Genevieve Ashford
Eu deveria estar em casa, lendo algo que me fizesse esquecer o que acabara de acontecer. Mas, em vez disso, me vi novamente na rua, meu vestido lilás de seda batendo suavemente contra as pedras irregulares do calçamento enquanto eu caminhava com passos decididos. Não conseguia tirar de minha cabeça o que acontecera naquela festa. Na verdade, não era o evento que me incomodava, mas a pessoa que eu havia encontrado novamente: Lord Edward Blackwell. Eu nunca esperava que um duque, famoso por sua irreverência e por sua habilidade em tornar qualquer escândalo ainda mais escandaloso, fosse ser alguém que me faria questionar tudo o que eu pensava sobre os homens da sociedade. Porque, sejamos francos, eu nunca pensei muito nos homens, especialmente aqueles que se enquadravam na categoria de "mais do mesmo" — ricos, bonitos, vaidosos e completamente previsíveis. Mas Edward... Edward não era previsível. Ele era exatamente o tipo de homem que me fazia querer desafiá-lo a cada palavra, a cada olhar, e isso me irritava de uma forma que eu ainda não conseguia entender. Naquela noite, ele parecia ter adorado a nossa troca de palavras. Com aquele sorriso que eu já conhecia, um sorriso de superioridade que exalava confiança, ele havia feito uma observação ácida, como sempre fazia, mas havia algo no tom dele que me fez sentir que ele não estava apenas brincando. Ele queria algo. E eu estava determinada a não dar a ele. — Não vou cair nesse jogo — murmurei para mim mesma, ajustando o leque de mão que eu carregava, como se ele fosse um escudo contra qualquer um que tentasse me fazer perder o controle. Não era segredo para ninguém que eu não era exatamente a mais popular das debutantes. Mesmo que minha família tivesse uma boa posição na sociedade, o fato de eu ter crescido com a liberdade de pensar por mim mesma, de questionar tudo o que me era imposto, me tornava uma candidata pouco interessante para os pretendentes. Os homens preferiam mulheres que eram dóceis, obedientes e que sabiam se comportar como bonecas enfeitadas. Eu não me encaixava nesse molde, e nunca o faria. Eu não tinha tempo para jogos de aparências. No entanto, Edward Blackwell parecia ter visto algo em mim que o desafiava, e era claro que ele estava se divertindo com isso. O problema é que eu também estava me divertindo. E isso, por alguma razão, me deixava furiosa. Era tão irritante. Por que ele tinha que ser tão interessante? Enquanto eu caminhava, a lembrança de seu sorriso apareceu novamente, e eu tentei afastá-la como uma mosca irritante. Era um sorriso cúmplice, como se ele soubesse que algo estava prestes a acontecer — algo que nem ele, nem eu, podíamos controlar. Mas a verdade é que, se havia algo que eu sabia fazer muito bem, era controlar a mim mesma. Eu não me deixaria levar por um homem como Edward Blackwell. Ele podia ser irresistivelmente encantador, mas eu tinha uma habilidade que ele não possuía: eu sabia exatamente como jogar o jogo. O que eu não sabia era que, na manhã seguinte, eu seria forçada a ver Edward novamente. Não que eu me importasse com isso — não, claro que não! Eu estava simplesmente... não preparada. Como poderia estar? A última coisa que eu queria era estar diante dele novamente, e, pior, ter que lidar com a onda de boatos que provavelmente se espalhariam após a nossa breve, mas muito falada interação. — Genevieve! Genevieve! — Minha amiga Clarissa me chamou, aparecendo na porta do salão, com um sorriso radiante no rosto. Eu sabia o que ela ia dizer antes mesmo que ela o dissesse. — Oh, você viu a fofoca sobre você e Lord Blackwell? Ele está começando a ser mais do que uma simples diversão para você, não é? — Ela piscou, tentando esconder a expressão de curiosidade exagerada. Eu franzi a testa e me virei para ela, tentando manter a calma. Clarissa sempre gostou de conversar sobre esses assuntos, e eu, por mais que quisesse ignorá-los, sabia que não poderia. — Não há absolutamente nada entre mim e Lord Blackwell, Clarissa. Eu mal o conheço. — Mas você o conhece, não é? — Ela levantou uma sobrancelha com um sorriso maroto. — Ele é todo charme e fama. E você, minha querida, é toda fogo. Imagino o que isso pode dar. — Nada. Nada que mereça seu interesse, acredite. — Respondi rapidamente, tentando cortar qualquer possibilidade de que essa conversa seguisse por esse caminho. Mas Clarissa não parecia disposta a parar. Ela se aproximou e sussurrou: — O que ele fez foi audacioso. Fiquei impressionada. A maneira como ele te olhou... Não sei se sou capaz de resistir. Ele deve ter algo que me faria perder a cabeça. — Pois eu sei que não posso ser a próxima — disse, interrompendo-a com uma risada forçada. — Não sou tão tola a ponto de cair nesse truque. Clarissa me deu um olhar cético. Era claro que ela não acreditava em nada do que eu dizia, mas não me importava. Eu sabia exatamente o que estava fazendo. O dia passou, e o assunto ainda ecoava em minha mente. Quando a noite caiu, eu sabia que o baile organizado pela senhora Carrington seria o local perfeito para finalmente lidar com a questão de uma vez por todas. Eu precisava enfrentá-lo, fazer com que ele visse que eu não estava interessada em seus jogos. Eu já tinha jogado o suficiente. Ao chegar ao baile, a primeira coisa que notei foi a maneira como todos se comportavam, como se estivessem em um grande espetáculo de encenação. Como sempre, eu não me encaixava. Enquanto as outras mulheres riam e se mostravam agradáveis, eu preferia ficar na sombra, observando os movimentos e as falas dos outros, esperando o momento certo para entrar em cena. Foi quando, no meio da multidão, eu o vi. Ele estava lá, com seu charme irresistível e aquele sorriso de sempre, como se estivesse em seu próprio palco. Não pude evitar. Caminhei diretamente em sua direção, e ele me viu antes mesmo de eu falar. — Ah, Lady Ashford — ele disse, com um sorriso travesso. — Vejo que decidiu me dar o prazer de sua companhia novamente. — Não seja tão presunçoso, Lord Blackwell — respondi, com um tom que deixava claro que ele não tinha controle nenhum sobre mim. — Eu vim para me divertir, e você não é necessário para isso. Ele sorriu ainda mais, como se minha resistência fosse o que mais o atraía. — Ah, mas você sabe que é impossível resistir a mim. E quanto mais tenta, mais interessante isso fica. Eu virei-me para ele, sem esconder meu desdém. — O problema, Lord Blackwell, é que você acha que sabe tudo, mas na realidade, não sabe nada. Não me interessa o que você pensa. Acha que pode me impressionar? Pois bem, tente mais uma vez. Eu estarei esperando. E com isso, virei as costas, deixando-o ali, mais uma vez, com aquele sorriso de satisfação que eu, inexplicavelmente, odiava. — Ele vai pagar por isso — murmurei para mim mesma enquanto me afastava.Genevieve Ashford Eu não acreditava no que estava prestes a fazer. Dizia a mim mesma que não estava interessada em nenhuma das coisas que ele fazia ou falava. Dizia a mim mesma que não queria ser mais uma mulher encantada pelo charme superficial de Lord Edward Blackwell. E ainda assim, lá estava eu, no jardim da casa de Lady Waverly, onde eu sabia que ele estaria. E o mais insano de tudo era que eu estava me aproximando de sua direção, sem saber exatamente o que fazer com o turbilhão que se formava dentro de mim. Ele estava ali, como sempre, cercado de uma pequena multidão que o idolatrava, todas as mulheres da temporada tentando chamar sua atenção de qualquer maneira, como mariposas ao redor de uma chama. Ele parecia gostar da atenção, e isso só aumentava minha irritação. Mas, ao mesmo tempo, não pude deixar de notar o modo como ele se destacava em meio a todos aqueles rostos conhecidos. A elegância com que se movia, o modo como seu olhar se fixava no horizonte, distante, quase co
Genevieve AshfordAs semanas haviam se arrastado como se fossem meses. Cada evento social, cada baile, cada encontro fortuito com Lord Edward Blackwell me deixava mais exausta do que o anterior. E eu, que acreditava ter me tornado uma mulher prática e imune aos encantos de um libertino, agora começava a questionar minha sanidade.Era uma manhã de outono quando me vi no jardim de Lady Fairmont, tentando escapar da conversa insuportável sobre os novos vestidos de gala que todas as senhoras pareciam ter em mente. Eu só queria ar fresco, um momento de paz antes do baile da noite. Claro, com minha sorte, esse momento de tranquilidade foi logo interrompido.— Lady Ashford, que surpresa encontrá-la aqui. — A voz de Edward Blackwell, de novo. Sua tonalidade suave, quase zombeteira, fez o ar ao meu redor esfriar imediatamente. Ele sabia como me afetar com apenas uma palavra.— Lord Blackwell. — Respondi sem virar imediatamente. Eu estava focada no jardim à minha frente, tentando manter minha c
Genevieve AshfordA noite havia chegado mais cedo naquela tarde de inverno. A neblina sobre Londres tornava as ruas ainda mais sombrias, e a mansão Ashford estava iluminada apenas por candelabros dourados e o brilho suave das lareiras. Estava em um daqueles raros momentos em que, por um segundo, a quietude da casa parecia reconfortante. Até que o som dos cavalos se aproximando de nossa entrada principal me fez olhar pela janela.Eu sabia exatamente quem estava chegando.Lord Edward Blackwell, o homem que parecia ser mais incômodo para minha paz do que qualquer outro. Ele estava lá novamente, convidado para o jantar que minha mãe havia organizado. Eu sabia que, embora sua presença fosse uma oportunidade para minha mãe garantir uma boa conexão social, ela também estava se divertindo às minhas custas. Como sempre, ela adorava o escândalo que envolvia a presença de Edward.— Genevieve, minha querida, você não está pronta para o jantar? — A voz de minha mãe ecoou pela casa, interrompendo m
Genevieve AshfordA manhã seguinte foi uma das mais exaustivas que já passei. Estava mal-humorada, cansada, e as visitas sociais que minha mãe organizava já estavam começando a se tornar uma tortura. A falta de privacidade me incomodava, as intermináveis conversas sobre trivialidades me cansavam, mas o que mais me perturbava era o que acontecera no teatro naquela noite. Edward. Seu sorriso. A forma como ele sempre parecia me desafiar, como se soubesse que minhas defesas estavam enfraquecendo a cada encontro.Tentei afastar os pensamentos dele enquanto caminhava pelo jardim, observando o suave balançar das árvores, tentando encontrar um pouco de paz em meio ao turbilhão de emoções que ele causava em mim. Mas, como sempre, o destino não me deixou em paz por muito tempo. Ao virar a esquina do jardim, deparei-me com ele. Edward Blackwell, encostado na parede de pedras, com o mesmo sorriso desafiador no rosto.Ele estava esperando por mim.— Genevieve. — Sua voz, suave como seda, cortou o
Genevieve AshfordO dia amanheceu nublado, como se o céu tivesse decidido se alinhar com o estado de espírito que eu tentava desesperadamente esconder. As palavras de Edward Blackwell ainda pairavam em minha mente, como um eco incômodo que não conseguia afastar, e sua presença, mesmo quando ausente, me perseguia. Eu não conseguia mais ignorá-lo, não importava quantas vezes me dissesse que ele era só mais um libertino insensível, ou que eu não me importava com o seu charme.Por mais que tentasse resistir, o fato era que ele começava a ocupar um espaço maior do que eu jamais imaginei. E isso, como sempre, me deixava em um estado de frustração.Naquela manhã, minha mãe insistiu para que eu fosse a um evento social no salão de baile da cidade. Embora soubesse que o convite era apenas uma desculpa para me lançar novamente no campo de caça de potenciais maridos, não pude recusá-lo. Afinal, era isso que as mulheres da minha "classe" faziam, não era? Eu me permitia ser exposta à superficialid
Genevieve AshfordEu estava sozinha em meu quarto, o silêncio que me cercava era quase insuportável. O evento da noite anterior ainda pesava sobre meus ombros, como uma nuvem densa que não parecia querer se dissipar. Minha mente estava turva, cheia de pensamentos desconexos, e entre eles, uma figura se destacava: Edward Blackwell. Não era mais apenas o homem libertino que eu desprezava. Ele se tornara algo muito mais complexo, uma presença constante em minha mente, desafiando minha capacidade de manter o controle.Aquele sorriso dele, tão confiante, tão arrogante, parecia persistir em minha memória. Ele estava sempre ao meu redor, como se quisesse me envolver em algo mais. Mas o que? O que ele realmente queria de mim?Eu não conseguia entender, e isso me consumia. O escândalo estava se formando, é claro, todos pareciam sentir que algo aconteceria. Mas o que me deixava realmente inquieta não era o escândalo em si, mas a sensação de que Edward estava, de alguma forma, no centro disso tu
Genevieve AshfordO dia seguinte trouxe com ele uma sensação de opressão, como se o ar estivesse mais denso, mais difícil de respirar. Eu andava pelos corredores da mansão de meu pai com uma sensação constante de inquietação, como se algo estivesse prestes a acontecer, algo grande e inevitável. As palavras de Edward ainda ecoavam em minha mente, e eu não conseguia afastá-las, não importava o quanto eu tentasse.Minha mãe, como sempre, estava ocupada com seus próprios planos e esperava que eu seguisse suas instruções com a mesma dedicação que ela tinha. O que ela não via era que, enquanto ela sonhava com a vida perfeita para mim, eu estava sendo empurrada para um campo de batalha onde as regras eram feitas pelo próprio Edward Blackwell.Hoje, o que me tirou do meu torpor não foi a visita dele, mas uma carta. Uma carta que chegou sem aviso, sem explicação, mas que tinha um selo que me fez o coração acelerar: o selo do duque de Blackwell. Eu sabia exatamente o que isso significava. Aquel
Genevieve AshfordO ar parecia mais denso naquela manhã. Eu sabia que algo grande estava prestes a acontecer, e, de alguma forma, o universo havia se alinhado para me mostrar que não havia como escapar da verdade que se aproximava a passos largos. O casamento. Eu me via, de repente, presa a um destino que não escolhi, a um homem que, até ontem, eu considerava mais inimigo do que aliado. Edward Blackwell. O duque que não planejava casar, mas que, agora, se tornaria o centro de minha vida, por força das circunstâncias.Eu havia tentado negar, tentado ignorar o peso daquilo que minha família me impunha, mas agora não havia mais como voltar atrás. Meu pai, com seu olhar sério e suas palavras claras, já havia dado o seu veredito. O casamento com Edward não era mais uma escolha, era uma imposição. A única maneira de evitar o escândalo, de preservar nossa posição na sociedade, era fazer com que o que parecia ser um jogo de aparências se tornasse real. E, nesse jogo, não havia espaço para dúv