Adrielle HaleJackson está com uma implicância com Pedro e nem posso culpá-lo por seus atos infantis, embora eu ainda tenha um pouco de raiva por ele, acredito que o que houve não foi culpa sua. Parte de mim acredita que ele não mentiria, mas a outra faz questão de lembrar que sete anos podem mudar bastante uma pessoa. O tempo é uma virtude para alguns, mas, para outros, um mal. Para mim, é apenas um amigo que caminha lado a lado, fadado a ver você nascer, viver e morrer sem conseguir fazer algo. Já ouvi dizer que o melhor remédio para um machucado no coração é o tempo, embora eu não acredite de fato nisso. Uma médica acreditar que o tempo cura as feridas do coração?Meu pai costumava me dizer que a cura para a saudade é o tempo, mas não sei dizer se isso é realmente verdade. Acredito que o tempo possa amenizar, mas não de fato curar um coração partido. Talvez esse seja o preço de amar alguém. Alguém que tem olhos azuis muito bonitos. Droga, Adrielle, o que está pensando?Pedro es
Adrielle HalePedro me analisa em silêncio, como se precisasse disso para escolher as palavras. Ele respira fundo e balança a cabeça levemente. Sua expressão dura e fria, se suaviza quando volta a me olhar. As árvores ao nosso redor começam a balançar, indicando que a chuva está prestes a cair. Não sei dizer se é o clima que parece tenso entre nós ou se a forte tempestade que se aproxima. Estamos imoveis, com os olhares focados um no outro. Quase posso ver sua alternância entre meus olhos e a minha boca, mas Pedro parece se repreender por isso. Os olhos frios e duros focam na grama, abaixo de nossos pés. Sinto que ele quer se esconder da conversa na intensidade da grama verde, mas não posso permitir que faça isso. Suas mãos saem dos bolsos e seus braços se cruzam, apertando os músculos ali. A expressão de Pedro é carrancuda, como se ele estivesse desgostoso com algo que estamos conversando. É quase como se fosse um paciente meu, a diferença é que temos uma filha e estou dizendo verda
Pedro Hernandez— Você deveria ter voltado para casa, mijo. — Minha mãe comenta, com os olhos focados em mim através do telefone. Seus olhos claros me observam atentamente através da tela do FaceTime, como se tentasse decifrar cada detalhe do meu rosto. Estamos em FaceTime. Estou no hotel, onde ela insistiu em me hospedar, e enviou Bruno para me vigiar de perto. Agora, falamos por videochamada, e eu sinto o peso do seu olhar acompanhando cada movimento que faço. Me aproximo da varanda, abro levemente as persianas e deixo o caos de Los Angeles invadir o quarto. O oceano brilha ao longe, mas os sons da cidade - buzinas, motores, vozes distantes - lembram que não estou em um refúgio tranquilo.— Mãe, eu não quero deixar Abby daquela maneira outra vez. — Minha voz sai em um suspiro, carregada de culpa. A imagem da reação dela ainda está fresca na minha mente, como uma ferida que não cicatriza. — Falei com Adrielle ontem. Hoje, vamos até a sobrinha do Bruno. Espero que desta vez funcione.
