Evelyn
Deus, o que aconteceu? Eu estava no cemitério... e agora estou aqui, no colo de um estranho.
Ele me olhava com uma expressão séria. Seus olhos eram intensos, indecifráveis, como se escondessem algo que eu não conseguia compreender.
— Por favor, pode me responder?
Minha voz saiu rouca, arranhada. Abaixei levemente a cabeça. Havia algo naquele olhar que me causava calafrios.
— Me chamo Alexander Sterling.
— Sterling? Das Empresas Sterling?
Ele apenas assentiu.
— Então foi por isso que estava no cemitério. Brandon prestava serviços para sua empresa.
— Não necessariamente.
Franzi o cenho, confusa com suas palavras. Mas o motivo dele estar na cerimônia não importava mais. O que realmente queria saber era por que eu estava ali... dormindo no colo dele.
— Por que me trouxe para cá?
Meus olhos estavam presos nos dele, mas sua expressão era uma máscara fria, impossível de ler.
— Preferia que eu a tivesse deixado lá? Deitada no túmulo?
O sarcasmo em sua voz me irritou. Se fosse em outro momento, eu o colocaria no devido lugar. Mas... hoje, não.
— Agradeço por isso, senhor Sterling.
Virei-me para a porta, abri-a e saí do carro. Assim que comecei a dar a volta, indo em direção à entrada de casa, senti uma mão forte segurando meu braço.
— Mas o que...
Antes que pudesse terminar a frase, vi que era ele novamente.
— Eu não autorizei que saísse do carro.
Sua voz era firme, carregada de autoridade, mas algo dentro de mim se acendeu. Ele já estava passando dos limites.
Respirei fundo, coloquei as mãos na cintura e estufei o peito antes de enfrentá-lo.
— Sou grata por ter me trazido para casa, mas isso não significa que pode mandar em mim.
Antes que ele pudesse responder, a porta atrás de mim se abriu. Meu coração disparou ao ver quem saía de lá.
— Jack? O que faz aqui?
Jackson me lançou um olhar sem graça, como se tivesse sido pego no flagra.
— Alex achou melhor verificar a casa antes de você entrar.
Franzi o cenho. O que ele queria dizer com isso?
— Gostaria que fosse mais claro.
Toda aquela situação estava começando a me incomodar. Primeiro, acordo no colo do senhor Sterling, agora Jackson sai da minha casa com a desculpa de “verificar”...
— Não vejo necessidade de tantas perguntas.
Olhei, incrédula, para Sterling.
— Pois eu vejo!
Minha voz saiu mais aguda do que eu esperava.
Ele ignorou meu protesto e virou-se para Jackson.
— Acompanhe-a. Assim que estiver acomodada, retorne. Aguardarei no carro.
Ele começou a se virar, e algo dentro de mim explodiu. Eu havia acabado de enterrar o amor da minha vida, tentei ignorar toda essa situação desconfortável, mas esse homem conseguiu despertar o pior em mim. Estufei o peito e comecei:
— Escuta aqui, senhor Sterling, não sei se é coisa de ego ou sei lá o quê... mas não sou sua funcionária, sua parente ou seja lá que tipo de pessoa está acostumado a lidar.
Ele me olhou de forma dura, mas não me intimidei.
— Já agradeci por me trazer até em casa, mas isso não lhe dá o direito de invadir meu espaço.
Ele tentou retrucar, mas o impedi mais uma vez.
— Tenha uma boa noite, senhor Sterling.
Virei-me para Jackson.
— Obrigada, Jack, mas daqui eu irei sozinha.
Segui para a porta da minha casa, subi os degraus, o salto ecoando no assoalho da varanda. Assim que entrei, fechei a porta sem nem mesmo olhar para trás.
— Que homem irritante!
Murmurei para mim mesma.
Eu estava exausta. Precisava de um banho e de uma boa noite de sono.
Depois do banho, me deitei, mas o cheiro de Brandon tomava conta do quarto. Virei de um lado para o outro, sem conseguir dormir. Levantei-me e fui até a sala. Talvez assistir a um filme ajudasse. Brandon dizia que odiava ver filmes comigo porque eu sempre dormia na metade.
Estava no meu segundo filme. Recusei-me a assistir aqueles romances açucarados que só me fariam chorar. Mas minha escolha também não foi das melhores: coloquei um filme de ação, com um soldado fodão que não tinha medo de nada nem de ninguém. Claro que lembrei dele...
— Que ilusão...
Suspirei, acomodando-me melhor no sofá.
Foi quando um barulho me assustou. Levantei-me num pulo e fiquei parada por um instante, esperando para ver se se repetiria. Talvez fosse algum animal. Havia muitos gatinhos de rua por ali. Quando o silêncio tomou o ambiente, me deitei novamente, mas o barulho voltou e dessa vez mais alto e mais perto.
— Que merda!
Fui até um dos esconderijos na estante e peguei uma das armas de Brandon. Tínhamos algumas espalhadas pela casa. Nunca entendi esse medo dele, essa mania de perseguição... ou talvez fosse só superproteção. Boerne era uma das cidades mais pacifistas do Texas, mas eu nunca discutia. Só rezava para nunca ter que usá-las.
