3. Iza Osni

"Iza Osni"

O barulho da televisão e o cheiro de cigarros foi a primeira coisa que chegou até mim assim que abrir a porta de onde eu trabalhava a noite. Ter dois empregos poderia ser considerado como um ganho na loteria, já que em nenhum dos dois meu verdadeiro nome foi descoberto e recebia meus pagamentos em dinheiro ao final de cada semana. Sorri para o dono ao ir para trás do balcão tentando manter a blusa curta abaixo do meu umbigo. A única regra que o estabelecimento possuía para os empregados era sobre os vestimenta. As mulheres deveriam ir bem atraentes, não importasse o quão vulgar fossemos.

Pensar sobre isso me deixa até enjoada até olhar para o semblante di próprio dono. "Emerson Ohan" não deveria ter mais do que seus cinquenta anos e mesmo assim possuía um forte senso de justiça e proteção com todos que ali trabalhavam para ele. Ele sempre me protegia dos clientes e me acompanhava até em cada tarde da noite.

Preparada? Hoje tem jogo? Me avisou como sempre acontecia nas sextas-feiras. O dia em que o bar onde trabalhava ficava super cheio de homens bem problemáticos. Todos iam com suas camisas de time e gritavam assim que o seu time marcava algum ponto, o único problema era quando algum deles exagerava na bebida. Qualquer coisa pode chamar o "Gen" ele ficará lá fora hoje.

Sem problemas... sorri ao realmente acreditar em mim mesma. Aos poucos vivendo sozinha, aprendi a me defender mesmo que para isso precisasse usar táticas sujas de luta. Vou organizar as bebidas antes que eles comecem a chegar.

Fiz isso mais cedo... me virei confusa para encará-lo. A minha função era organizar tudo para que soubesse onde estava cada coisa. Cada garrafa é cada copo, ele ter organizado poderia significar que eu iria mudar de função. Algo que eu não gostaria. Eu gostaria de saber uma coisa... senti um tremor percorrer o meu corpo inteiro... ser uma garçonete em um estabelecimento a noite daqueles poderia ser chamado de meu pior pesadelo, onde os homens olhando para mim podendo tocar em meu corpo quando passasse por eles já me davam agonia.

Não sei se ele percebeu o meu olhar de terror, mas me perguntou preocupado se eu estava bem. Eu não queria mentir para ele, não depois que ele me ajudou tanto sabe seria ingratidão da minha parte e isso jamais eu iria fazer.

Estou bem sim...

Certo... ele coçou a sua cabeça... um gesto que fazia sempre que se sentia desconfortável... vi que andou olhando para os livros de contabilidade outro dia... senti meu rosto avermelhar do nada e sabia que estava com vergonha. Percebi minha aptidão para números alguns meses após a minha fuga... viver contando moedas serviu para que eu me aperfeiçoar-se em sobrevivência. Uma ironia... não estou querendo reclamar, na verdade queria perguntar sobre a possibilidade de trabalhar com isso, comigo o que acha?

O olhei incrédula... verdadeiramente muito surpresa...

Vi que consertou um erro no relatório contábil. Eu não tinha percebido até ver a letra diferente e sei que era sua, então o que me diz?

Está falando sério?

Claro... ele concordou entusiasmado... quando a contratei disse que não tinha curso superior, mas parece ser muito boa com números. Posso lhe explicar o básico e ajudá-la a frequentar algum curso.

Olhei tentada para aquela proposta... se eu frequentasse um curso teria que abdicar de minha outra renda e com isso não mais veria a senhora que me ajudará.

Posso pensar?

É claro... sorriu ao ver um homem entrar... parece que começamos mais cedo.

Concordei ao olhar em direção ao cliente e sentir o sangue sumir pela minha face. Minhas mãos tremeram ao ponto de precisar agarrar o balcão com muita força. O mesmo homem que havia estado na hamburgueria mais cedo ele me olhava com uma intensidade ao caminhar em minha direção onde eu me encontrava atrás do balcão. Olhei de relance para "Emerson" rogando para que ele não percebesse algo de estranho e viesse me salvar. O homem vestia da mesma forma que antes, nada havia mudado o que me fez teme-lo ainda mais ao me recordar da possível arma que ele andava em sua cintura.

Posso ajudá-lo? Perguntei tentando soar calma ao vê-lo sentar em um dos bancos que ficava de frente para mim. Ele posicionou seus braços de modo que ficasse a vista... deseja beber algo?

Ainda se lembra de mim, sei que sim... sua voz me pegou desprevenida. Não pensei que ele fosse falar de tal forma comigo.

Sim, da hamburgueria... É uma incrível coincidência.

Eu queria realmente acreditar nisso.

Não é uma coincidência... disse ele sério ao me encarar. Apertei a minha mão com bastante força sentindo minhas unhas contra a minha pele. Eu precisava sentir aquela dor para não deixar que meus verdadeiros sentimentos não transbordassem... eu estava apavorada.

