Alexander
Quando soube da morte do maldito do Brandon, precisei conferir se era real ou apenas mais uma de suas armações. Bem, ele estava em um caixão, prestes a descer para a cova. Acho que, desta vez, realmente morreu.
Com Jackson ao meu lado, aguardava o término da cerimônia, sem perder tempo me aproximando. Ao redor do caixão, alguns idiotas ainda acreditavam que Brandon era um herói, mesmo depois do que ele fez.
Eu tentava conter minha repulsa pelo morto quando algo, ou melhor, alguém , chamou minha atenção. Seus olhos eram marcantes, expressavam a dor do momento misturada com algo mais. O cabelo preso em um coque meio desarrumado, alguns fios soltos emoldurando o rosto delicado e, ao mesmo tempo, expressivo. Ela era... interessante.
Por alguns minutos, não consegui desviar o olhar do dela. E ela também me analisava, assim como eu fazia.
— A noiva do Brady. O nome dela é Evelyn, mas todos a chamam de Evie
A voz de Jackson soou no instante em que ela desviou o olhar.
— Vamos fazer uma visitinha para ela depois.
Jackson suspirou ao meu lado.
— Alex, eu entendo sua raiva do cara, mas não acredito que Evie soubesse de alguma coisa. Do pouco que a conheço, ela não faz esse tipo de...
Olhei para ele, furioso. Muitas vezes, eu não precisava de palavras para me expressar. Um único olhar meu calava um ambiente.
— Entendido, chefe. Você quem manda.
A cerimônia terminou, e as pessoas começaram a se dispersar. A tal noiva, pelo visto, se recusava a ir embora, mesmo sem ter se aproximado do caixão para se despedir. Vi os pais de Brandon, os penúltimos a partirem, trocarem algumas palavras com ela antes de saírem.
Ainda parado no mesmo lugar, vi Tom se aproximar.
— Capitão.
Disse Jack, estendendo a mão para o homem, que o puxou para um abraço.
— Que isso, capitão sou lá na base. Bom te ver, amigo!
Eles riram, e eu apenas observei. Gostava de Thomas, ele era um homem honrado. Seu único defeito era colocar fé nas pessoas erradas, como fez com Brandon. Quando ele voltou o olhar para mim, o brilho de alegria sumiu. Não havíamos resolvido nossas diferenças.
— E aqui está o Senhor das Armas. Não pensei que o veria aqui.
Ele estendeu a mão, e eu a segurei firmemente.
— Um dia, Brandon e eu fomos grandes amigos.
Meu tom foi seco, carregado do escárnio que sentia pelo falecido.
— Poderiam ter continuado sendo. Sei que ele errou, mas reconheceu isso. Aquilo não o definia... Ele estava mudando.
Cortei suas palavras com uma risada sarcástica, sem um pingo de humor. Olhei para Jack, que balançava a cabeça, querendo que eu me segurasse.
— Tenho respeito e admiração por você, Thomas. Seria uma pena se isso mudasse.
Ele assentiu. No fundo, sabia que não queria me ter como inimigo.
O melhor era deixar isso para lá. Brandon já estava morto.
Só que Thomas não fazia ideia da merda que ele deixou para trás.
E que agora era eu quem teria que limpar.
Thomas se despediu, mas eu ainda me recusava a ir embora. Algo não se encaixava nessa história. Varri o ambiente com o olhar. A noiva agora estava sozinha, deitada sobre o túmulo.
Por um breve momento, senti pena da mulher. Entendia a dor da perda.
— Vamos?
A voz de Jack chamou minha atenção.
— Pode ir. Vou esperar mais um pouco.
Os olhos dele se voltaram para a mulher deitada no túmulo.
— Alex, eu entendo suas necessidades e obrigações...ele soltou um suspiro
— Mas será que não pode, ao menos, deixá-la viver o luto? Pelo menos por hoje?