Pedro HernandezCaminho pelo corredor extenso e claro da clínica de Angela. Há pessoas perambulando por todos os lugares, com conversas tão baixas que se tornam um burburinho, é quase como se estivéssemos no hospital. Noto que as paredes ficam mais coloridas, cheias de vida, a medida em que caminho. Imagino que seja a parte infantil. Agora vejo crianças caminhando com os pais e uma casquinha de sorvete nas mãos que derrete pelo calor escaldante de Los Angeles. A Califórnia realmente está mais quente. Vejo que um garoto deixa a sala de uma mulher de cabelos crespos bem cacheados e pele morena. Ela oferece um sorriso a ele, com a intenção de deixá-lo confortável. Ele levanta a palma da mão e a agita em uma despedida, antes de pegar a mão de um homem que esperava pacientemente ao lado de fora da sala. Posso ver que as cadeiras aqui são coloridas mas possuem um toque calmo, o branco reflete muito bem essa calmaria. — Até a próxima seção, Diego. — A mulher diz, com um sorriso largo na d
Pedro HernandezPosso ver a nevoa de ansiedade que toma conta da minha filha. Os olhos pequenos e claros estão se tornando vazios, como se tivessem sido tomados por medo. Isso reflete em mim e é como uma adaga que está cravada em meu peito, me dilacera a ideia de forçá-la a fazer isso, de forçar uma proximidade com ela, mas se eu não fizer isso, vou perder a única chance de relação com a minha filha. Tudo será estragado. Como Max fez, estou estragando a minha relação com a minha filha. — Eu quero ir para casa. — A voz de Abby é baixa, tão baixa que mal pudemos ouvir. Ela se encolhe atrás da mãe, como se Adrielle fosse um escudo que a protegesse de tudo. Não consigo imaginar o que a fez despertar tanto medo assim. — Olha, e se a gente entrar com seus pais para conversar? — Angela pergunta, com um tom suave, na tentativa de fazer com que Abby se sinta confortável. Ela estende a mão, como se minha filha fosse pegá-la e aceitar de bom grado. Abby a analisa, como se tentasse descobrir
Pedro HernandezO aeroporto de Los Angeles está mais movimentado do que eu costumava me lembrar, há pessoas vagando de um lado para o outro com malas de todas as cores possíveis. Tenho dificuldade para atravessar o enorme salão para seguir ao lado de fora. O sol aqui parece ser mais forte, o que me causa a impressão de ser ainda mais quente. Talvez seja devido ao oceano na costa. Há táxis e outros carros de aplicativo parados no estacionamento. — É bom estar de volta, Bruno. — Comento.O meu fiel amigo e mordomo está ao meu lado, tentando conter suas emoções. Bruno é um homem sensível. Compreendo. Estou em casa após longos sete anos em Madri. Adoraria ver a cara de Max agora, depois de me controlar naquela cidade horrível por tantos anos, mas a sua sorte é que morreu antes disso.— Bem-vindo ao lar, jovem Pedro. — Diz, com um tom emocionado. Sorrio. É a primeira vez em anos que me sinto bem. Talvez seja a sensação de liberdade. — Venha, a senhora Sofia está esperando por você. — B
Pedro HernandezSete anos antesAdie e eu estamos na casa de campo fora da cidade. Com o fim das aulas, conseguimos um tempo para nós. Tem sido dias corridos para ela por causa do semestre carregado de atividades extracurriculares do curso de medicina. Pensei em termos um fim de semana romântico para escapar das nossas obrigações na universidade. Ela está no terceiro ano de medicina, enquanto estou estudando administração. É o meu segundo ano e só estou fazendo isso por causa de Max. Ainda estava perdido quando terminei o ensino médio, eu não sabia no que poderia me formar, mas meu pai sempre me disse que deveria estudar para assumir a empresa, Industrias Max. Considero esse nome um tanto presunçoso, quem daria seu próprio nome a empresa? Bom, meu pai fez isso. As Indústrias Max não operam apenas nos setores industriais, temos uma porcentagem com empresas de carros elétricos, CIO, e com redes de cassinos espalhadas em muitas cidades, inclusive em Vegas, a cidade das apostas. Meu pai
Pedro HernandezAdie e eu ainda permanecemos na cama durante a tarde. Acho que nenhum de nós desejava sair da cama, mas foi preciso. Era necessário voltar para casa ainda hoje. Ela precisa estar na universidade bem cedo e não quero correr o risco de nos perdemos um no outro a ponto de que se atrase. Minha prioridade é ela, mas quero que sua prioridade seja a faculdade. Ao longo desses anos tenho visto ela se dedicar incansavelmente aos estudos. Seus pais, Joseph e Elizabeth, se orgulham dela, assim como seu irmão mais novo, Jackson. Adrielle é diferente de qualquer mulher que já conheci em toda a minha vida, quero que conquiste o que almeja e quero estar ao lado dela quando isso acontecer. — Tenho que ir, mas nos veremos amanhã. — Prometo, enquanto acaricio seu rosto. Adrielle nem ao menos desceu do carro e já está fazendo beicinho, como alguém que não deseja se afastar. É quase como uma criança quando fica sem o doce, embora de inocente, essa mulher não tenha nada.— Terei Anatomia