Adrielle HalePedro me analisa em silêncio, como se precisasse disso para escolher as palavras. Ele respira fundo e balança a cabeça levemente. Sua expressão dura e fria, se suaviza quando volta a me olhar. As árvores ao nosso redor começam a balançar, indicando que a chuva está prestes a cair. Não sei dizer se é o clima que parece tenso entre nós ou se a forte tempestade que se aproxima. Estamos imoveis, com os olhares focados um no outro. Quase posso ver sua alternância entre meus olhos e a minha boca, mas Pedro parece se repreender por isso. Os olhos frios e duros focam na grama, abaixo de nossos pés. Sinto que ele quer se esconder da conversa na intensidade da grama verde, mas não posso permitir que faça isso. Suas mãos saem dos bolsos e seus braços se cruzam, apertando os músculos ali. A expressão de Pedro é carrancuda, como se ele estivesse desgostoso com algo que estamos conversando. É quase como se fosse um paciente meu, a diferença é que temos uma filha e estou dizendo verda
Pedro Hernandez— Você deveria ter voltado para casa, mijo. — Minha mãe comenta, com os olhos focados em mim através do telefone. Seus olhos claros me observam atentamente através da tela do FaceTime, como se tentasse decifrar cada detalhe do meu rosto. Estamos em FaceTime. Estou no hotel, onde ela insistiu em me hospedar, e enviou Bruno para me vigiar de perto. Agora, falamos por videochamada, e eu sinto o peso do seu olhar acompanhando cada movimento que faço. Me aproximo da varanda, abro levemente as persianas e deixo o caos de Los Angeles invadir o quarto. O oceano brilha ao longe, mas os sons da cidade - buzinas, motores, vozes distantes - lembram que não estou em um refúgio tranquilo.— Mãe, eu não quero deixar Abby daquela maneira outra vez. — Minha voz sai em um suspiro, carregada de culpa. A imagem da reação dela ainda está fresca na minha mente, como uma ferida que não cicatriza. — Falei com Adrielle ontem. Hoje, vamos até a sobrinha do Bruno. Espero que desta vez funcione.
Pedro HernandezCaminho pelo corredor extenso e claro da clínica de Angela. Há pessoas perambulando por todos os lugares, com conversas tão baixas que se tornam um burburinho, é quase como se estivéssemos no hospital. Noto que as paredes ficam mais coloridas, cheias de vida, a medida em que caminho. Imagino que seja a parte infantil. Agora vejo crianças caminhando com os pais e uma casquinha de sorvete nas mãos que derrete pelo calor escaldante de Los Angeles. A Califórnia realmente está mais quente. Vejo que um garoto deixa a sala de uma mulher de cabelos crespos bem cacheados e pele morena. Ela oferece um sorriso a ele, com a intenção de deixá-lo confortável. Ele levanta a palma da mão e a agita em uma despedida, antes de pegar a mão de um homem que esperava pacientemente ao lado de fora da sala. Posso ver que as cadeiras aqui são coloridas mas possuem um toque calmo, o branco reflete muito bem essa calmaria. — Até a próxima seção, Diego. — A mulher diz, com um sorriso largo na d
Pedro HernandezPosso ver a nevoa de ansiedade que toma conta da minha filha. Os olhos pequenos e claros estão se tornando vazios, como se tivessem sido tomados por medo. Isso reflete em mim e é como uma adaga que está cravada em meu peito, me dilacera a ideia de forçá-la a fazer isso, de forçar uma proximidade com ela, mas se eu não fizer isso, vou perder a única chance de relação com a minha filha. Tudo será estragado. Como Max fez, estou estragando a minha relação com a minha filha. — Eu quero ir para casa. — A voz de Abby é baixa, tão baixa que mal pudemos ouvir. Ela se encolhe atrás da mãe, como se Adrielle fosse um escudo que a protegesse de tudo. Não consigo imaginar o que a fez despertar tanto medo assim. — Olha, e se a gente entrar com seus pais para conversar? — Angela pergunta, com um tom suave, na tentativa de fazer com que Abby se sinta confortável. Ela estende a mão, como se minha filha fosse pegá-la e aceitar de bom grado. Abby a analisa, como se tentasse descobrir