O silêncio se instalou entre nós. Eu não o encarei, mas não precisava para saber que aquele pedido o deixava tenso. Jackson não era apenas meu braço direito, era meu melhor amigo e me conhecia muito bem. Sabia que eu era implacável e que não abaixava a guarda nem mesmo para amigos ou família. Mas, então, fiz algo que nem eu mesmo acreditei.
— Tudo bem, mas vou ficar. Está anoitecendo... Quero me certificar de que ela ficará bem.
Jackson me olhou incrédulo. As sobrancelhas se ergueram em surpresa, e sua boca ficou aberta por alguns segundos.
— Você... Quer dizer... Posso fazer isso, chefe. Não me importo.
Olhei para ele. Como sempre, foi o suficiente. Ele levantou as mãos em rendição e balançou a cabeça antes de responder:
— Te espero no carro.
Assenti e voltei meus olhos para a noiva. Ou melhor, para Evie.
Ela falava algo para a lápide. Fixei meu olhar em seus lábios. Ela não parecia usar maquiagem, mas sua boca era naturalmente avermelhada. Ajeitei minha postura. Não podia me distrair. Precisava ler seus lábios, entender o que dizia.
— Te amo, Brady. Hoje e sempre.
Foram as últimas palavras dela antes de desmaiar.
Droga.
Sem pensar, fui em sua direção. Assim que me aproximei, percebi que ela apenas havia dormido. Algo apertou em meu peito. Abaixei-me lentamente e a peguei no colo. Ela era pequena e, com os olhos fechados, pude notar as olheiras profundas. A falta de sono a venceu.
A ajeitei com cuidado nos braços e segui para o carro.
— Que porra é essa, cara?
Jackson veio em minha direção, incrédulo.
— Ela dormiu no túmulo. Quer que eu a deixe lá?
Ele negou rapidamente com um aceno e abriu a porta para que eu a colocasse no banco.
Ela suspirou no sono, resmungando palavras inaudíveis. Achei melhor me sentar no banco de trás com ela no colo. Jackson me lançou um olhar estranho.
— Qual o problema?
Perguntei, a irritação evidente na minha voz.
— Nada, chefe.
Ele fechou a porta e assumiu o volante.
— Vamos levá-la para casa?
Assenti, e seguimos caminho.
No meio do trajeto, ela se aconchegou instintivamente contra o meu peito. Por um momento, prendi a respiração. O que era isso?
Observei seu rosto mais de perto. De perto, era ainda mais bonita. Seus lábios realmente eram naturalmente avermelhados, e seus cabelos, agora quase soltos, tinham um tom castanho bonito.
Só percebi o quanto a encarava quando notei Jackson me observando pelo retrovisor, a expressão carregada de curiosidade.
— Chegamos.
— Verifique se não há ninguém na casa. Não quero ser pego de surpresa.
Ele ajeitou a arma na cintura e saiu do carro.
Eu continuei ali, observando Evie. Havia algo nela que me chamava a atenção.
Mas ela não faz meu tipo.
E, pior, era noiva de Brandon.
Uma raiva inesperada explodiu dentro de mim. Mexi-me, desconfortável, como se segurá-la me queimasse.
Foi então que ela abriu os olhos.
Por um instante, pareceu confusa. Suas mãos ainda estavam agarradas à minha camisa.
Então, percebeu onde estava.
Em um pulo, bateu a cabeça no teto do carro. Sem aviso, se jogou para o outro lado. Vi suas mãos começarem a tremer.
Com a voz rouca, perguntou:
— Quem é você?
