Naquela manhã de quarta-feira, a chuva parecia querer descer do céu com toda força do mundo, mas para a sorte da garota sorridente que terminava de colocar o último casaco dentro da mala e fechá-la, aquela seria talvez a última chuva que pegaria na cidade onde nasceu e cresceu ao lado de seus pais e seu irmão mais velho que provavelmente chegaria atrasado para sua despedida, o que não era nada assustador.
Encarou o quarto agora vazio, já tinha ouvido que sua mãe transformaria aquele espaço num glorioso closet. Do seu pai que montaria uma academia para não ter que sair de casa, e do seu irmão que transformaria em uma sala de jogos. O importante de tudo isso é que ela não estaria aqui quando os três descobrissem que fizeram planos para o mesmo espaço.
Colocou seu top dos sonhos se olhando no espelho. Gostou do viu. Os seios medianos ficavam mais expostos, além da tatuagem que fez no último dia de aula com seus amigos realçava bem entre os seios apenas para lembrar o quanto foi corajosa em escolher uma parte tão dolorosa para colocar uma linda coroa. A coroa de uma linda rainha que lutou todo o ensino fundamental e médio para se preparar justamente para aquele dia, e finalmente triunfar com grandeza.
Poderia dizer mais sobre o quanto estava ansiando para aquele dia?
Colocou seu short verde claro assim como seus olhos, mostrando a todos que não estava naquela cidade para brincar. As botas pequenas eram seu maior charme, lhe acompanharam na maior parte de sua caminhada e claro que não iria deixa-las para trás. E depois de soltar os cabelos que mal chegavam aos ombros, estava pronta para brilhar.
— Ivy! - A moça encarou os olhos de sua mãe no espelho e sorriu animada se virando para vê-la melhor. Colocou as mãos na cintura mostrando seu look perfeito mais animada. — Aqui ainda faz frio. Se acha que consegue chegar ao aeroporto com essa roupa, boa sorte. - Entrou no quarto apenas para abraçar novamente a filha que lhe deixaria em breve — Já estou morrendo de saudades suas, tem mesmo que ir?
— Ah quem você quer enganar? - Se afastou para vê-la enxugar as lágrimas falsas no canto de seus olhos — Você está apenas esperando eu sair por aquela porta para começar a preparar esse quarto. E está há anos esperançando meu irmão sair para também se ver livre dele. Como você consegue fingir tão bem?
— Estou tentando ser uma boa mãe para depois não sair por ai dizendo que foi expulsa de casa e com uma semana sua mãe transformou seu quarto num closet charmoso com tudo que o dinheiro pode comprar. - Contou indo até a janela para procurar qualquer sinal do filho que novamente estaria atrasado. — Eu estou feliz que esteja indo seguir seus sonhos e melhor, para a faculdade que sempre quis, mas não posso deixar de sentir que está indo para muito longe e passarei muito tempo sem te ver.
— Ah mamãe - Se aproximou da mulher lhe abraçando por trás. Uma das coisas que nunca esqueceria seria o cheiro de lavanda que a mulher possuía, era como se fosse o cheiro de casa, e se pudesse levava consigo. Mas a ideia de sair de casa, de crescer longe, fazer uma faculdade, um estagio ganhar seu próprio dinheiro, conhecer novas pessoas era tão mais intensa que mal conseguia esconder o sorriso de felicidade. — Eu vou sentir sua falta também, e podemos nos falar todos os dias.
— Claro que vamos nos falar todos os dias porque é logico que eu preciso reclamar do seu pai todos os dias. E quem mais precisa ouvir isso além de você? - Sorriu de lado ouvindo a risada de sua filha. — E também quero que você conte tudo o que lhe acontecer. Desde o momento em que acordar até a hora de dormir. Eu não quero que você passe o tempo todo chorando como fazia no ensino médio. Lembre-se que agora você é uma mulher adulta e eu te criei para erguer a cabeça e seguir em frente.
