Visões começaram a se formar na mente de Yara: árvores em chamas, o solo rachado como se vertesse sangue, e uma sombra crescente que devorava tudo em seu caminho. A dor da floresta era quase tangível, transbordando para dentro dela como uma onda avassaladora. Seu corpo tremia, tomado pela agonia que não era apenas sua, mas de algo muito maior.
Yara cerrou os punhos, respirando fundo.
— Tupã... — sussurrou, a voz entrecortada, não mais que um sopro. — Onde você está?
Por mais desesperador que fosse o cenário, algo dentro dela insistia que ele ainda estava vivo. Talvez fosse uma esperança tola, ou talvez fosse a própria floresta, sussurrando que não o abandonara. Mas o tempo estava contra eles, e ela sabia disso.
Estava prestes a se mover, para investigar a situação, quando um calafrio subiu por sua espinha. Antes que pudesse reagir, uma gélida mão sombria agarrou seu tornozelo, arrastando-a com força para o rio de águas turvas ao seu lado.
Um grito sufocado escapou de Yara conforme ela era puxada para dentro da corrente escura. A água fria a envolveu como um manto de gelo, e ela se debateu desesperadamente, tentando alcançar a superfície. Mas algo viscoso e grotesco a segurava. Tentáculos asquerosos emergiam das profundezas, enrolando-se em torno de seus braços e pernas, repuxando suas vestes com uma força monstruosa.
Yara lutava, o desespero queimando em seu peito como fogo. A água parecia ganhar vida, sufocando seus pulmões e roubando sua força. Mesmo assim, ela não cedia, cada movimento uma peleja pela sobrevivência.
Debatendo-se com todas as forças, Yara levou a mão à cintura, onde sua faca de pedra estava presa. Seus dedos trêmulos encontraram a lâmina, e com movimentos ligeiros, ela começou a desferir cortes cegos contra os tentáculos que a prendiam. A faca descrevia arcos desesperados, rompendo a água e as sombras com feroz obstinação, mesmo conforme o terror crescia em seu peito, ameaçando paralisá-la, cada golpe um protesto ao desconhecido que tentava consumi-la.
Fazendo um esforço monumental, Yara notou que só havia uma maneira de escapar. Nisso, com o coração pesado, ela abriu mão de suas vestimentas, deixando-as para trás conforme se livrava dos tentáculos viscosos que ainda a puxavam para baixo. Livre do peso que a prendia, Yara nadou em direção à superfície.
Seu corpo rompeu a água com um ímpeto desesperado, o ar frio finalmente enchendo seus pulmões. Sem hesitar, ela saiu às pressas do rio, tropeçando e ofegante, conforme gotas geladas escorriam por sua pele nua.
Por um momento, ela ficou ali, seus pés afundando no solo lamacento da margem. Mas a ameaça ainda parecia próxima, e ela sabia que não podia parar.
Ainda abalada pelo susto, Yara improvisara às pressas uma tanga com folhas de figueira. Mal podia acreditar que suas vestes de pele haviam sido levadas pelas... sombras das águas revoltas.
Não se envergonhava de sua nudez, mas o frio que mordiscava sua pele vinha com algo mais. Havia algo abissalmente medonho dentro da água. Algo descomunal e horripilante e sombrio, que agora começava a se condensar também na atmosfera. Pelos espíritos! Era como se o ar em volta tivesse sido engolfado pelas sombras de seus piores pesadelos. Agachada no barranco, a jovem olhou ao redor. Será que a escuridão queria prová-la até a exaustão? O suave vento da escura tarde soprava as folhas que ela usava como tanga, fustigando-a e provocando calafrios. Uma presença... Yara podia sentir. Uma coisa tenebrosa queria a forçar, abusar dela e... A jovem esforçou-se para se levantar — para correr. Fugir. De repente, línguas e tentáculos de trevas brotaram do nada, ao que Yara sobressaltou-se frente à visão sombria. Ela fez menção de recuar. No entanto, mais veloz que seu pensamento, os sombrios tentáculos a enrolaram, ao que línguas das sombras a penetraram. Yara gemeu baixinho, o rosto ruborizando-se. Ela caiu, se esparramando sob o peso das trevas, a virilha preenchendo-se com a fria língua da escuridão conforme lágrimas rolavam de seus olhos. Naquele momento, a única consolação de Yara repousava no silêncio: seu véu íntimo desfizera-se pelas mãos de quem amara, não por violência. A sombra entrava e saia dela com uma tremenda força, resvalando gelatinosamente como uma gosma em um suave túnel, fazendo-a mover involuntariamente os próprios quadris, arrancando gemidos a cada golpear, a cada roçar entre carne e sombra macia, a cada contração, a cada expansão...Mordiscando os lábios, a jovem estendeu a mão tremeluzente em direção à virilha — um vão esforço de extinguir os feromônios que ameaçavam escorrer, conforme lutava para conter os gemidos que escapavam de si.
