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Capítulo 4 — Entre Trevas e Lamentações

A noite pesava sobre o refúgio de Ceiba. Os galhos das árvores sagradas sussurravam segredos, conforme sombras dançavam entre as folhas prateadas pelo luar. O ar era carregado por um silêncio inquieto, um vazio opressor que ecoava dentro de Tupã como um trovão distante, um prenúncio de tempestade.

Ele se arrastava pelo átrio, cada passo uma batalha contra o peso esmagador de seu próprio corpo. Seus músculos ardiam, a exaustão fazia sua visão oscilar. Mas nada era tão insuportável quanto o que via quando fechava os olhos.

As visões.

Yara.

Acorrentada.

Grilhões cravados na pele, os braços esticados e frágeis.

E os homens...

(Versões tenebrosas de Naaldlooyee...)

Rindo.

Cruéis. Selvagens. Sombrios. Assistindo conforme ela se debatia, conforme sua voz gritava seu nome.

Tupã!

A súplica rasgava sua alma como uma lâmina oculta, um grito abafado pela escuridão, perdido entre ecos de zombarias e crueldade.

E então, como um veneno escorrendo entre suas lembranças, a voz de Naaldlooyee se infiltrava em sua mente.

"Ela está perdida."

O guerreiro cerrou os dentes.

"Enquanto você se debate inutilmente aí, ela está nas mãos de homens bárbaros."

"Chamando por você, Gavião Tempestuoso."

Tupã sentiu as unhas cravarem em sua palma.

"Suplicando."

Um tremor percorreu seu corpo. Ele sentia a raiva queimando dentro de si, um incêndio que ameaçava consumir sua razão.

Pare com isso — sussurrou, a voz rouca, as palavras presas entre os dentes.

Mas a escuridão dentro dele sibilava em resposta.

"E o que você faz?"

"Tropeça."

"Fraco e inútil."

"BWAHAHAHAHAHA!"

Tupã cambaleou, as pernas cedendo. Ele desabou de joelhos sobre o solo sagrado, o peito arfando em uma mistura de raiva e desespero. Suor frio escorria por suas têmporas, sua respiração entrecortada.

Era isso que Naaldlooyee queria.

Queria vê-lo fraco.

Queria vê-lo quebrado.

Queria que ele se desesperasse até o ponto de ceder à escuridão.

Mas Tupã não cederia. Não ainda.


O cheiro das árvores sagradas o envolvia, como braços invisíveis tentando acalmá-lo. Ele sabia que Ceiba estava observando. A guardiã sempre observava.

E ela esperava.

Esperava sua decisão.

Ser curado plenamente exigia um preço. Ele sabia disso.

Tornar-se o Dryan dela.

Um guardião eterno da floresta.

Seu corpo deixaria de ser apenas seu. Sua alma estaria atada à de Ceiba, selada pela eternidade. Ele se tornaria parte dela, de suas raízes... Seu propósito seria um só: proteger o equilíbrio.

E, ao lado de Ceiba...

Ele seria dela.

Seu amante. Seu guardião. Seu eterno vigia.

Para sempre.

Tupã fechou os olhos, sentindo o peso da escolha como uma muralha sobre seus ombros. Se aceitasse, teria forças para salvar Yara.

Mas...

E depois?

O que restaria dele?


Um trovão distante cortou o céu.

Tupã abriu os olhos, sentindo o peito apertar.

E se Naaldlooyee já tivesse corrompido Yara?

E se, neste exato momento, ele estivesse arrancando dela tudo que ainda restava?

E se...

Ele falhara.

Seu olhar se perdeu na escuridão da floresta. A culpa se enroscava dentro dele como vinhas espinhentas, sufocando seu coração.

Se tivesse matado Donaldo quando teve a chance...

Se não tivesse hesitado...

Se tivesse cravado sua lâmina no pescoço daquele maldito explorador...

Talvez Yara ainda estivesse com ele.

Talvez ainda pudesse ouvir sua risada, sentir seu toque, ver o brilho feroz em seus olhos.

Mas ele hesitou.

E agora...

Agora ela estava nas mãos de um demônio.


O vento soprou entre as árvores, trazendo consigo um murmúrio distante.

Ceiba estava ali. Ele sentia sua presença.

Ela esperava.

Ela sabia que ele estava à beira de uma decisão.

E ela queria que ele escolhesse.

Tupã fechou os olhos, sentindo a respiração pesar.

A eternidade ao lado da floresta. O poder necessário para salvá-la.

Ou...

A esperança de ainda ser o mesmo homem.

A escolha ainda o esmagava.

E ele não sabia por quanto tempo conseguiria carregar o peso dessa indecisão.

O silêncio denso da noite se condensava, conforme Tupã se afogava entre trevas e lamentações.

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