Com os lábios pressionados num tenso silêncio, a jovem estendia a mão trêmula em direção à virilha — o ar ao seu redor pesado, carregado de um desejo que parecia pulsar em cada fibra de seu ser. Seus feromônios dançavam no limite, quase tangíveis, conforme ela lutava para conter os gemidos que insistiam em escapar de sua garganta, frágeis e roucos.
Dois tentáculos sombrios emergiram das profundezas, envoltos numa névoa fria e viscosa, e agarraram seus seios com uma força que era ao mesmo tempo implacável e sedutora. O toque das sombras era gelado, mas ardente, como se cada movimento fosse uma promessa de algo além da compreensão humana. Yara cerrou os dentes, um gemido prolongado ecoando em sua mente, conforme as sombras a envolviam, moldando-se ao seu corpo como uma segunda pele.
Ela sentiu-se sendo puxada para o abismo, uma queda vertiginosa que a consumia por completo. As sombras a engoliam, levando-a cada vez mais fundo, num ritmo que era tanto tortura quanto êxtase. Deslizando, caindo, repetindo-se num ciclo infinito, Yara mergulhou na escuridão, embora não quisesse se entregar ao que quer que a aguardasse no coração noturno.
A escuridão pesava sobre a terra como um presságio, sufocando até o ar que se respirava.
No interior da sala subterrânea, onde a luz das tochas projetava sombras distorcidas nas paredes de pedra, o silêncio era tão denso quanto a atmosfera de tensão. Kaena estava assentada em um canto, os olhos fixos na chama oscilante à sua frente, mas sua mente vagava longe dali.
Ela ainda podia sentir a floresta — a pulsação viva da terra, os sussurros dos espíritos que antes a acolhiam como uma filha. Agora, havia apenas um vazio. Um corte profundo, um ferimento oculto que sangrava sua essência.
A floresta estava moribunda.
E se a floresta morria... o que aconteceria com o mundo?
— O que quer que vá dizer, diga logo.
A voz de Hei quebrou o silêncio, grave e impaciente. Ele estava encostado contra a parede, os braços cruzados, sua expressão endurecida pela desconfiança.
Diante deles, Duncan Callahan — o comerciante estrangeiro que até então se fazia passar por um mero espectador da guerra — retirava seu casaco pesado, revelando algo inesperado.
Tatuagens rúnicas se desenhavam por seus braços, marcas de um poder antigo, símbolos que exalavam um leve brilho azulado. Quando ele ergueu a mão, um sutil tremor percorreu o ar ao seu redor.
— Não sou apenas um comerciante — disse ele, e a mudança em seu tom de voz fazia parecer que ele sempre fora outra pessoa por trás daquela máscara. — Meu nome completo é Duncan Callahan, e sou um exorcista da Irmandade da Aurora.
Kaena trocou um olhar ligeiro com Hei.
— Então foi por isso que você tentou alertar Donaldo... — Murmurou ela.
Duncan soltou um riso seco.
— Eu tentei, sim. Mas Donaldo é orgulhoso demais, teimoso demais para ouvir. Ele acha que pode controlar as forças que agora invoca. Acha que pode torcer as sombras ao seu favor, que pode dobrar Naaldlooyee à sua vontade... — Ele balançou a cabeça, uma centelha de exasperação em seus olhos. — Mas o Senhor das Sombras Abissais não se curva a ninguém. Nunca se curvou.
Aquela afirmação fez a sala mergulhar em um silêncio inquietante.
Hei respirou fundo, absorvendo a gravidade daquilo.
— O que sabemos até agora? — perguntou ele, apertando os punhos.
Duncan se aproximou da mesa no centro da sala, onde um almiscarado mapa estava estendido sobre a madeira gasta. Ele correu os dedos pelo pergaminho, traçando caminhos invisíveis.
— Naaldlooyee estava em um longo período de descanso, aguardando o momento certo para agir. Agora, ele voltou a se mover. — Duncan ergueu os olhos, e neles havia um peso que Kaena reconhecia bem: o peso do medo de um homem que viu horrores demais para ignorá-los.
— E o que ele quer? — perguntou um dos cativos libertados, um homem que ainda exibia marcas das correntes que o prenderam.
Duncan hesitou. Quando falou, sua voz veio mais baixa.
— Ele já pode ter conseguido.
Kaena sentiu o estômago se revirar.
— O que isso significa?
Duncan apertou os dedos ao redor da borda da mesa.
— Se Naaldlooyee fez um pacto com Donaldo, isso significa que ele obteve uma âncora para se fortalecer novamente neste mundo. O bruxo pode ter usado a ambição de Donaldo como um canal para algo muito pior.
O silêncio se estendeu. A ideia era assustadora.
Kaena sentia sua própria respiração vacilar. Se Donaldo realmente havia sido usado como um receptáculo para os planos do Senhor das Sombras Abissais... então qualquer resistência poderia já ser tardia.
— Nós temos que agir — disse ela, sua voz cortando a hesitação no ar. — Depressa.
