A luta foi boa, Bárbara se olhou no espelho do vestiário e riu das marcas que já se tornavam roxas, espalhadas pelo abdômen e o olho inchado. Não que gostasse de sentir dor, ou se ferir, mas havia levado aquela, e os ferimentos não eram graves, nada que gelo e um bom prato de comida não resolvessem.
Tirou o short e o top, e entrou embaixo da água quente do chuveiro, tomou um banho demorado e saiu do chuveiro enrolada em uma toalha, Guilherme entrou no vestiário com bolsas de gelo e curativos, ela vestiu a roupa de baixo e ele se aproximou fazendo um sinal para que deitasse no banco de madeira em frente a pia.
-Como se sente?
-Ótima! E você? Por que parece preocupado, ganhamos! - Riu e fez uma careta quando ele iniciou a limpeza do supercílio e colocou as bolsas de gelo em sua barriga.
-Aquele cara que ficou olhando você, perguntou sobre o Muerte, talvez você estivesse certa.
-Ele perguntou pelo Muerte ou pela Muerte?
-O, mas talvez saiba quem você é, eu disse para ele vir amanhã à tarde.
-Então vamos descobrir, amanhã à tarde estarei aqui treinando, você fala com ele longe de mim, eu observo, e descobriremos.
-Você não deveria estar aqui quando ele viesse.
-Mas como explicar onde estará a lutadora em hora de treino? - O olhou levantando as sobrancelhas e piscando um olho.
-Eu não sei, mas tenho medo do que eles queiram fazer com você, se souberem mesmo sua identidade. Eles são diferentes, levam os negócios de forma diferente.
-Não seja preconceituoso, só porque ela é latina? Que eu saiba ela é muito boa no que faz, não é cruel, não aceita crueldade de seus subordinados, e além de tudo, é uma mulher comandando, você sabe, nós deveríamos sempre dominar negócios e política, somos melhores, mais controladas. Não fazemos de nossas armas e de nossas leis uma extensão compensatória de nossos corpos, se é que você me entende.
-É eu entendo, você é uma feminista radiacal! - Ele riu e passou o dedo delicadamente pelos roxos em sua barriga.
-Guilherme…
-Só um lapso, você precisa socializar, sair à francesa e depois fazer mais um trabalho. O cliente confirmou que o alvo é prioritário e estará disponível essa noite.
-Sério!? E eu que só queria descansar hoje!
-Você quem pediu vários clientes, se quiser podemos diminuir o ritmo.
-Não, eu faço esse rápido, e depois vou para casa, você pode m****r entregar uma comida para mim lá?
-Você poderia comer antes…
-Não, essa noite vou comer e beber loucamente, depois do trabalho. - Riu levantando e vestindo suas roupas.
-Eu posso entregar pessoalmente, esperar você para bebermos juntos…
-Não, eu prefiro fazer isso sozinha, você fez a transferência?
-Sim, minha parte, e a parte da…
-É eu sei de quem é a parte. - Pareceu irritada. - Você não pode falar o nome dela, entendeu?
-Eu sei! Me desculpe por isso. - Se aproximou charmoso. - E então, última chance de pegar o trem Guilherme e chegar a estação da loucura. - Ela riu e ele revirou os olhos. - Tudo bem então, vou tentar a sorte com minha colega treinadora de sua adversária.
-Vá, e descubra alguns segredos dela, mas não conte os meus! - Beijou a testa dele e saiu do vestiário sob os aplausos de todos.
-Bárbara Romano! - Um homem jovem de terno simples e sobretudo no braço se aproximou sorrindo e esticando a mão. Era loiro com a pele rosada, quase vermelha, um típico americano do norte, a postura era facilmente reconhecível, policial certamente. - Meus parabéns por sua vitória, você é muito boa!
-Obrigada! Mas as marcas roxas dizem que foi quase uma derrota, então sou só meio boa. - Sorriu amistosa apertando a mão que ele lhe estendeu. - Qual seu nome?
