A floresta tremia com uma presença sutil, mas inegável.Duncan se mantinha afastado da aldeia, seu olhar perdido na escuridão, sentindo um sussurro invisível. Os exorcistas da Irmandade da Aurora eram treinados para perceber distorções no fluxo natural das energias, e algo estava errado.O vento sibilava entre as árvores, assobiando melodias que soavam antigas demais para serem apenas obra do acaso. Pequenas folhas e poeira dançavam em espirais pelo ar. Duncan soube, antes mesmo de ver, que alguém se aproximava.Foi então que o redemoinho tomou forma.Uma risada travessa, um giro ágil no vento, e ali estava ele:Os olhos do garoto brilhavam como um par de estrelas infantis, o sorriso tão travesso quanto sempre fora – mas havia algo diferente nele agora. Ele não era apenas um menino fugindo dos horrores do mundo. Ele era algo além.Duncan estreitou os olhos.— Andou aprendendo novos truques, garoto?Saci Tumbleweed riu, sua voz se misturando ao vento que o trouxera.— Ou talvez sempre
Hei esboçou um sorriso surpreso, seus olhos encontrando um pitinho na boca do garoto.— Então… você se tornou um saci!Kaena piscou, o coração aliviando-se por vê-lo de pé e bem. — Mas como? Como...?Tumbleweed deu de ombros, puxando a carapuça sobre a cabeça, seus olhos brilhando travessos.— Digamos que a mata viu potencial em mim.Kaena se aproximou um passo, tocando o ombro do menino como se para se certificar de que era real. Mas algo na postura de Duncan e na espectral presença de Nagato a fez lembrar que aquele momento de surpresa e alívio não duraria muito.— Duncan. Nagato. O que está acontecendo? — a voz dela saiu grave, já preparando-se para o pior.Duncan lançou um olhar para a figura do xamã. Nagato, com seus olhos sempre enigmáticos, respirou fundo antes de falar.— A guerra se aproxima.Hei e Kaena trocaram olhares.Nagato continuou, sua voz ecoando como um trovão distante:— Donaldo... Seu exército marchará contra as tribos ao amanhecer. Uma de nossas agentes consegui
O vento rugia como um espírito inquieto, chicoteando as folhas das árvores retorcidas que moldavam a trilha estreita. A lua, tímida e semicoberta por nuvens, lançava sua pálida luz sobre a mata cerrada, onde Duncan Callahan avançava com passos calculados, o capuz baixo ocultando o brilho afiado em seu olhar.O batedor sombrio ainda estava lá, deslizando entre as sombras como um predador paciente. Caçando. Espreitando. Assombrando.Mas Duncan não corria apenas para confrontá-lo.Ele corria para confrontar uma dúvida que o assombrava.Nagato sempre lhe dissera que a escuridão não nasce do nada — ela precisa de uma semente. Um coração para enraizar. Uma alma para corromper.E segundo antigos manuscritos que Duncan estudara, Naaldlooyee nem sempre fora um mestre das sombras.Havia um tempo — um tempo perdido entre os véus da história e do mito — em que ele era um guerreiro de honra, um protetor de um reino distante, talvez até de outro plano de existência.E um dia, ele tombou.Ferido. Ce
O disparo estilhaçou a quietude da manhã, ecoando pela clareira como um trovão. Por um instante, o tempo pareceu suspenso — até o canto dos pássaros sumiu, engolido por um denso e expectante silêncio.A floresta transformou-se num teatro de tensão.Os mercenários avançavam em passos medidos, dedos nos gatilhos, olhos varrendo a vegetação em busca do menor sinal de vida, cada sombra parecendo esconder uma ameaça, cada galho quebrado, uma armadilha.No entanto...— Ele está morto — declarou um deles, sua voz resoluta, quase satisfeita. — Ninguém sobrevive a um tiro tão certeiro.Mas quando chegaram ao local onde Tupã caíra, encontraram apenas folhas amassadas e lama salpicada de vermelho.— Onde ele está? — perguntou outro, o tom carregado de tensão.O líder do grupo, um homem de rosto endurecido e cicatrizes profundas, estreitou os olhos, estudando o ambiente em volta.— Se escafedeu! — Sua voz era grave, carregada de frustração. — Olho vivo! Esse desgraçado não é como os outros macaco
