A sombra penetrava fundo nela, rompendo a tanga de folhas, invadindo seus poros como ondas de éter, despertando sensações fluidas que se espalhavam sob a pele. Ao longe, tambores batucavam em compasso irregular, ecoando cada vez que aquilo — formas sem rosto, tentáculos de trevas — deslizavam pelas coxas da jovem. Toques simultaneamente suaves, gélidos e provocantes. Vinham agora pelos quadris de Yara, desafiando-a a distinguir prazer de ameaça no mesmo arrepio.
O vento sussurrava entre as árvores do refúgio de Ceiba, carregando consigo um lamento ancestral. As folhas tremulavam em uma melodia silenciosa, reverberando o peso de tempos imemoriais, conforme a presença da guardiã das árvores sagradas pairava sobre aquele santuário oculto.
Tupã estava deitado sobre um leito de musgo, o corpo envolto por curativos feitos de raízes trançadas e folhas embebidas em bálsamos curativos. A dor ainda pulsava sob sua pele, uma lembrança cruel do cerco que quase o levou à morte. Cada respiração era uma luta entre sua alma e o mundo físico, uma batalha interna que ele não sabia se venceria.
Ele fechou os olhos por um momento, tentando silenciar a tempestade dentro de si. Mas então, a lebre chegou.
A pequena criatura surgiu da penumbra da floresta, movendo-se em saltos graciosos até parar diante de Ceiba.
A guardiã inclinou-se levemente, seus longos cabelos trançados tocando o chão coberto de folhas. Seus olhos dourados — tão antigos quanto a própria terra — se fixaram na lebre, ouvindo o que só ela podia compreender.
Então, sua expressão mudou.
Uma sombra se espalhou sobre seu rosto, algo sombrio e grave, ao que ela virou-se para Tupã, seu olhar como raízes perfurando a terra.
— A escuridão tomou o que mais amas — disse Ceiba, sua voz ecoando como um trovão distante.
O coração de Tupã parou.
— O quê? — A palavra saiu rouca, carregada de uma incredulidade que se transformava em desespero.
Ceiba se aproximou, cada passo ecoando entre os troncos ancestrais.
— Yara foi apanhada pela noite viva. Naaldlooyee a reivindicou para si. As sombras a devoraram e agora ela jaz em um abismo que nem mesmo a luz ousa tocar.
O mundo de Tupã se despedaçou.
Por um instante, tudo ao seu redor se tornou um borrão. O som das árvores, o farfalhar do vento, a pulsação da floresta — tudo pareceu distante, como se o tempo tivesse parado no momento exato em que aquelas palavras foram pronunciadas.
Ele tentou se erguer, mas um choque de dor rasgou seu peito. Sua respiração falhou, os músculos falharam, e ele caiu de volta ao leito, o suor frio cobrindo sua pele.
— Eu preciso ir até ela — murmurou, o desespero transbordando em sua voz.
Ceiba, no entanto, não se moveu.
— E como pretendes fazer isso? — Sua voz era serena, mas havia algo feroz em seu olhar. — Teu corpo mal se sustenta. O caminho até o Senhor das Sombras não é uma trilha para um guerreiro quebrado. É uma jornada para um espírito disposto a perder tudo.
Perder tudo.
Tupã cerrou os punhos, sentindo as unhas cravarem em sua palma. Ele já havia perdido tanto. Seu povo, sua paz, sua liberdade. Mas Yara? Não. Isso ele não podia perder.
— Mostre-me o caminho — ele exigiu, sua voz como pedra rachando.
Ceiba inclinou a cabeça, estudando-o como se tentasse enxergar além da carne e dos ossos, até a essência de sua alma.
— O caminho ao Lorde das Sombras Abissais não é trilhado com pés — disse ela, sua voz um sussurro entre as folhas. — É trilhado com escolhas.
Tupã respirou fundo, ignorando a dor. Ele já havia feito sua escolha.
Mas, então, algo dentro dele hesitou.
E se ele falhasse?
Seu corpo ainda estava frágil. Seu espírito, abalado. Ele não era mais o guerreiro imbatível que se movia como o vento e golpeava como o trovão. Ele era um homem ferido, quebrado.
E Yara estava além do véu do mundo, nas garras de um ser que moldava a própria escuridão.
— Tu duvidas — Ceiba constatou, seus olhos penetrando sua alma.
