Capítulo 4 - Adotar

NEFERTARI AMBROGETTI

Após um longo dia na empresa, chego em casa. Estou muito cansada, mas nem é tanto cansaço físico, é mais mental. Subo para meu quarto, preciso de um banho. Tiro meu casaco e alguém b**e na porta, peço que entre, é a mamma.

-Figlia, preciso que se sente. - diz deixando-me alerta.

-O que houve?- seu rosto transmite nervosismo, e mamma não é de ficar assim.

- É sobre o bambino do Instituto. - sua voz está igualmente tensa.

-O que tem? Ele foi regatado?

-Sim, está no hospital, é o Formiga figlia. - sinto meu corpo congelar. Só posso ter ouvido errado, mamma disse formiga

-O quê? - minha voz sai inconsistente.

-A tia dele estava o maltratando, os vizinhos denunciaram, ele está muito machucado, desnutrido, mas vai ficar bem.- diz e apenas ecoa na minha cabeça "é o Formiga figlia" "maltratado" "desnutrido"

-O Formiga? Mamma, era para ele estar bem.- sinto um bolo na garganta. Eu preciso ver ele.

- Sim, era.- fala com pesar.

-Eu preciso vê-lo. E a cagna (vadia)? Onde ela está?

-Esta com a polícia, eles cuidaram dela, não vamos nos envolver - apenas balanço a cabeça positivamente. Não quero pensar nela agora, apenas quero ver meu pequeno.

-Qual o hospital?

-Eu estou indo para lá também. - pego minha bolsa e saímos, cada passo que dou é como se meu coração ficasse mais apertado. Por que isso teve que acontecer?

***

-Desde que chegou chama por uma tal de Nefertari, cogitei até que poderia ser sua sorella, ou uma parente que tem muito carinho. - informa a enfermeira assim que chego.

-Ele chamou por mim?

-Sim. Até implorou para ligarmos, mas não tínhamos seu número, e nem ele sabia. Fico feliz que tenha chegado, e é por isso que vou permitir sua entrada, ele ficará feliz em vê-la, ira se sentir seguro, e é isso que ele precisa sentir agora.- diz e me dói ainda mais pensar que ele chamou por mim, só consigo imaginar o medo que sentiu.

Sigo pelo corredor até seu quarto, a enfermeira me deixa na porta, um misto de sentimentos me consome, nunca me senti assim, não sei nem explicar. Tomo uma respiração profunda e entro no quarto. Reprimo uma vontade enorme de chorar quando o vejo.

-Formiga.- o chamo com uma voz trêmula, por Dio ele está muito machucado, me aproximo, ele está com os olhos fechados, observo seus braços, tem marcas de dedos, sua bochecha está amarelada.

Meu coração se aperta, eu me distancie para que ele não se machucasse, mas minha ausência não impediu nada, pelo contrário, talvez se eu tivesse continuado a falar com ele, isso poderia não ter acontecido. O que foi que eu fiz? Suspiro fundo, e ele abre os olhos. Apesar de parecer cansado sorri assim que me ver.

-Tia Tari.- sua voz sai baixa, seguro sua mão com cuidado.

-Oi bambino. - tento sorri.

-Ela não cuidou de mim. - sua voz agora sai embargada e uma lágrima desce pelo seu rosto.

Dio mio, eu quero matar essa mulher, eu quero muito que ela sofra, como pode fazer isso com ele?

-Shii, não chore, agora está tudo bem.- aliso seu cabelo em um carinho.

-Por que eu não posso ter uma mamma? Por que ela não gostou de mim? O que eu tenho de errado tia Tari? Eu sou sujo? Eu causo nojo?- questiona e parece buscar desesperadamente uma resposta.

-Olha aqui ragazzo, você não tem nada de errado. Aquela mulher que tem tudo de errado, ela não tinha o direito de fazer isso com você. Formiga? Eu te prometo que ninguém mais vai te machucar, entendeu?- falo em tom sério.

-Eu lembro que a senhora disse que não gostava de promessas. - sorri de leve.

-Por que é muito sério, eu só faço promessas quando gosto muito de uma pessoa, quando é especial.

-Então eu sou especial? Eu pensei que a senhora não gostava mais de mim, quando disse que não podíamos mais conversar. - seu olhar fica ainda mais triste.

-Eu fui uma boba, me perdoa por isso? - sinto minha voz falhar.

-Sim, mas só se prometer que nunca mais vai deixar de falar comigo.

-Eu prometo ragazzo. Eu prometo. - fazemos juramento de dedinho.

***

-O que vai acontecer com ele agora? - questiona a Lúcia, que está acompanhando ele desde que foi resgatado, noto a culpa em seu olhar desde que cheguei.

-A cirurgia que ele tinha feito não teve o cuidado que deveria, a perna está muito mal. Ele ficará alguns dias internado, e depois voltará ao instituto, temo que ele não volte mais a andar. - seus olhos se enchem de lágrimas.

-Não diga isso. Esse ragazzo, não pode perde mais nada. Não pode.

-Seu sonho era apenas ter uma mamma, como a própria tia pode fazer isso? Ela só o adotou porque soube do seguro que receberia. Seguro que era para faculdade dele, e ela gastou tudo. - me afasto não aguentando mais, é muito sofrimento para uma criança.

Dio? Por que pessoas boas sofrem tanto? Olhe esse ragazzo, ele é bom, é um bambino, não merecia passar por tudo que já passou, perdeu os pais, quase foi perdido no sistema do tráfico, foi espancado, e agora pode perder até a mobilidade de andar. Qual será o futuro dele? Ele só quer um pouco de atenção, carinho... amor.

Não posso deixar que ele volte ao instituto, ele voltará a ficar sentado naquele banco enquanto observa as crianças a brincar. O que posso fazer? O quê? Adotar. Me vem a cabeça, balanço a cabeça negativamente. Não posso adotá-lo. Eu sou quebrada por dentro, não saberia ser sua... mamma. Mas, eu poderia tentar? Poderia eu ser uma boa mamma? Seria essa opção melhor do que ele voltar ao instituto? Nunca passou pela minha cabeça essa opção, esse... desejo, não depois de tudo que passei. Lembro-me de sua tristeza no instituto, da sua busca por atenção, pelo seu carinho quase instantâneo por mim. A ligação que sinto por ele.

Dio... eu vou adotá-lo.

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