Nesse ínterim, dois tentáculos agarraram vigorosamente seus fartos seios, o toque gélido e pegajoso ameaçando violar cada extensão de seu ser. Yara conteve um prolongado gemido, e sacudiu a cabeça ao tentar se concentrar em não se entregar ao prazer.Tupã... o que ele pensaria se a visse daquele jeito?
A sombra penetrava fundo nela, rompendo a tanga de folhas, invadindo seus poros como ondas de éter, despertando sensações fluidas que se espalhavam sob a pele. Ao longe, tambores batucavam em compasso irregular, ecoando cada vez que aquilo — formas sem rosto, tentáculos de trevas — deslizavam pelas coxas da jovem. Toques simultaneamente suaves, gélidos e provocantes. Vinham agora pelos quadris de Yara, desafiando-a a distinguir prazer de ameaça no mesmo arrepio.O vento sussurrava entre as árvores do refúgio de Ceiba, carregando consigo um lamento ancestral. As folhas tremulavam em uma melodia silenciosa, reverberando o peso de tempos imemoriais, conforme a presença da guardiã das árvores sagradas pairava sobre aquele santuário oculto.Tupã estava deitado sobre um leito de musgo, o corpo envolto por curativos feitos de raízes trançadas e folhas embebidas em bálsamos curativos. A dor ainda pulsava sob sua pele, uma lembrança cruel do cerco que quase o levou à morte. Cada respiração era
Com os lábios pressionados num tenso silêncio, a jovem estendia a mão trêmula em direção à virilha — o ar ao seu redor pesado, carregado de um desejo que parecia pulsar em cada fibra de seu ser. Seus feromônios dançavam no limite, quase tangíveis, conforme ela lutava para conter os gemidos que insistiam em escapar de sua garganta, frágeis e roucos.Dois tentáculos sombrios emergiram das profundezas, envoltos numa névoa fria e viscosa, e agarraram seus seios com uma força que era ao mesmo tempo implacável e sedutora. O toque das sombras era gelado, mas ardente, como se cada movimento fosse uma promessa de algo além da compreensão humana. Yara cerrou os dentes, um gemido prolongado ecoando em sua mente, conforme as sombras a envolviam, moldando-se ao seu corpo como uma segunda pele.Ela sentiu-se sendo puxada para o abismo, uma queda vertiginosa que a consumia por completo. As sombras a engoliam, levando-a cada vez mais fundo, num ritmo que era tanto tortura quanto êxtase. Deslizando, c
A noite pesava sobre o refúgio de Ceiba. Os galhos das árvores sagradas sussurravam segredos, conforme sombras dançavam entre as folhas prateadas pelo luar. O ar era carregado por um silêncio inquieto, um vazio opressor que ecoava dentro de Tupã como um trovão distante, um prenúncio de tempestade.Ele se arrastava pelo átrio, cada passo uma batalha contra o peso esmagador de seu próprio corpo. Seus músculos ardiam, a exaustão fazia sua visão oscilar. Mas nada era tão insuportável quanto o que via quando fechava os olhos.As visões.Yara.Acorrentada.Grilhões cravados na pele, os braços esticados e frágeis.E os homens...(Versões tenebrosas de Naaldlooyee...)Rindo.Cruéis. Selvagens. Sombrios. Assistindo conforme ela se debatia, conforme sua voz gritava seu nome.— Tupã!A súplica rasgava sua alma como uma lâmina oculta, um grito abafado pela escuridão, perdido entre ecos de zombarias e crueldade.E então, como um veneno escorrendo entre suas lembranças, a voz de Naaldlooyee se infi
O interior da barraca estava escuro como um abismo sem fundo, apenas a bruxuleante chama de uma vela trêmula lutava contra a opressiva penumbra. As paredes de tecido ondulavam com a brisa fria da noite, mas o que realmente fazia Donaldo sentir um calafrio na espinha não era o vento — era a presença do homem sentado à sua frente.Naaldlooyee, o Senhor das Sombras Abissais, mantinha-se imóvel, os olhos negros como carvão refletindo algo além do que um ser humano deveria enxergar. A escuridão parecia dançar em volta dele, como se respirasse, como se tivesse vida própria.Donaldo, já acostumado com o domínio e o controle, sentia-se inquieto. A proposta que ouvira do bruxo naquela noite era simplesmente… absurda.— Você hesita, Donaldo — a voz de Naaldlooyee deslizou pelo ar, grave e hipnotizante, como a serpente que sussurra à presa antes do bote.Donaldo tomou um gole do forte licor em sua taça de prata, tentando dissipar o peso daquelas palavras em sua mente.— O que você está pedindo..
