Os aplausos da multidão ainda ecoavam em meus ouvidos quando as portas da igreja se fecharam atrás de nós. O ar do lado de fora estava pesado, como se até mesmo o clima soubesse que eu acabara de entrar em um novo tipo de prisão. Edward estava ao meu lado, a expressão impenetrável como sempre, mas eu sabia que ele estava se deleitando com a situação.O coche preto, adornado com flores brancas, estava à nossa espera. Um lembrete gritante de que agora eu era, oficialmente, a Duquesa de Blackwell. "Duquesa." A palavra parecia estranha e pesada em minha mente. Era irônico que o título pelo qual tantas jovens suspiravam agora fosse meu fardo.— Vamos, querida — disse Edward, com um sorriso que só eu sabia ser uma mistura de triunfo e provocação. — Nosso novo lar nos aguarda."Nosso novo lar." Ele falava como se fosse algo acolhedor, mas eu sabia que o significado real era um campo de batalha. Eu apenas assenti, minha boca se recusando a formar qualquer palavra que pudesse entregar o turbil
A manhã seguinte começou com um bilhete cuidadosamente dobrado deixado em minha bandeja de café da manhã. A caligrafia era elegante, mas possuía um toque de formalidade que imediatamente me fez pensar em Edward. Ele não era do tipo que enviava mensagens simples sem algum tipo de motivo oculto.Abri o bilhete com desconfiança:“Minha querida esposa,Esta noite haverá um baile de máscaras em honra ao aniversário de Lady Pembroke. Sua presença será indispensável, como duquesa de Blackwell. Vista-se de maneira apropriada.Seu,Edward”“Seu?” murmurei, estreitando os olhos. A audácia daquele homem não tinha limites. Ele agia como se eu fosse uma peça de xadrez que ele pudesse mover à vontade.No entanto, um baile era exatamente o tipo de distração que eu precisava. Talvez eu encontrasse aliados entre os convidados, pessoas que pudessem me ajudar a lidar com a vida ao lado de um homem como Edward. Além disso, um baile de máscaras significava anonimato, ao menos por um tempo. Isso me daria l
A manhã seguinte ao confronto com Lady Pembroke começou com um humor sombrio pairando sobre a casa. As palavras dela ainda ressoavam na minha mente, e embora eu tivesse decidido que não seria intimidada, não podia ignorar que havia mais segredos escondidos naquela relação.Edward, como de costume, não estava em casa. Ele havia saído logo cedo para cuidar de “negócios importantes” — uma desculpa que ele usava frequentemente e que eu começava a desconfiar que envolvia mais do que contratos ou propriedades.Decidi que não passaria o dia presa em casa remoendo pensamentos. Se Edward podia cuidar de suas responsabilidades, eu também poderia. Troquei meu vestido de luto habitual por algo mais vibrante, um azul profundo com detalhes em renda. Queria transmitir confiança, mesmo que por dentro me sentisse insegura.— Mary, prepare a carruagem. Vou visitar o mercado hoje.Mary, sempre obediente, hesitou por um momento antes de responder:— Como desejar, Sua Graça.O mercado de Londres era uma m
Quando acordei na manhã seguinte, minha mente ainda estava tomada pelo que havia acontecido. O beijo. Aquele maldito beijo que deveria ser um erro, mas parecia mais uma promessa do que qualquer outra coisa. Não sabia como encará-lo agora. Não sabia nem como encarar a mim mesma.Puxei a manta sobre minha cabeça, querendo afastar o mundo. Mas não tive muito tempo para isso, porque Marjorie entrou no quarto com a energia usual de um furacão.— Genevieve! — Ela jogou as cortinas para trás, inundando o quarto com luz do dia. — Adivinhe quem estará no baile desta noite?— Não estou com humor para adivinhações, Marjorie — murmurei, ainda escondida debaixo da manta.— O duque, é claro! — disse ela, ignorando completamente meu tom de desinteresse. — Parece que ele mal voltou para casa ontem e já está causando burburinho.Sentei-me lentamente, encarando-a com uma expressão de cansaço.— O que ele fez agora?— Nada, mas você sabe como as pessoas adoram falar. Dizem que ele anda muito... distraíd
