POV IsadoraO ar estava denso, pesado, como se algo prestes a acontecer estivesse pairando entre nós. Eu podia sentir o olhar de Caelum, queimando em minha pele, e meu coração ainda batia forte por causa da nossa conversa anterior. O jeito como ele me observava agora só aumentava o peso que eu sentia no peito.Ele estava quieto, mas sua presença parecia gritar, como se estivesse esperando algo de mim. Quando ele se aproximou, o chão sob meus pés pareceu ceder.Antes que eu pudesse processar, sua mão estava na minha cintura, firme, puxando-me para mais perto. O toque de Caelum era possessivo, quase como uma ordem, e meu corpo reagiu, um arrepio gelado subindo pela minha espinha.— Caelum… — minha voz falhou, um sussurro que quase se perdeu no ar.Ele não disse nada, mas os seus olhos estavam carregados de um desejo profundo. Então, sem mais palavras, ele se inclinou e seus lábios encontraram os meus. O beijo foi quente, urgente, mas havia algo mais. Algo possessivo, algo que não conseg
POV Caelum A revelação de Isadora não saía da minha cabeça. Desde que ela me contou sua verdadeira origem, minha mente estava um caos. Vorn. A última descendente de uma linhagem que deveria ter sido extinta. Uma linhagem de selvagens, ambiciosos e cruéis, que quase destruíram o equilíbrio entre os clãs. E agora, ela estava no meu clã. No meu território. Na minha cama. Eu não conseguia ficar parado. Meu corpo estava tenso, minha respiração pesada. Andava de um lado para o outro no escritório, sem conseguir focar nos documentos espalhados sobre a mesa. Como eu não percebi antes? O sangue dela, sua força, sua velocidade… Isadora não era apenas uma loba comum. Ela carregava em si um poder ancestral, algo que poucos poderiam entender. Mas, ao mesmo tempo… Ela não era como os Vorn que conhecemos. Ela não era cruel. Não era ambiciosa. Não tinha sede de destruição nos olhos. Pelo contrário. Ela era suave, mesmo quando era teimosa. Forte, mas não impiedosa. E isso me irritava ainda m
Caelum PoV O escritório estava silencioso, exceto pelo leve crepitar da lareira ao fundo. O brilho alaranjado das chamas projetava sombras vacilantes nas paredes de pedra, enquanto eu me recostava na cadeira de couro escuro, tamborilando os dedos sobre a mesa. Miguel estava à minha frente, sua expressão séria e atenta, aguardando minha ordem. Eu já havia tomado minha decisão. Só precisava pronunciá-la. — Preciso que descubra tudo sobre o passado de Isadora — minha voz soou baixa, mas firme. A expressão de Miguel se alterou ligeiramente, um brilho de incerteza cruzando seus olhos. Ele sempre cumpriu minhas ordens sem questionar, mas agora, eu podia ver que ele hesitava. — Você não confia nela? — perguntou, mantendo um tom neutro, mas direto. Respirei fundo, minhas mãos se fechando em punhos. Não era uma questão de confiança. Meu instinto gritava que Isadora não representava um perigo para mim ou para o clã. Mas o passado dela? Isso era outra história. — Confio nela
O vento cortava a floresta, uivando entre as árvores altas como se fosse uma criatura à procura de algo perdido. A pequena Isadora ainda não entendia o que estava acontecendo, mas o som da noite lhe parecia estranho, como se a própria terra estivesse respirando de maneira errada, inquieta. O medo se espalhou pelo ar, tocando cada folha, cada ramo, enquanto ela olhava para seus pais com os olhos arregalados. Seu pai, Alistair Vorn, o antigo líder do Clã Lunar, estava tenso, os ombros rígidos, seus olhos fixos no horizonte. A mãe de Isadora, Lira, estava mais calma, mas sua expressão era grave, o que só aumentava a inquietação da menina. A pequena não compreendia completamente o peso das palavras que ecoavam pela casa de madeira onde viviam, isolados na floresta. Ela sabia, no entanto, que algo estava errado. Sentia, de alguma forma, que a noite estava mais escura e mais pesada do que o normal. A atmosfera era densa, como se o próprio céu estivesse conspirando contra eles. Havia algo de