-Agente Rolland.
-Agente? - Ela pareceu surpresa, mas ainda tranquila. - Vocês não vem muito a esse bairro.
-Ouvi falar de uma lutadora filha de mafiosos que era a preferida das forças policiais, e dos seguranças da máfia, precisava saber quem era a pessoa que frequenta o céu e o inferno sem desagradar ninguém.
-Você mesmo disse que eu era muito boa, talvez tudo o que eles queiram ver seja uma mulher lutando bem.
-As apostas que fazem em você também contribuem. - Sorriu debochado.
-Não sou responsável por elas, e elas não são ilegais Agente, mas você tem razão, não há nada melhor do que uma mulher batendo em outra, e fazendo você ganhar dinheiro ainda por cima. - Sorriu ainda mais debochada, não estava gostando daquela conversa.
-Não é muito feminista de sua parte, mas você talvez esteja certa.
-Essa fala não é minha, mas dos policiais e seguranças presentes aqui. Eu acho muito machista também, bom saber que agora os Agentes não são mais machistas, vamos lutar pelo fim do racismo finalmente?
Ele acenou sorrindo, mordeu o lábio como quem fosse começar a falar, mas pareceu mudar de ideia. Deu de ombros, e se aproximou dela falando em seu ouvido.
-Você pode até agradar policiais, mas sei muito bem que a fruta não cai muito longe do pé, você ainda é uma filha de mafiosos, ainda está no seu sangue, essa ânsia criminosa.
-Não posso negar, neste momento queria cometer um crime socando um Agente intrometido, que não respeita uma atleta, talvez seja meu sangue siciliano, talvez apenas a falta de respeito com que me trata. - Se aproximou também dele, propositalmente furiosa.
-Vá em frente, ou você teme ser presa e, quando vasculharmos sua vida, descobrirmos que esses seguranças gostam tanto de você porque são seus colegas?
Ela sorriu divertida, ele não tinha nada, somente uma desconfiança sem fundamentos, deu de ombros como quem fica sem graça.
-Acho que você descobriu meu segredo! - Riu e suspirou, mais amistosa agora. - Eles morreram há muito tempo, e foram como traidores, mesmo que eu quisesse trabalhar para essa gente, não seria possível, eles não confiariam nem mesmo a segurança de algum de seus negócios a uma neta de traidor. Fique tranquilo Agente Rolland, eu sou exatamente o que pareço, uma lutadora de boxe.
-Eu espero mesmo que seja, Barbara, porque ia ser muito triste se tivéssemos que prender você, e acabar com o espetáculo que acabamos de ver.
-Ou, talvez, pudesse lutar na cadeia. - Encolheu os ombros virando o pescoço divertida.
-Barbara nossa heroína! Que derrota a mafia ao derrubar uma de suas meninas! - Um policial ainda uniformizado, mas visivelmente embriagado, se aproximava passando um braço desagradavel em volta dos ombros dela. - Vai me dar a honra de lhe acompanhar até em casa hoje?
-Toni, você precisa ao menos tirar o uniforme antes de começar a beber! - Ela se afastou dele e fez um sinal para um grupo de policiais, dois deles se aproximaram. - Ele já passou dos limites.
-Me desculpe Barb, vou tirar ele daqui.
-Não precisa se desculpar, meu medo é o que ele pode fazer se passar dos limites, você sabe.
Eles se afastaram levando o bêbado embora, e Rolland a olhou curioso.
-Você poderia ter batido nele, nem estaria errada.
-Ele não é má pessoa, mas exagera na bebida às vezes, não tem porque bater em um bêbado indefeso.
-Indefeso?
-O que, você acha que ele poderia me atacar? Não assistiu o que eu fiz com a cara daquela menina? - Os dois riram, ele já parecia menos antipático a ela.
