Judith levantou cedo, tomou um banho e se vestiu com roupas leves, estava calor e sua manhã seria longa, precisava ficar confortável. Desceu as escadas e beijou o marido e a neta, que cantavam uma música de Nina Simone enquanto preparavam o café da manhã junto com as funcionárias. Niara arrumava uma xícara com café com leite, torradas e queijo em um prato, e frutas em um pote redondo de louça.
-Você consegue levar? - Judith a olhou desconfiada ajudando a segurar a bandeja.
-É claro vó, pode deixar, você vai lá também?
-Vou daqui a pouco querida. Cuidado nas escadas. - Sorriu e sentou a mesa pesadamente, parecia cansada. - Onde está todo mundo?
-Álvar
Bárbara achava divertido se imaginar vivendo outras vidas, sendo outras pessoas, em outras famílias, onde tudo era comum e aborrecido.Uma vida pacata, sim, como costumava imaginar que pessoas que passavam por ela nas ruas ou sentavam ao seu lado no balcão da padaria para tomar café, tinham. Um trabalho das 9 às 6, uma casa ou apartamento financiados, carro popular quando muito. Talvez um marido ou esposa, até alguns filhos, essa era a vida comum que às vezes imaginava para si.Ao mesmo tempo em que tinha esses pensamentos, ria de si mesma, jamais conseguiria levar uma vida comum, não com a “família” que tinha. Não, tudo o que poderia esperar em sua existência era caos e ação, turbulência incessante. Era a própria responsável por isso,
-Você acha que eles aceitarão sua presença lá?-Aceitar? Mas do que você está falando Gael? - Angela riu divertida brincando com os gelos de seu copo de uísque. - Eu domino um território muito grande para depender da aceitação de velhos brancos e antiquados.-E criminosos, não se esqueça disso. - Ele a olhou preocupado, ela costumava ser ousada, e isso era bom para os negócios, mas se enfiar no meio de todos os chefes era mais ousado do que seu normal.-Eles não fazem nada durante as lutas, estará cheio de policiais, há um acordo tácito de não ataque entre eles. Dizem que o tal Muerte tem seu contato lá. Quem sabe não conseguimos descobrir quem ele é?
A luta foi boa, Bárbara se olhou no espelho do vestiário e riu das marcas que já se tornavam roxas, espalhadas pelo abdômen e o olho inchado. Não que gostasse de sentir dor, ou se ferir, mas havia levado aquela, e os ferimentos não eram graves, nada que gelo e um bom prato de comida não resolvessem.Tirou o short e o top, e entrou embaixo da água quente do chuveiro, tomou um banho demorado e saiu do chuveiro enrolada em uma toalha, Guilherme entrou no vestiário com bolsas de gelo e curativos, ela vestiu a roupa de baixo e ele se aproximou fazendo um sinal para que deitasse no banco de madeira em frente a pia.-Como se sente?-Ótima! E você? Por que parece preocupado, ganhamos! - Riu e fez uma careta quando ele iniciou a limpeza do superc&iacu
Barbara parou seu carro no que era um vazio estacionamento, não parecia o mesmo lugar do dia anterior, mas normalmente o pequeno ginásio onde as lutas se realizavam era daquela forma, vazio e silencioso. Desceu indo direto para a sala da proprietária, ou melhor, a mulher contratada para ser proprietária. A verdadeira dona era a própria Bárbara, a mulher responsável pela administração, e por responder por todo o lugar era Érica, uma velha amiga dos tempos de infância de Bárbara.Sua família costumava gerir, desde muito tempo, o ginásio/clube de treino e competições, mas o irmão de Érica bebeu e jogou tudo o que tinham, inclusive aquele espaço, a lutadora soube, pagou as dívidas e comprou o lugar, por um bom preço, com a única condição de
Acordou cedo e tomou um banho quente, estava frio, uma chuva congelada caia lentamente lá fora. O dia perfeito para ficar em casa, descansando, alguém como Bárbara, com a vida ganha, poderia se dar esse luxo, então vestiu roupas confortáveis, ligou uma música alta e pesada, e começou a limpar armas e afiar facas, todas guardadas no fundo falso dos armários da cozinha, Não eram muitas, ela não era do tipo que colecionava armas, apenas tinha instrumentos de trabalho que precisavam atender suas necessidades, e estar bem conservados.Desmontava algumas pistolas quando seu telefone tocou pela primeira vez naquele final da manhã, eram as últimas a ganharem sua atenção, dava prioridade às facas e armas mais potentes, mas as pistolas também quebravam um bom galho. A primeira ligação que rec
Érica raramente demonstrava nervosismo ou preocupação, fazia o que era preciso, quando era preciso, se surgissem problemas, ela os resolvia com facilidade, era sua função, a dominava muito bem. Por isso Bárbara a chamou para ser seu braço direito, porque era controlada e eficiente, era de confiança. Então, quando ela demonstrava agitação, todos a levavam a sério, nessa noite sentia que algo estava errado, precisava alertar a amiga, precisavam se preparar.Ela estava em sua sala, o lugar onde passava a maior parte do tempo, todos os dias, cuidando da academia de fachada, com alunos, patrocinadores e organização de lutas, e também dos negócios mais lucrativos e complicados, a administração dos clientes e trabalhos da Muerte. Guilherme esperava Barbara em frente a porta da frente do pr
Cinco dias depois da conversa com Érica, Bárbara estava sentada em uma camionete preta grande, blindada e com vidros escuros. Observava com binóculos o interior de um restaurante, já era o terceiro dia que fazia isso, Esteban Carrero vociferava com alguém aterrorizado atrás de um balcão, apontava o dedo para o nariz de seu interlocutor, não conseguia ver muito bem quem era, mas imaginava ser o gerente, funcionário de Carrero e alvo habitual de sua fúria, aquele era um de seus restaurantes.O mafioso saiu pouco depois, acompanhado de dois seguranças imensos, Carrero era um homem baixo e forte, parecia ainda mais baixo no meio dos dois brutamontes que trabalhavam para ele. Ela já sabia para onde ia, a rotina diária dele era essa, passar em seus estabelecimentos e perturbar a todos que trabalhavam para ele, mas naquele
Bárbara já sentia que o capítulo Gael havia acabado em sua vida, foi bom, e seria sempre uma ótima lembrança, mas não havia possibilidade de continuar, ele corria riscos, ela não se exporia tentando defendê-lo, não se a vida de seus amigos fosse colocada em risco por conta dessa exposição. Por mais que houvesse algo ali, aquele sentimento que poderia virar amor, não valia a pena se arriscar, e arriscar aqueles que já amava, por causa disso.Foi treinar normalmente, se fosse mesmo atacar os alvos encomendados, não precisaria de pesquisas e tocaias. Então resolveu aproveitar seu tempo para pensar na vida, treinar, e claro, esperar que Angela e Gael desaparecessem.Guilherme a esperava para o treino, ela entrou tentando disfarçar a tristeza, trocou de rou