— Não... Não tem sido. Aliás, tem sido tudo, menos duro. Me pego pensando se você consegue... Ser duro. Afinal... Foram menos de dez minutos. Será que... Não conseguiu levantar? — Arqueei a sobrancelha, provocante.— Você não vale nada, raio de sol.— “Você está longe de ser meu raio de sol”! Lembra desta frase? Certamente não, porque você a disse e não a escutou. Acha que não tenho sentimentos? Que não bate um coração aqui? — Toquei meu peito. — Estou cansada de ser tratada desta forma por você.Theo passou a mão no rosto, nervosamente. Depois pegou meus ombros e se aproximou a ponto de nossos narizes quase se tocarem. Nossos olhares ficaram fixos um no outro e então ele perguntou:— O que você quer de mim? — A voz dele foi fraca e quase gentil. — Me... Enlouquecer?Não falei nada. Fechei os olhos e comprimi meus lábios, interiormente rezando para Deus me conter. A ponta do nariz dele finalmente tocou o meu e o senti, tão perto como não estivemos há muito tempo. As mãos de Theo desce
Quando percebi, estava tomando banho pela segunda vez em menos de uma hora. Gatão me observava pelo box de vidro, parecendo entender o que se passava comigo.Abri a porta de vidro e convidei:— Ei, Gatão, que acha de tomar um banho?Ele me ignorou por completo, virando o rosto e fazendo menção de sair. Corri e o puxei pela guia, o trancando comigo. Retirei a coleira e o coloquei sob a água morna. No início o cachorrão resistiu. Mas depois percebeu que um banho não era tão ruim assim. Principalmente quando regado a shampoos e cremes condicionadores de qualidade.— Este shampoo é para deixar o loiro menos amarelado e dá brilho... — Passei por seus pelos o líquido viscoso e que já fazia bolhas enormes. — Nossa tonalidade é parecida... A diferença é que o meu é artificial e o seu natural. — Observei os fios brancos acinzentados dele.Passado o banho, Gatão foi para o secador. Como ele era gigantesco, demorei mais tempo que o previsto. Quando terminei de me vestir novamente, com uma roupa
Engoli em seco. Como ele me maltratava com as palavras. Será que Theo sabia o quanto aquilo me feria? Eu chegava a pensar que doía mais do que dor física.Respirei fundo e mirei na direção da parede envidraçada que mostrava a paisagem ensolarada do dia que fazia lá fora. Eu poderia estar em tantos lugares... E minha escolha era estar ao lado dele. E por algum motivo, mesmo sabendo que deveria partir, eu não conseguia. Era como se minhas pernas se recusassem a deixar aquele lugar, aquele apartamento minúsculo, aquela vida tão cheia de limitações.— O que quer que eu faça hoje, chefe? — Sorri, tentando me acalmar.Lidar com Málica não seria fácil. Ela se fazia de vítima e como sempre fui taxada de forte e insensível, estava em desvantagem. Era hora de contra-atacar.— Podemos sentar e eu lhe mostrar o projeto da venda das maquiagens e cosméticos nas farmácias e drogarias? — sugeriu.— Claro!Fomos para sala dele e comecei a ouvir suas ideias e projetos já montados. Vê-lo tão empolgado,
— Como assim, filha?— Mãe, a mulher é simplesmente horrível!— Por dentro ou por fora?— Por... Dentro? — A dúvida pairou e não foi sobre o “dentro”.— Malu, eu... Acho que Theo não escolheria uma pessoa ruim. Ele sempre foi tão centrado... O mais maduro da nossa casa. — Ele já mostrou uma foto dela para você?— Não!Não? Tanto tempo com a garota e ele sequer tinha mostrado uma foto aos nossos pais?— Theo tem um gato, mãe.— E você levou aquele cachorro enorme para casa dele! Como estão se virando?— O gato é um mal-educado. Arranhou o focinho do Gatão.— E como se chama o gatinho de Theo? Cachorrinho? — Ela riu.— Fofinho... Sendo que ele não é um fofo.Ficamos um tempo conversando e para o final da conversa eu já estava alegre, rindo sem motivos, porque falar com Babi era sempre divertido e além de encher meu coração de amor, trazia-me paz.Enquanto todos almoçaram, passei minha uma hora de intervalo sentada no vaso sanitário, ouvindo a voz da minha mãe.À tarde optei por fazer u
