Não da maneira como um céu estrelado pulsa com seus pequenos sóis distantes, nem como a brisa fria que dança entre as árvores. Esta era uma noite viva com olhos ocultos, dedos invisíveis, presenças que não pertenciam ao mundo dos homens.
E no centro dessa escuridão, algo caçava.
O Shyiniwalker movia-se como um sussurro na penumbra, deslizando entre becos esquecidos, esgueirando-se por sombras sem ser visto, uma entidade que não deixava pegadas nem ecoava seus passos.
Era Donaldo, mas não era. Era sua extensão, sua astúcia sem amarras, sua vontade sem limitações.
E naquela noite, ele estava faminto.
As primeiras vítimas não viram nada além de um borrão. Um sopro de vento contra a pele. Um arrepio na espinha.
A jovem — primeira escolhida — caminhava descalça sob a lua, colhendo água do riacho. Ela nem sequer gritou.
O silên
Escuridão.Ela estava por toda parte.Nas paredes, no ar, dentro dela.Yara despertou lentamente, seus sentidos ainda presos a um limbo indistinto entre sonho e realidade. Seu corpo desnudo estava pesado, a pele fria, como se tivesse sido arrancada da luz há muito tempo.Tateou o chão úmido e rochoso, tentando se erguer, mas sua força parecia ter sido drenada. Havia uma sensação de vazio em seu peito, como se algo essencial tivesse sido arrancado de sua alma.A fortaleza de Naaldlooyee não era feita apenas de pedra e sombras — era um cárcere que sugava a vontade de viver.Aos poucos, a realidade desabou sobre ela.Ela estava presa.Sozinha.E a escuridão ao redor sussurrava seu nome.Os ecos de algo profano rastejav
A tenda estava envolta numa penumbra quente, iluminada apenas pela luz trêmula de uma única lamparina, o ar pesado, saturado com o aroma doce do incenso de sândalo e o cheiro acre do desejo. Donaldo estava deitado sobre os lençóis de seda, seu corpo nu brilhando sob a luz fraca, conforme uma nova concubina se aproximava dele. Ela era jovem, de pele clara e cabelos loiros como fios de sol, um contraste marcante com as morenas que costumavam compartilhar sua cama.Ela se moveu com uma graça felina, seus olhos azuis fixos nele como se o devorassem com o olhar. Donaldo a observava, embora sua mente não estivesse plenamente presente. As sombras do passado o assombravam, e as memórias da noite do sacrifício invadiam seus pensamentos como fantasmas implacáveis.A primeira jovem.A segunda.A terceira.Todas capturadas pelo Shyiniwalker.Todas gritando.Todas suplicando.Donaldo fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens, mas elas persistiam, como uma ferida que não cicatriza
A noite estava quente, mas dentro da tenda de Donaldo, o calor era quase opressivo. O ar pesado carregava o aroma doce do incenso de mirra, misturado ao cheiro acre do suor e do desejo. As lamparinas tremulavam, projetando sombras que dançavam nas paredes de tecido, como espectros observando em silêncio. Os lençóis de seda, agora desfeitos, brilhavam sob a luz fraca, manchados de vinho e paixão.Donaldo estava deitado de costas, o peito largo subindo e descendo lentamente, conforme os dedos da concubina traçavam círculos lentos sobre sua pele, conforme os seios dela saltitavam calorosamente. Macios. Gelatinosos. Irresistivelmente apetitosos. Ela era uma figura esculpida pela luxúria — morena, de olhos profundos como poços de obsidiana e lábios carnudos que pareciam feitos para o pecado. Seu cabelo escuro caía em cascata sobre os ombros, misturando-se às sombras que os envolviam.— Meu senhor — sussurrou ela, sua voz um eco sedutor no silêncio da tenda. — Você está distante.Donaldo vi
