Pedro HernandezMe sento na calçada após dar o depoimento a polícia. Victor insistiu que deveríamos avisá-los e nem mesmo esperou que eu tomasse uma decisão sobre isso. Descobri que o carro que estava entrando era o carro de Jackson, o irmão de Adrielle. Estou feliz por estarem bem, mas sei que o único alvo sou eu. Victor está conversando com um homem de cabelos cacheados e negros. Não imagino quem seja, mas ele estava acompanhando Jackson em seu carro. Posso ver que os dois carregam uma aliança dourada no dedo anelar e me pergunto sobre isso. Não me lembro de Adrielle mencionar sobre a sexualidade do irmão ou coisa parecida. Talvez ele não fosse tão aberto quanto parece hoje. Jackson não parece mais o mesmo adolescente de sete anos atrás. Está bem-vestido, com roupas casuais. Volto meu olhar a meu carro, que está sendo guinchado. Lyla disse que deveríamos avisar a minha mãe sobre isso, mas eu neguei. Liguei para Bruno, pois sabia que ele poderia me ajudar e não causaria danos a saú
Pedro HernandezSuspiro e volto a olhar para as persianas. Bruno está ao lado de fora, o guincho está indo embora, assim como as viaturas. Uma delas permanece estacionada do outro lado da rua e imagino que fique de vigia. Um carro vermelho adentra o jardim e estaciona bem próximo aos outros carros. Um homem sai de dentro e caminha até Bruno, para entregar algo e depois vai embora. — Eu os ouvi dizer algo a você. O que era? — Victor indaga.Paraliso. Meu corpo congela e minha respiração trava. Como posso dizer a eles que acabei de receber uma ameaça? Me viro com cautela, os olhares estão de novo focados em mim. Adrielle agora está sentada no sofá. Lyla está de pé com os braços cruzados e Victor está me encarando. Jackson não tem uma boa expressão, já o marido dele parece apenas focado na conversa. Respiro fundo e dou alguns passos a frente, para me aproximar deles. Coloco as mãos nos bolsos da calça e posso notar como Adrielle parece focada em cada movimento meu. Eu conheço essa expr
Pedro HernandezO tom de Jackson é carregado de desdém, como se eu fosse alguém tão desprezível que ele mal suporta mencionar o nome. Que ironia. A pessoa que verdadeiramente é desprezível, parece ter toda a gentileza dos outros, enquanto eu carrego a raiva e rancor que sobraram. — Por que você está agindo assim? — Adrielle questiona ao irmão, como se estivesse incomodada pela grosseria. — Por que você está agindo como se ele fosse um coitado? Como ainda consegue acreditar nas mentiras dele depois de todos esses anos? — Seu tom é sério e carregado de raiva. Os olhos de Jackson se focam em sua irmã, com rancor e raiva crescente. — Semana passada você disse que não conseguia lidar com o retorno dele e agora parece que o perdoou. Adrielle não o responde, apenas balança a cabeça em negação. Posso ouvir ela murmurar algo tão baixo que é quase inaudível, mas ainda consigo entender. — Você é inacreditável. Perfeito, o clima tenso voltou! A nevoa paira sobre nós novamente, mas dessa vez
Adrielle HaleJackson está com uma implicância com Pedro e nem posso culpá-lo por seus atos infantis, embora eu ainda tenha um pouco de raiva por ele, acredito que o que houve não foi culpa sua. Parte de mim acredita que ele não mentiria, mas a outra faz questão de lembrar que sete anos podem mudar bastante uma pessoa. O tempo é uma virtude para alguns, mas, para outros, um mal. Para mim, é apenas um amigo que caminha lado a lado, fadado a ver você nascer, viver e morrer sem conseguir fazer algo. Já ouvi dizer que o melhor remédio para um machucado no coração é o tempo, embora eu não acredite de fato nisso. Uma médica acreditar que o tempo cura as feridas do coração?Meu pai costumava me dizer que a cura para a saudade é o tempo, mas não sei dizer se isso é realmente verdade. Acredito que o tempo possa amenizar, mas não de fato curar um coração partido. Talvez esse seja o preço de amar alguém. Alguém que tem olhos azuis muito bonitos. Droga, Adrielle, o que está pensando?Pedro es
