3

Genevieve Ashford

Eu deveria estar em casa, lendo algo que me fizesse esquecer o que acabara de acontecer. Mas, em vez disso, me vi novamente na rua, meu vestido lilás de seda batendo suavemente contra as pedras irregulares do calçamento enquanto eu caminhava com passos decididos. Não conseguia tirar de minha cabeça o que acontecera naquela festa. Na verdade, não era o evento que me incomodava, mas a pessoa que eu havia encontrado novamente: Lord Edward Blackwell.

Eu nunca esperava que um duque, famoso por sua irreverência e por sua habilidade em tornar qualquer escândalo ainda mais escandaloso, fosse ser alguém que me faria questionar tudo o que eu pensava sobre os homens da sociedade. Porque, sejamos francos, eu nunca pensei muito nos homens, especialmente aqueles que se enquadravam na categoria de "mais do mesmo" — ricos, bonitos, vaidosos e completamente previsíveis. Mas Edward... Edward não era previsível. Ele era exatamente o tipo de homem que me fazia querer desafiá-lo a cada palavra, a cada olhar, e isso me irritava de uma forma que eu ainda não conseguia entender.

Naquela noite, ele parecia ter adorado a nossa troca de palavras. Com aquele sorriso que eu já conhecia, um sorriso de superioridade que exalava confiança, ele havia feito uma observação ácida, como sempre fazia, mas havia algo no tom dele que me fez sentir que ele não estava apenas brincando. Ele queria algo. E eu estava determinada a não dar a ele.

— Não vou cair nesse jogo — murmurei para mim mesma, ajustando o leque de mão que eu carregava, como se ele fosse um escudo contra qualquer um que tentasse me fazer perder o controle.

Não era segredo para ninguém que eu não era exatamente a mais popular das debutantes. Mesmo que minha família tivesse uma boa posição na sociedade, o fato de eu ter crescido com a liberdade de pensar por mim mesma, de questionar tudo o que me era imposto, me tornava uma candidata pouco interessante para os pretendentes. Os homens preferiam mulheres que eram dóceis, obedientes e que sabiam se comportar como bonecas enfeitadas. Eu não me encaixava nesse molde, e nunca o faria. Eu não tinha tempo para jogos de aparências.

No entanto, Edward Blackwell parecia ter visto algo em mim que o desafiava, e era claro que ele estava se divertindo com isso. O problema é que eu também estava me divertindo. E isso, por alguma razão, me deixava furiosa.

Era tão irritante. Por que ele tinha que ser tão interessante?

Enquanto eu caminhava, a lembrança de seu sorriso apareceu novamente, e eu tentei afastá-la como uma mosca irritante. Era um sorriso cúmplice, como se ele soubesse que algo estava prestes a acontecer — algo que nem ele, nem eu, podíamos controlar.

Mas a verdade é que, se havia algo que eu sabia fazer muito bem, era controlar a mim mesma. Eu não me deixaria levar por um homem como Edward Blackwell. Ele podia ser irresistivelmente encantador, mas eu tinha uma habilidade que ele não possuía: eu sabia exatamente como jogar o jogo.

O que eu não sabia era que, na manhã seguinte, eu seria forçada a ver Edward novamente. Não que eu me importasse com isso — não, claro que não! Eu estava simplesmente... não preparada. Como poderia estar? A última coisa que eu queria era estar diante dele novamente, e, pior, ter que lidar com a onda de boatos que provavelmente se espalhariam após a nossa breve, mas muito falada interação.

— Genevieve! Genevieve! — Minha amiga Clarissa me chamou, aparecendo na porta do salão, com um sorriso radiante no rosto. Eu sabia o que ela ia dizer antes mesmo que ela o dissesse.

— Oh, você viu a fofoca sobre você e Lord Blackwell? Ele está começando a ser mais do que uma simples diversão para você, não é? — Ela piscou, tentando esconder a expressão de curiosidade exagerada.

Eu franzi a testa e me virei para ela, tentando manter a calma. Clarissa sempre gostou de conversar sobre esses assuntos, e eu, por mais que quisesse ignorá-los, sabia que não poderia.

— Não há absolutamente nada entre mim e Lord Blackwell, Clarissa. Eu mal o conheço.

— Mas você o conhece, não é? — Ela levantou uma sobrancelha com um sorriso maroto. — Ele é todo charme e fama. E você, minha querida, é toda fogo. Imagino o que isso pode dar.

— Nada. Nada que mereça seu interesse, acredite. — Respondi rapidamente, tentando cortar qualquer possibilidade de que essa conversa seguisse por esse caminho.

Mas Clarissa não parecia disposta a parar. Ela se aproximou e sussurrou:

— O que ele fez foi audacioso. Fiquei impressionada. A maneira como ele te olhou... Não sei se sou capaz de resistir. Ele deve ter algo que me faria perder a cabeça.

— Pois eu sei que não posso ser a próxima — disse, interrompendo-a com uma risada forçada. — Não sou tão tola a ponto de cair nesse truque.

Clarissa me deu um olhar cético. Era claro que ela não acreditava em nada do que eu dizia, mas não me importava. Eu sabia exatamente o que estava fazendo.

O dia passou, e o assunto ainda ecoava em minha mente. Quando a noite caiu, eu sabia que o baile organizado pela senhora Carrington seria o local perfeito para finalmente lidar com a questão de uma vez por todas. Eu precisava enfrentá-lo, fazer com que ele visse que eu não estava interessada em seus jogos. Eu já tinha jogado o suficiente.

Ao chegar ao baile, a primeira coisa que notei foi a maneira como todos se comportavam, como se estivessem em um grande espetáculo de encenação. Como sempre, eu não me encaixava. Enquanto as outras mulheres riam e se mostravam agradáveis, eu preferia ficar na sombra, observando os movimentos e as falas dos outros, esperando o momento certo para entrar em cena.

Foi quando, no meio da multidão, eu o vi.

Ele estava lá, com seu charme irresistível e aquele sorriso de sempre, como se estivesse em seu próprio palco. Não pude evitar. Caminhei diretamente em sua direção, e ele me viu antes mesmo de eu falar.

— Ah, Lady Ashford — ele disse, com um sorriso travesso. — Vejo que decidiu me dar o prazer de sua companhia novamente.

— Não seja tão presunçoso, Lord Blackwell — respondi, com um tom que deixava claro que ele não tinha controle nenhum sobre mim. — Eu vim para me divertir, e você não é necessário para isso.

Ele sorriu ainda mais, como se minha resistência fosse o que mais o atraía.

— Ah, mas você sabe que é impossível resistir a mim. E quanto mais tenta, mais interessante isso fica.

Eu virei-me para ele, sem esconder meu desdém.

— O problema, Lord Blackwell, é que você acha que sabe tudo, mas na realidade, não sabe nada. Não me interessa o que você pensa. Acha que pode me impressionar? Pois bem, tente mais uma vez. Eu estarei esperando.

E com isso, virei as costas, deixando-o ali, mais uma vez, com aquele sorriso de satisfação que eu, inexplicavelmente, odiava.

— Ele vai pagar por isso — murmurei para mim mesma enquanto me afastava.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo