— Não tenho medo de você, senhor gatinho mal-educado. Seja querido e curta o banho. Aposto que depois vai me agradecer. Afinal, quem não ama tomar um banho morno e depois deitar numa cama quentinha?Suspirei, levando o gato para o banheiro. A única coisa que me restava era ocupar-me, para não pensar nas porras que a minha cabeça insistia em trazer-me à tona.Pus o gato no box, tentando fugir desesperadamente. Retirei meu vestido, ficando só de lingerie e entrei, ligando o chuveiro. Toquei minha calcinha e suspirei, lembrando de como ela havia sido colocada no lugar.— Ah, Theo... A gente nunca vai poder levar isso adiante. Mas você ficar com Málica também não é uma solução! Prefiro ficar sozinha a me enganar. Porque é de você que eu gosto. Posso transar com vários homens, mas não vou me envolver com nenhum deles. Agora você... Bem, se realmente gosta de mim, está sendo um filho da puta com a dissimulada da Málica. — Peguei o gato, com dificuldade, enquanto tentava fugir das minhas mão
Ouvi as batidas na porta parecendo longe demais para que eu pudesse atender.— Maria Lua... — Não conseguia identificar a voz do outro lado da porta.Gatão começou a latir e revirei-me na cama macia, querendo ficar ali para sempre. Puxei o edredom para cima, cobrindo a cabeça e fechando os ouvidos com as mãos. Mas continuavam a me chamar, insistentemente.Ouvi um estrondo, me assustando, mas incapaz de mover-me dali. A coberta foi retirada da minha cabeça e Theo me olhou:— Maria Lua...Fechei os olhos novamente e fiz uma careta. Senti a mão dele na minha bochecha.— Está ardendo em febre! Por que não me chamou?— Vá se foder! — Foi a única coisa que consegui dizer.Realmente eu queria que ele fosse se foder e sumisse da minha vida.— O que está sentindo?— Ódio de você. — Fui sincera.— Ódio não dá febre, raio de sol... Caralho, o seu rosto, pescoço... — Foi retirando a coberta pouco a pouco. — Quem... Fez isto?— Hades... — soletrei, vendo à minha frente o homem de olhos azuis claro
— Vou morrer? — perguntei à médica, amedrontada.Ela sorriu e antes que respondesse, Theo disse:— Ela é filha de Bárbara Novaes, então a pergunta é um tanto quanto... Normal — explicou.— Creio que não vá morrer. — Riu divertidamente a médica. — Mas me preocupa o fato de não mover os dedos.Olhei para meus dedos e tentei mexê-los, mas realmente não obedeceram ao movimento. Imediatamente senti uma forte tontura.— Preciso de um antitérmico imediatamente. Não reajo bem à febre. — Deixei claro.A partir dali, Theo não pôde mais me acompanhar. Logo depois da injeção, me senti muito melhor.O ferimento foi limpo e desinfeccionado. Após, o traumatologista veio ver meus dedos. Analisou minuciosamente, dizendo:— Creio que não tenha rompido o tendão. Mas de qualquer forma, pode ter causado alguma lesão. Vamos verificar através do exame.Exceto a vez que me deu alergia ao amendoim, que além da pele tive o fechamento da glote, não lembro de ter ficado tanto tempo num hospital. Sempre fui muito
Foi como se as borboletas tivessem sido enfim libertadas, por todo meu estômago, voando pela barriga, algumas pousando no coração, colorindo todo o escuro dentro de mim, trazendo uma sensação que talvez jamais eu tenha sentido antes. Theo disse tudo que desejei ouvir dele a vida inteira. E então a mulher de tantas palavras ficou sem saber o que exatamente dizer, já que o homem que amou por toda a vida descreveu exatamente tudo que ela sentia.— Pelo amor de Deus... Diga alguma coisa — ele implorou. — Nem que seja me mandar para a puta que pariu e me chamar de louco depravado... E ameaçar contar para nossos pais.Continuei em silêncio. As palavras querendo sair, mas morrendo nos meus lábios.Theo ficou um tempo sem dizer nada. Depois concluiu, deixando bem claro:— Tenho noção do quanto a machuquei. Mas realmente tudo que fiz foi por amor. Tentei afastá-la de mim, de todas as formas possíveis. Fugi, torci para que me odiasse... E no fim tudo que fiz foi destruir a mim mesmo.— E onde f