Adrielle Hale— Podemos lidar com isso. — Tento soar acolhedor, mas meu tom denuncia meu nervosismo. Adrielle está no corredor, com os braços cruzados e uma expressão que demonstra preocupação. Seus olhos não ficam em um ponto fixo, apenas se movem de um lado para o outro a medida que seus pensamentos parece gritar em sua mente. Sinto que devo acolhê-la como costumava fazer, porque é disso que precisa, mas constantemente me lembro de que nada é como antes. Meus dedos ainda estão trêmulos e tento esconder isso dela, tanto que não parece ter notado. Meu peito ainda aperta e tenho dificuldades em respirar. — Isso é diferente, Pedro. — Sua voz ressoa com medo, quase fraca, e me faz ter um arrepio desagradável. — Você percebeu que ela projetou o medo dela em você? Abby tem medo de uma figura que aparece em seus sonhos e ela se parece com você. Como isso é possível? Esses pesadelos acontecem há meses e vocês se conheceram semana passada. — Seus olhos verdes e doloridos focam em mim. Enco
Pedro HernandezAbby caminha e para ao lado de Adrielle, sem sequer mover seus olhos para mim. Sinto que minha filha tem uma enorme carga de medo direcionada a mim, como se eu fosse machucá-la a qualquer momento. Respiro fundo, levando a mão ao peito. O incomodo ainda está aqui, apertando meu peito como uma corda comprida e bem amarrada. Imagino que seja decorrência da ansiedade, meu corpo parece que vai perecer a qualquer instante, como alguém que perde a força e cai no chão. — Vamos para casa? — Adrielle mantém um tom manso enquanto fala com Abby. Seu tom é cuidadoso, como seus olhos mostram. Abby alterna seus olhos azuis em minha direção, arregalados e assustados. Pressiono os lábios em um sorriso reconfortante, mas ela não devolve. Seus olhos voltam a focar na mãe. — Aham… — Fala, em um murmúrio. — Tchau, doutora Angela. — Tchau, Abby. — Angela a responde, com um pequeno sorriso e um aceno. — Obrigada por não a recusar. — A voz de Adrielle carrega honestidade. — Nenhum psico
Pedro HernandezO manobrista leva meu carro assim que desço. Faço meu caminho até a recepção, onde posso ver duas mulheres de cabelos escuros e sorrisos brilhantes. Mal tenho tempo de pisar no hall de entrada e já sou atacado por uma onda de jornalistas. Os microfones estão apontados na minha cara e não consigo raciocinar sobre suas perguntas. — Senhor Hernandez, lamentamos a perda do seu pai e queremos saber como você está lidando com isso? Sabemos que Max foi um homem imponente e seguro, sempre garantindo o bem-estar da sua família, como vocês estão lidando com a perda disso? — Uma mulher de cabelos cacheados pergunta, como se Max realmente fosse importante. — Com o seu retorno, quais são seus planos para equilibrar o luto e a responsabilidade em assumir a empresa? Soubemos que você herdou grande parte da empresa e que será o novo CEO. Suas perguntas me deixam incomodado. Quando jornalistas passaram a ter tantas informações assim? Na verdade, acho que demorou para virem me questio
Pedro HernandezSmith passou o tempo inteiro tagarelando sobre a nossa empresa, falando sobre os grandes feitos de Max, como se eu fosse me importar com isso. Disse que as Empresas Hernandez estão entre as mais lucrativas dos Estados Unidos devido a sua grande expansão nos negócios, tantos nos cassinos quanto nas sociedades que formamos com outras empresas, como a de marcas de carros elétricos, CIO. A MaxMidia foi uma empresa que Max decidiu fundar do zero nos últimos anos e parece estar funcionando plenamente, tanto que a maioria dos canais de notícia a levam como fontes. Para mim, isso são apenas negócios que estão fluindo. Posso considerar Max um homem ruim e louco, mas devo admitir que era visionário nos setores comerciais. Ele sabia exatamente no que investir e que ações deveria vender. — Vamos voltar a trabalhar, Smith. As ações devem alavancar novamente. — Digo, decidido a trabalhar duro para que isso aconteça. — Vamos fazer uma reunião daqui a dois dias com os acionistas e o