Chloë
Para Gabriel Sullivan, meu eterno quadro MultiColor.
Eu não sou de palavras e talvez essa carta seja mais ridícula e esdrúxula do que Fernando Pessoa esperava das cartas de amor. Contudo, guardo tanto desse sentimento dentro de mim que peço desculpas Gabriel Sullivan, mas decidi escrever para você.
Chloë(Rio de Janeiro)Minha cabeça girava enquanto eu submergia em um estado caótico entre o sono e a embriagues.Eu nunca bebia e testemunhas dirão que jamais haviam me visto chegar a essa hora em casa.Meu mundo dava voltas e meu estômago protestava. Eu provavelmente vomitaria a qualquer momento. Meu senso de direção estava totalmente afetado. O tecido suave do meu vestido roçava no jeans da jaqueta dele. Minha cabeça repousava em seu ombro enquanto ele me levava nas costas como eu costumava pedir para o meu pai me levar quando eu era criança. Suas mãos em minhas pernas, sujeitando-me firmemente contra si dando-me uma sensaç&a
ChloëUm ano antes...— O que você quer que eu faça Dora?! Não posso negar essa responsabilidade! Você acha que isso seria o ideal para a nossa família? Acha que poderíamos conviver com isso depois de simplesmente ignorar toda essa situação? Chloë— Estamos totalmente ferrados! O ambiente é um caos, as vezes parece a guerra fria. Meus pais quase não se falam. Tudo está uma maldita droga!Observei enquanto Jony abria o pacote de biscoitos recheados e levava um à boca, apoiando em seguida a cabeça nas mãos, bagunçando seus fios de cabelo loiro, antes perfeitamente penteados, em todas as direções.— Acho que as coisas apenas... Resultaram ser dessa maneira. Você terá que buscar a forma de conviver com isso.Encarou-me transtornado, fitando-me com seus translúcidos olhos azuis.— Chloë, essa é uma maneira muito distante de observar as Branco e negro
ChloëA semana não foi nada menos que intrigante e certamente desconcertante de muitas maneiras. Fingíamos não nos conhecer, e de fato era assim, embora eu soubesse exatamente quem ele era. Era o caos e a tempestade que havia caído inesperada e torrencialmente sobre a família de Jony. Ele era a pessoa que estava fazendo com que meu namorado estivesse passando por um momento difícil, era o segredo que sua família havia ocultado tão bem durante anos e que veio à tona da forma mais explosiva possível, ameaçando terminar com um casamento de anos. A senhora Sullivan havia suportado a traição do marido, havia concordado com o registro do filho
GabInsossa, insípida, maçante. Era absolutamente frustrante passar todas essas horas, cinco dias da semana, sentado ao lado de alguém que tinha absoluto fanatismo pela perfeição, alguém que não enxergava nada além de tons básicos.Observei sua camisa do uniforme perfeitamente passada, seu jeans caro na medida certa, seus cabelos soltos, dourados, longos e retos. Eles cheiravam a frutas e a shampoo.Seu gloss brilhava transparente sobre seus lábios cor de rosa. Seus olhos esverdeados lutavam por manter uma distância prudente de mim. Era engraçado observar como seu corpo tencionava diante de qualquer ínfimo movimento meu a
ChloëAcomodei a calça apenas para ocupar as mãos enquanto caminhava a sua frente visivelmente perturbada. Arrumei o moletom e subi seu zíper até o pescoço enquanto as nuvens cinza assomavam-se sobre nossas cabeças como si se aproximassem mais a cada passo.Não ousei olhar para trás para comprovar se ele estava seguindo meus passos. Eu desejava fortemente que não estivesse. Que tivesse desistido ou se distraído pelo caminho.Meu celular apitou no bolso do moletom pela quadragésima vez. Observei preocupada o histórico de mensagens que havia trocado com Jony desde o momento em que havia despertado aquele mesmo dia. Não podia culp&aa
ChloëPressionei o botão invisível na minha cabeça que me desligava, que respondia a comandos quase instintivos e que me levava para longe dali, mesmo que eu não estivesse me movendo em absoluto.Um quadro, uma estátua, uma obra de arte inerte que perderia sua beleza no futuro.Sua testa franziu e seus lábios formaram um meio sorriso curioso enquanto os flashes me cegavam e eu mantinha a expressão quase nula no rosto pintado. Havia uma mescla de dúvida e diversão em sua expressão que me fez sentir ainda mais incômoda enquanto ele se apoiava na parede e cruzava os braços sobre o peito, me observando sem dissimular.En
GabNão havia cor em seu rosto e a calça de moletom um pouco grande demais com o casaco que fazia jogo indicava sua falta de disposição para aquele dia.Eu também não me encontrava exatamente feliz. Espera ansiosamente que as horas passassem com a velocidade da luz e que jamais ocorresse a nenhum outro professor uma tarefa sem sentido como aquela.Se tivesse que passar por isso de novo no futuro reprovaria.Observei seu tênis Nike branco e o capuz por cima dos cabelos despenteados e ela me olhou como se pudesse atravessar meu crânio com tão somente uma mirada.— Você é um maldito galo? — Perguntou enquant