Hei desviou o olhar para ela, os olhos analisando seu rosto como se buscasse algo.
— Kaena... não temos o poder para rivalizar contra um mestre sombrio.
— Isso nunca nos impediu antes.
Duncan cruzou os braços, observando a discussão com uma expressão séria.
— O Xamã do Crepúsculo, Nagato, já encarou forças como essa antes — disse ele. — Mas mesmo ele reconhece que enfrentar Naaldlooyee diretamente é exaustivo... perigoso. Nem mesmo os guardiões ancestrais que ele invoca são páreo para as sombras que o Senhor das Trevas manipula. Tampouco meus Shikigami...
— Então o que propõe? — perguntou Hei.
Duncan inclinou-se sobre o mapa.
— Naaldlooyee ainda precisa de um tempo para estabilizar sua presença neste mundo. Durante esse período, ele não está em seu auge. Isso nos dá uma pequena janela de oportunidade. Se encontrarmos seu altar e destruirmos seu ponto de ancoragem antes que ele se fortaleça, podemos impedir sua ascensão total.
Kaena estreitou os olhos.
— E onde está esse altar?
Duncan não hesitou.
— No vale negro... além das ruínas de Alcarth.
A simples menção ao lugar fez alguns dos presentes recuarem.
O Vale Negro era conhecido entre os antigos como um lugar de maldições, onde o próprio solo era envenenado por séculos de magia obscura.
Kaena respirou fundo. Ela não era mulher de recuar diante do perigo.
— Então, devemos partir imediatamente.
Hei tocou seu braço, forçando-a a olhar para ele.
— Tem certeza? É evidente que essa missão pode nos matar.
Kaena segurou seu olhar.
— E se não fizermos nada, todos morreremos.
Duncan observava Kaena e Hei.
Naaldlooyee estava em movimento. O tempo corria contra eles.
E a única esperança de impedir que as sombras consumissem tudo estava nas mãos de um grupo de guerreiros exaustos, mas resolutos.
A noite pesava sobre o refúgio de Ceiba. Os galhos das árvores sagradas sussurravam segredos, conforme sombras dançavam entre as folhas prateadas pelo luar. O ar era carregado por um silêncio inquieto, um vazio opressor que ecoava dentro de Tupã como um trovão distante, um prenúncio de tempestade.Ele se arrastava pelo átrio, cada passo uma batalha contra o peso esmagador de seu próprio corpo. Seus músculos ardiam, a exaustão fazia sua visão oscilar. Mas nada era tão insuportável quanto o que via quando fechava os olhos.As visões.Yara.Acorrentada.Grilhões cravados na pele, os braços esticados e frágeis.E os homens...(Versões tenebrosas de Naaldlooyee...)Rindo.Cruéis. Selvagens. Sombrios. Assistindo conforme ela se debatia, conforme sua voz gritava seu nome.— Tupã!A súplica rasgava sua alma como uma lâmina oculta, um grito abafado pela escuridão, perdido entre ecos de zombarias e crueldade.E então, como um veneno escorrendo entre suas lembranças, a voz de Naaldlooyee se infi
O interior da barraca estava escuro como um abismo sem fundo, apenas a bruxuleante chama de uma vela trêmula lutava contra a opressiva penumbra. As paredes de tecido ondulavam com a brisa fria da noite, mas o que realmente fazia Donaldo sentir um calafrio na espinha não era o vento — era a presença do homem sentado à sua frente.Naaldlooyee, o Senhor das Sombras Abissais, mantinha-se imóvel, os olhos negros como carvão refletindo algo além do que um ser humano deveria enxergar. A escuridão parecia dançar em volta dele, como se respirasse, como se tivesse vida própria.Donaldo, já acostumado com o domínio e o controle, sentia-se inquieto. A proposta que ouvira do bruxo naquela noite era simplesmente… absurda.— Você hesita, Donaldo — a voz de Naaldlooyee deslizou pelo ar, grave e hipnotizante, como a serpente que sussurra à presa antes do bote.Donaldo tomou um gole do forte licor em sua taça de prata, tentando dissipar o peso daquelas palavras em sua mente.— O que você está pedindo..