-Você é mesmo o que parece? - Ela o olhou curiosa e ele continuou, como se explicando. - Uma mulher sexy que luta muito bem, é amiga de policiais e mafiosos, e ajuda em causas humanitárias?
-Exceto a parte do sexy, isso é impressão sua. - Riu e colocou a mão no ombro dele. - Eu não me envolvo com nenhum lado, minha profissão, essa, de lutadora de boxe, não precisa ter um lado, a não ser aquele que eu escolher. - Esticou a mão novamente apertando a dele. - Foi um prazer conhecê-lo Agente, apareça mais vezes, você pode até fazer algumas aulas aqui, temos ótimos professores de artes marciais.
Ele sorriu apertando a mão dela e a observou se afastar. A impressão de que havia algo errado com ela sumiu, talvez fosse mesmo o que parecia ser, foi embora logo depois, sem mais desconfianças. Por enquanto é claro.
Barbara andou no meio da multidão cumprimentando a todos, bebeu uma cerveja com cada “lado” de sua torcida, e depois saiu discretamente, ainda tinha trabalho a fazer.
Dirigiu tranquilamente pelas estradas quase vazias do meio da noite, o frio e a chuva fraca quase congelada não eram muito convidativos para passeios. Preferia agir no meio de multidões, qualquer movimento em ruas desertas de gente poderia significar olhares escondidos a observando, testemunhando.
Estacionou algumas ruas distante do ponto onde faria o trabalho, seu carro era velho e comum, mas identificável, pulou para os bancos traseiros e tirou o casaco que usava diariamente e as roupas quentes também. Vestiu um tubinho vermelho, muito justo e muito curto, escondeu os machucados com maquiagem e vestiu um sobretudo de lã batida, de cor creme clara. Quando desceu do carro não parecia a mesma pessoa, andava rebolando mais do que o normal, devido aos saltos finos que calçara no lugar das botas velhas do dia a dia.
Parou em frente a porta do que pareceu um prédio abandonado, e um segurança a olhou desconfiado.
-Aí! Tá frio pra caralho, dá pra abrir de uma vez? - Acendeu um cigarro sem paciência, batendo um dos pés para frisar sua pressa.
Ele acenou e abriu, ela entrou e sorriu para ele de forma provocante, andou no meio da multidão tirando o casaco e o colocando no braço, sorriu para o velho cercado de garotas muito mais novas do que ele, parou em sua frente e ele desviou os olhos de todas para olhar ela.
-Você deve ser a Pamy, que Edgar enviou?
-A própria! - Esticou uma mão para ser beijada, ele fez um sinal e as garotas se afastaram, ela sentou colada a ele.
-Me diga, ele comentou sobre o que pretendo fazer essa noite?
-Não se preocupe, ele já me falou tudo o que eu precisava saber, vamos?
Ele sorriu e levantou a pegando pela mão, ela andava rebolando com a mão terrível dele em sua cintura, descendo demais em alguns momentos. Ela quando ele a puxou pelo braço, uma porta estreita dava lugar a um quarto elegante demais para a boate, lençóis caros e cheiro de limpeza, provavelmente tudo preparado para ele e seus apetites terríveis. Ela entrou lentamente, largou a bolsa e o casaco sobre uma poltrona vitoriana, e virou para ele sorrindo e mordendo o lábio.
-Ele disse que você pagava bem, e que precisava de total servidão, o que mais?
-Venha até aqui. - Ele esticou a mão a pegando pela cintura, já havia tirado a camisa e as calças, uma terrível cueca samba canção vermelha era tudo o que usava. - Você é muito bonita. - Passava as mãos pelo corpo dela.
Barbara segurava o enjoo, decidiu que já era hora, quando ele rasgou seu vestido o parindo em dois, e viu as manchas roxas no corpo, apertou uma delas com força, ela resolveu terminar logo com aquilo. Segurou a parte de baixo da cabeça do lado direito e a parte de cima do lado esquerdo, virando com força, um som foi ouvido, e ela deixou o corpo tombar aos seus pés.