EvelynDeus, o que aconteceu? Eu estava no cemitério... e agora estou aqui, no colo de um estranho.Ele me olhava com uma expressão séria. Seus olhos eram intensos, indecifráveis, como se escondessem algo que eu não conseguia compreender.— Por favor, pode me responder?Minha voz saiu rouca, arranhada. Abaixei levemente a cabeça. Havia algo naquele olhar que me causava calafrios.— Me chamo Alexander Sterling.— Sterling? Das Empresas Sterling?Ele apenas assentiu.— Então foi por isso que estava no cemitério. Brandon prestava serviços para sua empresa.— Não necessariamente.Franzi o cenho, confusa com suas palavras. Mas o motivo dele estar na cerimônia não importava mais. O que realmente queria saber era por que eu estava ali... dormindo no colo dele.— Por que me trouxe para cá?Meus olhos estavam presos nos dele, mas sua expressão era uma máscara fria, impossível de ler.— Preferia que eu a tivesse deixado lá? Deitada no túmulo?O sarcasmo em sua voz me irritou. Se fosse em outro
EvelynMeu pai sempre me preparou para algo assim. Desde cedo, me ensinou a atirar e a manusear qualquer tipo de arma.“Vivemos no Texas.”Era o que ele sempre dizia. Mas quando comecei a namorar Brandon, as coisas ficaram mais intensas. Ele tinha uma necessidade absurda de proteção, como se sempre esperasse que algo como hoje fosse acontecer. Eu apenas assentia, não queria discutir. Afinal, estávamos em Boerne. Na minha cabeça, algo assim jamais aconteceria.— Aaah...A mulher no chão gemeu. Eu ainda apontava a arma para ela, mas ela não se mexia. A poça de sangue ao redor dela aumentava.Ouvi um barulho vindo de baixo, passos apressados subindo as escadas. Então, ali estava ele: Alexander Sterling. Ao seu lado, Jack.— Me dê a arma.A voz de Sterling era firme, autoritária. Deus, eu estava começando a odiar esse homem de verdade.— Você está bem, Evie?A pergunta veio de Jack. Assenti com a cabeça, mas meus olhos continuavam fixos na mulher caída no chão do meu quarto. Uma mão veio
AlexanderO carro mal havia percorrido um quilômetro quando Evelyn adormeceu. No meio do caminho, sua cabeça deslizou para o meu colo. No início, considerei afastá-la, mas, por alguma razão que não quis questionar, acabei deixando-a ali.Pelo retrovisor, percebi Jackson me observando.— Quer me perguntar alguma coisa, Reynolds?Questionei, sem desviar os olhos dele.Ele se endireitou ao volante.— Não, chefe. Na verdade…Hesitou por um segundo e levantei uma sobrancelha.— Ainda acha que Evie sabe de alguma coisa?Meu olhar baixou para a mulher adormecida em meu colo. Em menos de 24 horas, era a segunda vez que ela dormia nos meus braços. Seu rosto estava relaxado, os lábios entreabertos, ainda avermelhados. As sombras sob seus olhos continuavam ali—ela realmente precisava descansar.Meu olhar percorreu suas feições, parando no nariz levemente arrebitado, na respiração calma que fazia seu peito subir e descer suavemente. Assim, entregue ao sono, ela parecia tão inofensiva… Nada lembra
EvelynAcordei sentindo meu corpo relaxado como não sentia há dias. Quando abri os olhos, percebi que ainda estava deitada sobre Alexander, seus braços firmes ao meu redor, como se quisesse me impedir de fugir. Levantei a cabeça para olhar seu rosto e o encontrei sereno, em paz.Ele era um brutamontes. Mandão, arrogante e presunçoso. Mas precisava admitir: depois de Brandon, estar nos braços dele me trouxe a tranquilidade que eu precisava para finalmente dormir.Senti seu corpo se remexer sob o meu. Por um instante, quis fingir que ainda dormia, prolongando aquela sensação de segurança por mais alguns minutos. Mas então, a realidade da noite passada me atingiu como um choque. O que eu estava fazendo? Como pude dormir nos braços de outro homem logo após enterrar o amor da minha vida?Eu amava Brandon. Iria me casar com ele. O que as pessoas pensariam se soubessem que passei a noite na cama de Alexander?Minha respiração acelerou. Eu precisava sair dali. Precisava me afastar dele.Droga
