Chloë
Acomodei a calça apenas para ocupar as mãos enquanto caminhava a sua frente visivelmente perturbada. Arrumei o moletom e subi seu zíper até o pescoço enquanto as nuvens cinza assomavam-se sobre nossas cabeças como si se aproximassem mais a cada passo.
Não ousei olhar para trás para comprovar se ele estava seguindo meus passos. Eu desejava fortemente que não estivesse. Que tivesse desistido ou se distraído pelo caminho.
Meu celular apitou no bolso do moletom pela quadragésima vez. Observei preocupada o histórico de mensagens que havia trocado com Jony desde o momento em que havia despertado aquele mesmo dia. Não podia culp&aa
ChloëPressionei o botão invisível na minha cabeça que me desligava, que respondia a comandos quase instintivos e que me levava para longe dali, mesmo que eu não estivesse me movendo em absoluto.Um quadro, uma estátua, uma obra de arte inerte que perderia sua beleza no futuro.Sua testa franziu e seus lábios formaram um meio sorriso curioso enquanto os flashes me cegavam e eu mantinha a expressão quase nula no rosto pintado. Havia uma mescla de dúvida e diversão em sua expressão que me fez sentir ainda mais incômoda enquanto ele se apoiava na parede e cruzava os braços sobre o peito, me observando sem dissimular.En
GabNão havia cor em seu rosto e a calça de moletom um pouco grande demais com o casaco que fazia jogo indicava sua falta de disposição para aquele dia.Eu também não me encontrava exatamente feliz. Espera ansiosamente que as horas passassem com a velocidade da luz e que jamais ocorresse a nenhum outro professor uma tarefa sem sentido como aquela.Se tivesse que passar por isso de novo no futuro reprovaria.Observei seu tênis Nike branco e o capuz por cima dos cabelos despenteados e ela me olhou como se pudesse atravessar meu crânio com tão somente uma mirada.— Você é um maldito galo? — Perguntou enquant
ChloëCores...Tantas... Tão brilhantes... pareciam infinitas. Como se ao mesclar uma com a outra eu pudesse continuar criando cores novas que ainda não tinham nome, que ainda não tinham sido descobertas.Observei aquele pequeno lugar no mundo e uma sensação de nostalgia que jamais havia sentido antes me invadiu por completo. Era como se já tivesse estado ali antes, embora estivesse bastante segura de nunca ter pisado em um lugar assim.Minhas mãos estavam sujas de tinta, meus tênis abrigavam todo o tipo de mesclas e tons que eu jamais tinha usado antes. O pincel pendia entre meus dedos enquanto eu observava com estranheza aquela paisagem tão reconfortante a minha frente.
ChloëEu estava tremendo e não saberia dizer se era pela febre que obviamente começava a se apoderar do meu corpo ou se era o torpor que essa pergunta havia causado em ambos.— O que...— Sua expressão de desconcerto me atemorizou, como se não pudesse entender ou não quisesse entender tal pergunta. Seu semblante, até então ameno, se tornou sombrio e distante.Neguei antes que seus lábios pudessem completar a frase. O que eu tinha acabado de dizer? De onde tinha surgido essa sensação absurda?Gab me segurou pelo pulso e me arrastou até o quartinho nos fundos do restaurante a fim de evitar que nossa conver
GabNão sei por quanto tempo estive observando o teto do quarto como se ele contivesse a resposta do por que o cheiro do shampoo dela havia ficado impregnado em mim.Sei que foi tempo demais. Tanto tempo que a briga do meu pai com a esposa cessou. Tanto tempo que o som do Rip Rop rebelde vindo do quarto de Jony parou. Tanto tempo e eu ainda não tinha as respostas...Desfiz-me da roupa como se pudesse me livrar daquele cheiro a shampoo caro e entrei no chuveiro como se pudesse esquecer seus dedos trêmulos segurando o meu pulso naquele quarto escuro.Agradeci porque esse trabalho tão absurdo tinha terminado.Adormeci confiando nisso.  
ChloëNão sei como ele me encontrou ali. Eu não deveria ter saído de casa.Eu não deveria estar ali.Ele também não.Dei um passo incerto em sua direção sem me importar com ar fresco que a manhã levantava, sem me importar com a maquiagem pesada que levava no rosto, sem me importar com o short jeans da nova coleção primavera/verão mais curto do que o normal que deixava minhas pernas a amostra.Outro passo, enquanto os carros rugiam e o mar parecia nos convidar para uma última batalha.Outro passo, e seus olhos tão confusos e relutantes quanto os meus jamais
GabDeixei o garfo cair no chão de propósito e observei atento e satisfeito como o som do talher caindo sobre o piso quebrava o silêncio tenso e sufocante que a atmosfera em torno à mesa do jantar havia abrigado.Dora me observou enquanto cortava seu pedaço de bife perfeitamente cozido e eu poderia jurar que se ela tivesse o poder de me fulminar com apenas um olhar eu já não estaria vivo para observar a tensão que tomava conta também do corpo do meu pai enquanto ele mal conseguia levantar os olhos do prato a sua frente para enfrentar o clima na mesa.Covarde.Seus olhos cansados passearam entre o meu rosto e o rosto de Jo
ChloëJony me olhou como se eu tivesse ficado louca. Seus olhos azuis acinzentados refletiram um brilho estranho enquanto sua expressão se endurecia, ainda que o sorriso de segundos antes tivesse ficado paralisado em seus lábios.— Do que você está falando?— De dar um tempo. — Não desviei meus olhos dos dele. Embora tudo isso parecesse louco, eu não tinha a menor dúvida quanto a essa decisão.— De terminar? — A palavra escorregou amarga pelos lábios dele. Fechou as mãos com força em torno do seu copo descartável de suco. Seu maxilar se contraiu exatamente co