Que ingenuidade a minha pensar que ela perder as chaves faria com que perdesse também a memória de onde Theo morava. Talvez fosse melhor dar cabo dela de uma vez para que me deixasse em paz.Abri a porta do quarto e gritei desesperadamente. Theo apareceu atrás de mim enquanto as lágrimas escorriam pelos meus olhos de imediato.— Ele... Fez xixi na minha mala de sapatos.E eu que achava que Málica estar no apartamento era o que de pior poderia acontecer. Suspirei, sentindo a dor de ver meus sapatos molhados de urina canina.Theo foi até a mala e retirou um dos sapatos holográficos, caríssimos, que me lembravam “chifres e sogra”, um dos meus pares preferidos. Estava molhado dentro... Era o fim... Da vida breve do meu scarpin exclusivo.Ajoelhei-me no chão, inconformada. Theo ajoelhou-se ao meu lado e pegou meu queixo, fazendo-me encará-lo:— Calma, raio de sol. São só sapatos.— Não são “só sapatos”. Eles são muito importantes para mim... Estão comigo sempre... Mesmo quando tudo está er
Fui até Theo e peguei as flores dos braços dele, contemplando-as com um belo sorriso.— Quem é Hades?— O Deus do inferno — respondi debochadamente.— Quem-é-Hades? — Ele alterou o tom de voz, quase gritando, cada palavra soletrada pausadamente.— Só alguém que conheci por aí.— Você está aqui... Há pouco tempo para já ter conhecido alguém e recebido flores — alegou. — E como assim ele sabe que você é o raio de sol?— Como assim ela é o “raio de sol”? — Málica ficou confusa.— Ainda sou o raio de sol de alguém... — Sorri. — Lembro claramente de uma frase que ouvi: “Você está longe de ser o meu raio de sol”.— Eu disse da boca para fora — Theo defendeu-se.— Que porra está acontecendo aqui? — Málica gritou.— Eu... Vou para meu quarto... Agradecer Hades pelas flores. — Saí, deixando-os sozinhos.Assim que cheguei no meu quarto, joguei as flores no chão, num canto. Eu odiava flores. E paguei pelos girassóis justo porque eram menos cafona. A parte boa de andar de short doll pela casa é q
— O desgraçado já contratou bons advogados e jogou na mídia. Quer ibope, ficar em evidência e isso para mim é muito claro. Vou destruí-lo... Transformá-lo em vinho tinto para sagu.— Maldita hora que decidi me envolver com Robin. — Me culpei.— Não adianta se culpar. Temos que focar agora no que Robin realmente quer de nós. — Precisa que eu volte, pai? — perguntei.— Não quero que volte, Malu. Parece que o mundo quer manchar nossa imagem agora. Quero você protegida em Noriah Sul, ao menos até que eu resolva tudo isso. Não acho que Robin queira dinheiro, pois tem o bastante. Assim como ele sabe que não tem como prendê-los pelas acusações. Então temos que entender o que de fato Giordano pretende com esta porra.— Promete que nos avisará cada novidade que tiver com relação à isto? — pedi.— Claro que sim, Malu. Tenho uma reunião com os advogados daqui há alguns minutos. Fiquem bem. Eu e Theo nos olhamos.— Entende por que não pode se envolver com qualquer um?— Theo, não comece a me cu
Não contive o riso e quando percebi estávamos os dois achando graça e nos divertindo com algo juntos depois de anos afastados.— Senti falta do seu sorriso — Theo disse seriamente.— Ele está sempre aqui. Porém não é todas as vezes que você merece recebê-lo. — Fui sincera.— Hum... Quer dizer que o sorriso de Maria Lua Casanova não é para qualquer um?— Digamos que você o recebeu hoje porque saiu a aura ruim da sua casa — provoquei.Ele suspirou:— Você é cruel!— Sabe o que eu lamento, Theo?— O quê?— Se você casar com ela, nunca mais seremos Theo e Malu.— Mas “somos” Theo e Malu.— Não... Agora é Theo e Málica. — Sorri, de forma triste. — Mas a escolha é sua e não minha, não é mesmo?— Como eu já mencionei, ela é uma pessoa legal, Maria Lua.— E amor, Theo? Existe amor da sua parte?— Quem é você para falar de amor? Desde quando entende disto? Você já amou alguém de verdade?— Amo a nossa família. — Olhei para o quadro na parede, com nossa foto. — E amo Ben.— Estou falando de amo