Você está me seguindo? Afirmei e ele não negou... o que deseja de mim? Me matar, eu presumo.

Não... negou ao olhar para onde o meu chefe estava sentando... ainda se lembra do passado, "Maya Iza Osni"? Senti todo o meu corpo tremer ao escutar o meu nome completo. O meu nome amaldiçoado era assim que eu me referia em silêncio sobre o meu passado. Vejo pela sua expressão que não. Então deve se recordar de outro nome... a pausa que ele fez foi ainda mais torturante... "Duhan Parker"... tentei não rir diante do meu desespero ao assentir. O nome do meu prometido. Um homem que deveria ser o meu dono. Eu sou o "Duhan Parker" prazer...

Pisquei algumas vezes antes de dar dois passos para trás.

E por qual motivo você veio até mim? Não faço mais parte da religião. Eu fugi sou uma renegada aos olhos deles.

Como pode ter tanta certeza?

Ninguém veio atrás de mim.

Eles ainda falam sobre você até hoje. A preciosa filha da família "Osni" que fugiu mesmo após ter sido pega. Desviei o olhar ainda com medo. Se ele quisesse me matar ali acabaria interferindo na vida do "Emerson" e isso eu não poderia permitir. Não depois dele ter me ajudado.

Se deseja me matar ou me levar de volta, espere eu sair daqui, por favor... pediu extremamente séria ao sentir minhas mãos tremerem ao colocar um copo em frente a ele... o que quer beber?

Um café ou água... estou de serviço...

Assenti incerta, já que não sabia sobre a proibição de beber algo alcoólico enquanto perseguia fugitivas. O serviço tentando não demonstrar para meu chefe toda verdade.

Eu posso sair em quarenta minutos, então não faça nada com ele. Percebi o olhar confuso que ele me lançou antes de beber e café com calma.

Não farei nada contra ele e nem com você, alias...

Então... por qual motivo está aqui?

Para fazer uma proposta.

Não estou entendendo.

Sou o homem que devia ser seu marido como já sabe. A minha proposta é que seja a minha noiva ou esposa tanto faz para mim e em troca a sua liberdade. Não precisará fugir nunca mais é poderá viver livremente.

Viver livremente... repeti incrédula ao encara-lo. Aquela proposta deveria ser uma armadilha... eu já estou livre.

Tem certeza? Vive com medo esperando que alguém apareça e a leve de volta. Eu a deixarei livre desse sentimento.

Não tem o poder de impedir eles... ninguém tem...

Tem certeza? Sou um "Parker" sou filho mais importante de uma das cinco famílias fundadoras. Explicou calmamente ao me encarar... eu havia aprendido que cinco famílias eram os pilares da religião e eles os "Parkers, Gales, Ferzons e por fim Startes". As cinco famílias que possuíam o poder na mão de mudar qualquer regra. Jamais vida nenhum deles na vila e não soube de ninguém que houvesse os conhecido contudo sabia que todas possuíam a mesma tatuagem em suas costas. Uma tatuagem que marcava o poder deles.

Posso descobrir que é uma mentira... disse ao cruzar os braços em frente ao meu corpo... não é como se pudesse mentir pra mim.

Não estou mentindo... ele não parecia estar impaciente ou com medo após eu falar isso. Posso tirar a blusa agora, mas duvido que o seu chefe iria gostar... apontou discretamente para Emerson o qual lia concentrado o seu jornal... não me importo de tirar a blusa... e sem que eu conseguissem acreditar começou a desabotoar a sua blusa rapidamente e inexpressivo... vi o seu peito coberto com um pouco de pelos, o modo como era malhado e antes que eu pudesse gravar a imagem em minha mente ele se levantou, virando-se de costas. A saliva tornou-se difícil de engolir ao ver as cinco linhas paralelas dentro do círculo tatuado em suas costas. O perguntou calmo ao se virar abotoaduras a blusa com a mesma rapidez de antes. Ele não parecia incomodado com aquilo... e o que me diz?

Não pode esperar que eu lhe dê uma resposta agora.

Eu preciso de uma resposta agora, "Maya Iza Osni".

Me chame de "Iza ou Izabelle"... pedi incomodado ao me recordar de como me chamaram. "Maya I"... eu... não posso...

O que não pode? É um preço pequeno a se pegar pela sua liberdade não acha.

Não é... Grunhi tentando controlar a minha voz... está querendo que eu seja... sua... aquela palavra me fazia sentir muito enjoada e fraca... aquela m*****a religião havia tirado de mim qualquer chance de ser feliz... não sou um objeto que se compra e tudo certo.

Aja do disse que seria nos termos deles?

Eles são você... não há uma separação...

Somos diferentes... afirmou ao se sentar novamente... não trabalho com os negócios de minha família, posso dizer que estou mais para uma ovelha negra do que herdeiro ideias.

Por isso quer se casar comigo?

