Que ingenuidade a minha pensar que ela perder as chaves faria com que perdesse também a memória de onde Theo morava. Talvez fosse melhor dar cabo dela de uma vez para que me deixasse em paz.Abri a porta do quarto e gritei desesperadamente. Theo apareceu atrás de mim enquanto as lágrimas escorriam pelos meus olhos de imediato.— Ele... Fez xixi na minha mala de sapatos.E eu que achava que Málica estar no apartamento era o que de pior poderia acontecer. Suspirei, sentindo a dor de ver meus sapatos molhados de urina canina.Theo foi até a mala e retirou um dos sapatos holográficos, caríssimos, que me lembravam “chifres e sogra”, um dos meus pares preferidos. Estava molhado dentro... Era o fim... Da vida breve do meu scarpin exclusivo.Ajoelhei-me no chão, inconformada. Theo ajoelhou-se ao meu lado e pegou meu queixo, fazendo-me encará-lo:— Calma, raio de sol. São só sapatos.— Não são “só sapatos”. Eles são muito importantes para mim... Estão comigo sempre... Mesmo quando tudo está er
Fui até Theo e peguei as flores dos braços dele, contemplando-as com um belo sorriso.— Quem é Hades?— O Deus do inferno — respondi debochadamente.— Quem-é-Hades? — Ele alterou o tom de voz, quase gritando, cada palavra soletrada pausadamente.— Só alguém que conheci por aí.— Você está aqui... Há pouco tempo para já ter conhecido alguém e recebido flores — alegou. — E como assim ele sabe que você é o raio de sol?— Como assim ela é o “raio de sol”? — Málica ficou confusa.— Ainda sou o raio de sol de alguém... — Sorri. — Lembro claramente de uma frase que ouvi: “Você está longe de ser o meu raio de sol”.— Eu disse da boca para fora — Theo defendeu-se.— Que porra está acontecendo aqui? — Málica gritou.— Eu... Vou para meu quarto... Agradecer Hades pelas flores. — Saí, deixando-os sozinhos.Assim que cheguei no meu quarto, joguei as flores no chão, num canto. Eu odiava flores. E paguei pelos girassóis justo porque eram menos cafona. A parte boa de andar de short doll pela casa é q
— O desgraçado já contratou bons advogados e jogou na mídia. Quer ibope, ficar em evidência e isso para mim é muito claro. Vou destruí-lo... Transformá-lo em vinho tinto para sagu.— Maldita hora que decidi me envolver com Robin. — Me culpei.— Não adianta se culpar. Temos que focar agora no que Robin realmente quer de nós. — Precisa que eu volte, pai? — perguntei.— Não quero que volte, Malu. Parece que o mundo quer manchar nossa imagem agora. Quero você protegida em Noriah Sul, ao menos até que eu resolva tudo isso. Não acho que Robin queira dinheiro, pois tem o bastante. Assim como ele sabe que não tem como prendê-los pelas acusações. Então temos que entender o que de fato Giordano pretende com esta porra.— Promete que nos avisará cada novidade que tiver com relação à isto? — pedi.— Claro que sim, Malu. Tenho uma reunião com os advogados daqui há alguns minutos. Fiquem bem. Eu e Theo nos olhamos.— Entende por que não pode se envolver com qualquer um?— Theo, não comece a me cu
Não contive o riso e quando percebi estávamos os dois achando graça e nos divertindo com algo juntos depois de anos afastados.— Senti falta do seu sorriso — Theo disse seriamente.— Ele está sempre aqui. Porém não é todas as vezes que você merece recebê-lo. — Fui sincera.— Hum... Quer dizer que o sorriso de Maria Lua Casanova não é para qualquer um?— Digamos que você o recebeu hoje porque saiu a aura ruim da sua casa — provoquei.Ele suspirou:— Você é cruel!— Sabe o que eu lamento, Theo?— O quê?— Se você casar com ela, nunca mais seremos Theo e Malu.— Mas “somos” Theo e Malu.— Não... Agora é Theo e Málica. — Sorri, de forma triste. — Mas a escolha é sua e não minha, não é mesmo?— Como eu já mencionei, ela é uma pessoa legal, Maria Lua.— E amor, Theo? Existe amor da sua parte?— Quem é você para falar de amor? Desde quando entende disto? Você já amou alguém de verdade?— Amo a nossa família. — Olhei para o quadro na parede, com nossa foto. — E amo Ben.— Estou falando de amo