Dez anos. Dez longos anos desde que a floresta foi manchada pelo sangue de meus pais. Dez anos de sombras e incertezas, onde a solidão foi minha única amiga e a culpa, meu constante inimigo. Não havia mais a magia do mistério que envolvia minha infância. O mundo se tornara um lugar sombrio, e meu corpo, agora uma mulher feita, carregava o peso de um destino que eu não escolhera.Eu estava tão acostumada à vida que levava agora que a simples ideia de mudança parecia impossível. O papel de empregada na casa do Líder dos Clãs, uma mansão imponente nas bordas da floresta, era meu refúgio e minha prisão. A cada dia, me movia pela casa de pedra e madeira, varrendo, limpando, servindo, mantendo-me invisível, esperando que a Lua me chamasse. Mas ela nunca parecia fazê-lo. Não mais. A Lua me vigiava em silêncio, como se soubesse que eu ainda não estava pronta para enfrentar o que viria.Eu vivia entre os membros do Clã, mas era tratada como uma sombra, uma lembrança de algo distante. Ninguém s
A mansão estava silenciosa quando a noite finalmente caiu. As paredes, feitas de pedra fria, mantinham os ecos dos passos que, durante o dia, se haviam apressado pelas imponentes escadas e corredores. Agora, o único som era o vento que assobiava entre as frestas das janelas, como se a própria casa estivesse respirando. Eu estava sozinha em meu quarto.O quarto. O único lugar no mundo onde eu realmente sentia que podia respirar. Mas, ao mesmo tempo, era o lugar que mais me lembrava de quem eu era — ou melhor, de quem eu não era.A cama simples no chão, um colchão de palha velho que mal conseguia esconder as rachaduras do piso de madeira, era tudo o que eu tinha. Não havia luxo. Não havia conforto. Apenas a solidão e o vazio que eu carregava dentro de mim todos os dias.Durante o dia, minha vida era uma rotina sem fim. Acordava antes do amanhecer para começar as tarefas na mansão. Limpava, cozinhava, fazia o que fosse necessário para manter as coisas em ordem, tudo sem ser notada. O tra
O som dos passos apressados ecoava pelos corredores da mansão, mas eu não me movi. Estava parada na janela de meu quarto, olhando para o luar, perdida em meus próprios pensamentos. Lá fora, a floresta parecia tranquila, mas dentro de mim tudo estava em ruínas. O vínculo, a dor, o sofrimento que me consumiam — parecia que a lua havia se afastado de mim, deixando-me à deriva em um mar de desesperança.Eu sabia que algo estava por vir. Não sabia exatamente o quê, mas o clima dentro da mansão havia mudado. Havia uma tensão no ar, algo pesado, como se a própria terra estivesse se preparando para um grande acontecimento.Então, ouvi os passos dele. Rafael. Como se o som de seus pés no piso de madeira soubesse exatamente quando ele me encontraria. Seu cheiro invadiu meus sentidos antes mesmo que ele chegasse à porta. Eu não me virei para olhá-lo, não queria enfrentar os olhos dele, aqueles olhos que, apesar de me rejeitarem, continuavam a me consumir com um poder que eu não conseguia ignorar
Eu não sabia o que esperar da cerimônia. Sabia apenas que seria um marco na minha vida, e não um marco qualquer. Era o tipo de evento que mudaria tudo. Ou, pelo menos, era o que o Clã esperava. O casamento de Rafael e Selene não seria apenas uma celebração de união. Seria uma afirmação do poder, da hierarquia, da separação entre os que pertencem e os que estão destinados a viver à margem.Minha mente estava um turbilhão de pensamentos enquanto eu me preparava, ou melhor, enquanto tentava me preparar para o que estava por vir. O vestido que me deram era simples, sem brilho, sem luxo. Nada mais do que um reflexo de minha posição dentro daquele mundo. Eu não era importante o suficiente para merecer algo especial.Naquela manhã, antes de sair para me juntar ao Clã, o silêncio no meu interior foi quebrado de maneira inesperada. Freiren, minha loba, a presença que eu sempre mantive escondida, que raramente falava comigo, apareceu em minha mente com uma clareza que me assustou. Sua voz era s