EvelynA frustração ainda ardia em mim, mas não era só isso. Um turbilhão de sentimentos me consumia. Em menos de 24 horas, minha vida virou de ponta-cabeça. Enterrei meu noivo, acordei nos braços de um estranho, minha casa foi invadida, atirei em alguém e fui trazida para cá contra minha vontade. Quando tudo o que eu queria era... viver meu luto.Ainda encostada na porta, deslizei até o chão. Abracei meus joelhos e me permiti chorar. Sim... chorar! Todas as lágrimas por Brandon ainda não haviam sido derramadas. Será que Sterling não tinha coração? Não conseguia ver que eu estava sofrendo?Não sei quanto tempo se passou, minutos, talvez uma hora, até que batidas suaves na porta chamaram minha atenção.— Senhorita Parker.Uma voz feminina me chamou. Levantei-me, sequei o rosto e abri a porta. Diante de mim, havia uma mulher que aparentava ter seus cinquenta anos, talvez um pouco mais. O coque impecável e as roupas elegantes contrastavam com o sorriso acolhedor que ela me lançou.— Bom
AlexanderMinha paciência sempre fora zero, mas hoje estava abaixo de qualquer nível aceitável. Todos ao meu redor sentiam isso, principalmente Benjamin e Jackson. Como eu imaginava, os intrusos de ontem destruíram a casa de Evelyn e, para piorar, deixaram um corpo para trás. A bagunça estava feita. Agora, todos a procuravam. A amiga dela chegou antes da minha equipe, o que atrapalhou meu plano de encontrar as pistas de que precisávamos. Mas eu sabia que estavam lá.Brandon era um cretino, mas um cretino bom no que fazia. Eu sentia que ele havia deixado as pistas certas.Lembrei da minha breve interação com Evelyn pela manhã, o modo como dormiu nos meus braços, sua ajuda com a gravata e, claro, sua petulância ao me enfrentar. Meus pensamentos foram interrompidos por Jackson e Benjamin entrando afobados no meu escritório. Virei-me na cadeira para encará-los.— Temos um problema.Jackson foi o primeiro a falar.— Mais um?— É a Evelyn.Benjamin me entregou o tablet, mostrando imagens da
EvelynPassei a noite inteira chorando depois que Alexander me trouxe de volta. Quando amanheceu, uma parte de mim insistia que nada daquilo era real. Brandon ainda estava vivo... não estava? Depois de descobrir que ele não era quem eu pensava, que me escondeu segredos que nem sequer tive tempo de desvendar, essa ideia já não parecia tão absurda.Mas Alexander me convenceu de que era só minha mente criando uma realidade paralela para amortecer a dor. E, depois de alguns dias, fui obrigada a aceitar: Brandon estava morto. Ele não voltaria. Nunca.As coisas em Boerne tinham se acalmado. Eu ainda não voltara, mas sabia que o pessoal do Sterling tinha resolvido tudo. Falei com os Anderson e com Abby. Sentia falta deles. Meu carrasco prometeu me deixar visitá-los em breve. Sim… carrasco. Era assim que eu chamava Alexander Sterling agora.Estava deitada na cama, encarando o teto e perdida em meus pensamentos quando batidas na porta me tiraram dos devaneios. A porta se abriu, e um rosto fami
AlexanderQuando Benjamin me contou a brilhante ideia de Emily de levar Evelyn para uma entrevista de emprego, fiquei irado. Ela não precisa disso. Eu sou responsável por suas despesas. Sou responsável por ela.Mas foi quando ela começou a ignorar minhas ligações que algo dentro de mim explodiu. Eu queria sair dali correr até essa tal galeria, jogá-la sobre meu ombro e levá-la para casa.Um sorriso brincou em meus lábios.— Não seria má ideiaMurmurei para mim mesmo.Enviei algumas mensagens, cancelei compromissos e peguei minhas chaves. Assim que abri a porta do escritório, lá estava ela.Linda.Os cabelos soltos, a maquiagem sutil… Mas o que realmente chamou minha atenção foi seu vestido. De alças finas, o decote evidenciava seu busto volumoso. O tecido descia colado ao corpo, destacando cada curva. Evelyn era cheia nos lugares certos.Não era o meu tipo de mulher.Mas, droga, ela estava linda. E isso me irritou. Não deveria, mas irritou.— Boa tarde, senhor Sterling.Senti o medo e