Tentáculos de sombra deslizavam sobre sua pele, enrolados naquela gélida névoa, parecendo pulsar com vida própria, cada movimento uma silenciosa invasão, profunda, a conectando a algo sinistro. Seu corpo tremia, não apenas pelo toque gelado, mas pela intensidade da emoção, conforme suaves gemidos e gritinhos jorravam de seus lábios, conforme o calor do rubor em seu rosto contrastava com o frio das trevas.Ela estava caindo, mas não havia fundo — desde que suas costas atravessara o chão pelas sombras, enquanto o mundo mortal desaparecia, a escuridão se expandindo em volta, densa e opressiva, como se tencionasse consumi-la inteiramente. Lágrimas escorriam silenciosamente, refletindo a luta interna entre o pavor e uma estranha atração pelo abismo. De vez em quando, surgia nela um impulso de voltar à superfície, de escapar daquela escuridão que a inundava como um abismo sem fundo. Mas, em meio às sombras, ela percebia que nadar era impossível. Não havia correnteza, não havia direção, apen
As sombras apertavam-se aqui e ali, envolventes e insistentes, como se ansiassem fundir-se ao corpo da jovem, conforme tentáculos de escuridão resvalavam, explorando cada curva, conforme pressionavam suas nádegas, o vigor ao mesmo tempo agressivo e sedutor. A sensação gelada subia pela espinha, deixando um rastro de arrepios que mesclavam desconforto e prazer. As trevas avançavam mais e mais, roçando a junção de suas coxas com movimentos lentos e deliberados, como se conhecessem cada extensão dela melhor do que ela mesma, cada toque uma fricção que a fazia estremecer, uma valsa de sombras a arrastando para um abismo de sensações contraditórias.Vez por outra, ela se pegou mergulhando em pensamentos que a perturbavam: o que Tupã diria se a visse assim? Seriam seus olhos capazes de compreender? Ou se encheriam de desilusão ao descobrir que, em seu coração, haviam ecoado sensações tão sombrias, tão íntimas, despertadas pelas trevas que agora a embrulhavam? Ela imaginava sua reação, talve
A escuridão era viva. Não era apenas a ausência de luz, mas uma entidade que respirava, que se movia, que a envolvia como um abraço sufocante. Yara sentia-a em sua pele, fria e viscosa, como se milhares de dedos invisíveis a tocassem, explorassem, violassem. Tentou gritar, mas o som se perdeu no vácuo das trevas, engolido antes mesmo de deixar sua garganta. As sombras riam, uma gargalhada ensandecida que ecoava em sua mente, dilacerando-a por dentro.Ela não sabia há quanto tempo estava ali. O tempo não existia naquele lugar. Era um eterno presente de dor e desespero, onde cada segundo se arrastava como uma eternidade. Tentou se mover, mas suas pernas estavam presas por tentáculos de sombra que se enrolavam em seus tornozelos, puxando-a para baixo, sempre para baixo. Lutou, golpeou o ar com os braços, mas suas mãos só encontravam mais escuridão, mais vazio."Resista", sussurrou uma voz dentro dela, fraca, quase imperceptível. Era sua própria voz ou o eco de algo que já foi? Yara não s
Tentáculos sombrios se enroscavam ao seu corpo, conforme sombras a invadiam profundamente. De novo e de novo e de novo... Yara soltava gemidos suaves, o rosto avermelhado pela emoção que a dominava.Ela mergulhava numa queda interminável, as trevas se condensando ao seu redor, espalhando-se como um véu pesado e impenetrável. A escuridão avançava, fria e intrusiva, conforme lágrimas silenciosas escorriam de seus olhos, refletindo a dor e o desespero que a consumiam, conforme a sombra movia-se dentro e fora dela com avassaladora força, deslizando com uma textura gelatinosa, como se fosse uma substância viscosa atravessando um suave canal, cada movimento a fazendo arquejar involuntariamente, os quadris cedendo ao ritmo imposto, conforme gemidos escapavam de seus lábios a cada impacto, a cada fricção entre carne e sombra macia. Contrações e expansões se alternavam, num ciclo que mesclava dor e prazer, num sombrio e incontrolável êxtase.O silêncio na toca de Ceiba era profundo, mas não um
O mundo de Yara era feito de trevas.Não havia céu, nem chão. Apenas sombras se retorcendo ao seu redor, sussurrando em línguas que ela não conhecia.Ela não sabia há quanto tempo estava ali. Horas? Dias? Uma eternidade?O tempo não fazia sentido naquele lugar.A única certeza era a dor em seu corpo e o cansaço esmagador que pesava sobre sua alma.As sombras danç