— Ah, isso eu vou fazer. E claro que não vou sair por aí chorando porque estou livre. Livre do Apollo Kade e do seu bullying. - Voltou para suas malas, deu uma última olhada no espelho arrumando seu cabelo para trás da orelha — Mas nesta manhã, não vamos lembrar desse filho de uma mãe, que me fez raiva tanto tempo. Não vejo a hora de ir embora e nunca mais ter que olhá-lo, finalmente.
— Ah minha filha. Você também precisa superar o Apollo. - Ivy revirou os olhos — Você já devia ter reparado melhor, talvez ele faça isso apenas para chamar sua atenção. Toda garota iria querer se aproximar daqueles braços cheios de músculos, e tocar naquele cabelo que b**e no meio das costas, cada fio mais negro que o outro. - A mais nova revirou os olhos buscando sua mochila — E sem contar que quando ele subia naquela moto, ficava um charme. Você sabe quantas garotas eu vi aqui no jardim o pedindo para ir ao baile com elas?
— Eu não sei. E na verdade ninguém sabe por que ele também destruiu a noite do baile. - Parou no meio do quarto puxando todo o ar para dentro dos pulmões, queria se acalmar e não lembrar que na noite em que achou um par perfeito, que estava linda dentro de um vestido rosa, a sua música preferida tocando no fundo, e sem nenhum sinal do Apollo para tirar alguma graça com ela, daria o seu primeiro beijo. Sim, o seu primeiro beijo porque nenhum garoto se aproximava dela depois de tanta palhaçada do seu inimigo. E bem naquela hora, onde seu sangue gelou, o coração disparou… Tudo se apaga, o desespero no peito de todo mundo ali dentro daquele salão ataca.
Ele tinha acabado com tudo.
— Enfim, vamos descer, se o Adam não chegar a tempo, tudo bem. - Pegou o resto de suas coisas com sua mãe ajudando e saíram do quarto. Puderam ouvir algumas risadas vindas da sala e logo encontraram o pai sentado no sofá assistindo outra de suas séries preferidas. Quem via assim, nem parecia que estava preocupado com sua única filha tomando o rumo pra fora DA CIDADE.
Adam não chegou a tempo de pegá-la em casa, mas lhe encontrou ainda no aeroporto. Apesar de já ter avisado que não sairia de casa tão cedo, ele era um garoto responsável, trabalhava em qualquer lugar além de pagar sua faculdade com as tripas e o coração. Tinha ajuda dos pais? Claro que sim, mas quase nunca corria para o colo deles. O abraço apertado naquele momento significou muitas coisas. Era uma despedida, uma forma de mostrar que mesmo distante eles estaria juntos, porque irmãos eram isso; poderiam está a quilômetros de distância, mas eles sempre estariam juntos, seja numa mensagem rápida ou uma ligação de ajuda.
— Boa sorte, e se alguém te irritar, espera ao menos para saber se você conseguira ganhar numa briga - murmurou ao desfazer o abraço fazendo Ivy sorrir. Tá certo que ela sempre foi uma garota estressada, mas as pessoas tinham que entender que ela só se estressava quando Apollo aprontava consigo. Revirou os olhos.
— Não se preocupe. Não vou arrumar briga. Sou uma nova mulher. - Avisou contente, porque de fato estava indo para sua nova vida, e uma nova mulher pousaria em Valcolink onde todos os dias o sol fazia questão de brilhar e dar luz a todas as pessoas boas e quando a noite chegava a lua vinha trazendo um frio incomum.
— Imagino bem, o total desastre que vai chegar naquela cidade. - O irmão se despediu e depois de outros abraços em sua família, ela finalmente deu as costas para ir embora sem nenhuma lágrima no rosto.
Alguém em algum lugar a julgaria por querer, querer muito, desesperadamente sair da sua cidade e de perto da sua família, mas muitos outros iriam entender a sua felicidade de sentar naquela poltrona sem arrependimento nenhum. Seus amigos entendiam a necessidade de conhecer o mundo, sua família também, então não tinha porque se arrepender ou se sentir culpada.
