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Edward Blackwell

A manhã em Londres parecia promissora, ao menos para aqueles que encontravam prazer nas trivialidades da sociedade. Para mim, o dia seria apenas mais um teatro. Como duque de Somerset, esperava-se que eu comparecesse a eventos, apertasse mãos de cavalheiros bajuladores e lançasse olhares sedutores para damas esperançosas. Eu jogava o jogo com perfeição — um mestre das convenções e, dizem, do escândalo.

No entanto, nem mesmo a reputação mais infame pode livrar um homem do tédio.

— Está com a cabeça em outro lugar, Blackwell? — perguntou Henry, meu amigo de longa data e, talvez, o único homem que realmente tolerava minha companhia.

— Apenas observando o espetáculo — respondi, apontando discretamente para a praça onde senhoras se movimentavam como aves em exibição. — É fascinante como elas se esforçam para parecerem naturais quando, na verdade, estão desesperadas por atenção.

— E você não está? — Henry riu. — É o que faz de você tão popular.

Eu sorri, mas o comentário me incomodou mais do que deveria. Talvez porque fosse verdade. Minha popularidade era um escudo. Quanto mais as pessoas me viam como um libertino despreocupado, menos se preocupavam em cavar abaixo da superfície.

Meu olhar foi atraído por uma jovem saindo de uma loja. Ela não parecia interessada em exibir-se ou impressionar. Pelo contrário, havia algo desafiador em sua postura, algo que a destacava no meio da multidão. Quando ela começou a caminhar em minha direção, imaginei que talvez fosse apenas mais uma buscando um momento com o famoso Duque de Somerset.

Mas suas primeiras palavras provaram que eu estava completamente errado.

— Se você acha que um sorriso pode conquistar qualquer pessoa, está redondamente enganado.

Fiquei surpreso, mas também... intrigado. Não era comum que alguém se dirigisse a mim com tamanha insolência.

— Perdão? — perguntei, observando-a mais de perto. Ela era jovem, com olhos vivos e inteligentes que me desafiavam de forma quase insultante.

A partir daquele momento, nosso diálogo tornou-se um jogo — um duelo verbal que, para minha surpresa, eu estava perdendo.

Ela não era como as outras. Enquanto a maioria das jovens procurava formas de agradar, ela parecia determinada a me provocar. E, para minha própria frustração, estava funcionando.

— Talvez, senhorita, você esteja buscando algo que eu já não tenha mais — disse, por fim, tentando recuperar algum controle da conversa.

O olhar dela mudou por um breve momento, como se minhas palavras tivessem atingido um nervo. Mas antes que pudesse entender, uma mulher chamou por ela.

— Genevieve!

O nome ficou gravado na minha mente. Lady Genevieve Ashford. Não sabia muito sobre ela, mas o suficiente para saber que sua família tinha uma reputação impecável. Como ela encaixava-se naquele molde, porém, era um mistério.

Quando ela se afastou, senti uma curiosidade crescente. Não era apenas sua beleza ou sua inteligência afiada. Era algo mais profundo — uma sensação de que, pela primeira vez em muito tempo, alguém havia visto através da fachada.

De volta à minha residência, sentei-me em meu escritório, contemplando uma pilha de convites para eventos que eu não tinha intenção de aceitar. A cada dia, minha tolerância para as festas da alta sociedade diminuía.

— Você está inquieto — disse Henry, entrando sem ser convidado.

— Estou sempre inquieto.

— Hoje está diferente. Quem era ela?

Olhei para ele, surpreso com sua perspicácia.

— Lady Genevieve Ashford.

— Ah, a filha do biólogo. Ouvi dizer que ela é... peculiar.

— Peculiar é um eufemismo.

Henry riu e jogou-se em uma cadeira próxima.

— Você está interessado nela?

— Não.

— Mentiroso.

Suspirei, passando a mão pelos cabelos.

— Talvez eu esteja. Mas isso não importa. Ela é exatamente o tipo de mulher que evitaria um homem como eu.

— Ou talvez ela seja exatamente o tipo de mulher que pode salvar um homem como você.

— Salvar? — Soltei uma risada seca. — Não preciso ser salvo, Henry.

Ele não respondeu, mas o olhar que me lançou foi suficiente para despertar meu desconforto.

Nos dias que se seguiram, fiz questão de manter distância de Lady Genevieve. Não porque não quisesse vê-la, mas porque sabia que não devia. Ela era um lembrete de tudo o que eu evitava: honestidade, integridade e, acima de tudo, vulnerabilidade.

Mas o destino tinha outros planos.

Uma semana depois, encontrei-me em um baile organizado pela família Carrington. Não queria estar ali, mas Henry insistira, alegando que minha ausência seria notada.

— Apenas sorria e finja que está se divertindo — ele sussurrou enquanto entrávamos no grande salão.

Eu estava seguindo seu conselho quando a vi. Genevieve estava do outro lado da sala, conversando com um grupo de damas mais velhas. Sua expressão era de tédio absoluto, mas ainda assim, ela era fascinante.

Antes que pudesse me impedir, aproximei-me.

— Lady Genevieve, uma honra vê-la novamente.

Ela olhou para mim, surpresa, mas rapidamente recuperou a compostura.

— Lord Blackwell, pensei que homens como você evitassem eventos tão... respeitáveis.

— E eu pensei que senhoritas como você evitassem conversas com homens como eu.

— Ah, mas onde estaria a diversão nisso?

Sorri, mas antes que pudesse responder, um murmúrio atravessou a sala. Olhei ao redor, tentando identificar a causa da comoção, até que percebi que todos os olhos estavam voltados para nós.

— Parece que estamos sendo observados — sussurrei.

— Talvez devêssemos dar-lhes algo para falar — respondeu ela, seu tom desafiador.

E foi exatamente o que fizemos.

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