Pegou os pedaços do vestido do chão e revirou os olhos.
-Velho pervertido do caralho! - Vestiu o sobretudo e o fechou bem, saiu do quarto e avisou que o cliente recebia mais duas meninas, e não queria ser interrompido, andou lentamente como se estivesse embriagada, até seu carro, entrou ali e dirigiu para casa.
Entrou e ligou a lareira, era um apartamento simples, um quarto e sala e cozinha integradas, decoração escura e feita pelo proprietário do imóvel, ela não costumava se preocupar com esse tipo de coisas. Foi tomar um banho quente e quando saiu, aqueceu o hambúrguer e as batatas que Guilherme havia deixado em sua casa, no forno, sentou na frente da lareira, ligou a televisão, começou a comer e a intervalos, virava grandes quantidades de uísque direto da garrafa e fumava alguns cigarros.
Dormiu atirada sobre o tapete da sala, com um cobertor fino a cobrindo, e abraçada a garrafa vazia de uísque. Acordou com as batidas na porta, praguejou levantando e olhando pelo olho mágico.
-Isso são horas Gui! - Fez um sinal para que entrasse e foi até o banheiro escovar os dentes.
-Bom dia para você também! Trouxe café, e quero conversar com você, é importante Bárbara.
-Sempre é Guilherme! - Falou no mesmo tom que ele, e sentou pegando o copo de café e acendendo um cigarro, abriu o saco dos croissants e deu uma mordida fechando os olhos satisfeita. - Mas como você me conhece, e trouxe esse café da manhã delicioso, vou ouvir o que tem para me dizer.
-Acho que você não deve estar lá quando o tal Gael aparecer, e não devemos aceitar o trabalho deles.
-E por que?
-Porque ele ficou olhando para você, eu também percebi depois que você falou, e perguntou a seu respeito também, pensa que somos casados.
-E você não desmentiu? - O olhou franzindo a testa.
-Primeiro, ele não perguntou para mim, então é claro que disseram que não éramos casados, segundo, você parece estar gostando do fato de ele estar interessado em você. Qual é Bárbara? De todos os homens com quem você pode dormir, não vai ser logo esse não é mesmo?
-Primeiro, você não tem nada a ver com minha vida sexual, segundo, por que acha que ele sabe quem eu sou? Pode só estar interessado em mim, dizem que essa coisa de ganhar lutas atrai os meninos, sabe como é. - Sorriu enchendo a boca e piscando um olho. - Falando sério, você está muito desconfiado, se ele realmente perguntou se eu era casada, e quem eu era, é porque não sabe que eu sou… quem eu sou. Se soubesse tentaria outras formas de me atacar, caso quisesse me atacar é claro.
-Então você vai autorizar ela a aceitar o trabalho?
-Não, vou dizer para ela que pensaremos a respeito, dependendo do que for, aceitamos.
-Tudo bem, se você acha mesmo que precisa de mais um trabalho. Como foi ontem a noite?
-Normal, um cara morto e um vestido rasgado. - Encolheu os ombros.
-Eles fizeram o depósito da segunda parte do pagamento essa manhã, divido normalmente?
-Preciso de um terço para mim dessa vez, pague você e deposite o restante, minha parte em dinheiro, notas pequenas.
-Tem planos para o dinheiro? - A olhou sorrindo maldoso.
-Quero comprar um presente para ela, e reservar as passagens para o feriado.
-Você pode usar seu dinheiro com você também, sabia?
-Eu sei, na verdade estou pensando em comprar uma moto, mas ainda não tenho certeza. - Levantou e entrou no quarto, indo para debaixo do chuveiro, ele deu de ombros e a seguiu.
