O jantar foi servido na longa mesa de madeira no salão principal. O cheiro do guisado de coelho se espalhava pelo ambiente, misturando-se ao aroma amadeirado do fogo crepitante na lareira. O calor tornava o ambiente mais aconchegante, mas não amenizava o peso da presença dos pais de Caelum sentados à nossa frente. Sentei-me ao lado dele, sentindo o olhar avaliador de Lirien e Aldric. Minha loba, Freiren, repousava dentro da minha mente, atenta a tudo. Lirien, a matriarca, mantinha sua postura impecável, os olhos afiados captando cada detalhe. Aldric, por outro lado, permanecia sério, mas sem a tensão de alguém que buscava confronto. Ele apenas observava, como se estivesse esperando que algo fosse revelado sem precisar perguntar. Assim que todos começaram a se servir, Lirien ergueu o olhar para mim, mexendo lentamente a colher dentro do prato. — Você que preparou? — sua voz era neutra, mas carregava um tom de curiosidade genuína. Assenti, mantendo minha postura firme. — S
A madrugada avançava, e eu ainda sentia o calor do toque de Caelum na minha pele. Mesmo sozinha no quarto, com a porta fechada entre nós, meu coração continuava acelerado. Eu passei as mãos pelo rosto, tentando acalmar a tempestade dentro de mim. Cada vez que fechava os olhos, revivia o momento no corredor—o jeito como ele me prendeu contra a parede, como seu cheiro dominou meus sentidos, como sua voz rouca sussurrou contra minha pele. Eu queria lutar contra isso. Contra ele. Contra o vínculo que nos ligava de forma inescapável. Mas a verdade era que eu também queria me entregar. Freiren suspirou dentro da minha mente, sua presença calma, mas vigilante. — "Você está resistindo a algo que já é seu." Meus dedos apertaram o tecido do vestido. — Eu não posso simplesmente aceitar isso — sussurrei. — "Por que não?" — Porque… — minha voz falhou. — Porque há segredos demais. Porque ele não sabe tudo sobre mim. Porque se souber, talvez me odeie. Mas eu não disse nada
Caelum me levou para o quarto dele, um espaço que parecia refletir sua personalidade: simples, mas cheio de detalhes que revelavam sua profundidade. Ele me pôs na cama com delicadeza, mas com uma urgência que não podia ser ignorada. Seu olhar era intenso, como se ele estivesse me dizendo que não havia mais volta, que estávamos além de qualquer limite. Ele se deitou ao meu lado, seu corpo firme e quente pressionado contra o meu. Eu sentia sua respiração acelerada, seu peito subindo e descendo em sincronia com o meu. Ele me olhou nos olhos, e eu vi ali uma promessa de prazer e entrega. — Eu quero mais de você, Isadora — sussurrou ele, sua voz rouca de desejo. — Quero sentir cada parte de você, cada suspiro, cada gemido. Eu não consegui responder. Apenas me perdi nos seus olhos, sentindo o calor de sua mão deslizando pela minha pele. Ele me tocou com uma intensidade que me fez arquear as costas, cada movimento uma chama que me queimava por dentro. Caelum me beijou profundamente, s
Miguel POVO vento cortante batia contra meu rosto enquanto cavalgávamos sob o céu escuro. A floresta densa ao nosso redor parecia nos observar em silêncio, cada sombra ocultando segredos que eu ainda precisava desvendar. Caelum me confiou essa missão porque sabia que eu encontraria respostas. Ele não admitiria em voz alta, mas estava preocupado com Isadora. E eu também. Não apenas por lealdade ao meu alfa, mas porque algo nela não fazia sentido. Ela carregava um passado envolto em mistério, e qualquer informação sobre os Vorn poderia mudar tudo.Ao meu lado, três guerreiros da matilha cavalgavam em silêncio. Gunnar, um dos mais experientes entre nós, mantinha a atenção no caminho à frente, enquanto Erik e Tomas vinham logo atrás, alertas a qualquer movimento na floresta.— Estamos perto — Gunnar murmurou, apontando para as tochas que começavam a surgir no horizonte.A tribo que visitávamos era isolada, vivendo nas fronteiras do território conhecido. Eles eram nômades, mas sabiam de
