Sete

À noite, o frio não queria dar trégua ou paz a ninguém.

Sua moto estacionou em frente à casa que conhecia apenas por fotos. Tirou o capacete tentando buscar no fundo da sua alma se estava fazendo certo.

Mas é claro que estava.

Quem quer se independente faz de tudo um pouco, né?

E se no momento teria que ralar um pouco mais enquanto tirava a camisa, que mal faria?

Desceu da moto deixando o capacete de lado a fim de pensar melhor no que estava fazendo. Esperava que ninguém o visse ali, pelo menos ninguém que ele conhecesse de verdade.

Não precisou tocar a campainha, pois assim que ergueu a mão, a porta foi aberta revelando seu pai, com uma barba e o corpo coberto de tatuagens. Ah sim, aquele era o homem que se lembrava muito bem em sua infância com um sorriso cínico nos lábios e o olhar de quem estava prestes a cometer um crime.

Não era de se esperar que sua mãe houvesse largado um psicopata como Athilas Kade.

— Meu filho - abraçou o garoto já trazendo para dentro — Senti sua falta. Continua tão bonito quanto à última vez que o vi, com certeza puxou a mim na beleza. - Se afastou ainda o encarando nos olhos — Como tem passado?

— Muito bem graças a minha mãe. E ela está bem, obrigado por perguntar. - Falou deixando de encarar aquele homem para estudar a casa onde entrou. O lugar era espaçoso com uma decoração sombria, será que seu pai havia entrado para o mundo sombrio agora estando casado com outra mulher? Rodeou toda a sala com os olhos avaliadores antes de voltar ao homem que já chegava perto dos estofados.

— Não precisa ser tão duro, você que não quis vir morar conosco, te chamo há anos. Ainda bem que pelo menos decidiu fazer faculdade aqui, essa cidade é maravilhosa, você vai gostar. - Serviu dois copos de vodka oferecendo um a Apollo que pegou e cheirou — É a minha preferida.

— E eu estou dirigindo - devolveu ao homem ainda andando pela sala — O que você anda fazendo para ganhar tanto dinheiro além dessa tal boate? Ou melhor, eu acredito que quem tem é a minha madrasta.

— E você falou certo. - A terceira voz veio carregada de prazer e desejo, tudo ao mesmo tempo, uma mulher apareceu revelando um sorriso mais deslumbrante mostrando que não estava ali para brincar, com os lábios pintados de vermelho e um vestido sensual, desfilou até o marido recebendo o copo que outrora fora rejeitado — E você é mais bonito que nas fotos que seu pai mostrou. Devo agradecer aos deuses por isso?

Apollo olhou da mulher para o pai. Ele certamente não encontraria coisas comuns como sua mãe, que era uma mulher calma e feliz vivendo em sua casa normal, e não naquele show de horrores.

Embora a sua nova esposa fosse de todo bonita, sensual. Afinal, dentro de vestidos longos e de cetim qualquer mulher fica exuberante, não é? Sentou no outro sofá de frente para o casal que grudou e não se afastou.

— Obrigado por me achar bonito. Devo essa honra ao meu pai, ao menos uma coisa boa ele me deu - falou e sorriu no final, trazendo finalmente os olhos de sua madrasta para si. — Como vai rolar as coisas?

— Eu tinha um dançarino muito lindo, tão lindo que acabou encantando uma mulher muito importante na nossa cidade, uma mulher tão importante que achou que não poderia mais dividir seu dançarino preferido com as outras mulheres. E resolveu leva-lo do meu clube.

— Você vendeu o garoto? Vender pessoas não é crime? - Relatou aos dois que reviraram os olhos e Athilas levantou para buscar mais bebida — Em todo caso, como eu entro nessa história? Você disse que tinha um plano, quer que eu sirva as pessoas? Eu não tenha paciência para isso.

