Gab
Não havia cor em seu rosto e a calça de moletom um pouco grande demais com o casaco que fazia jogo indicava sua falta de disposição para aquele dia.
Eu também não me encontrava exatamente feliz. Espera ansiosamente que as horas passassem com a velocidade da luz e que jamais ocorresse a nenhum outro professor uma tarefa sem sentido como aquela.
Se tivesse que passar por isso de novo no futuro reprovaria.
Observei seu tênis Nike branco e o capuz por cima dos cabelos despenteados e ela me olhou como se pudesse atravessar meu crânio com tão somente uma mirada.
— Você é um maldito galo? — Perguntou enquant
ChloëCores...Tantas... Tão brilhantes... pareciam infinitas. Como se ao mesclar uma com a outra eu pudesse continuar criando cores novas que ainda não tinham nome, que ainda não tinham sido descobertas.Observei aquele pequeno lugar no mundo e uma sensação de nostalgia que jamais havia sentido antes me invadiu por completo. Era como se já tivesse estado ali antes, embora estivesse bastante segura de nunca ter pisado em um lugar assim.Minhas mãos estavam sujas de tinta, meus tênis abrigavam todo o tipo de mesclas e tons que eu jamais tinha usado antes. O pincel pendia entre meus dedos enquanto eu observava com estranheza aquela paisagem tão reconfortante a minha frente.
ChloëEu estava tremendo e não saberia dizer se era pela febre que obviamente começava a se apoderar do meu corpo ou se era o torpor que essa pergunta havia causado em ambos.— O que...— Sua expressão de desconcerto me atemorizou, como se não pudesse entender ou não quisesse entender tal pergunta. Seu semblante, até então ameno, se tornou sombrio e distante.Neguei antes que seus lábios pudessem completar a frase. O que eu tinha acabado de dizer? De onde tinha surgido essa sensação absurda?Gab me segurou pelo pulso e me arrastou até o quartinho nos fundos do restaurante a fim de evitar que nossa conver
GabNão sei por quanto tempo estive observando o teto do quarto como se ele contivesse a resposta do por que o cheiro do shampoo dela havia ficado impregnado em mim.Sei que foi tempo demais. Tanto tempo que a briga do meu pai com a esposa cessou. Tanto tempo que o som do Rip Rop rebelde vindo do quarto de Jony parou. Tanto tempo e eu ainda não tinha as respostas...Desfiz-me da roupa como se pudesse me livrar daquele cheiro a shampoo caro e entrei no chuveiro como se pudesse esquecer seus dedos trêmulos segurando o meu pulso naquele quarto escuro.Agradeci porque esse trabalho tão absurdo tinha terminado.Adormeci confiando nisso.  
ChloëNão sei como ele me encontrou ali. Eu não deveria ter saído de casa.Eu não deveria estar ali.Ele também não.Dei um passo incerto em sua direção sem me importar com ar fresco que a manhã levantava, sem me importar com a maquiagem pesada que levava no rosto, sem me importar com o short jeans da nova coleção primavera/verão mais curto do que o normal que deixava minhas pernas a amostra.Outro passo, enquanto os carros rugiam e o mar parecia nos convidar para uma última batalha.Outro passo, e seus olhos tão confusos e relutantes quanto os meus jamais
GabDeixei o garfo cair no chão de propósito e observei atento e satisfeito como o som do talher caindo sobre o piso quebrava o silêncio tenso e sufocante que a atmosfera em torno à mesa do jantar havia abrigado.Dora me observou enquanto cortava seu pedaço de bife perfeitamente cozido e eu poderia jurar que se ela tivesse o poder de me fulminar com apenas um olhar eu já não estaria vivo para observar a tensão que tomava conta também do corpo do meu pai enquanto ele mal conseguia levantar os olhos do prato a sua frente para enfrentar o clima na mesa.Covarde.Seus olhos cansados passearam entre o meu rosto e o rosto de Jo
ChloëJony me olhou como se eu tivesse ficado louca. Seus olhos azuis acinzentados refletiram um brilho estranho enquanto sua expressão se endurecia, ainda que o sorriso de segundos antes tivesse ficado paralisado em seus lábios.— Do que você está falando?— De dar um tempo. — Não desviei meus olhos dos dele. Embora tudo isso parecesse louco, eu não tinha a menor dúvida quanto a essa decisão.— De terminar? — A palavra escorregou amarga pelos lábios dele. Fechou as mãos com força em torno do seu copo descartável de suco. Seu maxilar se contraiu exatamente co
GabSua caneta preta desenhava cada letra com precisão enquanto seus olhos passavam rapidamente do quadro a seu caderno uma e outra vez.Movia-se ao meu lado como quem desconhece a presença de outra pessoa ali.O curativo em sua mão não passou despercebido nem tampouco os olhares dissimulados de Jony em sua direção, cuidando cada movimento seu como quem espera uma oportunidade.Com um baque em minha mesa, Lorena apoiou um pequeno bilhete sobre meu caderno com um número escrito com caneta rosa e uma estrelinha ao lado. Sua expressão demonstrava um leque de emoções confusas que eu atribuí ao fato de eu não te
GabDora estava bêbada.Tirou os sapatos apoiando-se nas paredes enquanto avançava lentamente pela sala, as unhas grandes pintadas de vermelho contrastando com as paredes perfeitamente brancas do seu aparamento luxuoso. Os olhos semifechados, o lápis de olho escorrendo escuro como olheiras profundas sob seus olhos.Encarou-me e sorriu. Um sorriso estridente e histérico enquanto se arrastava tropeçando com os próprios pés na minha direção. Sua risada converteu-se em um grito abafado e logo em um choro desesperado enquanto com um último passo titubeante me alcançava.Estendi os braços em sua direç&atild