Chloë
Eu estava tremendo e não saberia dizer se era pela febre que obviamente começava a se apoderar do meu corpo ou se era o torpor que essa pergunta havia causado em ambos.
— O que...— Sua expressão de desconcerto me atemorizou, como se não pudesse entender ou não quisesse entender tal pergunta. Seu semblante, até então ameno, se tornou sombrio e distante.
Neguei antes que seus lábios pudessem completar a frase. O que eu tinha acabado de dizer? De onde tinha surgido essa sensação absurda?
Gab me segurou pelo pulso e me arrastou até o quartinho nos fundos do restaurante a fim de evitar que nossa conver
GabNão sei por quanto tempo estive observando o teto do quarto como se ele contivesse a resposta do por que o cheiro do shampoo dela havia ficado impregnado em mim.Sei que foi tempo demais. Tanto tempo que a briga do meu pai com a esposa cessou. Tanto tempo que o som do Rip Rop rebelde vindo do quarto de Jony parou. Tanto tempo e eu ainda não tinha as respostas...Desfiz-me da roupa como se pudesse me livrar daquele cheiro a shampoo caro e entrei no chuveiro como se pudesse esquecer seus dedos trêmulos segurando o meu pulso naquele quarto escuro.Agradeci porque esse trabalho tão absurdo tinha terminado.Adormeci confiando nisso.  
ChloëNão sei como ele me encontrou ali. Eu não deveria ter saído de casa.Eu não deveria estar ali.Ele também não.Dei um passo incerto em sua direção sem me importar com ar fresco que a manhã levantava, sem me importar com a maquiagem pesada que levava no rosto, sem me importar com o short jeans da nova coleção primavera/verão mais curto do que o normal que deixava minhas pernas a amostra.Outro passo, enquanto os carros rugiam e o mar parecia nos convidar para uma última batalha.Outro passo, e seus olhos tão confusos e relutantes quanto os meus jamais
GabDeixei o garfo cair no chão de propósito e observei atento e satisfeito como o som do talher caindo sobre o piso quebrava o silêncio tenso e sufocante que a atmosfera em torno à mesa do jantar havia abrigado.Dora me observou enquanto cortava seu pedaço de bife perfeitamente cozido e eu poderia jurar que se ela tivesse o poder de me fulminar com apenas um olhar eu já não estaria vivo para observar a tensão que tomava conta também do corpo do meu pai enquanto ele mal conseguia levantar os olhos do prato a sua frente para enfrentar o clima na mesa.Covarde.Seus olhos cansados passearam entre o meu rosto e o rosto de Jo
ChloëJony me olhou como se eu tivesse ficado louca. Seus olhos azuis acinzentados refletiram um brilho estranho enquanto sua expressão se endurecia, ainda que o sorriso de segundos antes tivesse ficado paralisado em seus lábios.— Do que você está falando?— De dar um tempo. — Não desviei meus olhos dos dele. Embora tudo isso parecesse louco, eu não tinha a menor dúvida quanto a essa decisão.— De terminar? — A palavra escorregou amarga pelos lábios dele. Fechou as mãos com força em torno do seu copo descartável de suco. Seu maxilar se contraiu exatamente co
GabSua caneta preta desenhava cada letra com precisão enquanto seus olhos passavam rapidamente do quadro a seu caderno uma e outra vez.Movia-se ao meu lado como quem desconhece a presença de outra pessoa ali.O curativo em sua mão não passou despercebido nem tampouco os olhares dissimulados de Jony em sua direção, cuidando cada movimento seu como quem espera uma oportunidade.Com um baque em minha mesa, Lorena apoiou um pequeno bilhete sobre meu caderno com um número escrito com caneta rosa e uma estrelinha ao lado. Sua expressão demonstrava um leque de emoções confusas que eu atribuí ao fato de eu não te
GabDora estava bêbada.Tirou os sapatos apoiando-se nas paredes enquanto avançava lentamente pela sala, as unhas grandes pintadas de vermelho contrastando com as paredes perfeitamente brancas do seu aparamento luxuoso. Os olhos semifechados, o lápis de olho escorrendo escuro como olheiras profundas sob seus olhos.Encarou-me e sorriu. Um sorriso estridente e histérico enquanto se arrastava tropeçando com os próprios pés na minha direção. Sua risada converteu-se em um grito abafado e logo em um choro desesperado enquanto com um último passo titubeante me alcançava.Estendi os braços em sua direç&atild
ChloëO vento soprou fresco vindo de uma das janelas do corredor no exato momento em que passei a seu lado e entramos juntos na sala de aula. O cheiro do seu perfume doeu e confortou meu coração ao mesmo tempo. Depois de tudo, ele ainda estava ali mesmo que a breve conversa da noite anterior me tivesse feito acreditar que ele desapareceria a qualquer segundo, tão inesperadamente quanto havia aparecido.Mordi o lábio inferior e tentei ignorar os olhares maliciosos de Lorena em sua direção. O que eu poderia fazer? Não era como se aquele beijo tivesse mudado tudo para ele, embora muito antes disso ele tivesse mudado tudo pra mim.Sentamos lado a
GabUm sorriso sincero estendeu-se por seus lábios e iluminou seu rosto, iluminou seus olhos, coloriu os meus de verde. Alguns fios de cabelo dourado escaparam da trança frouxa com a qual ela os havia atado e seu rosto corou um pouco enquanto os raios de sol que entravam pela janela da sorveteria faziam o sorvete em sua mão derreter.Inclinou-se na minha direção sobre a mesa de plástico e estreitou os olhos como quem planeja algo perigoso.— Escolhe um número de um a cinco.Sorri pegando um guardanapo e o colocando em sua mão. Dei de ombros enquanto seus olhos me observavam expectantes.— Dois.— Ok. — Levantou-se de um salto, colocou a mochila na