— Ele queria dormir na minha cama. Para isso precisava tomar banho. Simples assim.— Gatos não gostam de banho.— Mas se fala em banho de gato. Logo... Eles tomam banho. Sabe que não tenho muita intimidade com gatos. Estou aprendendo a lidar com meu cachorro ainda.— Banho de gato só em petshops especializadas, meu amor. Fofinho detesta, inclusive, o banho na pet.— Não estou vestida para um café. — Me observei.— Está linda... Como sempre.Toquei seu braço, alisando carinhosamente. Nossos olhos se encontraram de forma breve, mas percebi os pelos dos braços deles eriçarem-se.Como eu queria ter coragem de tocá-lo sem culpa, sem medo, como fazia até pouco tempo atrás, na certeza de que ele me conteria e nada passaria daquilo.Era tudo tão simples... Poderíamos ir para um Motel, matarmos nosso desejo contido por toda uma vida e vivermos juntos, fingindo ao mundo que éramos irmãos que se amavam de forma fraternal.Sim, porque era fácil mentir para todo mundo. Mas impossível fazer aquilo
Limpei as lágrimas, sentindo meu coração derretendo:— Sim, tudo ia bem, até que mamãe e eu passamos pela rua e encontramos um bebê chorando na lata de lixo... — Comecei a rir.— Ok, e resolveram pegá-lo, já que você queria muito alguém para brincar. — Ele fez careta.— Lembro de você chorando quando eu lhe dizia isto... Fui uma irmã má.— Mamãe sempre contornava a situação. — Theo deu de ombros.— O traumatizei?— Um pouco... Fiquei com complexo de bebê achado no lixo. — Gargalhou.— Fui cruel. Perdão.— Você pedindo desculpas? Isso sim me impressiona. A parte boa é que vindo da lata de lixo, sempre soube que não éramos irmãos de sangue. — Piscou.— Theo, os diários ainda existem. E estão nas mãos de alguém. E este alguém tentou subornar nossos pais em troca de dinheiro. Ou seja, isso nunca vai acabar.— Mas acha que pode ter algo pior do que esta revelação nos diários?— Como vamos saber, de fato?— O que me preocupa é que a família de Salma parece que não desiste nunca. Olhe quanto
— Fiquei tão feliz quando soube que a chamou de Maria Lua... — confessei.— E Dimitry, como fica nesta história?— Eu não tenho nada com Dimitry. Não nos vemos desde que saí de Noriah Norte.— E Hades?— Hades? Bem, sobre Hades...O telefone dele tocou. Theo olhou no visor:— Heitor Casanova... O dono da porra toda. — Riu. — Certamente quer saber da princesa da porra toda.— Diga a ele que a princesa acaba de encontrar seu príncipe... Aliás, o herdeiro legítimo da porra toda. — Descansei as costas na cadeira, rindo.Theo riu e atendeu, já explicando que eu estava bem. Logo Heitor quis falar comigo, junto de Babi. Aquela preocupação que os dois tinham me deixava tão em dívida com eles que eu não tinha como explicar. Era sobre amor, gratidão, uma vida inteira... O que eu sentia por Heitor e Babi era grandioso. Só não maior que o que eu sentia pelo filho deles, que chegava a me sufocar por vezes, de tão profundo que era o amor por Theo.Encerrada a ligação, com eles já tranquilos e conve
Não trocamos outro beijo além daquele, de tirar o fôlego. Voltamos para o apartamento, focados em conversar sobre nossos animais de estimação e a forma como estavam se entendendo.Quando estávamos chegando no estacionamento do prédio, meu telefone tocou. Era um número desconhecido.— Senhorita Maria Lua?— Quem está falando? — perguntei, curiosa.— Gregório... Ou Greg, como a senhorita me apelidou.— Greg? — Sorri. — Eu estou com saudade de você. Acredita que o gato de Theo me mordeu? Por pouco não morri! — Eu estava aí pela manhã, quando o senhor Theo a levou a o hospital. E justo por este motivo estou ligando: saber se está bem.— Estou bem. Por sorte não precisei fazer cirurgia e se tudo der certo em duas semanas estarei novinha em folha. — Creio que esteja na hora de marcarmos aquele encontro entre a senhorita e minhas meninas. — Nada de senhorita, Greg. Quero me chame me Maria Lua e pronto. E sim, estou louca por este encontro. E sabe qual a primeira coisa que vou perguntar pa