Em partes digamos que sim... confessou sem remorso... não quero que seja como aquelas mulheres que se submetem a cada ordem egoísta. Preciso apenas que pensem que estamos juntos.

E o motivo?

Não é algo que posso dizer abertamente, mas não a envolverá...

E porque eu? Tem muitas mulheres disponíveis... falar aquilo me fez sentir um monstro... eu não quis dizer isso...

Não se preocupe... eu entendi... a frieza em sua voz me dizia para não confiar nele... pessoas frias como meu pai sempre eram cruéis quando ninguém estavam olhando. A única de quem eu preciso é apenas você.

Superei já impaciente e incomodada... logo os clientes começariam a chegar e eu tinha certeza que aquele homem poderia deixá-los incomodados. A sua presença era como um ad tóxico que trazia o medo de todos a tona.

Não farei isso... me decidi...

Se o que deseja... se levantou calmo indo contra as minhas expectativas mais sombrias... eles sabem onde está, deveria ir embora...

Foi você que contou a eles, imagino...

Não, eu tenho meus próprios meios para descobrir onde estava. Fui eu que a protegi durante esses anos, mas agora que enfatizou que não deseja ter nenhum tipo de relação comigo, estou retirando qualquer proteção.

Sobre o que está falando?

Todos esses anos, a sua liberdade aconteceu devido a mim. Me esclareceu com calma ao retirar a sua carteira e depositar algumas notas no balcão... ordenei para que ninguém fosse atrás de você. Assegurem a todos que estava de olho em você e que não teria problemas. Boa sorte.. desejo ao dar as costas a minha confusão... não consegui manter meus olhos em suas costas largas devido a entrada dos jogos clientes, contudo me peguei olhando para a entrada durante o restante da noite a sua espera.

Eu realmente precisava saber mais.

Eu queria saber mais.

Tentei não pensar sobre isso durante toda a noite. Os gritos dos homens diante de cada jogada me fazia sorri ao servi-los. Eu não queria continuar pensando no meu prometido e muito menos no quanto ele poderia ter me ajudado, mas era impossível.

Minha mente ia de encontro a sua imagem e de suas palavras a cada minuto. Nada do que eu fizesse mudava isso.

Eu estava agindo feito uma louca.

Até amanhã... Emerson disse animado ao me ver indo para a saída e somente então me dei conta que havia trabalhado a noite toda no automático. Sorri para ele ao ir para a porta, onde o vento frio foi a primeira coisa que sentir e em seguida avistei um carro preto parado do outro lado da rua. O único carro em toda rua...

Isso... não pode ser verdade... murmurei com medo ao olhar ao redor. Não havia ninguém. Engoli em seco ao começar a andar o mais rápido que conseguia, porém não demorou para escutar passos atrás de mim. Eu não queria me virar. Eu não queria vê-los...

Eu não queria morrer...

Essa era a cruel verdade.

Comecei a correr o máximo que podia. Sentia a minha respiração ofegante, meus cabelos batendo contra minha face, o meu pulmão apertando contra meu peito, o meu coração batendo cada vez mais rápido, o sol dos meus passos contra a calçada e por fim o som dos meus passos contra a calçada e fora o medo que tomava conta de mim e circulava pelo meu corpo inteiro. A dor que começava a sentir em minha perna não nega nada comparada ao medo que estava no meu eu interior ao virar no primeiro quarteirão. Olhei para o lado sabendo o erro que eu cometia tentando não gritar ao ver o mesmo carro de antes agirá parado a poucos metros de mim. Vi a porta ser aberta e dois homens saírem ao apontar em minha direção. Era o meu fim.

Merda... merda... merda... merda.

Eu quero viver... gritei ao começar a chorar já fazia anis que eu chorava daquela forma desesperada e vergonhosa. Em algum momento, cai no chão sentindo a dor em meu joelho. Tentei me levantar sem sucesso... É assim então... a resignação dizem ser uma etapa importante na aceitação da própria morte. Fechei os meus olhos pronta para o meu fim. Afinal, era isso que eu deveria ter feito desde o início.

Pretende ficar no chão por muito tempo? A voz fria dele me despertou... abri meus olhos olhando para o carro pra o carro preto. Eles estavam se curvando para o mesmo cada de antes. "Duhan Parker".. nunca poderia esquecer a sua voz... olhei para trás e o vi imponente próximo a mim... quer ajuda?

Eu queria ajuda, mas não queria parecer fraca. Uma verdadeira ironia do destino.

Me apoiei no chão tentando me levantar sentindo os meus joelhos doerem assim como minhas costas. Eu não corria tanto a muito tempo.

Parece que reconhece o perigo muito bem... isso deveria soar como elogio de onde ele vinha... eles vieram atrás de você, mas não é minha culpa. Fiz apenas o que disse...

Eles foram muito rápidos, não acha? Murmurei ao olhar para o "Duhan".

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo