Capítulo 2 – A Noiva de Brandon

Alexander

Quando soube da morte do maldito do Brandon, precisei conferir se era real ou apenas mais uma de suas armações. Bem, ele estava em um caixão, prestes a descer para a cova. Acho que, desta vez, realmente morreu.

Com Jackson ao meu lado, aguardava o término da cerimônia, sem perder tempo me aproximando. Ao redor do caixão, alguns idiotas ainda acreditavam que Brandon era um herói, mesmo depois do que ele fez.

Eu tentava conter minha repulsa pelo morto quando algo, ou melhor, alguém , chamou minha atenção. Seus olhos eram marcantes, expressavam a dor do momento misturada com algo mais. O cabelo preso em um coque meio desarrumado, alguns fios soltos emoldurando o rosto delicado e, ao mesmo tempo, expressivo. Ela era... interessante.

Por alguns minutos, não consegui desviar o olhar do dela. E ela também me analisava, assim como eu fazia.

— A noiva do Brady. O nome dela é Evelyn, mas todos a chamam de Evie 

A voz de Jackson soou no instante em que ela desviou o olhar.

— Vamos fazer uma visitinha para ela depois.

Jackson suspirou ao meu lado.

— Alex, eu entendo sua raiva do cara, mas não acredito que Evie soubesse de alguma coisa. Do pouco que a conheço, ela não faz esse tipo de...

Olhei para ele, furioso. Muitas vezes, eu não precisava de palavras para me expressar. Um único olhar meu calava um ambiente.

— Entendido, chefe. Você quem manda.

A cerimônia terminou, e as pessoas começaram a se dispersar. A tal noiva, pelo visto, se recusava a ir embora, mesmo sem ter se aproximado do caixão para se despedir. Vi os pais de Brandon, os penúltimos a partirem, trocarem algumas palavras com ela antes de saírem.

Ainda parado no mesmo lugar, vi Tom se aproximar.

— Capitão.

Disse Jack, estendendo a mão para o homem, que o puxou para um abraço.

— Que isso, capitão sou lá na base. Bom te ver, amigo!

Eles riram, e eu apenas observei. Gostava de Thomas, ele era um homem honrado. Seu único defeito era colocar fé nas pessoas erradas, como fez com Brandon. Quando ele voltou o olhar para mim, o brilho de alegria sumiu. Não havíamos resolvido nossas diferenças.

— E aqui está o Senhor das Armas. Não pensei que o veria aqui.

Ele estendeu a mão, e eu a segurei firmemente.

— Um dia, Brandon e eu fomos grandes amigos.

Meu tom foi seco, carregado do escárnio que sentia pelo falecido.

— Poderiam ter continuado sendo. Sei que ele errou, mas reconheceu isso. Aquilo não o definia... Ele estava mudando.

Cortei suas palavras com uma risada sarcástica, sem um pingo de humor. Olhei para Jack, que balançava a cabeça, querendo que eu me segurasse.

— Tenho respeito e admiração por você, Thomas. Seria uma pena se isso mudasse.

Ele assentiu. No fundo, sabia que não queria me ter como inimigo.

O melhor era deixar isso para lá. Brandon já estava morto.

Só que Thomas não fazia ideia da merda que ele deixou para trás.

E que agora era eu quem teria que limpar.

Thomas se despediu, mas eu ainda me recusava a ir embora. Algo não se encaixava nessa história. Varri o ambiente com o olhar. A noiva agora estava sozinha, deitada sobre o túmulo.

Por um breve momento, senti pena da mulher. Entendia a dor da perda.

— Vamos? 

A voz de Jack chamou minha atenção.

— Pode ir. Vou esperar mais um pouco.

Os olhos dele se voltaram para a mulher deitada no túmulo.

— Alex, eu entendo suas necessidades e obrigações...ele soltou um suspiro

— Mas será que não pode, ao menos, deixá-la viver o luto? Pelo menos por hoje?

O silêncio se instalou entre nós. Eu não o encarei, mas não precisava para saber que aquele pedido o deixava tenso. Jackson não era apenas meu braço direito, era meu melhor amigo e me conhecia muito bem. Sabia que eu era implacável e que não abaixava a guarda nem mesmo para amigos ou família. Mas, então, fiz algo que nem eu mesmo acreditei.

— Tudo bem, mas vou ficar. Está anoitecendo... Quero me certificar de que ela ficará bem.

Jackson me olhou incrédulo. As sobrancelhas se ergueram em surpresa, e sua boca ficou aberta por alguns segundos.

— Você... Quer dizer... Posso fazer isso, chefe. Não me importo.

Olhei para ele. Como sempre, foi o suficiente. Ele levantou as mãos em rendição e balançou a cabeça antes de responder:

— Te espero no carro.

Assenti e voltei meus olhos para a noiva. Ou melhor, para Evie.

Ela falava algo para a lápide. Fixei meu olhar em seus lábios. Ela não parecia usar maquiagem, mas sua boca era naturalmente avermelhada. Ajeitei minha postura. Não podia me distrair. Precisava ler seus lábios, entender o que dizia.

— Te amo, Brady. Hoje e sempre.

Foram as últimas palavras dela antes de desmaiar.

Droga.

Sem pensar, fui em sua direção. Assim que me aproximei, percebi que ela apenas havia dormido. Algo apertou em meu peito. Abaixei-me lentamente e a peguei no colo. Ela era pequena e, com os olhos fechados, pude notar as olheiras profundas. A falta de sono a venceu.

A ajeitei com cuidado nos braços e segui para o carro.

— Que porra é essa, cara?

Jackson veio em minha direção, incrédulo.

— Ela dormiu no túmulo. Quer que eu a deixe lá?

Ele negou rapidamente com um aceno e abriu a porta para que eu a colocasse no banco.

Ela suspirou no sono, resmungando palavras inaudíveis. Achei melhor me sentar no banco de trás com ela no colo. Jackson me lançou um olhar estranho.

— Qual o problema? 

Perguntei, a irritação evidente na minha voz.

— Nada, chefe.

Ele fechou a porta e assumiu o volante.

— Vamos levá-la para casa?

Assenti, e seguimos caminho.

No meio do trajeto, ela se aconchegou instintivamente contra o meu peito. Por um momento, prendi a respiração. O que era isso?

Observei seu rosto mais de perto. De perto, era ainda mais bonita. Seus lábios realmente eram naturalmente avermelhados, e seus cabelos, agora quase soltos, tinham um tom castanho bonito.

Só percebi o quanto a encarava quando notei Jackson me observando pelo retrovisor, a expressão carregada de curiosidade.

— Chegamos.

— Verifique se não há ninguém na casa. Não quero ser pego de surpresa.

Ele ajeitou a arma na cintura e saiu do carro.

Eu continuei ali, observando Evie. Havia algo nela que me chamava a atenção.

Mas ela não faz meu tipo.

E, pior, era noiva de Brandon.

Uma raiva inesperada explodiu dentro de mim. Mexi-me, desconfortável, como se segurá-la me queimasse.

Foi então que ela abriu os olhos.

Por um instante, pareceu confusa. Suas mãos ainda estavam agarradas à minha camisa.

Então, percebeu onde estava.

Em um pulo, bateu a cabeça no teto do carro. Sem aviso, se jogou para o outro lado. Vi suas mãos começarem a tremer.

Com a voz rouca, perguntou:

— Quem é você?

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