— A senhora está bem mesmo, mamãe? — Pergunto, depois que a Marina sobe para tomar banho. — Estou bem sim, minha filha. — Não precisa mentir pra mim, nós somos amigas ou não? — Abraço-a numa tentativa de incentivá-la a falar. — Não é nada, Jules, é só besteira minha. — Que besteira? Mamãe, eu estou preocupada, eu também me preocupo muito com a senhora, sabia disso— digo e ela sorri. — Não é nada. Eu só estou sentindo por vender nossas coisas, afinal, são nossas memórias, né?! — Ela responde e em seguida sorri, mostrando que já está melhor. Eu não sei o porquê, mas eu não consegui acreditar nessa resposta dela, acho que tem mais coisas por trás disso. — A Marina está com problemas com o Léo de novo? O que aconteceu dessa vez? — Questiona mudando de assunto. Solto um longo suspiro antes de responder. — Dessa vez o negócio tá feio, mamãe. A confusão foi grande, tão grande que podemos ter uma nova vidinha vindo aí— assim que terminei minhas palavras, minha mãe cobre a boca com a mão
— É muito grave, Camila? — questiono quando ela fica calada e mordendo o lábio inferior, parece estar estudando como falar. — Jules, eu realmente não queria incomodar você, eu sei que você quer manter distância da empresa agora e quer seguir com sua vida. — fala finalmente e me deixa ainda mais curiosa sobre o que aconteceu. — Camila, eu não trabalho mais na empresa, mas continuo sendo sua amiga, você sabe disso. Eu sempre falei que você pode contar comigo sempre que precisar e eu vou fazer o possível para ajudar. — Eu sei disso e agradeço, mas é que você saiu de lá daquele jeito e eu não queria fazer você bater de frente com o Samuel de novo — Samuel? Meu alerta já fica ligado quando ouço o nome dele —mas eu realmente não sei mais com quem falar. E o Fernando também me incentivou a te procurar, é por isso que estou aqui. — O que o Samuel fez dessa vez? — Pergunto assim que ela termina suas palavras. — Não foi ele, eu tenho certeza que não tem dedo dele nisso. — Desembucha logo,
— Certeza absoluta.— Afirmei, erguendo meu queixo, que ele segura. — É mesmo? E quem te deu essa certeza toda foi o seu amigo advogado, que agora é seu chefe? — Questionou com a voz carregada de ironia e desdém. Se eu já estava irritada antes, agora estou possessa e com ódio. Quem ele acha que é para chegar aqui falando desse jeito comigo? Segurei sua mão e tentei afastá-la do meu rosto.— Me larga! O que você ainda quer comigo? Eu já saí da empresa, já estou fora da sua vida e você não me deixa viver em paz, o que mais você quer, Samuel? Me enlouquecer? — Encaro-o, e ele sorri ao ver o quanto estou irritada. — É. Deixar você louca é uma coisa que eu quero muito — diz, ainda sorrindo, e desce a mão pelo meu corpo. — E sabe o que mais? Você vai adorar ficar louca — falou no meu ouvido, fazendo-me arrepiar. Fecho meus olhos e respiro fundo, para controlar o que estou sentindo. Mesmo com uma enorme vontade de retribuir, eu não vou dar esse gostinho a ele, hoje não! Dou um pisão no
SAMUEL ADAMS — Me diga. O que exatamente você quer falar, Verônica? Não enrola! — Digo sem paciência. Só de ouvir o nome da Jules e daquele cara na mesma frase, fiquei irritado. — É que eu os vi no restaurante, jantando juntos — diz, com certo receio. — Ela está trabalhando com ele, isso é normal. — Samuel, você não está entendendo. — O que eu não estou entendendo, Verônica? Seja mais clara, não enrole! — falei pausadamente, enquanto bato com os dedos na mesa, deixando bem evidente que estou chegando ao limite. — Samuel, eu sei que eu não deveria me meter nisso, mas é que você sabe que a Sarah é minha amiga e eu não quero vê-la sofrer. Como eu disse, eu vi a Jules e o Edu jantando juntos e a Sarah também viu, mas ela só viu o Edu. Acontece que depois que a Sarah decidiu ir para casa, eu voltei ao restaurante e, eles continuavam lá jantando. — E onde fica o problema nisso? — É melhor você ver com seus próprios olhos — ela desbloqueia o telefone e me entrega. — Olha aí, isso nã