Tentei seguir em silêncio, mas o assoalho rangia a cada passo, como se denunciasse minha presença na escuridão.
Ainda assim, continuei...
Quando cheguei perto das escadas, o barulho de algo caindo no meu quarto chamou minha atenção. Não era um gato.
Realmente havia alguém dentro da minha casa.
Lembrei-me do meu celular. Poderia ligar para o xerife. Ou para Abby. Mas ele estava no meu quarto. No mesmo lugar que o invasor.
Decidi subir as escadas. A cada degrau, meu coração batia mais forte. Como alguém tinha a audácia de invadir minha casa hoje, logo hoje, no dia em que eu havia enterrado meu noivo?
Suspirei e me aproximei da porta entreaberta.
Espera... é uma mulher?
Por um instante, fiquei paralisada. Ela revirava minhas coisas e as de Brandon como se procurasse por algo.
Parada ali, observando sua atitude, percebi que não carregava arma. Ou, se carregava, estava bem escondida.
Uma súbita coragem me tomou.
Empurrei a porta.
No mesmo instante, ela se virou para mim.
Apontei-lhe a arma.
Nossos olhos se encontraram.
"Atira primeiro e pergunta depois."
A voz de Brandon ecoou dentro da minha mente.
E foi o que fiz. Meu dedo apertou o gatilho sem hesitação. O som seco rompeu o silêncio.
Eu atirei.
EvelynMeu pai sempre me preparou para algo assim. Desde cedo, me ensinou a atirar e a manusear qualquer tipo de arma.“Vivemos no Texas.”Era o que ele sempre dizia. Mas quando comecei a namorar Brandon, as coisas ficaram mais intensas. Ele tinha uma necessidade absurda de proteção, como se sempre esperasse que algo como hoje fosse acontecer. Eu apenas assentia, não queria discutir. Afinal, estávamos em Boerne. Na minha cabeça, algo assim jamais aconteceria.— Aaah...A mulher no chão gemeu. Eu ainda apontava a arma para ela, mas ela não se mexia. A poça de sangue ao redor dela aumentava.Ouvi um barulho vindo de baixo, passos apressados subindo as escadas. Então, ali estava ele: Alexander Sterling. Ao seu lado, Jack.— Me dê a arma.A voz de Sterling era firme, autoritária. Deus, eu estava começando a odiar esse homem de verdade.— Você está bem, Evie?A pergunta veio de Jack. Assenti com a cabeça, mas meus olhos continuavam fixos na mulher caída no chão do meu quarto. Uma mão veio
AlexanderO carro mal havia percorrido um quilômetro quando Evelyn adormeceu. No meio do caminho, sua cabeça deslizou para o meu colo. No início, considerei afastá-la, mas, por alguma razão que não quis questionar, acabei deixando-a ali.Pelo retrovisor, percebi Jackson me observando.— Quer me perguntar alguma coisa, Reynolds?Questionei, sem desviar os olhos dele.Ele se endireitou ao volante.— Não, chefe. Na verdade…Hesitou por um segundo e levantei uma sobrancelha.— Ainda acha que Evie sabe de alguma coisa?Meu olhar baixou para a mulher adormecida em meu colo. Em menos de 24 horas, era a segunda vez que ela dormia nos meus braços. Seu rosto estava relaxado, os lábios entreabertos, ainda avermelhados. As sombras sob seus olhos continuavam ali—ela realmente precisava descansar.Meu olhar percorreu suas feições, parando no nariz levemente arrebitado, na respiração calma que fazia seu peito subir e descer suavemente. Assim, entregue ao sono, ela parecia tão inofensiva… Nada lembra
EvelynAcordei sentindo meu corpo relaxado como não sentia há dias. Quando abri os olhos, percebi que ainda estava deitada sobre Alexander, seus braços firmes ao meu redor, como se quisesse me impedir de fugir. Levantei a cabeça para olhar seu rosto e o encontrei sereno, em paz.Ele era um brutamontes. Mandão, arrogante e presunçoso. Mas precisava admitir: depois de Brandon, estar nos braços dele me trouxe a tranquilidade que eu precisava para finalmente dormir.Senti seu corpo se remexer sob o meu. Por um instante, quis fingir que ainda dormia, prolongando aquela sensação de segurança por mais alguns minutos. Mas então, a realidade da noite passada me atingiu como um choque. O que eu estava fazendo? Como pude dormir nos braços de outro homem logo após enterrar o amor da minha vida?Eu amava Brandon. Iria me casar com ele. O que as pessoas pensariam se soubessem que passei a noite na cama de Alexander?Minha respiração acelerou. Eu precisava sair dali. Precisava me afastar dele.Droga
