Ou seja, naquele momento, por pior que fosse o que estivesse passando, era mísero perto do que minha família carregava nas costas. Sempre me priorizaram. Agora era hora de eu fazer o mesmo por eles: colocá-los em primeiro lugar, como sempre fizeram comigo.Em breve eu faria 25 anos. Era hora de resolver meus problemas sozinha. Eu fui o braço direito do CEO mais importante de Noriah Norte por anos. Acabar com os Hernandez era só uma questão de tempo. E não adiantava remediar a situação. Era preciso cortar o mal pela raiz.Aceitei a oferta de Robin e fui para o quarto de hóspedes. Não queria voltar para casa. Não tinha condições de ir para o hospital pois estava esgotada física e emocionalmente. E naquele momento, ver Theo, era um sério risco de contar-lhe a verdade, pois me sentia completamente vulnerável depois do tempo que passei com aquela gente.O quarto de hóspedes em nada havia mudado: espaçoso, a decoração em tons terrosos, banheiro aconchegante e cama king size confortável. Ali
— Delegado, esta é minha ex-noiva... — Robin começou.— Maria... Casanova? Estou certo? — Ele estreitou os olhos, demonstrando não ter certeza.— Sim... — Minha voz saiu quase inaudível.Abaixei a cabeça, enquanto Robin continuou:— Ela está sendo chantageada, Delegado. E inclusive pensava em não fazer denunciar, o que é um absurdo.— Chantagem? — O homem recostou-se para trás na cadeira, demonstrando tranquilidade enquanto um leve sorriso aparecia em seu rosto. — Jeremias, por favor, vamos fazer o registro da denúncia da jovem senhora imediatamente.O rapaz que estava na mesa próxima da dele trouxe um computador portátil e começou a registrar meus dados pessoais, que fiquei incerta sobre falar ou não. Minha cabeça começou a ficar confusa e já não tinha certeza alguma do que pensar.Percebendo meu receio e incerteza, Robin começou a responder por mim ao mesmo tempo que explicava ao delegado o pouco que sabia sobre o que estava acontecendo comigo.— É preciso ter muito cuidado. Geralme
— Quem precisa contar a verdade é você. Isso não me diz respeito mais. — Foi sério, indo em direção ao carro.Segui Robin, completamente desconsertada. Daltro era forte, muito mais do que eu imaginava. E agora estavam explicadas as tentativas de assassinato contra Theo e Dimitry. Minhas mãos estavam atadas.Contar a verdade a Heitor já não era uma alternativa viável. Talvez agora Hades fosse minha única salvação. Ou não, pois talvez se eu contasse a ele, seria o primeiro a avisar meu pai, que foi quem o contratou.Entrei no carro de Robin, ocupando o lugar ao seu lado:— Me leve para o Hospital, por favor. Estou cansada... E todos devem estar preocupados comigo. Quero ver meu pai.Robin fez o que eu pedi. Tentei puxar assunto com ele durante o breve trajeto até o hospital, mas não obtive retorno. Parecia fingir que eu não existia.Assim que ele parou o carro próximo da entrada principal do hospital, o olhei, sentindo o coração partido:— Eu sinto muito.— “Você” sente muito? — Riu, de
Chorar não resolveria meus problemas. Era hora de levantar a cabeça e botar um plano em prática. Viver à mercê de chantagistas vigaristas não era algo que passava pela minha cabeça. Nisto Robin tinha razão: onde estava Maria Lua Casanova?Me encaminhei para o terceiro andar do hospital e assim que cheguei na recepção, deparei-me com Theo, junto de Babi.- Você... Sumiu. – Ela me olhou.Sentei-me ao lado de minha mãe e peguei suas mãos:- Como papai está?- O médico concluirá alguns exames nesta semana e logo começará a testar os possíveis doadores.- Eu serei a doadora compatível. – Afirmei.- Não tem o sangue dele. A probabilidade é mínima. – Theo tentou me ferir.- Theo! – Babi o olhou, incrédula.Theo abaixou o olhar, não conseguindo encarar a própria mãe. Limpei uma lágrima idiota que caía e pedi:- Posso vê-lo?- Quanto tempo você chorou antes de chegar aqui? – Ela foi direta.- Muito mais do que eu queria... – sorri, tentando parecer bem.- Sabem por qual motivo eu nunca incenti