-Hoje não poderei estar lá, quando ele for. - Pareceu indeciso quanto a falar a verdade, apertou as mãos e sorriu sem graça.
-Tudo bem? - Ela colocou a cabeça para fora da cortina do banheiro e o olhou séria.
-Bem, eu preciso ir ao médico, não é nada demais, mas os resultados dos exames saíram hoje, o médico quer que eu vá até lá.
-Quer que eu vá com você?
-Não! Eu vou sozinho, não é nada demais, tenho certeza. Mas obrigado.
-Você pode me ligar quando sair do médico? Me dar notícias?
-Claro! Se você não estiver fazendo o que não deve com o segurança da mafiosa, e me atender…
-Deixa de ser bobo! E quando eu faço alguma coisa com alguém, afinal?
-Não faz porque não quer, que fique bem claro! Eu vou embora, nos vemos mais tarde.
-Gui! - Ela gritou e ele se virou encarando curioso. - Vai dar tudo certo, tá bem?
Ele fez uma careta, mas estava preocupado, um caroço é sempre preocupante, ele tinha histórico familiar, e não queria, de fora nenhuma, morrer dessa forma, doente e fraco. Era um lutador, queria continuar sendo até seu último dia.
Barbara parou seu carro no que era um vazio estacionamento, não parecia o mesmo lugar do dia anterior, mas normalmente o pequeno ginásio onde as lutas se realizavam era daquela forma, vazio e silencioso. Desceu indo direto para a sala da proprietária, ou melhor, a mulher contratada para ser proprietária. A verdadeira dona era a própria Bárbara, a mulher responsável pela administração, e por responder por todo o lugar era Érica, uma velha amiga dos tempos de infância de Bárbara.Sua família costumava gerir, desde muito tempo, o ginásio/clube de treino e competições, mas o irmão de Érica bebeu e jogou tudo o que tinham, inclusive aquele espaço, a lutadora soube, pagou as dívidas e comprou o lugar, por um bom preço, com a única condição de
Acordou cedo e tomou um banho quente, estava frio, uma chuva congelada caia lentamente lá fora. O dia perfeito para ficar em casa, descansando, alguém como Bárbara, com a vida ganha, poderia se dar esse luxo, então vestiu roupas confortáveis, ligou uma música alta e pesada, e começou a limpar armas e afiar facas, todas guardadas no fundo falso dos armários da cozinha, Não eram muitas, ela não era do tipo que colecionava armas, apenas tinha instrumentos de trabalho que precisavam atender suas necessidades, e estar bem conservados.Desmontava algumas pistolas quando seu telefone tocou pela primeira vez naquele final da manhã, eram as últimas a ganharem sua atenção, dava prioridade às facas e armas mais potentes, mas as pistolas também quebravam um bom galho. A primeira ligação que rec
Érica raramente demonstrava nervosismo ou preocupação, fazia o que era preciso, quando era preciso, se surgissem problemas, ela os resolvia com facilidade, era sua função, a dominava muito bem. Por isso Bárbara a chamou para ser seu braço direito, porque era controlada e eficiente, era de confiança. Então, quando ela demonstrava agitação, todos a levavam a sério, nessa noite sentia que algo estava errado, precisava alertar a amiga, precisavam se preparar.Ela estava em sua sala, o lugar onde passava a maior parte do tempo, todos os dias, cuidando da academia de fachada, com alunos, patrocinadores e organização de lutas, e também dos negócios mais lucrativos e complicados, a administração dos clientes e trabalhos da Muerte. Guilherme esperava Barbara em frente a porta da frente do pr
