JULES MONTEZ Eu saí daquele apartamento com meu peito doendo tanto que ficou difícil até de respirar. As lembranças de tudo que eu fiz, das atitudes cruéis da Jules Montreal, que eu tentei enterrar por tanto tempo, pesam tanto na minha consciência que eu só quero fugir de perto dela, da pessoa que destruí. Eu ansiei tanto ter aquela garota na minha frente, mas eu também tive medo, muito medo de ficar frente a frente com o mal que eu causei. Eu desci até a portaria e corri, atravessando a rua, fui andando sem rumo e nem me incomodei com os olhares estranhos por eu estar só de pijama. Meu nariz começou a sangrar e a dor de cabeça foi ficando cada vez mais insuportável.— Ei moça, você está passando mal, tem que ir para o hospital — um homem de uniforme disse, segurando meu braço — vem, tem uma UPA logo ali à frente, eu te ajudo a chegar lá — ele me puxa na direção que falou, mas eu recuso, puxando meu braço de volta.— Me deixe!— Moça, seu nariz tá sangrando — pega minha mão, que est
Viro-me devagar, parece que estou em câmera lenta, é como nos filmes de suspense quando tem aquele momento de tensão onde só conseguimos ouvir as batidas do coração. Mas eu não vou mostrar meu real estado, ele já teve muito do meu sofrimento por hoje, aliás, não só por hoje, ele vem me fazendo sofrer desde o início. — Como você me achou aqui? — Perguntei, forçando uma calma que nem de longe eu tenho.Saio do abraço do Edu sob os olhos atentos dele, a pressão dos seus lábios e o olhar assassino mostram que ele está com muita raiva, e eu não sei o porquê, já que quem foi enganada esse tempo todo fui eu e não ele. — Como eu te achei aqui? — repete a minha pergunta entredentes — É sério isso, Jules? — Vocês não acham melhor ir conversar em outro lugar? As crianças ainda estão aqui — O Edu chama a nossa atenção. O Samuel olha para ele, depois olha de volta para mim e vai passando o olhar pelas crianças ao nosso redor, ele faz um movimento de cabeça e eu não consigo decifrar sua express
SAMUEL ADAMSEu saí feito louco pelas ruas. A ansiedade aumentando a cada atualização do gps, avisando que estou me aproximando do endereço. Eu sei, não deveria ficar tão ansioso, mas a verdade é que eu estou, só de lembrar o jeito que a Jules saiu de casa, o estado dela e esse tempo todo que passou, eu fico mais ansioso ainda, já está escuro e ela saiu sem nem tomar o café da manhã. Estacionei do outro lado da rua quando o gps avisou que já cheguei ao meu destino. Olho o grande letreiro e sinto uma coisa estranha quando vejo as iniciais S.A. Lar S.A. será? Não, isso deve ser só coincidência. Entro e sou recebido por uma mulher que julgo ser a diretora. — Olá, bem-vindo! — Diz, com um sorriso — quer conhecer o projeto? — Eu estou procurando uma pessoa, me disseram que talvez ela estivesse aqui — digo e ela faz um gesto com a cabeça me convidando a entrar.— Fique à vontade. Quem você está procurando? — Jules, Jules Montez.— Ah, sim, ela está aqui sim. É uma pessoa maravilhosa, no
— E por acaso você já não cumpriu? Cara, você me enganou, me fez amar você, eu estou sofrendo — as lágrimas começam a descer pelo seu rosto. — Eu não tenho mais a minha empresa, que era tão importante para mim, não tenho mais nem onde morar, porque você vai cobrar cada centavo do empréstimo que me fez, o que mais você quer? — Você nem imagina, Jules? — Questionei, puxando-a para mim. A verdade é que nem eu mesmo sei o que mais eu quero.— Vingança. Você quer vingança, mas fora a minha vida, no momento eu não tenho mais nada. Samuel, você pode não acreditar, aliás, você não vai acreditar — sorri triste — mas eu sofri também. Nesses anos todos eu não tive um só dia de paz, eu não conseguia dormir sem estar dopada de remédios e mesmo assim ainda tinha pesadelos. Ok, eu mereço isso e muito mais, mas… — suspira — eu estou cansada disso tudo, agora…— Agora o quê? — Eu não tenho estrutura para continuar com isso, Samuel. A minha vida tem sido uma grande merda depois que eu ferrei com a vi