- O amor vence qualquer distância. – Falei o que acreditava, mesmo sabendo que mentia para ele.- Não quero que parem suas vidas por mim.- Theo virá para Noriah Norte... Talvez em definitivo. Ele não lhe contou?- Não quero que Theo abra mão da empresa com a qual sempre sonhou.- Não posso criticá-lo, já que no lugar dele eu faria o mesmo. Porque você é mais importante do que qualquer coisa.- Eu vou ficar bem. Encontrarei um doador compatível.- Eu serei a doadora compatível.- Não quero que crie falsas expectativas, meu amor. E... Não tenho certeza se quero que você seja a pessoa.- Não são falsas. Eu sempre fiquei a pensar no motivo pelo qual Salma me confiou a Babi. E o quanto a loucura do passado de vocês de alguma forma sempre ligou nós três. Agora eu já sei a resposta – sorri – Eu vou salvar a sua vida, como você salvou a minha um dia.- Me preocuparia o fato de você ficar só com um rim.- Eu pego um de Theo se precisar. – Tentei ser engraçada.- Posso apostar que ele lhe dari
Quando deixei o quarto e segui pelo corredor, chegando na recepção, meu coração acelerou ao ver Theo sentado no sofá, com as pernas abertas e a cabeça baixa entre elas. Estava sozinho.Borboletas em dobro voaram dentro do meu estômago, me provando que só ele conseguia causar aquilo em mim. Parei em sua frente e ele levantou os olhos na minha direção, o semblante também cansado e os olhos avermelhados.“Eu amo você, Theo. Me dê um voto de confiança. Apesar de tudo, o fato de você duvidar dos meus sentimentos e achar que o traí com Robin é o pior. Pagarei o resto da vida pela Malu do passado?” Ah, se eu pudesse e tivesse coragem de dizer tudo que pensava!Abaixei-me e peguei suas mãos, embora ele estivesse completamente frio e distante. Abri uma e retirei uma borboleta imaginária do coração, colocando-a na palma de sua mão. As lágrimas ameaçaram a cair quando a visualizei, azul da cor do oceano, com preto e branco. Mas respirei fundo e fui forte:- Quando ficar triste... Lembre-se de qu
Bárbara tocou meu rosto e os olhos azuis fixaram-se nos meus:- Quer me contar alguma coisa?- Não? – era para ser firme, mas saiu como uma pergunta.- Sei que está me escondendo alguma coisa.- Não... Não estou.- Por mais focada que eu esteja em Heitor, ainda sou sua mãe... E amiga.- Não é nada importante... Coisa minha. – Insisti na mentira, sorrindo.Ela deu um beijo na minha testa:- Se precisar conversar, não importa o dia ou a hora, estarei disponível.- Amo você.- Também amo você.Ela saiu e suspirei. O mundo caía sobre a minha cabeça, mas eu finalmente estava na minha casa, meu lar, o lugar que sempre considerei perfeito e por este motivo nunca quis usar meu apartamento que havia ganhado há anos atrás.Fui para o quarto e sorri ao ver meu cantinho, exatamente do jeito que deixei. Era quase do tamanho de todo o apartamento de Theo. Quando cheguei no closet, fechei a porta e sentei no chão, dando um grito de satisfação.- Sapatos, eu cheguei! – O sorriso aflorou no meu rosto
Apertei o botão no carro, encerrando a ligação. Eu mal tinha tempo para pensar. E Hades queria dar em cima de mim com o mundo desabando literalmente na minha cabeça. Não poderia cair nos braços dele por conta da decepção com Theo. Eu não queria mais ser aquela pessoa que resolvia tudo no sexo, fodendo até gozar repetidas vezes e depois pondo minha roupa e me sentindo da mesma forma: vazia e triste. Orgasmos não curavam tristezas. Só davam prazer e faziam o corpo relaxar. Banhos de ofurôs e hidromassagens também faziam relaxar. E doces davam tanto prazer quanto gozar. Não que eu fosse virar santa só porque transei com Theo. Mas também sabia que dormir com alguém sem sentir amor talvez fosse algo difícil depois de saber como era tocar e ser tocada por alguém que tinha o coração com as batidas no mesmo ritmo do meu.Toquei minha tatuagem no peito, sentindo as batidas do meu coração. As lágrimas escorreram de forma involuntária enquanto bati com força a mão na direção:- Por que você fez