Cinco dias depois da conversa com Érica, Bárbara estava sentada em uma camionete preta grande, blindada e com vidros escuros. Observava com binóculos o interior de um restaurante, já era o terceiro dia que fazia isso, Esteban Carrero vociferava com alguém aterrorizado atrás de um balcão, apontava o dedo para o nariz de seu interlocutor, não conseguia ver muito bem quem era, mas imaginava ser o gerente, funcionário de Carrero e alvo habitual de sua fúria, aquele era um de seus restaurantes.O mafioso saiu pouco depois, acompanhado de dois seguranças imensos, Carrero era um homem baixo e forte, parecia ainda mais baixo no meio dos dois brutamontes que trabalhavam para ele. Ela já sabia para onde ia, a rotina diária dele era essa, passar em seus estabelecimentos e perturbar a todos que trabalhavam para ele, mas naquele
Bárbara já sentia que o capítulo Gael havia acabado em sua vida, foi bom, e seria sempre uma ótima lembrança, mas não havia possibilidade de continuar, ele corria riscos, ela não se exporia tentando defendê-lo, não se a vida de seus amigos fosse colocada em risco por conta dessa exposição. Por mais que houvesse algo ali, aquele sentimento que poderia virar amor, não valia a pena se arriscar, e arriscar aqueles que já amava, por causa disso.Foi treinar normalmente, se fosse mesmo atacar os alvos encomendados, não precisaria de pesquisas e tocaias. Então resolveu aproveitar seu tempo para pensar na vida, treinar, e claro, esperar que Angela e Gael desaparecessem.Guilherme a esperava para o treino, ela entrou tentando disfarçar a tristeza, trocou de rou
Gael deu dois dias para ela, como não ligou, e não deu sinal de vida, no terceiro dia resolveu que já era hora de procurá-la, as ameaças estavam mais perigosas, ele mandou uma equipe de homens seus investigar e descobriu que o complô para derrubar Angela era maior do que haviam imaginado. Recebeu também uma ligação de Érica, dizendo que haviam diversos assassinos contratados para dar cabo deles. Se possuíam algum plano de fuga, deveriam agir logo, ele não compreendeu bem porque a mulher que trabalhava para o Muerte os estava informando, mas desde que ela não estava mentindo, e que as coisas que dizia poderiam ser comprovadas, acreditava e agradecia a boa vontade dela.Seus planos iniciais, de convencer Bárbara a fugir com ele, deveriam ser antecipados, e um pouco modificados também. Claro, tudo dependeri
Ser uma mulher latina não costuma ser fácil em qualquer lugar, mas no ramo de negócios de Angela, as coisas poderiam ser ainda mais difíceis. Era um ambiente tradicionalmente machista, mulheres prostituídas ou excluídas dos negócios. Essas mulheres, qualquer uma delas, poderia fazer um trabalho excelente, tão bom quanto, ou até mesmo melhor, do que os homens que comandavam 99% das famílias do tráfico nos países americanos do norte e sul.Ela tinha certeza disso, porque era uma dessas mulheres subestimadas, tratadas como inferiores apenas por serem mulheres, destinadas a vestir roupas bonitas e acompanhar seus homens em eventos sociais. O que era engraçado, na realidade irônico, pois se ela, uma mulher jovem que não cresceu naquele meio, conseguiu transformar o que era praticamente uma boca de fumo, em um
Bárbara não abriu os olhos a princípio, sentia uma dor de cabeça lancinante, ouviu barulho de água, chegando abafado e distante a seus ouvidos, gemeu com a dor, uma dor de ressaca terrível, não lembrava de ter bebido tanto na noite anterior. Na verdade, não lembrava de quase nada da noite anterior, imagens de Gael cozinhando para ela, dela em cima dele pouco antes disso, mas tudo parecia se esvair de sua mente com a dor.Abriu os olhos por fim, e a primeira coisa que viu foram os olhos azuis dele a olhando, estava sentado na cama, as costas encostadas na guarda, ela estava deitada para o lado oposto, a cabeça onde deveriam ser os pés, vestida e coberta, desviou os olhos dele, não conhecia aquele quarto. Tentou sentar mas ficou tonta, levou a mão à frente dos olhos e deitou novamente, os travesseiros eram macios.