Adrielle HalePedro me analisa em silêncio, como se precisasse disso para escolher as palavras. Ele respira fundo e balança a cabeça levemente. Sua expressão dura e fria, se suaviza quando volta a me olhar. As árvores ao nosso redor começam a balançar, indicando que a chuva está prestes a cair. Não sei dizer se é o clima que parece tenso entre nós ou se a forte tempestade que se aproxima. Estamos imoveis, com os olhares focados um no outro. Quase posso ver sua alternância entre meus olhos e a minha boca, mas Pedro parece se repreender por isso. Os olhos frios e duros focam na grama, abaixo de nossos pés. Sinto que ele quer se esconder da conversa na intensidade da grama verde, mas não posso permitir que faça isso. Suas mãos saem dos bolsos e seus braços se cruzam, apertando os músculos ali. A expressão de Pedro é carrancuda, como se ele estivesse desgostoso com algo que estamos conversando. É quase como se fosse um paciente meu, a diferença é que temos uma filha e estou dizendo verda
Pedro Hernandez— Você deveria ter voltado para casa, mijo. — Minha mãe comenta, com os olhos focados em mim através do telefone. Seus olhos claros me observam atentamente através da tela do FaceTime, como se tentasse decifrar cada detalhe do meu rosto. Estamos em FaceTime. Estou no hotel, onde ela insistiu em me hospedar, e enviou Bruno para me vigiar de perto. Agora, falamos por videochamada, e eu sinto o peso do seu olhar acompanhando cada movimento que faço. Me aproximo da varanda, abro levemente as persianas e deixo o caos de Los Angeles invadir o quarto. O oceano brilha ao longe, mas os sons da cidade - buzinas, motores, vozes distantes - lembram que não estou em um refúgio tranquilo.— Mãe, eu não quero deixar Abby daquela maneira outra vez. — Minha voz sai em um suspiro, carregada de culpa. A imagem da reação dela ainda está fresca na minha mente, como uma ferida que não cicatriza. — Falei com Adrielle ontem. Hoje, vamos até a sobrinha do Bruno. Espero que desta vez funcione.
Pedro HernandezCaminho pelo corredor extenso e claro da clínica de Angela. Há pessoas perambulando por todos os lugares, com conversas tão baixas que se tornam um burburinho, é quase como se estivéssemos no hospital. Noto que as paredes ficam mais coloridas, cheias de vida, a medida em que caminho. Imagino que seja a parte infantil. Agora vejo crianças caminhando com os pais e uma casquinha de sorvete nas mãos que derrete pelo calor escaldante de Los Angeles. A Califórnia realmente está mais quente. Vejo que um garoto deixa a sala de uma mulher de cabelos crespos bem cacheados e pele morena. Ela oferece um sorriso a ele, com a intenção de deixá-lo confortável. Ele levanta a palma da mão e a agita em uma despedida, antes de pegar a mão de um homem que esperava pacientemente ao lado de fora da sala. Posso ver que as cadeiras aqui são coloridas mas possuem um toque calmo, o branco reflete muito bem essa calmaria. — Até a próxima seção, Diego. — A mulher diz, com um sorriso largo na d
Pedro HernandezPosso ver a nevoa de ansiedade que toma conta da minha filha. Os olhos pequenos e claros estão se tornando vazios, como se tivessem sido tomados por medo. Isso reflete em mim e é como uma adaga que está cravada em meu peito, me dilacera a ideia de forçá-la a fazer isso, de forçar uma proximidade com ela, mas se eu não fizer isso, vou perder a única chance de relação com a minha filha. Tudo será estragado. Como Max fez, estou estragando a minha relação com a minha filha. — Eu quero ir para casa. — A voz de Abby é baixa, tão baixa que mal pudemos ouvir. Ela se encolhe atrás da mãe, como se Adrielle fosse um escudo que a protegesse de tudo. Não consigo imaginar o que a fez despertar tanto medo assim. — Olha, e se a gente entrar com seus pais para conversar? — Angela pergunta, com um tom suave, na tentativa de fazer com que Abby se sinta confortável. Ela estende a mão, como se minha filha fosse pegá-la e aceitar de bom grado. Abby a analisa, como se tentasse descobrir