Foi como se as borboletas tivessem sido enfim libertadas, por todo meu estômago, voando pela barriga, algumas pousando no coração, colorindo todo o escuro dentro de mim, trazendo uma sensação que talvez jamais eu tenha sentido antes. Theo disse tudo que desejei ouvir dele a vida inteira. E então a mulher de tantas palavras ficou sem saber o que exatamente dizer, já que o homem que amou por toda a vida descreveu exatamente tudo que ela sentia.— Pelo amor de Deus... Diga alguma coisa — ele implorou. — Nem que seja me mandar para a puta que pariu e me chamar de louco depravado... E ameaçar contar para nossos pais.Continuei em silêncio. As palavras querendo sair, mas morrendo nos meus lábios.Theo ficou um tempo sem dizer nada. Depois concluiu, deixando bem claro:— Tenho noção do quanto a machuquei. Mas realmente tudo que fiz foi por amor. Tentei afastá-la de mim, de todas as formas possíveis. Fugi, torci para que me odiasse... E no fim tudo que fiz foi destruir a mim mesmo.— E onde f
— Ele queria dormir na minha cama. Para isso precisava tomar banho. Simples assim.— Gatos não gostam de banho.— Mas se fala em banho de gato. Logo... Eles tomam banho. Sabe que não tenho muita intimidade com gatos. Estou aprendendo a lidar com meu cachorro ainda.— Banho de gato só em petshops especializadas, meu amor. Fofinho detesta, inclusive, o banho na pet.— Não estou vestida para um café. — Me observei.— Está linda... Como sempre.Toquei seu braço, alisando carinhosamente. Nossos olhos se encontraram de forma breve, mas percebi os pelos dos braços deles eriçarem-se.Como eu queria ter coragem de tocá-lo sem culpa, sem medo, como fazia até pouco tempo atrás, na certeza de que ele me conteria e nada passaria daquilo.Era tudo tão simples... Poderíamos ir para um Motel, matarmos nosso desejo contido por toda uma vida e vivermos juntos, fingindo ao mundo que éramos irmãos que se amavam de forma fraternal.Sim, porque era fácil mentir para todo mundo. Mas impossível fazer aquilo
Limpei as lágrimas, sentindo meu coração derretendo:— Sim, tudo ia bem, até que mamãe e eu passamos pela rua e encontramos um bebê chorando na lata de lixo... — Comecei a rir.— Ok, e resolveram pegá-lo, já que você queria muito alguém para brincar. — Ele fez careta.— Lembro de você chorando quando eu lhe dizia isto... Fui uma irmã má.— Mamãe sempre contornava a situação. — Theo deu de ombros.— O traumatizei?— Um pouco... Fiquei com complexo de bebê achado no lixo. — Gargalhou.— Fui cruel. Perdão.— Você pedindo desculpas? Isso sim me impressiona. A parte boa é que vindo da lata de lixo, sempre soube que não éramos irmãos de sangue. — Piscou.— Theo, os diários ainda existem. E estão nas mãos de alguém. E este alguém tentou subornar nossos pais em troca de dinheiro. Ou seja, isso nunca vai acabar.— Mas acha que pode ter algo pior do que esta revelação nos diários?— Como vamos saber, de fato?— O que me preocupa é que a família de Salma parece que não desiste nunca. Olhe quanto
— Fiquei tão feliz quando soube que a chamou de Maria Lua... — confessei.— E Dimitry, como fica nesta história?— Eu não tenho nada com Dimitry. Não nos vemos desde que saí de Noriah Norte.— E Hades?— Hades? Bem, sobre Hades...O telefone dele tocou. Theo olhou no visor:— Heitor Casanova... O dono da porra toda. — Riu. — Certamente quer saber da princesa da porra toda.— Diga a ele que a princesa acaba de encontrar seu príncipe... Aliás, o herdeiro legítimo da porra toda. — Descansei as costas na cadeira, rindo.Theo riu e atendeu, já explicando que eu estava bem. Logo Heitor quis falar comigo, junto de Babi. Aquela preocupação que os dois tinham me deixava tão em dívida com eles que eu não tinha como explicar. Era sobre amor, gratidão, uma vida inteira... O que eu sentia por Heitor e Babi era grandioso. Só não maior que o que eu sentia pelo filho deles, que chegava a me sufocar por vezes, de tão profundo que era o amor por Theo.Encerrada a ligação, com eles já tranquilos e conve