O voou durou quase cinco horas e a viagem foi glamorosa; dormiu e acordou, postou em todas as redes socais sobre sua linda viagem e pousou de madrugada na cidade dos seus sonhos onde o sol já nascia.A cada passo que dava pelos corredores do aeroporto, o coração acelerava, a ansiedade de gravar cada momento e nunca mais esquecer era inevitável. Quando as últimas portas se abriram, avistou várias pessoas com placas e até casais se encontrando. Certeza que aquela cidade era mais do que amada por todos.Logo avistou seu nome numa placa, conhecia bem aquele rosto de todas as fotos que recebeu. Foi se aproximando devagar admirando a beleza de Madison Diaz que pessoalmente era duas, três até umas dez vezes mais linda.Correu para abraçar a mulher que fora recebida da mesma forma. Conversava com Madison há um tempo e foi uma das pessoas que mais lhe deu forças para viajar desde que soube da faculdade. Estudariam juntas direito.— Finalmente você chegou. Confesso que estava tão ansiosa. Pare
Ivy concordou e contou novamente o quanto estava animada para viver cada coisa com calma. Trouxe suas malas para o quarto com ajuda de Amber e Madison que não desgrudaram de si nem por um segundo. Teve ajuda das garotas para arrumar suas roupas e alguns acessórios que acabou trazendo, como quadros de fotos de sua família e suas maquiagens que não era poucas.Quando ela pensou em fazer mudança, sabia que não podia levar tudo do seu quarto, mas pelo menos metade das coisas ela fez questão de socar dentro de seis malas e trazer. Suas roupas ela não deixaria, sapatos que chorou meses para seu pai comprar muito menos.Tudo virou uma questão de colocar dentro de uma mala. Ali, aproveitou para conhecer o quarto das garotas que eram claramente mais equipados, depois de anos vivendo ali, claro que tudo estaria perfeito. Prometeu fazer a mesma coisa. O aluguel do apartamento era baixo e tinha amigos e tudo mobilhado.Seus pais pagariam o primeiro ano e enquanto eles não desistiam disso, guardar
Atravessou todo o restaurante que tinha achado bonito, tinha o mesmo cheiro da casa da vizinha. Achou que poderia ir ali mais vezes quando sentisse saudades de casa, nem em um milhão de anos ele imaginaria ver Ivy sentadinha naquela cadeira com seu cabelo jogado para o lado mostrando aqueles peitos bonitos. — Se concentra - mandou para si mesmo. A encontrou do lado de fora, escrevia alguma coisa no celular. Apollo riu se aproximou o suficiente para lhe tomar o aparelho e conseguir aqueles olhos verdes em sua direção. — Perdeu garota!— Ah não. - Ivy bateu o pé virando para o outro lado. Não queria ter que olhar para ele. — Porque você sempre estraga tudo? Quando meu Deus, eu vou parar de ser castigada por esse filho do demônio? ESSA PRAGA!— Eu não sou tão ruim assim, garota - Ivy virou para ele rapidamente. — Me desculpa! Mas eu não sabia que encontraria você por aqui, e se estamos com as mesmas pessoas, certamente estamos também no mesmo apartamento, e prédio e faculdade. - Cruzou o
— Então é ela? - Jones perguntou pela terceira vez enquanto olhava o rosto do novo amigo no banco de trás. Abriu um sorriso passando o cinto pelo corpo e voltou a Apollo, poderia ver o rosto sem o brilho da manhã quando chegou cheio de esperança, e agora estava emburrado e estressado. — É sério, é a sua garota? - Olhou para fora vendo que as garotas também ainda não tinham saído do lugar.— Ela não é a minha garota. - Murmurou descontente encarando ao longe os olhos verdes da menina que particularmente o irritava só de estar no mesmo espaço, o irritava porque ela era a única que não queria nada com ele. — Ela não é a minha garota. - Repetiu.— Tá. Engraçado que você mencionou o nome dela quatro vezes desde que chegou e falou que sentiria falta da garotinha que deixou na sua cidade antiga porque gostava de irritar ela ao máximo e vê-la surtar ao seu lado. - Jones sorriu ligando o carro — A melhor parte é saber que você gosta dela, mas ela não sabe disso, o que te custa contar a verdade