Visões começaram a se formar na mente de Yara: árvores em chamas, o solo rachado como se vertesse sangue, e uma sombra crescente que devorava tudo em seu caminho. A dor da floresta era quase tangível, transbordando para dentro dela como uma onda avassaladora. Seu corpo tremia, tomado pela agonia que não era apenas sua, mas de algo muito maior.Yara cerrou os punhos, respirando fundo.— Tupã... — sussurrou, a voz entrecortada, não mais que um sopro. — Onde você está?Por mais desesperador que fosse o cenário, algo dentro dela insistia que ele ainda estava vivo. Talvez fosse uma esperança tola, ou talvez fosse a própria floresta, sussurrando que não o abandonara. Mas o tempo estava contra eles, e ela sabia disso.Estava prestes a se mover, para investigar a situação, quando um calafrio subiu por sua espinha. Antes que pudesse reagir, uma gélida mão sombria agarrou seu tornozelo, arrastando-a com força para o rio de águas turvas ao seu lado.Um grito sufocado escapou de Yara conforme ela
A sombra penetrava fundo nela, rompendo a tanga de folhas, invadindo seus poros como ondas de éter, despertando sensações fluidas que se espalhavam sob a pele. Ao longe, tambores batucavam em compasso irregular, ecoando cada vez que aquilo — formas sem rosto, tentáculos de trevas — deslizavam pelas coxas da jovem. Toques simultaneamente suaves, gélidos e provocantes. Vinham agora pelos quadris de Yara, desafiando-a a distinguir prazer de ameaça no mesmo arrepio.O vento sussurrava entre as árvores do refúgio de Ceiba, carregando consigo um lamento ancestral. As folhas tremulavam em uma melodia silenciosa, reverberando o peso de tempos imemoriais, conforme a presença da guardiã das árvores sagradas pairava sobre aquele santuário oculto.Tupã estava deitado sobre um leito de musgo, o corpo envolto por curativos feitos de raízes trançadas e folhas embebidas em bálsamos curativos. A dor ainda pulsava sob sua pele, uma lembrança cruel do cerco que quase o levou à morte. Cada respiração era
Com os lábios pressionados num tenso silêncio, a jovem estendia a mão trêmula em direção à virilha — o ar ao seu redor pesado, carregado de um desejo que parecia pulsar em cada fibra de seu ser. Seus feromônios dançavam no limite, quase tangíveis, conforme ela lutava para conter os gemidos que insistiam em escapar de sua garganta, frágeis e roucos.Dois tentáculos sombrios emergiram das profundezas, envoltos numa névoa fria e viscosa, e agarraram seus seios com uma força que era ao mesmo tempo implacável e sedutora. O toque das sombras era gelado, mas ardente, como se cada movimento fosse uma promessa de algo além da compreensão humana. Yara cerrou os dentes, um gemido prolongado ecoando em sua mente, conforme as sombras a envolviam, moldando-se ao seu corpo como uma segunda pele.Ela sentiu-se sendo puxada para o abismo, uma queda vertiginosa que a consumia por completo. As sombras a engoliam, levando-a cada vez mais fundo, num ritmo que era tanto tortura quanto êxtase. Deslizando, c
A noite pesava sobre o refúgio de Ceiba. Os galhos das árvores sagradas sussurravam segredos, conforme sombras dançavam entre as folhas prateadas pelo luar. O ar era carregado por um silêncio inquieto, um vazio opressor que ecoava dentro de Tupã como um trovão distante, um prenúncio de tempestade.Ele se arrastava pelo átrio, cada passo uma batalha contra o peso esmagador de seu próprio corpo. Seus músculos ardiam, a exaustão fazia sua visão oscilar. Mas nada era tão insuportável quanto o que via quando fechava os olhos.As visões.Yara.Acorrentada.Grilhões cravados na pele, os braços esticados e frágeis.E os homens...(Versões tenebrosas de Naaldlooyee...)Rindo.Cruéis. Selvagens. Sombrios. Assistindo conforme ela se debatia, conforme sua voz gritava seu nome.— Tupã!A súplica rasgava sua alma como uma lâmina oculta, um grito abafado pela escuridão, perdido entre ecos de zombarias e crueldade.E então, como um veneno escorrendo entre suas lembranças, a voz de Naaldlooyee se infi