Miguel POVO cheiro de sangue era forte, impregnando o ar ao nosso redor conforme avançávamos pela floresta. Tomas estava desacordado, seu corpo quente de febre e seus ferimentos ainda sangrando, apesar dos nossos esforços para estancar. Gunnar e Erik também estavam feridos, mas nada comparado a ele.Precisávamos chegar ao Clã Eclipse antes que fosse tarde demais.Minha mente trabalhava rápido, repassando tudo o que havia acontecido. As feras nos atacaram de maneira coordenada, como se soubessem exatamente como nos separar. Mas então, recuaram. Algo as impediu de terminar o serviço, e isso me incomodava mais do que qualquer coisa.O que quer que estivesse por trás disso… ainda não havia terminado.— Ele está piorando. — A voz de Erik trouxe-me de volta à realidade. Ele segurava Tomas na sela de seu cavalo, mantendo-o firme para que não caísse. Sua respiração era fraca, errática.— Aguentem firme — murmurei, tentando ignorar a culpa crescendo dentro de mim. Eu os trouxe para essa missã
Isadora POVA casa ainda estava silenciosa quando saí do quarto de Tomas. Minhas mãos tremiam levemente, e o calor que senti ao curá-lo ainda parecia pulsar sob minha pele. O brilho dourado que havia surgido se dissipara, mas eu sabia que algo dentro de mim tinha mudado para sempre.Eu desci o corredor devagar, meus pensamentos ainda confusos, tentando processar o que tinha acontecido. Miguel, Caelum e o curandeiro me olharam como se eu fosse algo além do que eles imaginavam, e, no fundo, eu temia que eles estivessem certos.Freiren estava inquieta dentro de mim.— Você sempre teve isso dentro de você, Isadora.Eu sabia. Sempre houve algo… diferente. Mas nunca com tamanha intensidade. Nunca de um jeito tão evidente.Meus passos me levaram até a sala principal, onde a lareira ainda queimava suavemente, aquecendo o ambiente. O cheiro de lenha queimando e ervas misturava-se ao ar, trazendo uma sensação estranha de conforto e inquietação ao mesmo tempo.Caelum estava ali.Ele estava de pé
Elias POV O cheiro de ervas e sangue ainda impregnava o quarto quando entrei. O ar estava pesado de preocupação, o tipo de tensão que se instalava quando se ficava à beira da perda. Tomas jazia na cama, o peito subindo e descendo lentamente, a respiração finalmente estabilizada. Seu rosto ainda estava pálido, mas o suor febril havia sumido, e os ferimentos profundos que antes ameaçavam sua vida agora não passavam de cicatrizes recentes. Eu me aproximei devagar, puxando uma cadeira ao lado da cama. Meus dedos roçaram os dele sobre os lençóis, buscando algum sinal de que ele estava ali comigo, de que não iria me deixar. — Você sempre dá um jeito de se meter em problemas, não é? — murmurei, minha voz um fio de som no silêncio do quarto. Ele não respondeu, mas seus dedos, mesmo que fracos, apertaram os meus. Uma onda de alívio percorreu meu corpo. A porta rangeu atrás de mim, e quando me virei, vi Miguel parado ali, observando-me com uma expressão que beirava o cansaço
Caelum POV O crepúsculo lançava sombras longas pelas paredes de pedra do meu escritório enquanto eu revisava os relatórios das patrulhas. A vela sobre a mesa tremeluzia, lançando um brilho dourado sobre os papéis espalhados. Minha mente, no entanto, não estava ali. Desde que Miguel retornara da sua busca por respostas, eu sentia o peso do que estava por vir. A porta se abriu sem cerimônia, e Miguel entrou, seu semblante carregado de algo que ele ainda não havia colocado em palavras. Ele não esperou que eu o convidasse para sentar—apenas se jogou na cadeira à minha frente, passando as mãos pelos cabelos escuros, claramente desgastado. — Então? — minha voz soou baixa, mas firme. — O que descobriu? Ele soltou um suspiro pesado antes de me encarar. — Isadora é mais do que apenas uma sobrevivente, Caelum. Mais do que apenas uma Vorn. Eu já esperava por isso, mas mesmo assim meu corpo ficou tenso. — Explique. Miguel se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos jo