— Não se faça de inocente, sempre soube que tínhamos a boate e ela sempre nos deu muito dinheiro - Ele apenas concordou. Dizia a todos que era um simples bar, não uma boate de stripper cheia de homem dançando pelado. — Com a saída dele, e para deixar claro ele pediu a conta, e se foi seguindo a mulher que o bancará para o resto da vida, você ficará no lugar. Temos um número exclusivo de stripper e as mulheres adoram, sabem de todos eles. E ter um novato em minhas mãos é tão bom. - Falava com entusiasmo. — Você trabalha depois das dez da noite, entra, dança, curte, bebe, seduz algumas garotas e depois vai pra casa, lá pelas três da manhã. Dá tempo de chegar ao seu novo apartamento, e também de ir para a aula.

— Só dançar e depois ir embora? - Apollo sorriu, gostava de dançar e exibir seu corpo.

— Você também pode dormir com qualquer mulher desde que elas paguem, e quando uma mulher exige um cara, ela paga até o triplo que eu ofereço. Ah, mulheres desesperadas para serem tocadas vão ao extremo. - debochou a madrasta ao lado do marido, Apollo revirou os olhos.

— Não tenho interesse em dormir com mulher nenhuma dentro da boate, se é para dançar tirar a camisa e a calça, eu tiro e danço, mas não vou dormir com nenhuma mulher, não importa o quanto peçam.

— Uma hora você vai ceder, porque o dinheiro corrompe as pessoas mais do que imagina. Mas ainda é uma escolha totalmente sua. - A madrasta avisou, logo levantou tirando de sua bolsa um pequeno papel e colocou na mesa, empurrando em direção a Apollo que pegou na mesma hora — Esse é valor que você começa ganhando. Todo dançarino tem uma personalidade, você pode criar a sua e dependendo da sua fama dentro do clube, vai ganhando alguns extras.

— Eu acho que isso está de bom tamanho - E estava mesmo, com a quantia no papel poderia pagar o apartamento além da faculdade e ainda sobrava dinheiro para sair para onde quisesse… Olhou para a mulher — Tem outra coisa; não quero que digam meu nome.

— Como é? - Athilas voltou ao sofá — Claro que quero dizer seu nome. É meu filho dançando no palco.

— Mas é claro que ninguém vai saber disso, nem a minha mãe - Ficou sério — Eu vim estudar e pretendo não me expor, o que o pessoal da faculdade vai ficar pensando? E eu moro com uma criatura insuportável que conhece a minha mãe. Quero manter minha identidade.

— Isso é um saco, poderia ser rodeado de mulheres dentro e fora do clube.

— Mas também pode ser uma boa ideia. Toda mulher gosta de algo que não pode ter. Poderiam tocar em seu corpo, e exigir a identidade, mas será que vão mesmo descobrir um dia? Isso iria trazer lucros, e todas as noites elas iriam se fartar achando que será a noite da descoberta. Eu gostei. - Levantou andando pela casa, Apollo encarou o pai novamente quase correndo da casa.

O que mais tinha na mente daquela mulher?

— Ela não é incrível? - Apollo negou só balançando a cabeça, incrédulo - Tem ideias ótimas. Eu amo essa mulher.

— Isso aqui - ela voltou trazendo uma pequena caixa, Apollo levantou para receber e abriu na mesma hora. Se assustou com o objeto, mas gostou. A máscara cobriria todo seu rosto, mas não os olhos, nem os lábios carnudos e rosados que possuía. — Eu deixaria você dançar só com isso - Apollo a olhou novamente, ELE TINHA QUE IR EMBORA! — O seu pai fez isso um dia.

— Já deu. Eu vou embora - pegou a caixa e deu adeus.

Sério, não iria suportar viver um segundo naquela casa com aqueles dois. A melhor ideia que teve quando mudou de cidade foi procurar um apartamento bem longe das garras de seu pai.

Quando voltou ao apartamento, entrou olhando tudo ao redor, podia ouvir os múrmuros das garotas fazendo alguma coisa na cozinha e sorriu para elas quando lhe convidaram para jantar. Deixou suas coisas perto das escadas já chegando à cozinha. Encarou cada uma reparando que Ivy não estava por perto, será que também tinha saído?

Mas saído com quem?