Não da maneira como um céu estrelado pulsa com seus pequenos sóis distantes, nem como a brisa fria que dança entre as árvores. Esta era uma noite viva com olhos ocultos, dedos invisíveis, presenças que não pertenciam ao mundo dos homens.E no centro dessa escuridão, algo caçava.O Shyiniwalker movia-se como um sussurro na penumbra, deslizando entre becos esquecidos, esgueirando-se por sombras sem ser visto, uma entidade que não deixava pegadas nem ecoava seus passos.Era Donaldo, mas não era. Era sua extensão, sua astúcia sem amarras, sua vontade sem limitações.E naquela noite, ele estava faminto.As primeiras vítimas não viram nada além de um borrão. Um sopro de vento contra a pele. Um arrepio na espinha.A jovem — primeira escolhida — caminhava descalça sob a lua, colhendo água do riacho. Ela nem sequer gritou.O silên
Escuridão.Ela estava por toda parte.Nas paredes, no ar, dentro dela.Yara despertou lentamente, seus sentidos ainda presos a um limbo indistinto entre sonho e realidade. Seu corpo desnudo estava pesado, a pele fria, como se tivesse sido arrancada da luz há muito tempo.Tateou o chão úmido e rochoso, tentando se erguer, mas sua força parecia ter sido drenada. Havia uma sensação de vazio em seu peito, como se algo essencial tivesse sido arrancado de sua alma.A fortaleza de Naaldlooyee não era feita apenas de pedra e sombras — era um cárcere que sugava a vontade de viver.Aos poucos, a realidade desabou sobre ela.Ela estava presa.Sozinha.E a escuridão ao redor sussurrava seu nome.Os ecos de algo profano rastejav
A tenda estava envolta numa penumbra quente, iluminada apenas pela luz trêmula de uma única lamparina, o ar pesado, saturado com o aroma doce do incenso de sândalo e o cheiro acre do desejo. Donaldo estava deitado sobre os lençóis de seda, seu corpo nu brilhando sob a luz fraca, conforme uma nova concubina se aproximava dele. Ela era jovem, de pele clara e cabelos loiros como fios de sol, um contraste marcante com as morenas que costumavam compartilhar sua cama.Ela se moveu com uma graça felina, seus olhos azuis fixos nele como se o devorassem com o olhar. Donaldo a observava, embora sua mente não estivesse plenamente presente. As sombras do passado o assombravam, e as memórias da noite do sacrifício invadiam seus pensamentos como fantasmas implacáveis.A primeira jovem.A segunda.A terceira.Todas capturadas pelo Shyiniwalker.Todas gritando.Todas suplicando.Donaldo fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens, mas elas persistiam, como uma ferida que não cicatriza
A noite estava quente, mas dentro da tenda de Donaldo, o calor era quase opressivo. O ar pesado carregava o aroma doce do incenso de mirra, misturado ao cheiro acre do suor e do desejo. As lamparinas tremulavam, projetando sombras que dançavam nas paredes de tecido, como espectros observando em silêncio. Os lençóis de seda, agora desfeitos, brilhavam sob a luz fraca, manchados de vinho e paixão.Donaldo estava deitado de costas, o peito largo subindo e descendo lentamente, conforme os dedos da concubina traçavam círculos lentos sobre sua pele, conforme os seios dela saltitavam calorosamente. Macios. Gelatinosos. Irresistivelmente apetitosos. Ela era uma figura esculpida pela luxúria — morena, de olhos profundos como poços de obsidiana e lábios carnudos que pareciam feitos para o pecado. Seu cabelo escuro caía em cascata sobre os ombros, misturando-se às sombras que os envolviam.— Meu senhor — sussurrou ela, sua voz um eco sedutor no silêncio da tenda. — Você está distante.Donaldo vi