Não trocamos outro beijo além daquele, de tirar o fôlego. Voltamos para o apartamento, focados em conversar sobre nossos animais de estimação e a forma como estavam se entendendo.Quando estávamos chegando no estacionamento do prédio, meu telefone tocou. Era um número desconhecido.— Senhorita Maria Lua?— Quem está falando? — perguntei, curiosa.— Gregório... Ou Greg, como a senhorita me apelidou.— Greg? — Sorri. — Eu estou com saudade de você. Acredita que o gato de Theo me mordeu? Por pouco não morri! — Eu estava aí pela manhã, quando o senhor Theo a levou a o hospital. E justo por este motivo estou ligando: saber se está bem.— Estou bem. Por sorte não precisei fazer cirurgia e se tudo der certo em duas semanas estarei novinha em folha. — Creio que esteja na hora de marcarmos aquele encontro entre a senhorita e minhas meninas. — Nada de senhorita, Greg. Quero me chame me Maria Lua e pronto. E sim, estou louca por este encontro. E sabe qual a primeira coisa que vou perguntar pa
Peguei o buquê, que chegava a ser pesado. Theo sabia que eu não gostava de flores. Ou melhor, não gostava de ganhá-las. Retirei o cartão, que estava escrito com a letra firme e bem desenhada dele: “Seja bem-vinda novamente, raio de sol. Eu deveria tê-la recepcionado desta forma, desde o início. Desculpe pelo meu gato! Theozinho.”Eu ri:— “Theozinho”?— Queria lhe arrancar um sorriso. — Me olhou, orgulhoso.— Desculpas aceitas.— Queria que quando chegasse de volta, soubesse o quanto é bem-vinda aqui. E Fofinho promete que vai se comportar a partir de agora.— E eu prometo que não vou dar banho nele. Nunca mais! — Levantei minha mão.— A mão fica até sem graça perto destes arranhões aqui... — Tocou meu rosto e depois o pescoço, sem pressa.— Espere para ver os arranhões da barriga... — provoquei, fechando os olhos.Ele alisou meu pescoço vagarosamente, com a mão morna, os dedos alcançando a região de trás da minha orelha, causando-me excitação.— Boa noite, família!Nós dois viramos o
Porém antes que ele viesse, fui ao seu encontro e nos deparamos no corredor, ambos praticamente correndo um em direção ao outro.— Maria Lua... Está tudo bem? — Theo perguntou preocupado.Observei Málica logo atrás dele, intrigada.— Theo, olhe isto. — Entreguei-lhe meu celular.Assim que ele terminou a leitura, me encarou. Os olhos estavam escurecidos e além da fúria, percebi decepção:— Como... Descobriu?— Várias mensagens... Papai, mamãe, Ben...— Theo, o que aconteceu? — Málica estava curiosa.Ele lhe alcançou meu celular, que ela logo começou a ler.Não pensei duas vezes e me aproximei dele, abraçando-o. Theo envolveu os braços ao redor do meu corpo e eu sentia a sua respiração ofegante. Imaginava a decepção que ele sentia naquele momento. Toda sua luta, todo seu trabalho, mais uma vez roubado por Robin.Quando percebi, Málica puxou-me e tomou meu lugar, abraçando-o. Theo me olhou sobre os ombros dela e não disse nada. Mas seus olhos me imploraram calma. E naquele momento tudo q
Depois de um longo silêncio e a certeza dela de que havia ganhado a luta, Theo me perguntou:— O que você acha disso tudo, raio de sol?— Isso tudo o que?— Robin... E o meu projeto mais uma vez nas mãos dele.— Eu acho que alguém o traiu... E ainda trai. E é alguém próximo. Seu projeto foi entregue a ele, bem como a fórmula, anos atrás.Theo ficou me olhando, sem mencionar uma única palavra.Málica suspirou antes de dizer:— Sabemos que você é uma traidora, já que estava com Robin e ficou com Dimitry ao mesmo tempo...— Isso... Não é traição. Se chama adultério. — Tentei me defender. — Eu jamais trairia Theo... Nunca...— Você mesma sugeriu que é alguém próximo dele.— Poderia ser você — acusei.— Eu não conhecia Theo quando a fórmula foi roubada. Portanto, não há como sequer tentar me incriminar. Já provei a Theo que sempre estive ao lado dele. Sou fiel e íntegra... Diferente de você.— Está... Me acusando de ser a traidora? — Levantei, alterando a voz.— Maria Lua, saia daqui, por