— Achei que estivesse com o Josh, ele saiu depois que chegamos da praia e não voltou. Amanhã é o nosso primeiro dia de aula… - Madison comentou sentando ao lado de sua amiga, Apollo em sua frente — Mas não se preocupe, a gente não fica regulando a hora que você sai ou entra nesse apartamento.

— Ainda bem, consegui um emprego com meu pai. - Avisou e escutou perfeitamente quando outra porta bateu. A visão de Ivy descendo as escadas com um pijama curto o deixou em silêncio por alguns minutos, aquele cabelo curto era sexy demais, além das pernas bronzeadas, voltou a encarar as meninas. — Todas as noites.

— Ah, e no que você vai trabalhar? Conta para a gente. - Amber pediu, já servindo o prato de Ivy que mesmo não querendo, acabou sentando ao lado de Apollo no único lugar vazio.

— A minha madrasta tem um bar, e eu vou trabalhar como garçom. - Avisou as outras e olhou para Ivy que o ignorava completamente.

— Isso é bom, ser garçom nessa cidade é um estouro, muitos bares e quase nunca um para nos atender - Madison reclamou.

— Mas também, ser servida por um garçom como você é um fetiche que eu quero realizar, por favor, depois nos diga onde é, farei questão de gastar todo meu dinheiro lá. - Amber não escondeu o desejo, apenas jogou entre eles e todos riram na mesa, menos Ivy. — E você, Ivy? Tudo bem?

— O que? - olhou para todos — Estou. Por quê?

— Coma bastante. Sei que vai trabalhar de tarde e quase não teremos tempo para nos ver. Mas você vai ter que se alimentar muito bem, não quero ninguém passando mal. - Madison começou — Não vai na corda do Josh de só tomar suplementos e suplementos que não vão te ajudar a se manter de pé, entendeu? - Ela assentiu. — Agora coma.

— Calma, não quero engodar, ainda quero manter esse corpo.

— Que corpo? - Apollo perguntou, chamando atenção primeiramente das garotas e demorou, mas ela o encarou ao lado — A faculdade é o lugar certo para você finalmente poder criar esse corpo, alguém tem que querer ele para finalmente… - Sorriu de canto fazendo todas rir um pouco mais.

Aquela troca de olhares, além do sorriso dele em direção a ela… A pergunta é: COMO ELA AINDA NÃO TINHA NOTADO?

Ivy respirou fundo antes de qualquer coisa, então sorriu o encarando mais firme.

— Engraçado ouvir isso vindo do homem que babou a tarde toda justamente NESSE corpo - apontou para si fazendo o homem calar a boca, já largando colher e todo tipo de pensamento que passou na cabeça porque nera possível que ela tinha notado seus olhares? ELA NUNCA NOTA QUANDO ELE A OLHA. — Me disseram uma vez que, tudo que a gente não consegue ter, a gente quer destruir. Será que se isso se aplica a você, Apollo?

Amber e Madison se entreolharam e voltaram ao “casal” que ainda se olhavam como se fossem avançar um no outro, mas para coisas totalmente diferentes. Enquanto Ivy com certeza arranharia a cara de Apollo, ele a agarraria.

— Não quero começar essa discussão a essa hora da noite, deve ser muita coisa para você digerir de uma vez - Levantou pegando seu prato — Eu vou jantar lá em cima, não quero ser devorada pelos olhos de desejo do Apollo.

 — Que desej...? - Quase se engasga — Eu não gosto de você não, sua virgem mal amada. - Gritou enquanto a via subir as escadas sem lhe dar importância. Voltou para as garotas que olhava prontas para começar a rir. — Eu não gosto dela, tá bom? Não gosto.

— Você tem certeza disso? - Amber perguntou fazendo o outro rir em deboche.

Abaixou a cabeça;

Pegou a colher;

Parou de ri;

Voltou a olhar as meninas;

— Não gosto não - Confirmou virando a cara.

— É… Então tudo bem - Voltaram rir. — A gente acredita.

Apollo se juntou as risadas. Ele não sabia mentir tão bem.

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