O dia estava cinzento, com nuvens pesadas cobrindo o céu, como se o universo quisesse refletir o peso da decisão que eu estava prestes a tomar. Depois da noite que passamos juntos, a distância entre Edward e eu havia se estreitado de maneiras que eu nunca imaginei. Tudo o que eu sentia era confusão e medo, mas também uma vontade de descobrir o que havia de verdade naquele sentimento dele. Eu sabia que as palavras que ele dissera não poderiam ser tomadas de ânimo leve, mas o que fazer com elas? Como agir depois de ouvir algo tão profundo, algo que parecia mudar tudo entre nós?As últimas semanas tinham sido uma montanha-russa emocional, e agora eu sentia como se estivesse à beira do precipício, prestes a dar um passo que poderia me levar a um futuro incerto, mas, ao mesmo tempo, a algo que eu não sabia mais se queria ou não. A ideia de me entregar a Edward e confiar nele era assustadora. Como poderia eu fazer isso, quando sempre me orgulhei de minha independência e de nunca ter precisa
GenevieveA luz do sol filtrava-se pelas cortinas do salão de estar, lançando um brilho suave nas paredes ornamentadas. Sentada em uma das poltronas de veludo, eu tentava não parecer entediada enquanto Lady Ambrose descrevia, com uma exasperante riqueza de detalhes, o baile da noite anterior.— E então, quando o Lorde Pembroke se inclinou para beijar a mão da Lady Clarisse, imaginem só! Ele tropeçou! — Ela riu, segurando um leque bordado com uma cena pastoral. — Foi um espetáculo!Eu sorri de maneira educada, embora internamente desejasse estar em qualquer outro lugar. Talvez dissecando um espécime raro no laboratório do meu pai ou mesmo andando pelo campo com minha luneta, estudando as aves.— Lady Genevieve, você foi ao baile? — perguntou Lady Harriet, inclinando-se para frente com curiosidade.— Infelizmente, não pude comparecer. Estava... ocupada. — Fiz uma pausa, esperando que nenhuma delas perguntasse em que exatamente.— Ah, ocupada. Imagino que seja algum projeto intelectual —
Edward BlackwellA manhã em Londres parecia promissora, ao menos para aqueles que encontravam prazer nas trivialidades da sociedade. Para mim, o dia seria apenas mais um teatro. Como duque de Somerset, esperava-se que eu comparecesse a eventos, apertasse mãos de cavalheiros bajuladores e lançasse olhares sedutores para damas esperançosas. Eu jogava o jogo com perfeição — um mestre das convenções e, dizem, do escândalo.No entanto, nem mesmo a reputação mais infame pode livrar um homem do tédio.— Está com a cabeça em outro lugar, Blackwell? — perguntou Henry, meu amigo de longa data e, talvez, o único homem que realmente tolerava minha companhia.— Apenas observando o espetáculo — respondi, apontando discretamente para a praça onde senhoras se movimentavam como aves em exibição. — É fascinante como elas se esforçam para parecerem naturais quando, na verdade, estão desesperadas por atenção.— E você não está? — Henry riu. — É o que faz de você tão popular.Eu sorri, mas o comentário me
Genevieve AshfordEu deveria estar em casa, lendo algo que me fizesse esquecer o que acabara de acontecer. Mas, em vez disso, me vi novamente na rua, meu vestido lilás de seda batendo suavemente contra as pedras irregulares do calçamento enquanto eu caminhava com passos decididos. Não conseguia tirar de minha cabeça o que acontecera naquela festa. Na verdade, não era o evento que me incomodava, mas a pessoa que eu havia encontrado novamente: Lord Edward Blackwell.Eu nunca esperava que um duque, famoso por sua irreverência e por sua habilidade em tornar qualquer escândalo ainda mais escandaloso, fosse ser alguém que me faria questionar tudo o que eu pensava sobre os homens da sociedade. Porque, sejamos francos, eu nunca pensei muito nos homens, especialmente aqueles que se enquadravam na categoria de "mais do mesmo" — ricos, bonitos, vaidosos e completamente previsíveis. Mas Edward... Edward não era previsível. Ele era exatamente o tipo de homem que me fazia querer desafiá-lo a cada p