Barbara passava a maior parte do tempo na cabine, em silêncio, respirando, ou tentando fazer isso. Era mais forte do que acreditava, cada vez que se sentia sufocar, antes de estar naquele navio, imaginava que se não enxergasse a rua, se não respirasse ar puro, morreria sufocada. Ao menos o sequestro provava que aquilo não aconteceria, apesar de pensar, quase todo o tempo, nos dutos de ar sendo fechados, no oxigênio sendo interrompido, em seu peito apertado, o ar não chegando até seus pulmões.
Respirava fundo e procurava as saídas de ar quando sua mente era tomada por esses pensamentos, havia ar sim, e não pararia de chegar. Estava sentada na cama, fumando e ruminando sua raiva, e a preocupação com Érica e Guilherme, esperava que tivessem desaparecido, pensou na tia, em todas que estavam em sua antiga casa, e engoliu al
-Ela é a Muerte!? - Angela andava de um lado para o outro na sala destinada às reuniões e ao trabalho em geral, haviam pedido para Pedro parar um pouco e conversavam sozinhos. - E você a trouxe até aqui, porque é um maldito machão defensor!-Eu sou culpado, e não há perdão para o que fiz. Mas ela disse que não vai matar você, nunca foi a intenção.-E você acredita nela?-Sim, e imploro a você, não mate ela. Eu dou minha palavra que não deixarei ela matar você. Mas se quiser, pode me matar no lugar dela. Por favor Angela…-Não vou matar você, estava apaixonado, eu compreendo. - Deu um tapa no ar. - Eu também j&aac
Angela pensou por dois dias inteiros, já havia decidido na verdade, aceitar o acordo com Bárbara, mas queria tentar conseguir algum outro aliado, para que Judith aceitasse a proposta dela não apenas para salvar a sobrinha, mas porque havia chances de vitória. Mandou chamar Gael, Maria e Bárbara a sala de reuniões, pedindo que Pedro acompanhasse a conversa, e colocasse todos a par dos progressos feitos.-Bem, eu pensei por dois dias, apesar de já estar convencida de que me falou a verdade Bárbara, aceito um acordo com sua tia, conversei com o capitão e poderemos atracar em um porto próximo a ela em três dias, você poderá falar com ela, marcar uma reunião para que possamos desembarcar e agilizar tudo.-Eu posso desembarcar e ir conversar com ela, não acho que v&
O navio atracou no porto quase vazio às 00:00 horas, o capitão avistou carros grandes estacionados de costas para o mar, e se preocupou, desceu até o esconderijo e conversou com Angela, ela mandou chamar Bárbara e a lutadora saiu, finalmente, para respirar ar puro. Quando chegou ao deque ela fechou os olhos e respirou fundo, como se fosse uma presidiária que finalmente é libertada depois de muito tempo. Andou até o lugar onde havia mais vento, e encheu os pulmões do ar frio e puro, sentindo sua pele arrepiar, era frio lá fora, mas não se importou, ergueu o rosto para o céu e permaneceu assim por algum tempo, até que o capitão a chamasse tocando seu braço delicadamente.-Moça, você pode identificar quem está lá? - A olhou de lado, ela parecia esquisita. Bárbara acordou e não viu a filha ao seu lado, sempre que isso acontecia, sentava na cama, apavorada, e procurava possíveis sinais de arrombamento ou sequestro. Ouviu a descarga no banheiro e depois o barulho da torneira e da escova de dentes que ela usava, entrou no banheiro pouco antes da menina sair.-Bom dia amor! - Beijou o rosto da filha e a abraçou, como se quisesse ter certeza de que ela estava ali.A menina a abraçou e depois olhou profundamente em seus olhos, segurou seu rosto.-Você aceitou? - Como Bárbara a olhava sem entender, ela continuou. - Casar com ele, você vai aceitar?-Não se preocupa filha, eu não vou mais a lugar algum, sem casamento e sem ficarmos longe uma da outra, est&aacMUERTE AMEAÇADA
Judith olhou cada uma das presentes, Barbara, Nansica, Anaya e Angela, se escorou confortável em sua cadeira, estavam a primeira e segunda sentadas em poltronas que puxaram de um canto próximo a janela, e as outras duas nas poltronas em frente a mesa.-Digam.-Eles levaram o Gui, porque pensam que ele facilitou meu sequestro, que Muerte está unida com Angela, e querem que a senhora entre na guerra ao lado deles, dizem que vão entregá-lo, como demonstração de boa vontade.Judith escorou o queixo na mão e pensou por alguns momentos, era uma situação complicada, mas aprendeu que nada neste mundo era insolúvel, algumas coisas eram apenas mais difíceis.-O que você acha Nansica?
Judith foi até o quarto da neta, ela estava escrevendo algo concentrada. Entrou e sentou em uma poltrona observando a menina.-Minha mãe foi embora novamente? - Niara não levantou a cabeça de seu caderno.-Não querida, sua mãe precisou trabalhar, mas em dois dias estará de volta. Você só precisa manter segredo quanto a visita dela e de Angela, Gael e Maria. Pode fazer isso por mim?-É sobre os negócios? - Judith a olhou apertando os olhos e ela deu de ombros baixando novamente a cabeça e voltando a escrever. - Eu sei que minha mãe faz coisas parecidas com o que a senhora faz vó, eu não me importo, quando crescer, minha tia Nansica vai me ensinar, eu vou trabalhar com ela, e com você.
Judith levantou cedo, tomou um banho e se vestiu com roupas leves, estava calor e sua manhã seria longa, precisava ficar confortável. Desceu as escadas e beijou o marido e a neta, que cantavam uma música de Nina Simone enquanto preparavam o café da manhã junto com as funcionárias. Niara arrumava uma xícara com café com leite, torradas e queijo em um prato, e frutas em um pote redondo de louça.-Você consegue levar? - Judith a olhou desconfiada ajudando a segurar a bandeja.-É claro vó, pode deixar, você vai lá também?-Vou daqui a pouco querida. Cuidado nas escadas. - Sorriu e sentou a mesa pesadamente, parecia cansada. - Onde está todo mundo?-Álvar
Bárbara achava divertido se imaginar vivendo outras vidas, sendo outras pessoas, em outras famílias, onde tudo era comum e aborrecido.Uma vida pacata, sim, como costumava imaginar que pessoas que passavam por ela nas ruas ou sentavam ao seu lado no balcão da padaria para tomar café, tinham. Um trabalho das 9 às 6, uma casa ou apartamento financiados, carro popular quando muito. Talvez um marido ou esposa, até alguns filhos, essa era a vida comum que às vezes imaginava para si.Ao mesmo tempo em que tinha esses pensamentos, ria de si mesma, jamais conseguiria levar uma vida comum, não com a “família” que tinha. Não, tudo o que poderia esperar em sua existência era caos e ação, turbulência incessante. Era a própria responsável por isso,