçosas, satisfeitas após um banquete.Donaldo, largado sobre um leito de peles macias, sorria preguiçosamente conforme deslizava os dedos pela pele morena e sedosa de uma das mulheres, seu corpo ainda vibrando com o frenesi do prazer, sua mente embotada pelo álcool e pela luxúria.— Hmmm… essa foi uma noite digna de um rei. — murmurou, sua voz carregada de satisfação.A concubina de cabelos dourados ao seu lado riu baixinho, brincando com uma mecha de seus próprios cabelos.— E um rei merece ainda mais, senhor. — Ela se inclinou, deslizando os lábios pelo peito dele.Donaldo riu, segurando seu queixo com firmeza.— Ah, minha bela
A escuridão em volta era viva.As sombras sussurravam, deslizando e ondulando pelas paredes como serpentes etéreas. O espaço onde Yara se encontrava não era físico — era algo entre um sonho e um delírio, um cárcere construído com as fibras da noite e o sopro do medo.Ela estava deitada sobre uma superfície que não conseguia ver, mas sentia o peso das trevas sobre seu corpo. Frio. Suave. Quase um amante.Um som longínquo percorreu o ambiente. Passos.Lentos. Contidos. Calculados.A escuridão pareceu encolher em volta de Yara, como se tivesse medo do que se aproximava.Então, ele surgiu.Tupã.Os olhos dela se arregalaram, ao que um soluço escapou de seus lábios secos.— Tupã!Ele estava ali, em pé à sua frente, seu corpo forte e ágil como ela se lembrava. A pele morena reluzia sob a tênue luz azulada que emergia de lugar algum, e seus olhos — oh, seus olhos! — eram profundos como o oceano antes da tempestade.Ela quis se levantar, correr para ele, mas seu corpo não respondeu. O que era