Naquela noite quando voltou ao quarto, Apollo sabia que tudo tinha dado errado. Sim, sim, sim.Alguma coisa tinha sim, dado errado, tipo… TUDO.Jogou a jaqueta em cima da cama olhando pra suas malas fechadas esquecidas ali e tudo pra arrumar. Sentou sobre o colchão passando a mão pelos cabelos negros e compridos. Já vinha treinando a parte de fingir não gostar dela, e até tinha feito terapia no verão, mas se afastar era a melhor solução uma vez que Ivy Olivares odiava sua cara. Ele fez de tudo para se mudar e começar uma vida nova.Tinha conseguido um quarto legal num apartamento bacana com um pessoal que podia andar sem ser preso.Seus amigos ficaram tristes, mas ele estava trilhando o caminho que tinha que seguir.Gostar de uma pessoa não é algo natural, ainda mais quando o amor não era reciproco e por conta disso aprontou de tudo um pouco. Gostava de como ela surtava e começava a gritar com ele. Mas quando o fim do ano estava se aproximando, ele percebeu que não ia mais poder tortu
À noite, o frio não queria dar trégua ou paz a ninguém.Sua moto estacionou em frente à casa que conhecia apenas por fotos. Tirou o capacete tentando buscar no fundo da sua alma se estava fazendo certo.Mas é claro que estava.Quem quer se independente faz de tudo um pouco, né?E se no momento teria que ralar um pouco mais enquanto tirava a camisa, que mal faria?Desceu da moto deixando o capacete de lado a fim de pensar melhor no que estava fazendo. Esperava que ninguém o visse ali, pelo menos ninguém que ele conhecesse de verdade.Não precisou tocar a campainha, pois assim que ergueu a mão, a porta foi aberta revelando seu pai, com uma barba e o corpo coberto de tatuagens. Ah sim, aquele era o homem que se lembrava muito bem em sua infância com um sorriso cínico nos lábios e o olhar de quem estava prestes a cometer um crime.Não era de se esperar que sua mãe houvesse largado um psicopata como Athilas Kade.— Meu filho - abraçou o garoto já trazendo para dentro — Senti sua falta. Con
Não era nem cinco da manhã quando Ivy saltou da cama pronta para começar o dia vibrando. Arrumou os lençóis, procurou por suas coisas e tudo que iria precisar naquela manhã. Olhou para o lado de fora e a visão do prédio ainda era uma das coisas mais lindas do mundo.Pegou sua toalha pronta para atravessar aquele corredor sem ninguém lhe ver, mas perdeu para Josh que subia as escadas aparentemente chegando naquele momento.— Acordada tão cedo? Nem dar para esconder que você é caloura. Ninguém acorda uma hora dessas para se arrumar - Avisou para a outra e parou ao lado dela, Ivy riu mais. Josh era um pedaço de mau caminho e sem camisa parecia que tudo dentro de si queimava, apenas o olhando.— Eu sempre acordei cedo para me arrumar, e ter que dividir o banheiro com mais cinco pessoas me ajuda e acordar mais cedo ainda - Avisou continuando a andar e Josh a seguiu.— Todas as vezes que tiver que entrar nesse banheiro e, eu estiver lá dentro, não hesite, entre e faça tudo que quiser, não v
As fortes impressões de um primeiro dia de aula na faculdade são as que ficam para sempre durante todo o período de estudo, e com Apollo não seria diferente.Não é todos os dias que alguém, em especial as garotas, veem um homem de quase dois metros atravessar as portas da faculdade com seu cabelo negro amarrado para trás, os olhos brilhando. Mostrando um ar de badboy com sua camisa simples e uma calça jeans surrada. Apollo por si só, chamaria atenção em todos os corredores que fosse andar.Mas combinando ao lado de Josh, um dos garotos mais populares da faculdade e Jones que vinha logo atrás, deixava o trio bastante famoso para os primeiros horários daquela manhã. As salas foram enchendo enquanto o novato procurava o lugar certo para sentar. Ele nunca foi o tipo de garoto que sentava na frente, mas não escutar nada das garotas nos bancos de trás também não era uma coisa legal. O meio era seu lugar perfeito e não tinha quem lhe tirasse.As aulas foram correndo bem, embora as apresentaç