— Ok, para rir e chorar.— Não existe.— Existe... E devia se chamar Maria Lua Casanova.Gargalhei novamente enquanto Theo escolheu um filme, dando o play. Assim que se sentou ao meu lado, senti o cheiro fraco do seu perfume, me trazendo lembranças que para mim estavam muito vivas.— Você... Está com frio? — Ele me olhou.— Um pouco... — menti, ao observar minha pele arrepiada.E não era pela temperatura e sim a lembrança do aroma dele no dia em que nos beijamos pela primeira vez. Ruborizei, sem me dar conta. Quando percebi, Theo pôs uma manta sobre mim, fazendo com que Gatão pulasse no sofá, deitando ao meu lado.— Cachorro abusado. E você ainda fala do meu gato — reclamou, enquanto Gatão o observava, com a cabeça sobre minhas pernas.Fofinho aconchegou-se no encosto do sofá, próximo da cabeça de Theo, manhosamente.— Acho que Fofinho e Gatão gostam de filmes — observei — Eles já não brigam mais tanto.— Realmente não. Talvez estejam começando a se acostumar um com o outro.— Theo, v
Nos encaramos e senti meu estômago se contrair. Borboletas no estômago, como acabara de dizer na cena do filme. Sim, era como se elas estivessem em bando, inúmeras, voando dentro dele.Observei sua boca e nunca tive tanta vontade de fazer algo na vida como beijá-lo naquele momento. Engoli em seco, umedecendo os lábios e levantando:— Eu... Estou com muito sono — menti.— Mas... Não vai olhar o filme até o final?— Não... Vou acabar dormindo por aqui mesmo se insistir em olhar.— E que mal há em dormir aqui?— Eu... Vou para cama.— E o doce?— Como... Amanhã. Ou na madrugada.Saí, sem olhar para trás, ouvindo Gatão pular do sofá e vir na minha companhia. Abri a porta do quarto e quando a fechei, escorei meu corpo, fraco, sobre ela.Não, eu não podia tocá-lo. Muito menos sentir borboletas no estômago por ele. Tampouco arrepiar-me a seu toque. Theo e eu éramos irmãos. Nos conhecíamos desde que nascemos. A família dele me adotou, antes mesmo de pensarem em tê-lo. Era errado. Era ingrato
O olhei, sentindo o estômago contrair-se e as borboletas sendo libertas novamente, tomando conta de todo meu corpo.— E era... Inspirado nela também?— A maior parte não.Uni meus dedos das mãos uns nos outros, enlaçando-os com força.— Eu... Acho que agora devo dormir. — Deitei, me cobrindo.Theo alisou meus cabelos:— Vou ficar aqui... Até que pegue no sono.— Não é necessário Theo.— Eu quero, Maria Lua. — Foi enfático.Fechei os olhos e senti seus dedos sob os fios dos meus cabelos. Aquele toque me dava sono... Muito sono. Principalmente vindo de Theo, com toda sua ternura.O nervosismo foi passando conforme ele ia enrolando meus cabelos. Então acabei adormecendo, mesmo que sentindo as palavras acusadoras do sonho como reais... E tentando entender o que eu e Theo havíamos conversado minutos antes.Abri os olhos e vi Theo ao meu lado, o rosto virado na minha direção, os olhos fechados e a respiração leve. Completamente adormecido, como uma miragem para eu admirar.Uma das mãos aind
Depois daquela manhã, interrompidos pelo telefonema de Ben, eu e Theo nos evitamos ao máximo. Até mesmo na empresa mal nos falávamos.Málica, por sua vez, voltou depois do que se previa. Eu sabia que ela havia falado sobre mim com Babi, mas ela não sabia que eu estava por dentro do acontecido, visto que tinha pedido para minha mãe não comentar nada comigo.Acontece que além de Ben me prevenir sobre a sonsa, minha mãe me deu todo o feedback da conversa, com uma recomendação final:— Malu, tome cuidado com esta mulher! Ou ela é muito burra, ou se faz. E nas duas hipóteses, não é a pessoa certa para nosso Theozinho. A começar por ter o cinismo e ousadia de vir falar da minha filha.— Não se preocupe, mamãe. Se depender de mim, vou fazer da vida dela um inferno. — Sorri satisfeita.Acontece que não contei para Theo sobre o ocorrido, pois ele sempre achava que eu era a errada e Málica a certa em qualquer situação. E agora tinha esta questão de mal estarmos nos falando e evitando ficarmos s