Não da maneira como um céu estrelado pulsa com seus pequenos sóis distantes, nem como a brisa fria que dança entre as árvores. Esta era uma noite viva com olhos ocultos, dedos invisíveis, presenças que não pertenciam ao mundo dos homens.E no centro dessa escuridão, algo caçava.O Shyiniwalker movia-se como um sussurro na penumbra, deslizando entre becos esquecidos, esgueirando-se por sombras sem ser visto, uma entidade que não deixava pegadas nem ecoava seus passos.Era Donaldo, mas não era. Era sua extensão, sua astúcia sem amarras, sua vontade sem limitações.E naquela noite, ele estava faminto.As primeiras vítimas não viram nada além de um borrão. Um sopro de vento contra a pele. Um arrepio na espinha.A jovem — primeira escolhida — caminhava descalça sob a lua, colhendo água do riacho. Ela nem sequer gritou.O silên
Escuridão.Ela estava por toda parte.Nas paredes, no ar, dentro dela.Yara despertou lentamente, seus sentidos ainda presos a um limbo indistinto entre sonho e realidade. Seu corpo desnudo estava pesado, a pele fria, como se tivesse sido arrancada da luz há muito tempo.Tateou o chão úmido e rochoso, tentando se erguer, mas sua força parecia ter sido drenada. Havia uma sensação de vazio em seu peito, como se algo essencial tivesse sido arrancado de sua alma.A fortaleza de Naaldlooyee não era feita apenas de pedra e sombras — era um cárcere que sugava a vontade de viver.Aos poucos, a realidade desabou sobre ela.Ela estava presa.Sozinha.E a escuridão ao redor sussurrava seu nome.Os ecos de algo profano rastejav
A tenda estava envolta numa penumbra quente, iluminada apenas pela luz trêmula de uma única lamparina, o ar pesado, saturado com o aroma doce do incenso de sândalo e o cheiro acre do desejo. Donaldo estava deitado sobre os lençóis de seda, seu corpo nu brilhando sob a luz fraca, conforme uma nova concubina se aproximava dele. Ela era jovem, de pele clara e cabelos loiros como fios de sol, um contraste marcante com as morenas que costumavam compartilhar sua cama.Ela se moveu com uma graça felina, seus olhos azuis fixos nele como se o devorassem com o olhar. Donaldo a observava, embora sua mente não estivesse plenamente presente. As sombras do passado o assombravam, e as memórias da noite do sacrifício invadiam seus pensamentos como fantasmas implacáveis.A primeira jovem.A segunda.A terceira.Todas capturadas pelo Shyiniwalker.Todas gritando.Todas suplicando.Donaldo fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens, mas elas persistiam, como uma ferida que não cicatriza
A noite estava quente, mas dentro da tenda de Donaldo, o calor era quase opressivo. O ar pesado carregava o aroma doce do incenso de mirra, misturado ao cheiro acre do suor e do desejo. As lamparinas tremulavam, projetando sombras que dançavam nas paredes de tecido, como espectros observando em silêncio. Os lençóis de seda, agora desfeitos, brilhavam sob a luz fraca, manchados de vinho e paixão.Donaldo estava deitado de costas, o peito largo subindo e descendo lentamente, conforme os dedos da concubina traçavam círculos lentos sobre sua pele, conforme os seios dela saltitavam calorosamente. Macios. Gelatinosos. Irresistivelmente apetitosos. Ela era uma figura esculpida pela luxúria — morena, de olhos profundos como poços de obsidiana e lábios carnudos que pareciam feitos para o pecado. Seu cabelo escuro caía em cascata sobre os ombros, misturando-se às sombras que os envolviam.— Meu senhor — sussurrou ela, sua voz um eco sedutor no silêncio da tenda. — Você está distante.Donaldo vi
Tentáculos de sombra deslizavam sobre sua pele, enrolados naquela gélida névoa, parecendo pulsar com vida própria, cada movimento uma silenciosa invasão, profunda, a conectando a algo sinistro. Seu corpo tremia, não apenas pelo toque gelado, mas pela intensidade da emoção, conforme suaves gemidos e gritinhos jorravam de seus lábios, conforme o calor do rubor em seu rosto contrastava com o frio das trevas.Ela estava caindo, mas não havia fundo — desde que suas costas atravessara o chão pelas sombras, enquanto o mundo mortal desaparecia, a escuridão se expandindo em volta, densa e opressiva, como se tencionasse consumi-la inteiramente. Lágrimas escorriam silenciosamente, refletindo a luta interna entre o pavor e uma estranha atração pelo abismo. De vez em quando, surgia nela um impulso de voltar à superfície, de escapar daquela escuridão que a inundava como um abismo sem fundo. Mas, em meio às sombras, ela percebia que nadar era impossível. Não havia correnteza, não havia direção, apen
As sombras apertavam-se aqui e ali, envolventes e insistentes, como se ansiassem fundir-se ao corpo da jovem, conforme tentáculos de escuridão resvalavam, explorando cada curva, conforme pressionavam suas nádegas, o vigor ao mesmo tempo agressivo e sedutor. A sensação gelada subia pela espinha, deixando um rastro de arrepios que mesclavam desconforto e prazer. As trevas avançavam mais e mais, roçando a junção de suas coxas com movimentos lentos e deliberados, como se conhecessem cada extensão dela melhor do que ela mesma, cada toque uma fricção que a fazia estremecer, uma valsa de sombras a arrastando para um abismo de sensações contraditórias.Vez por outra, ela se pegou mergulhando em pensamentos que a perturbavam: o que Tupã diria se a visse assim? Seriam seus olhos capazes de compreender? Ou se encheriam de desilusão ao descobrir que, em seu coração, haviam ecoado sensações tão sombrias, tão íntimas, despertadas pelas trevas que agora a embrulhavam? Ela imaginava sua reação, talve