4

Genevieve Ashford

Eu não acreditava no que estava prestes a fazer.

Dizia a mim mesma que não estava interessada em nenhuma das coisas que ele fazia ou falava. Dizia a mim mesma que não queria ser mais uma mulher encantada pelo charme superficial de Lord Edward Blackwell. E ainda assim, lá estava eu, no jardim da casa de Lady Waverly, onde eu sabia que ele estaria. E o mais insano de tudo era que eu estava me aproximando de sua direção, sem saber exatamente o que fazer com o turbilhão que se formava dentro de mim.

Ele estava ali, como sempre, cercado de uma pequena multidão que o idolatrava, todas as mulheres da temporada tentando chamar sua atenção de qualquer maneira, como mariposas ao redor de uma chama. Ele parecia gostar da atenção, e isso só aumentava minha irritação. Mas, ao mesmo tempo, não pude deixar de notar o modo como ele se destacava em meio a todos aqueles rostos conhecidos. A elegância com que se movia, o modo como seu olhar se fixava no horizonte, distante, quase como se ele fosse o único ali que soubesse o que estava acontecendo.

E, é claro, ele me viu antes que eu o visse.

— Ah, Lady Ashford, você está aqui novamente. Não sabia que me procuraria em um lugar tão… íntimo — ele disse com aquele sorriso confiante, que eu sabia ser um truque. Um truque que eu estava começando a reconhecer muito bem.

Eu franzi a testa, sabendo que ele estava se divertindo à minha custa. Mas, ao invés de dar-lhe o prazer de uma resposta sarcástica, resolvi permanecer em silêncio por um momento, apenas observando-o. Ele estava tão confiante, tão arrogante em sua própria existência, que era difícil não sentir uma pitada de desafio crescer dentro de mim.

— Eu não estava procurando por você, Lord Blackwell. — Respondi, finalmente, tentando esconder a intensidade do que eu realmente sentia. — Mas parece que você, mais uma vez, não consegue me deixar em paz.

Ele deu um passo mais perto, o sorriso nunca saindo de seus lábios, como se ele tivesse certeza de que havia algo entre nós, mesmo que eu ainda tentasse resistir.

— Eu não sabia que poderia ser tão irresistível, Lady Ashford. — Ele disse com um tom debochado, mas havia algo em sua voz que indicava que ele estava se divertindo com a situação, mais do que deveria.

Eu me senti incomodada por isso. Porque ele tinha razão. Ele estava me desconcertando, mais do que eu gostaria de admitir.

— Você acha que me incomoda, não é? — Eu disse, sem poder esconder a provocação em minha voz. — Não se engane, Lord Blackwell. Eu sou bem mais forte do que você imagina.

Ele olhou-me com uma intensidade que fez meu coração acelerar. Era como se ele pudesse ver através de mim, como se soubesse exatamente como eu estava me sentindo, mesmo que eu estivesse tentando manter o controle.

— Não me subestime, Lady Ashford. — Ele disse, seu tom mais sério agora, e por um momento, algo na sua expressão mudou, como se ele estivesse realmente interessado no que eu dizia. — Você é mais complicada do que a maioria das mulheres que encontro. E é isso que torna tudo mais interessante.

Eu ri, tentando esconder o fato de que, por algum motivo, sua observação me afetara mais do que deveria.

— Complicada? Eu sou só alguém que tem o bom senso de não se deixar enganar por um sorriso bonito e palavras encantadoras.

Ele inclinou a cabeça, como se estivesse ponderando sobre o que eu acabara de dizer. Mas logo, seu sorriso travesso voltou, mais malicioso do que nunca.

— Talvez, Lady Ashford, o que você chame de "enganar" seja apenas a arte de ser agradável. Mas você não me engana. Sei que existe algo em você que está começando a me interessar.

Eu senti um choque percorrer minha espinha. Como ele ousava falar assim, como se fosse tão simples assim? Como se eu fosse apenas mais uma de suas conquistas?

Não, eu não seria isso.

Mas, ainda assim, quando ele deu um passo à frente, algo em mim vacilou. Era como se ele soubesse exatamente como jogar o jogo, e eu estava começando a me ver encurralada em seu plano. Não podia deixar isso acontecer.