EvelynA frustração ainda ardia em mim, mas não era só isso. Um turbilhão de sentimentos me consumia. Em menos de 24 horas, minha vida virou de ponta-cabeça. Enterrei meu noivo, acordei nos braços de um estranho, minha casa foi invadida, atirei em alguém e fui trazida para cá contra minha vontade. Quando tudo o que eu queria era... viver meu luto.Ainda encostada na porta, deslizei até o chão. Abracei meus joelhos e me permiti chorar. Sim... chorar! Todas as lágrimas por Brandon ainda não haviam sido derramadas. Será que Sterling não tinha coração? Não conseguia ver que eu estava sofrendo?Não sei quanto tempo se passou, minutos, talvez uma hora, até que batidas suaves na porta chamaram minha atenção.— Senhorita Parker.Uma voz feminina me chamou. Levantei-me, sequei o rosto e abri a porta. Diante de mim, havia uma mulher que aparentava ter seus cinquenta anos, talvez um pouco mais. O coque impecável e as roupas elegantes contrastavam com o sorriso acolhedor que ela me lançou.— Bom
AlexanderMinha paciência sempre fora zero, mas hoje estava abaixo de qualquer nível aceitável. Todos ao meu redor sentiam isso, principalmente Benjamin e Jackson. Como eu imaginava, os intrusos de ontem destruíram a casa de Evelyn e, para piorar, deixaram um corpo para trás. A bagunça estava feita. Agora, todos a procuravam. A amiga dela chegou antes da minha equipe, o que atrapalhou meu plano de encontrar as pistas de que precisávamos. Mas eu sabia que estavam lá.Brandon era um cretino, mas um cretino bom no que fazia. Eu sentia que ele havia deixado as pistas certas.Lembrei da minha breve interação com Evelyn pela manhã, o modo como dormiu nos meus braços, sua ajuda com a gravata e, claro, sua petulância ao me enfrentar. Meus pensamentos foram interrompidos por Jackson e Benjamin entrando afobados no meu escritório. Virei-me na cadeira para encará-los.— Temos um problema.Jackson foi o primeiro a falar.— Mais um?— É a Evelyn.Benjamin me entregou o tablet, mostrando imagens da
EvelynPassei a noite inteira chorando depois que Alexander me trouxe de volta. Quando amanheceu, uma parte de mim insistia que nada daquilo era real. Brandon ainda estava vivo... não estava? Depois de descobrir que ele não era quem eu pensava, que me escondeu segredos que nem sequer tive tempo de desvendar, essa ideia já não parecia tão absurda.Mas Alexander me convenceu de que era só minha mente criando uma realidade paralela para amortecer a dor. E, depois de alguns dias, fui obrigada a aceitar: Brandon estava morto. Ele não voltaria. Nunca.As coisas em Boerne tinham se acalmado. Eu ainda não voltara, mas sabia que o pessoal do Sterling tinha resolvido tudo. Falei com os Anderson e com Abby. Sentia falta deles. Meu carrasco prometeu me deixar visitá-los em breve. Sim… carrasco. Era assim que eu chamava Alexander Sterling agora.Estava deitada na cama, encarando o teto e perdida em meus pensamentos quando batidas na porta me tiraram dos devaneios. A porta se abriu, e um rosto fami
AlexanderQuando Benjamin me contou a brilhante ideia de Emily de levar Evelyn para uma entrevista de emprego, fiquei irado. Ela não precisa disso. Eu sou responsável por suas despesas. Sou responsável por ela.Mas foi quando ela começou a ignorar minhas ligações que algo dentro de mim explodiu. Eu queria sair dali correr até essa tal galeria, jogá-la sobre meu ombro e levá-la para casa.Um sorriso brincou em meus lábios.— Não seria má ideiaMurmurei para mim mesmo.Enviei algumas mensagens, cancelei compromissos e peguei minhas chaves. Assim que abri a porta do escritório, lá estava ela.Linda.Os cabelos soltos, a maquiagem sutil… Mas o que realmente chamou minha atenção foi seu vestido. De alças finas, o decote evidenciava seu busto volumoso. O tecido descia colado ao corpo, destacando cada curva. Evelyn era cheia nos lugares certos.Não era o meu tipo de mulher.Mas, droga, ela estava linda. E isso me irritou. Não deveria, mas irritou.— Boa tarde, senhor Sterling.Senti o medo e
EvelynEstava feliz por Alexander ter me trazido até aqui. Isso mostra que talvez ele se importe. Mas assim que entrei, tudo neste lugar me atingiu. Achei que estava pronta para dizer adeus. Pensei que, depois de duas semanas...— Com licença — disse a todos, já segurando as lágrimas, e corri escada acima.Quando cheguei ao andar de cima, entrei no antigo quarto de Brandon, fechei a porta atrás de mim e deslizei as costas por ela, abraçando os joelhos.Me enganei... Acreditei que poderia enfrentar essas lembranças sem desmoronar. Mas quando, o cheiro dele me envolveu, como se Brandon ainda estivesse ali. Os porta-retratos me encaravam, testemunhas silenciosas do que foi e nunca mais será. O peso desse lugar caiu sobre mim como uma onda implacável, me puxando para o fundo.Como pude achar que estava pronta? A verdade veio como uma lâmina fria cortando minha pele. A dor ainda está aqui, crua e latejante, pulsando como um ferimento aberto que se recusa a cicatrizar....Comecei a sentir m