— Eu tenho ódio dessa porra toda, de tudo que aconteceu! — falou finalmente, soltando um longo suspiro antes de continuar — Sabe, eu sempre quis fazer a coisa certa e ser um cara justo. — Ele começa a falar —Meus pais sempre me ensinaram que o dinheiro que tínhamos não valia nada se o dono do dinheiro não tivesse caráter. Que o nome e a imagem são mais importantes que o saldo na conta bancária. — Te ensinaram bem— digo, quando ele faz uma pausa. — Naquela época, quando a Sarah começou a estudar na escola, nós acabamos nos aproximando quando ficamos em dupla no trabalho que a professora passou. Eu estava acostumado a conviver com as pessoas do mesmo ciclo social que eu, que eram em sua maioria pessoas fúteis e que não tinham muita experiência para trocar, foi por isso que acabei gostando de conversar com a Sarah. Ela era uma garota incrível, não era mimada e não tinha um papo fútil, era legal trocar ideias com ela. — Foi essa aproximação que levou a Jules a implicar com a minha irm
— Eu tive a sensação de estar sendo observado, mas ignorei… — ele começa a falar e só pelo seu tom, percebe-se que ele está com sede de devolver seus péssimos momentos a quem fez isso. — Até que cheguei de um jantar, me pegaram no estacionamento. Eles me colocaram para dormir e eu acordei em um depósito. — O depósito fica aqui na cidade mesmo? — pergunto. — É. Aqueles filhos da puta nem se preocuparam em se esconder direto, achavam que eu não escaparia. Se eu já achava aquele velho um pedaço de merda antes, agora…— De que velho você está falando? É o Marcos Montreal? — Arqueio a sobrancelha. — É esse desgraçado mesmo — responde com os dentes cerrados. — Marcos Montreal — O Edu arqueia a sobrancelha —, mas esse não era…— Era não, é — interrompi-o — ele está vivo. Sua expressão muda de confuso para incrédulo. — Mas como? Ele não morreu no acidente três anos atrás? — Não. Aquele filho da puta forjou a própria morte para escapar da prisão. E como você sabe que é ele? Eles entrega
JULES MONTEZAssim que entrei na recepção do hospital, vi o Léo com algumas sacolas na mão, ele está conversando com um médico, e sua cara, como sempre, está sem nenhuma emoção. — Oi! — Aproximo-me dele — Onde a Marina está? — encarou-me estreitando os olhos, senti até um arrepio com a raiva que vi neles. Ele se despede do médico e aponta o corredor à nossa frente. — Você já sabe da novidade, certo? É claro que sabe, vocês duas sempre compartilham seus segredinhos. — Léo, a Marina descobriu isso hoje de manhã, ela não estava escondendo nada de você. — Não estava escondendo nada de mim? Jules, eu não sou nenhum idiota! — rosnou friamente — aquela porra, está fugindo de mim desde ontem, e eu só a encontrei porque deixei os funcionários encarregados de me avisar, caso ela aparecesse lá na casa dos meus pais. — Claro que ela estava fugindo! Você está sempre intimidando ela, nunca deixa ela se explicar…— Explicar?! — interrompeu-me — Como ela vai explicar algo tão óbvio e que todos v
— O leilão, é isso que estamos planejando, certo? — Mamãe, eu conheço bem a senhora e a senhora também me conhece bem, então não tente me excluir das coisas.— Eu não estou te excluindo de nada, isso…— Não? —interrompi-a — Mãe, desde aquele dia que a senhora voltou da rua com os olhos vermelhos e rosto inchado de tanto chorar, a senhora está estranha. Eu sei que está tentando me proteger, mas eu não sou criança, eu tenho que participar das coisas também. Não me trata como uma inútil, por favor!— Jules, não é nada disso! — puxa-me para sentar ao seu lado — Não estou tentando te deixar de fora e nem acho você inútil, jamais! Eu sei da sua força e sei o quanto é capaz, mas eu não quero atropelar as coisas, só preciso de tempo e, na hora certa, vou acertar o que precisa e te falo tudo. Não me pressione, ok.Agora eu tenho certeza que está acontecendo algo e é muito sério, a testa excessivamente franzida da minha mãe enquanto falava, deixou isso muito claro. Nessa noite eu não dormi di