— Você realmente acha que sou tão simples assim, Lord Blackwell? — Eu perguntei, meu tom mais sério agora. — Você acha que pode me conquistar com um simples olhar e um par de palavras bonitas?

Ele não hesitou. Com um olhar determinado, ele respondeu:

— Não, Lady Ashford. Não é tão simples assim. Eu sei que você não vai cair aos meus pés. Mas aposto que você tem curiosidade. E é essa curiosidade que vai fazer tudo mais interessante.

Eu o encarei, sentindo meu coração bater mais rápido. Ele não estava errado, e eu sabia disso. Havia algo nele que despertava em mim uma curiosidade que eu não queria admitir, uma curiosidade que me fazia querer saber mais, fazer mais, ver mais.

Mas eu não poderia ceder. Não era assim que as coisas funcionavam. Não seria mais uma mulher presa em seu jogo.

— Não se iluda, Lord Blackwell. Eu não sou alguém que cede facilmente.

Ele sorriu, e naquele sorriso havia algo de predatório. Algo que me fazia sentir como se eu fosse a presa, e ele, o caçador. Eu odiava essa sensação, e, ao mesmo tempo, não podia negar que, de alguma forma, ela me excitava.

— Ah, mas é exatamente isso que torna tudo tão divertido, Lady Ashford. Eu gosto de desafios. E você, minha cara, é o maior deles.

Eu me virei para ele, sentindo a pressão de suas palavras me envolvendo, e decidi que, de agora em diante, não deixaria que ele me controlasse. Eu controlaria essa situação. Eu controlaria este jogo. Não importava o quão atraente fosse a ideia de ser desafiada por ele. Eu não cairia na armadilha.

— O problema, Lord Blackwell, é que você nunca vai entender o quanto eu sou mais difícil do que qualquer mulher que já tenha encontrado. E isso, garanto, é um problema que você não vai conseguir resolver.

Ele riu, como se estivesse se divertindo ainda mais com a situação. Mas havia algo nos seus olhos que me dizia que ele ainda não tinha terminado de jogar.

— Talvez, Lady Ashford, você tenha razão. Mas não se preocupe, estarei aqui, esperando você mudar de ideia.

E com essas palavras, ele se afastou, deixando-me com o coração batendo descontroladamente e uma sensação desconcertante de que ele estava apenas começando.

...

Eu poderia simplesmente ignorá-lo. Esse era o meu plano inicial. Como toda mulher racional, o melhor seria manter distância do Lord Blackwell, especialmente depois de sua última provocação. Mas, como todos os planos bem-feitos, esse também falhou com a mesma facilidade que a areia escorrega entre os dedos.

Não consegui evitar.

Estava no salão de baile de Lady Waverly, mais uma noite de verão com os aristocratas da temporada. O lugar estava repleto de sorrisos falsos e gestos delicados, todos observando uns aos outros com olhos curiosos e língua afiada. Era uma verdadeira encenação da alta sociedade. Mas entre os risos e as conversas fingidas, meu olhar foi, mais uma vez, atraído para ele.

Lord Edward Blackwell estava ali, no canto da sala, conversando com um grupo de homens. Seu cabelo estava arrumado com perfeição, como sempre, e o olhar, tão indiferente, como se o mundo inteiro ao seu redor não passasse de um mero entretenimento. Ele parecia alheio à minha presença, mas eu sabia que, em algum lugar do seu cérebro, ele sabia exatamente onde eu estava.

E, como uma mariposa em direção à luz, lá estava eu, mais uma vez.

Respirei fundo. Não, eu não iria me deixar levar. Eu era mais inteligente do que ele. Eu sabia que suas provocações eram apenas uma forma de testar meus limites. Ele achava que podia jogar seu charme de libertino e me deixar com o coração palpitante. Mas não, eu não seria mais uma vítima do seu jogo. Não, de maneira nenhuma.

Mas, ao me aproximar, uma mão delicada tocou meu braço. Olhei para o lado e encontrei Lady Waverly, que sorria para mim, mas com um olhar cheio de preocupação.

— Genevieve, querida, eu vejo que você está observando Lord Blackwell novamente. — Ela disse com uma risada suave, mas com um tom que parecia mais sério do que engraçado.

Fiz uma careta, mas me forcei a manter o sorriso.

— Não é o que parece, Lady Waverly. — Respondi, tentando manter a calma. — Eu apenas... estava admirando a decoração do salão. E, bem, a dança ainda não começou, então estou apenas... aguardando.

Ela levantou uma sobrancelha, claramente não acreditando em mim, mas não disse nada. Apenas sorriu com simpatia.

— Não se preocupe, querida. Eu sei como as coisas funcionam aqui. Todos olham para o Duque de Blackwell, não importa o que façam. Mas, se você me permite o conselho, tente não deixar ele notar o quanto o afeta. Ele gosta disso, sabe?

Eu sentia o calor subir em minhas bochechas, mas tentei esconder minha vergonha. Claro que ele gostava disso. O que mais ele gostava, senão de jogar com os sentimentos das pessoas, como se fosse um jogo? Isso explicava todas as suas atitudes arrogantes, os olhares desafiadores, os sorrisos irônicos. Era tudo parte de um grande espetáculo, onde ele era o ator principal.

E, para minha vergonha, eu estava prestes a fazer o papel de espectadora.

— Vou tentar manter a compostura, Lady Waverly. — Respondi, tentando soá-lo mais indiferente do que realmente me sentia.

Ela me deu um leve tapinha no braço, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo em minha mente.

— Cuidado, querida. Não há nada mais perigoso do que um homem que se sente como o centro do universo. E, atualmente, Lord Blackwell acredita que o mundo gira ao redor de seu sorriso.

Eu sabia o que ela queria dizer, e suas palavras ecoaram em minha mente. Eu não devia permitir que ele tivesse esse poder sobre mim. Era um jogo, e eu não ia cair nele.

Decidi então que seria melhor me afastar, pelo menos por uma noite. Voltar ao meu lugar na sala, me envolver em uma conversa trivial e evitar os olhos do duque. Mas antes que eu pudesse dar um passo para longe, uma voz suave, mas persuasiva, me deteve.

— Lady Ashford, você não vai dançar esta noite?

Era ele. Lord Edward Blackwell. Sua voz era como música, tão suave, mas tão cheia de um poder indiscutível que eu odiava. Ele estava ali, parado diante de mim, com aquele sorriso travesso no rosto, como se soubesse exatamente o efeito que causava. Seu olhar estava fixo no meu, e, por um momento, fiquei sem palavras.

— Eu não vi o convite para dançar, Lord Blackwell. — Respondi, tentando manter a calma, mas não conseguindo evitar que minha voz soasse um pouco mais tensa do que eu pretendia.

Ele se aproximou ainda mais, dando-me espaço apenas o suficiente para sentir a presença dele, mas sem invadir o suficiente para que eu pudesse recuar facilmente.

— Não preciso de um convite para dançar com você, Lady Ashford. — Ele disse com uma leveza que me fez questionar se ele tinha alguma ideia de como estava me afetando. — O que eu preciso saber é se você tem o interesse em me dar essa honra.

Eu poderia recusar. Dizia isso a mim mesma com firmeza, mas algo em seu olhar, uma espécie de desafio, me fazia sentir que eu não conseguiria resistir. Era como se ele soubesse exatamente onde me tocar, onde apertar. Eu não poderia cair na armadilha novamente, poderia?

Mas quando ele estendeu a mão, olhando-me com uma mistura de arrogância e charme, algo dentro de mim me impeliu a aceitar.

— Você não vai me deixar em paz, vai? — Eu disse, mais para mim mesma do que para ele, mas o sorriso que se formou nos lábios dele mostrou que ele ouviu.

— Não, Lady Ashford. Eu nunca deixaria você em paz. — Ele respondeu, com um tom quase provocador, e foi o suficiente para me fazer sucumbir à tentação de sua dança.

Com um suspiro frustrado, aceitei sua mão. Talvez, apenas talvez, eu tivesse cometido um erro.

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