Entrei em casa e subi as escadas, na intenção de ir direto para o meu quarto, não estou com paciência para falar com ninguém agora. Mas quando estava no meio da escada fui parado pela voz da Sarah.— Você achou ela? Olho para e baixo e a Verônica está ao seu lado.— Achei — digo e vou continuar a subir, mas ela me chama de volta.— E aí, ela não vai voltar mais? — Vai, mas não hoje. — Samuel, o que houve lá? Você não parece nada bem. Aconteceu alguma coisa com a Jules? Eu suspirei antes de respondê-la. — Sarah, nós podemos não falar disso agora? Eu vou subir,tomar um banho e depois vamos preparar um jantar. O que acham? — Eu adorei. Tem tanto tempo que não como da sua comida. Pode ir lá, eu e a Verônica vamos organizando as coisas na cozinha até você voltar. Aliás, vocês não usam muito a cozinha aqui nessa casa, né! — ouço sua voz longe quando já estou no corredor.Assim que entrei no quarto, minha visão foi direto para a parte do closet que ficam as coisas da Jules. Passo as mã
JULES MONTEZQuando ele saiu por aquela porta, meu coração doeu tanto, parecia que estava sendo esmagado lentamente. Eu sentei no chão e deixei as lágrimas saírem, chorei até soluçar.— Tia, o homem mau, machucou você? — A mesma pequena falante perguntou, acariciando meus cabelos.— Não. E ele não é um homem mau — respondi, forçando um sorriso.— Ele é sim, tem cara de bravo e brigou com você — rebateu, me fazendo rir.— É ele estava mesmo bravo, mas a culpa é minha, não dele — sorrio triste. Ela me perguntou o que eu fiz e eu resumi dizendo apenas que machuquei a irmã dele. Depois que ela saiu, eu liguei para minha mãe, também conversei com o Edu, ele ligou para o abrigo para saber de mim, então falei como terminou a "conversa". — Você vai insistir no divórcio? — Ele perguntou e eu afirmei que sim. — Mas ele não vai facilitar, ele não vai dar o divórcio sem brigar.— Eu sei.— Você está preparada para começar uma guerra com ele? Porque é isso que esse processo de divórcio será.— N
SAMUEL ADAMSAcordo e olho o espaço vazio na cama. Não gosto da sensação de falta, de abandono, que sinto, isso é ridículo! Eu não tenho que sentir falta dela! Levanto e vou direto para o banheiro, escovo os dentes e tomo um banho, mas a maldita sensação permanece. — Inferno! — Sussurro, passando as mãos pelos cabelos. Pego o telefone e passo o dedo na tela buscando o contato dela, mas assim que encontro me dou conta que o telefone está aqui, assim como todos os documentos pessoais e tudo dela. Essa é a casa dela, afinal.Depois de escolher um par de roupas e pegar um terno, pego minha bolsa com as coisas da empresa e me preparo para ir trabalhar, eu preciso de algo para ocupar a mente, e nada melhor que trabalhar, enfiar a cara nos contratos e reuniões com certeza vai me fazer pensar menos nessa porra toda. Assim que chego no alto da escada ouço uma comoção na sala.— O que está acontecendo aqui? — Perguntei, olhando a mulher parada perto da porta — Você está procurando a Jules? E
— Então você quer mesmo sair? — Perguntei, chegando atrás dela, que está encostada na porta do carro.— Ai! Quer me matar de susto!? — Gritou, colocando a mão no peito. — O que você faz aqui? — Questionou, olhando-me.— Eu é que deveria perguntar isso, não acha!? — aproximei-me dela — Jules, que história é essa de pegar suas coisas? Eu faço o possível para falar calmo, mas mesmo assim minha voz sai fria.— Eu não posso sair por aí sem documento de identificação, então, sim, eu preciso pegar minhas coisas que ficaram na sua casa — responde com a voz carregada de sarcasmo.— Minha casa? — digo, aproximo-me mais — o que você acha que isso aqui é, uma brincadeira por acaso? — Não, eu não acho mais nada, Samuel. — Respondeu, com raiva — Eu já achei que isso aqui fosse um casamento, que era de verdade, mas no final foi só um jogo para você, não é mesmo? — Mas esse casamento é de verdade, Jules. Você é minha esposa — falei, ainda tentando manter a calma.Ela ri, gargalha na verdade. Essa