Tupã fechou os olhos, os dedos crispando sobre o leito de musgo. Sim, ele duvidava. E odiava admitir isso.
Mas ele também sabia que não tinha outra escolha.
— Mesmo que eu duvide, eu irei.
Um sorriso triste dançou nos lábios de Ceiba.
— Então prepara-te, filho da tempestade. Pois as Sombras Abissais não perdoam aqueles que ousam desafiá-las.
E, naquele momento, Tupã intuiu que sua jornada não seria apenas para resgatar Yara.
Seria, talvez, para enfrentar algo que ele temia encarar desde o início: a verdade sobre si mesmo.
E se, no final, não houvesse mais um Tupã para retornar?
O vento uivou entre as árvores, conforme as sombras da floresta começavam a se agitar.
Com os lábios pressionados num tenso silêncio, a jovem estendia a mão trêmula em direção à virilha — o ar ao seu redor pesado, carregado de um desejo que parecia pulsar em cada fibra de seu ser. Seus feromônios dançavam no limite, quase tangíveis, conforme ela lutava para conter os gemidos que insistiam em escapar de sua garganta, frágeis e roucos.Dois tentáculos sombrios emergiram das profundezas, envoltos numa névoa fria e viscosa, e agarraram seus seios com uma força que era ao mesmo tempo implacável e sedutora. O toque das sombras era gelado, mas ardente, como se cada movimento fosse uma promessa de algo além da compreensão humana. Yara cerrou os dentes, um gemido prolongado ecoando em sua mente, conforme as sombras a envolviam, moldando-se ao seu corpo como uma segunda pele.Ela sentiu-se sendo puxada para o abismo, uma queda vertiginosa que a consumia por completo. As sombras a engoliam, levando-a cada vez mais fundo, num ritmo que era tanto tortura quanto êxtase. Deslizando, c
A noite pesava sobre o refúgio de Ceiba. Os galhos das árvores sagradas sussurravam segredos, conforme sombras dançavam entre as folhas prateadas pelo luar. O ar era carregado por um silêncio inquieto, um vazio opressor que ecoava dentro de Tupã como um trovão distante, um prenúncio de tempestade.Ele se arrastava pelo átrio, cada passo uma batalha contra o peso esmagador de seu próprio corpo. Seus músculos ardiam, a exaustão fazia sua visão oscilar. Mas nada era tão insuportável quanto o que via quando fechava os olhos.As visões.Yara.Acorrentada.Grilhões cravados na pele, os braços esticados e frágeis.E os homens...(Versões tenebrosas de Naaldlooyee...)Rindo.Cruéis. Selvagens. Sombrios. Assistindo conforme ela se debatia, conforme sua voz gritava seu nome.— Tupã!A súplica rasgava sua alma como uma lâmina oculta, um grito abafado pela escuridão, perdido entre ecos de zombarias e crueldade.E então, como um veneno escorrendo entre suas lembranças, a voz de Naaldlooyee se infi
O interior da barraca estava escuro como um abismo sem fundo, apenas a bruxuleante chama de uma vela trêmula lutava contra a opressiva penumbra. As paredes de tecido ondulavam com a brisa fria da noite, mas o que realmente fazia Donaldo sentir um calafrio na espinha não era o vento — era a presença do homem sentado à sua frente.Naaldlooyee, o Senhor das Sombras Abissais, mantinha-se imóvel, os olhos negros como carvão refletindo algo além do que um ser humano deveria enxergar. A escuridão parecia dançar em volta dele, como se respirasse, como se tivesse vida própria.Donaldo, já acostumado com o domínio e o controle, sentia-se inquieto. A proposta que ouvira do bruxo naquela noite era simplesmente… absurda.— Você hesita, Donaldo — a voz de Naaldlooyee deslizou pelo ar, grave e hipnotizante, como a serpente que sussurra à presa antes do bote.Donaldo tomou um gole do forte licor em sua taça de prata, tentando dissipar o peso daquelas palavras em sua mente.— O que você está pedindo..
Não da maneira como um céu estrelado pulsa com seus pequenos sóis distantes, nem como a brisa fria que dança entre as árvores. Esta era uma noite viva com olhos ocultos, dedos invisíveis, presenças que não pertenciam ao mundo dos homens.E no centro dessa escuridão, algo caçava.O Shyiniwalker movia-se como um sussurro na penumbra, deslizando entre becos esquecidos, esgueirando-se por sombras sem ser visto, uma entidade que não deixava pegadas nem ecoava seus passos.Era Donaldo, mas não era. Era sua extensão, sua astúcia sem amarras, sua vontade sem limitações.E naquela noite, ele estava faminto.As primeiras vítimas não viram nada além de um borrão. Um sopro de vento contra a pele. Um arrepio na espinha.A jovem — primeira escolhida — caminhava descalça sob a lua, colhendo água do riacho. Ela nem sequer gritou.O silên
Escuridão.Ela estava por toda parte.Nas paredes, no ar, dentro dela.Yara despertou lentamente, seus sentidos ainda presos a um limbo indistinto entre sonho e realidade. Seu corpo desnudo estava pesado, a pele fria, como se tivesse sido arrancada da luz há muito tempo.Tateou o chão úmido e rochoso, tentando se erguer, mas sua força parecia ter sido drenada. Havia uma sensação de vazio em seu peito, como se algo essencial tivesse sido arrancado de sua alma.A fortaleza de Naaldlooyee não era feita apenas de pedra e sombras — era um cárcere que sugava a vontade de viver.Aos poucos, a realidade desabou sobre ela.Ela estava presa.Sozinha.E a escuridão ao redor sussurrava seu nome.Os ecos de algo profano rastejav
A tenda estava envolta numa penumbra quente, iluminada apenas pela luz trêmula de uma única lamparina, o ar pesado, saturado com o aroma doce do incenso de sândalo e o cheiro acre do desejo. Donaldo estava deitado sobre os lençóis de seda, seu corpo nu brilhando sob a luz fraca, conforme uma nova concubina se aproximava dele. Ela era jovem, de pele clara e cabelos loiros como fios de sol, um contraste marcante com as morenas que costumavam compartilhar sua cama.Ela se moveu com uma graça felina, seus olhos azuis fixos nele como se o devorassem com o olhar. Donaldo a observava, embora sua mente não estivesse plenamente presente. As sombras do passado o assombravam, e as memórias da noite do sacrifício invadiam seus pensamentos como fantasmas implacáveis.A primeira jovem.A segunda.A terceira.Todas capturadas pelo Shyiniwalker.Todas gritando.Todas suplicando.Donaldo fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens, mas elas persistiam, como uma ferida que não cicatriza
A noite estava quente, mas dentro da tenda de Donaldo, o calor era quase opressivo. O ar pesado carregava o aroma doce do incenso de mirra, misturado ao cheiro acre do suor e do desejo. As lamparinas tremulavam, projetando sombras que dançavam nas paredes de tecido, como espectros observando em silêncio. Os lençóis de seda, agora desfeitos, brilhavam sob a luz fraca, manchados de vinho e paixão.Donaldo estava deitado de costas, o peito largo subindo e descendo lentamente, conforme os dedos da concubina traçavam círculos lentos sobre sua pele, conforme os seios dela saltitavam calorosamente. Macios. Gelatinosos. Irresistivelmente apetitosos. Ela era uma figura esculpida pela luxúria — morena, de olhos profundos como poços de obsidiana e lábios carnudos que pareciam feitos para o pecado. Seu cabelo escuro caía em cascata sobre os ombros, misturando-se às sombras que os envolviam.— Meu senhor — sussurrou ela, sua voz um eco sedutor no silêncio da tenda. — Você está distante.Donaldo vi
Tentáculos de sombra deslizavam sobre sua pele, enrolados naquela gélida névoa, parecendo pulsar com vida própria, cada movimento uma silenciosa invasão, profunda, a conectando a algo sinistro. Seu corpo tremia, não apenas pelo toque gelado, mas pela intensidade da emoção, conforme suaves gemidos e gritinhos jorravam de seus lábios, conforme o calor do rubor em seu rosto contrastava com o frio das trevas.Ela estava caindo, mas não havia fundo — desde que suas costas atravessara o chão pelas sombras, enquanto o mundo mortal desaparecia, a escuridão se expandindo em volta, densa e opressiva, como se tencionasse consumi-la inteiramente. Lágrimas escorriam silenciosamente, refletindo a luta interna entre o pavor e uma estranha atração pelo abismo. De vez em quando, surgia nela um impulso de voltar à superfície, de escapar daquela escuridão que a inundava como um abismo sem fundo. Mas, em meio às sombras, ela percebia que nadar era impossível. Não havia correnteza, não havia direção, apen